MARIE ANTOINETTE,
“LOST IN VERSALHES”
“Marie Antoinette”, de Sofia Coppola, é, para mim, um filme extremamente interessante e uma obra de arte particularmente curiosa como reflexo do seu (nosso) tempo. Acredito que há muitos puristas da “verdade histórica” a quem vá chocar esta visão histórica de uma Marie Antoinette aparentemente muito pouco ortodoxa. O filme de Sofia Coppola desarma logo pelo “loook” que não se assemelha em nada ao dos filmes “históricos” que normalmente são soturnos e “pesados”, com uma iluminação ténue, privilegiando as zonas de sombras intensas, o que deve ser sintoma de dois aspectos que se reúnem para o efeito: um filme “histórico” penetra numa zona de penumbra da História, “portanto” deve ser mal iluminado; por outro lado, a escuridão facilita a reconstituição, vêem-se menos coisas, logo podem ficar na escuridão adereços indesejáveis. O filme de Sofia Coppola rompe com esse esquema e irrompe com uma luz que quase chega a encadear o espectador. Ou não estivéssemos em Versalhes, na corte que foi de um rei, Luís XIV, que se auto proclamou “Rei Sol”. O seu descendente Luís XVI, e a sua mulher Marie Antoinette, também quiseram gozar um pouco dessa luz e desse fausto, mas acabaram de forma bastante desagradável, como é do conhecimento de todos.
(este é o início de um longo texto meu a aparecer na revista "História" de Janeiro de 2007. Completam o texto, uma filmografia sobre "Maria Antonieta no Cinema e na Televisão", e uma curta bibliografia. À semelhança dos últimos quatro anos, onde todos os meses tem surgido um texto dobre "Cinema e História".)
Maria Antonieta em livro
Sobre a figura de Maria Antonieta parecem existirem algumas obras essenciais de um ponto de vista histórico. Digo parecem porque algumas delas não as li, apenas delas tenho um conhecimento por terceiros. Mas tudo aponta para que “Maria Antonietta, The Journey”, de Antónia Fraser (2001), seja um título indispensável, como o foi para Sofia Coppola (ler um interessante e informadíssimo artigo de Antona Fraser, “Sofia’s Choise”, no “Vanity Fair”, de Novembro de 2006, pags. 142 a 146, será uma óptima aproximação do livro e do filme e da forma com um terá influenciado o outro).
Os trabalhos de André Castelot, “Marie Antoinette” (1962), Walter Gérard, “Procès de Marie Antoinette” (1999), Gustave Leonotre, “La Captivité et la Mort de Marie Antoniette” (1897), os de Pierre de Nolhac, “Autour de la Reine” (1896), “La Reine Marie Antoinette” (1951), “Les Jardins de Versailles” (1906) e “Le Trinon de Marie Antoinette” (1914) e ainda o célebre “Marie Antoinette”, de Stefan Zweig (1933) devem merecer toda a atenção, mesmo que muitas vezes as interpretações possam parecer diversas, quase opostas.
Recentemente saíram em Portugal duas obras que tive oportunidade de ler e que, não sendo absolutamente indispensáveis, são interessantes.
“Maria Antonieta”, de Catalina de Habsburgo (Ed. A Esfera dos Livros, 2006), é uma reflexão em torno da figura da Rainha (e também de Luís XVI), com o seu quê de discreta parcialidade. Discreta a tender para indiscreta. Catalina é arquiduquesa de Áustria, descendente directa de Carlos V, neta do último imperador da Áustria, e ainda ligada por afinidades familiares a Maria Antonieta. O seu retrato da “Delfina” denota investigação histórica (ela é licenciada em Ciências Politicas e autora de outras obras sobre personagens históricas, como Napoleão, Bismark e Margaret Thatcher, que escolha!), mas um óbvio “interesse” numa tese determinada. A sua origem aristocrática e “imperial” não a deixam não defender a realeza e branquear a figura dos reis, particularmente o da jovem rainha.
“O Diário Secreto de Maria Antonieta”, de Carolly Erickson (Ed. Aletheia, 2006) é o que se chama um “romance histórico”, uma ficção baseada em factos históricos, mas que parte logo de uma hipótese: e se o padre Kunibert tivesse sugerido à jovem princesa a escrita de um “Diário” onde arquivasse todas as considerações sobre a sua vida e o seu tempo? Pois, admitindo que assim seria, o resultado poderia ter sido este, se a princesa tivesse cultura e formação para o fazer. Um romance que se lê com agrado, vivo, emocionante, com descrições interessantes dos principais percursos da vida de Maria Antonieta e do seu tempo histórico. Carolly Erickson é historiadora e biografa, com outras obras sobre “Alexandra, a Última Czarina”, e “Catarina, a Grande”.
Os trabalhos de André Castelot, “Marie Antoinette” (1962), Walter Gérard, “Procès de Marie Antoinette” (1999), Gustave Leonotre, “La Captivité et la Mort de Marie Antoniette” (1897), os de Pierre de Nolhac, “Autour de la Reine” (1896), “La Reine Marie Antoinette” (1951), “Les Jardins de Versailles” (1906) e “Le Trinon de Marie Antoinette” (1914) e ainda o célebre “Marie Antoinette”, de Stefan Zweig (1933) devem merecer toda a atenção, mesmo que muitas vezes as interpretações possam parecer diversas, quase opostas.
Recentemente saíram em Portugal duas obras que tive oportunidade de ler e que, não sendo absolutamente indispensáveis, são interessantes.
“Maria Antonieta”, de Catalina de Habsburgo (Ed. A Esfera dos Livros, 2006), é uma reflexão em torno da figura da Rainha (e também de Luís XVI), com o seu quê de discreta parcialidade. Discreta a tender para indiscreta. Catalina é arquiduquesa de Áustria, descendente directa de Carlos V, neta do último imperador da Áustria, e ainda ligada por afinidades familiares a Maria Antonieta. O seu retrato da “Delfina” denota investigação histórica (ela é licenciada em Ciências Politicas e autora de outras obras sobre personagens históricas, como Napoleão, Bismark e Margaret Thatcher, que escolha!), mas um óbvio “interesse” numa tese determinada. A sua origem aristocrática e “imperial” não a deixam não defender a realeza e branquear a figura dos reis, particularmente o da jovem rainha.
“O Diário Secreto de Maria Antonieta”, de Carolly Erickson (Ed. Aletheia, 2006) é o que se chama um “romance histórico”, uma ficção baseada em factos históricos, mas que parte logo de uma hipótese: e se o padre Kunibert tivesse sugerido à jovem princesa a escrita de um “Diário” onde arquivasse todas as considerações sobre a sua vida e o seu tempo? Pois, admitindo que assim seria, o resultado poderia ter sido este, se a princesa tivesse cultura e formação para o fazer. Um romance que se lê com agrado, vivo, emocionante, com descrições interessantes dos principais percursos da vida de Maria Antonieta e do seu tempo histórico. Carolly Erickson é historiadora e biografa, com outras obras sobre “Alexandra, a Última Czarina”, e “Catarina, a Grande”.
Adorei esta Marie Antoinette em 'versão conto de fadas' da Coppola e fiquei radiante que a senhora tivesse feito o filme que bem quis e entendeu. O guarda-roupa, as paixões arrebatadas, a prodigiosa atenção aos pormenores... É um filme de gajas, no melhor sentido possível.
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