O BEIJO DA MULHER ARANHA
“O Beijo da Mulher Aranha” é uma obra do escritor argentino Manuel Puig (nascido a 28 de Dezembro de 1932, em General Villegas, Buenos Aires, e falecido em Cuernavaca, a 22 de Julho de 1990). Puig iniciou, em 1950, os estudos na Faculdade de Arquitectura da Universidade de Buenos Aires, tendo mudado, em 1951, para Filosofia. Em 1956, partiu para Roma, onde cursou o Centro Experimentale da Cinematrografia. Autor de obra diversificada, romance, teatro, guiões para cinema, dele são conhecidos “A Cara do Vilão”, “Boquinhas Pintadas (1969) e, em 1973, publica “The Buenos Aires Affair”, que lhe valeu a proibição na argentina e ameaças várias. Partiu então para México, onde terminou “O Beijo da Mulher-Aranha” (1976). Em 1981, fixa-se no Rio de Janeiro, e adapta ao cinema “O Beijo da Mulher-Aranha”, filme que seria dirigido por um outro argentino a viver no Brasil, Héctor Babenco. Esta obra que foi inicialmente um romance, depois peça teatral, seguidamente filme e ópera, passou recentemente a musical na Broadway. Reposto agora com sucesso no Teatro Mundial, em Lisboa, numas novas tradução e encenação.
Numa qualquer prisão da América Latina, sob um regime ditatorial, uma cela, dois prisioneiros: um, Molina, homossexual, preso por atentado ao pudor; o outro, Valentim, é um militante de estrema esquerda, e é prisioneiro político. Um e outro constituem atentados ao poder instituído, mas obviamente o primeiro é um prisioneiro “folclórico” de uma falsa moral ofendida, o segundo sim, é um preso a abater, que atenta contra a segurança e os privilégios do Poder. Um vai fugindo à triste realidade da cela contando e recontando vezes sem conta, e com minúcia extrema, o argumento do seu filme de eleição, “Cat People”, a obra-prima de Jacques Tourneur. O segundo procura manter a frieza do conspirador, pensa na revolução e acha infantilidades as conversas do companheiro de cárcere, até que nasce entre ambos uma profunda amizade de respeito e compreensão mútuos.
Em 1981, tive a sorte de ver no Rio de Janeiro, no Teatro Ipanema, uma excelente versão teatral desta obra dirigida por Ivan de Albuquerque, experimentado actor e encenador brasileiro que, com esse trabalho, ganhou o prestigiado Troféu Mambembe para a melhor encenação do ano. A interpretação estava a cargo de dois magníficos actores, José de Abreu e Rubens Corrêa, este último considerado um dos maiores actores que o Brasil já conheceu, e que ganhou todos os prémios importantes da crítica especializada com este seu desempenho. Era um espectáculo inesquecível, que assim continua.
Mas, em palco, “O Beijo da Mulher Aranha" não se ficou por esta versão. Recentemente estreou-se na Broadway, nos EUA, um musical, que já tem versão brasileira em cena em São Paulo. Terence McNally, John Kander e Fred Ebb foram os autores da adaptação, numa produção orçada num milhão de dólares, com direcção cénica de Wolf Maya e direcção-geral de Billy Bond. Do elenco, fazem parte Cláudia Raia, Miguel Falabella e Tuca Andrada.
Em 1981, tive a sorte de ver no Rio de Janeiro, no Teatro Ipanema, uma excelente versão teatral desta obra dirigida por Ivan de Albuquerque, experimentado actor e encenador brasileiro que, com esse trabalho, ganhou o prestigiado Troféu Mambembe para a melhor encenação do ano. A interpretação estava a cargo de dois magníficos actores, José de Abreu e Rubens Corrêa, este último considerado um dos maiores actores que o Brasil já conheceu, e que ganhou todos os prémios importantes da crítica especializada com este seu desempenho. Era um espectáculo inesquecível, que assim continua.
Mas, em palco, “O Beijo da Mulher Aranha" não se ficou por esta versão. Recentemente estreou-se na Broadway, nos EUA, um musical, que já tem versão brasileira em cena em São Paulo. Terence McNally, John Kander e Fred Ebb foram os autores da adaptação, numa produção orçada num milhão de dólares, com direcção cénica de Wolf Maya e direcção-geral de Billy Bond. Do elenco, fazem parte Cláudia Raia, Miguel Falabella e Tuca Andrada.
“Kiss of the Spider-Woman”, uma co-produção americana e brasileira, de 1985, marcou a consagração mundial da obra de Puig, mas também dos seus responsáveis, o realizador Hector Babenco, os actores William Hurt, Óscar de Melhor Actor, Sónia Braga e Raul Júlia. Recebeu ainda outras três indicações: Melhor Filme, Melhor Realizador e Melhor Argumento Adaptado. Arrecadou mais quatro nomeações para os Globos de Ouro: Melhor Filme, Drama, Melhor Actor de Drama (Raul Julia e William Hurt) e Melhor Actriz Secundária (Sónia Braga). No Festival de Cannes, ganhou o Prémio de Melhor Actor (William Hurt) e ganharia ainda um prémio especial do Independent Spirit Awards.
Curiosidade que poucos saberão: foi o actor Burt Lancaster, que recebeu por isso um agradecimento especial no genérico final do filme, quem primeiramente se interessou e iniciou o projecto cinematográfico de “O Beijo da Mulher Aranha”, que, nessa altura, tinha como título provisório, "Molina".
Curiosidade que poucos saberão: foi o actor Burt Lancaster, que recebeu por isso um agradecimento especial no genérico final do filme, quem primeiramente se interessou e iniciou o projecto cinematográfico de “O Beijo da Mulher Aranha”, que, nessa altura, tinha como título provisório, "Molina".
Voltemos a Lisboa, 2007, e à peça que se estreou no dia 31 de Janeiro, no Mundial, com encenação de Almeno Gonçalves, e interpretação de Luís Lourenço (Molina), Pedro Giestas (Valentín). A nova versão, numa tradução escorreita, poética, eficaz, é da responsabilidade de Marta Mendonça. Diga-se que globalmente se trata de um bom espectáculo, mesmo surpreendente nalguns aspectos, muito embora se possam e devam fazer dois ou três reparos: o primeiro tem a ver com o cenário, demasiado abstracto, que nunca dá a sensação de clausura, de huit clos, nem se aproxima, de perto ou de longe, do ambiente da cela de uma prisão de um qualquer país da América Latina; o segundo, terá a ver obviamente com uma opção da encenação, ao suavizar um pouco o clima conflitual no interior da cela, procurando uma versão light para o desenho das personagens, que se querem mais fortes e contrastadas. Posto isto, é óbvio que a peça fica um pouco diminuída no seu poder de choque. Mas o que vemos são dois actores jovens defendendo com muita dignidade e emoção um texto muito difícil, que ultrapassam com entusiasmo e sensibilidade. Luís Lourenço, que só era conhecido por ter trabalhado em “Morangos com Açúcar”, é uma boa revelação. Pedro Giestas, mais experimentado, aguenta muito bem a figura do revolucionário. No todo, um espectáculo a ver, integrado num esforço de dinamizar o Mundial como sala de teatro (2) que só nos pode merecer aplausos.
"É uma história de amor", resumiu o encenador, explicando que esta peça surge no âmbito de uma trilogia que está a ser levada a cena pela OnTheRoad, uma estrutura de produção de conteúdos teatrais formada pelo Teatro Mundial, Teatro Nacional D. Maria II e Teatro da Trindade, com o objectivo de levar as peças que produz a todo o país para dinamizar os novos teatros e criar novos públicos. A primeira peça desta trilogia de histórias de amor é "Proof - Amor à Prova", de David Auburn, actualmente em cena no Mundial, "O Beijo da Mulher Aranha" é a segunda e a terceira será "Amo-te, Che", um musical do português Abel Neves, que será estreado em Abril.
O Beijo da Mulher Aranha, de Manuel Puig, com tradução e adaptação de Marta Mendonça; Encenação, desenho de luzes: Almeno Gonçalves; Intérpretes: Pedro Giestas e Luís Lourenço (e ainda Orlando Costa, no vídeo); Cenografia e figurinos: Cristina Cunha; De quarata a sábado, 21h30; Domingos, 16h; Maiores 16 anos; Teatro Mundial Rua Martens Ferrão, 12 A1050-160 Lisboa; até 31 de Março.
"É uma história de amor", resumiu o encenador, explicando que esta peça surge no âmbito de uma trilogia que está a ser levada a cena pela OnTheRoad, uma estrutura de produção de conteúdos teatrais formada pelo Teatro Mundial, Teatro Nacional D. Maria II e Teatro da Trindade, com o objectivo de levar as peças que produz a todo o país para dinamizar os novos teatros e criar novos públicos. A primeira peça desta trilogia de histórias de amor é "Proof - Amor à Prova", de David Auburn, actualmente em cena no Mundial, "O Beijo da Mulher Aranha" é a segunda e a terceira será "Amo-te, Che", um musical do português Abel Neves, que será estreado em Abril.
O Beijo da Mulher Aranha, de Manuel Puig, com tradução e adaptação de Marta Mendonça; Encenação, desenho de luzes: Almeno Gonçalves; Intérpretes: Pedro Giestas e Luís Lourenço (e ainda Orlando Costa, no vídeo); Cenografia e figurinos: Cristina Cunha; De quarata a sábado, 21h30; Domingos, 16h; Maiores 16 anos; Teatro Mundial Rua Martens Ferrão, 12 A1050-160 Lisboa; até 31 de Março.
Obrigada, querido Lauro. Estou muito satisfeita com o resultado final de "O Beijo da Mulher Aranha".
ResponderEliminarFoi um prazer conhecer os dois. Ontem estive o dia todo sem net, mas hoje vou dar uma vista de olhos ao texto que mandaste, ok?
Beijinhos e até breve.
P.S. Espero que estejam disponíveis para ir a outra estreia, desta vez em Oeiras, ainda este mês, assistir a uma peça com Lurdes Norberto e Manuela Maria, numa adaptação minha. Beijos.
Parece-me uma excelente dica: vou seguir a recomendação e tentar assistir ainda este mês.
ResponderEliminarA peça é o máximo e vale a pena ir!
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