segunda-feira, setembro 18, 2006

CINEMA - A CASA FANTASMA

“A CASA FANTASMA”

D.J., Chowder e Jenny (nas vozes de Mitchel Musso, Sam Lerner e Spencer Locke), adolescentes, habitando num daqueles tão característicos bairros suburbanos norte-americanos, descobrem que a casa fronteiriça à da família de D.J. está assombrada. Para lá de ter um proprietário de meter medo a qualquer incauto, sempre que lhe pisam a relva do jardim, estranhos acontecimentos sucedem, demonstrando que a casa parece estar viva e engolir o que lhe passa ao redor. A polícia não acredita na versão dos jovens, e dado que assim é são eles próprios que resolvem investigar o mistério. No dia em que o sinistro Nebbercracker tem (ou julgam eles e julgamos nós que tem) um fulminante ataque de coração, os jovens invadem a casa e vão descobrir quais os segredos que ela encerra. Do piorio esta visita à casa fantasma, que até faz arrepiar os cabelos aos adultos, quanto mais às crédulas criancinhas. É mesmo um susto dos antigos, com portas a ranger, precipícios, terrores vários, ameaças múltiplas.
São Steven Spielberg e Robert Zemeckis, como produtores executivos, que dão a cara por esta nova produção da “Dreamworks”, que tem realização de Gil Kenan, um filme de animação tridimensional, técnica que já estivera na base de “Polar Express”, em 2004. Deve dizer-se que a qualidade técnica, sobretudo na animação das personagens humanas, é muito melhor, o que importa referir numa obra onde estas são essenciais. O filme repousa sobretudo em figuras humanas, três jovens, muito bem caracterizados psicologicamente (e fisicamente!), um velho rezingão, e alguns secundários, como os agentes de polícia ou os familiares adultos dos adolescentes. Não esquecendo obviamente o lado espectacular do terror, que advém da terrifica humanização da casa. Ao falar em humanização da casa há que referir que por detrás dela está a voz, mas também os gestos de Kathleen Turner, e não esquecer que quem procede de igual modo quanto a Nebbercracker é Steve Buscemi. O que ajuda a esta bela festa do fantástico para jovens apreciadores (será que não haverá, porém, alguns que se deixam intimidar em demasia pelos efeitos especiais? Eis uma dúvida a manter.


A CASA FANTASMA (Monster House). de Gil Kenan (EUA, 2006), com as vozes de Mitchel Musso, Sam Lerner, Spencer Locke, Maggie Gyllenhaal, Kevin James, etc. 91 min; M/ 6 anos.

CINEMA: Let's look at the Trailer

“DOUTOR ESTRANHO AMOR”
(Ou como aprendi a amar o preservativo e deixei de me preocupar)
Recebi de uma “velha” amiga (“velha” é como quem diz, já a conheço há alguns anos, era ela menina e moça), a Leonor Areal, um email que rezava assim:

“Doutor Estranho Amor”
(Ou como aprendi a amar o preservativo e deixei de me preocupar)
Um filme de Leonor Areal
Exibição em 21 de Setembro
às 15h30 no cinema Quarteto
Integrado no Festival de Cinema Gay e Lésbico de Lisboa
E explicava-se o que era o filme: “Este documentário mostra uma Brigada de estudantes de medicina que faz prevenção da SIDA numa escola. Ao longo de 10 semanas, acompanhamos os seus insucessos e conquistas junto de uma turma de adolescentes problemáticos. Um filme que nos coloca inúmeras questões sobre como falar de sexualidade, centrando o seu olhar no confronto de valores dos intervenientes e nos laços entre eles criados, ao longo desta experiência de mudar comportamentos e consciências.”
Mais informações em:
http://videamus.planetaclix.pt/doutor_estranho_amor.htm

Ora bem, não vi o filme em questão, mas conhecendo alguns trabalhos da Leonor, mau não é certamente. Valerá seguramente a deslocação. Mas o título, a glosar Kubrick, é perverso: “Doutor Estranho Amor” (ou como aprendi a amar o preservativo e deixei de me preocupar). Deixei de me preocupar com o acto, com o parceiro? Por essa de “amar o preservativo”, alguém se deixa encantar? O "outro" amava a “bomba atómica”, era irónico, e muito. Este se é irónico, não funciona. Se é sério, meu Deus, onde nos levam as novas tecnologias, a amar o preservativo! É a isto que se chama “tomar a parte pelo todo”. Se alguém vir passar um garboso militar e disser: “Que bem que lhe fica a farda”, ou “que bonito que vai com aquela farda”, enfim, não é o ideal, mas cai bem. Agora se o virem passar e disserem: “Que bela farda!”, acho que o militar se sente diminuído. Daí a um grave problema psicológico, vai um instantinho. Mas pode ser muito mais grave: um par de namorado no momento de intenso clímax, ela olhar para ele, e segreda-lhe: “Amo o preservativo”. Não poderá ser causa de disfunção e impotência instantânea?
Leonor não leve a mal a brincadeira, e espero que a apresentação seja um "sussexo". "Seguro". Se puder lá estarei. Não sei se num blog ficará bem, mas “Muita merda!”

domingo, setembro 17, 2006

TELEVISÃO

“OF BEAUTY AND CONSOLATION”

Durante algumas semanas a SIC, por volta das três da manhã, em lugar do “Jornal Rural”, apresentou um programa de entrevistas que tinha como título genérico “of Beauty and Consolation” (“Van De Schoonheid en de Troost”, no original, “Da Beleza e da Consolação”, na tradução portuguesa). Por acaso vi um ou dois episódios porque alguém amigo me telefonava na altura a dizer “Vai começar agora!” ou “Apanhei o programa a meio!”
Nos jornais, às vezes lia-se:

03:00 - SIC Apresenta: Beauty & Consolation
Elucidativo.
Acontece que era um programa brilhante, onde a inteligência e a crítica, a observação social e a teorização sobre a arte, a sociedade, a religião, a filosofia atingiam níveis raramente alcançados, com uma simplicidade de linguagem e uma ausência de pedagogia barata que cintilava. Foi uma série de vinte e seis longas conversas com vinte e seis relevantes personalidades do mundo da arte, da ciência, da música, do canto, da literatura, da filosofia. Quem realizava o programa era um holandês, Wim Kayzer. Esta série foi estreada na VPRO, um canal holandês, a 2 de Janeiro prolongando-se até 1 de Julho de 2000.
Participam na série (por ordem alfabética): Karel Appel, pintor, Vladimir Ashkenazy, pianista e maestro, Catherine Bott, soprano, John Coetzee, escritor, Richard Dufallo, maestro, Freeman Dyson, cientista, Rudi Fuchs, director de museu, Jane Goodall, escritor, Stephen Jay Gould, zoólogo e paleontólogo, Germaine Greer, escritora, György Konrád, escritor, Rutger Kopland, poeta e psiquiatra, Leon Lederman, cientista, Elizabeth Loftus, psicóloga, Gary Lynch, psicólogo e químico, Yehudi Menuhin, violinista e maestro, Martha Nussbaum, filósofa, Richard Rorty, filósofo, Simon Schama, historiador, Roger Scruton, filósofo, Wole Soyinka, escritor, George Steiner, escritor e filósofo, Tatjana Tolstaja, escritor, Dubravka Ugresić, escritor, Steven Weinberg, cientista e Edward Witten, cientista e matemático. O último programa reunia os 26 em debate animado e muito polémico sobre o tema central. O encontro deu-se a 9 de Julho de 2000, no Stedelijk Museum, em Amesterdão. Era domingo.
Perdi quase todos os programas e tenho pena. Como eu algumas dezenas, ou centenas, de portugueses, gostariam de ter acesso a esta série. Se possível traduzidas em português, mas nunca em VHS, e em holandês, única versão até hoje acessível ao público internacional. Pode ver AQUI como conseguir essa colecção.

Mas há um site holandês, onde é possível ter acesso a uma curiosa documentação áudio e vídeo em inglês. Veja AQUI.
Não haverá uma editora de DVDs interessada em lanças no mercado nacional tal colecção? Há apoios comunitários para a edição, e há muitos portugueses interessandos. Que tal um esforço nesse sentido? Costa do Castelo? Prisvídeo? Lusomundo? LNK? Atalanta? Castello Lopes?

sexta-feira, setembro 15, 2006

CINEMA: Diário de um Novo Mundo

“DIÁRIO DE UM NOVO MUNDO”

“Diário de Um Novo Mundo”, de Paulo Nascimento, uma co-produção luso-brasileira, é um filme de uma confrangedora mediocridade, partindo de um romance de Luiz António de Assis Brasil, com argumento escrito por Pedro Zimmermann, que aborda as divisões da América entre portugueses e espanhóis, durante a época colonial (segunda metade do século XVIII), as emigrações de açorianos para o Brasil, a vida na colónia portuguesa, os amores e as traições, e etc.
Um quadro do Brasil colonial, dir-se-ia a pretensão. Mas é tudo tão pouco claro no filme. Que sirva ao menos para recordar um pouco de história: Na segunda metade do sec. XVIII, a colonização portuguesa procurou alargar e proteger o território do sul do Brasil (terras que hoje são do Uruguai, da Argentina e do sul do Brasil), disputado disputadas pelos espanhóis. Foi um tempo de guerra e violência, de ambição e de descoberta de “novos mundos”. Para garantir um reforço da posição portuguesa foram enviadas tropas, mas também colonos, sobretudo açorianos. Em 1748, o rei Dom João V promulga legislação de apoio à emigração. Muitos colonos açorianos lançam-se à aventura com rumo ao Rio Grande do Sul e à ilha de Santa Catarina. Com a promessa da coroa portuguesa de que daria terra e condições muito especiais às famílias que aceitassem ir povoar as terras brasileiras, muita gente partiu. Muitos não chegaram ao seu destino. Muitos, mais valeria que não o tivessem feito. Outros houve que marcaram com o seu sangue (e o alheio) esse pedaço de terra que ainda hoje mantém características muito especificas.
O filme começa em 1752, quando uma caravela portuguesa chega ao Brasil, transportando emigrantes açorianos. Durante viagem muitos morreram, havendo mesmo assim alguns sobreviventes que aportam à ilha de Santa Catarina, entre os quais o médico Gaspar de Fróes (Edson Celulari), que mantém um diário contando toda a perigosa viagem. E alguns aspectos da subsequente estadia em terras de Vera Cruz, misturados com uma tórrida história de amor, o adultério de uma mulher casada, Dona Maria (Daniela Escobar) casada com um tenente português, de nome Covas (Rogério Samora), que se entrega, e deliberadamente seduz, o já citado Gaspar de Fróes, que convalescia de um desgosto, a morte da mulher, quando esta tinha apenas 23 anos. Isto está tudo um pouco confuso, não está? Pois, é para conseguir captar o tom do filme, que tem uma narrativa sem pés nem cabeça, uma realização de bradar aos céus, uma fotografia baça e desfocada (seria da projecção?), uma interpretação tremendamente medíocre, mesmo quando os actores já deram provas anteriormente (salvam-se os portugueses!, eureka!), uma reconstituição “histórica” falsa como Judas (não é falsa por estar errada, é falsa de não ser vivida, de parecer tudo uma loja de antiguidades, dos actores não terem o mínimo de naturalidade, de se vestirem como manequins, de usarem adereços só para “mostrarem” a época, de nada ser como é, mas como deve ser para a fotografia).
Uma co-produção luso-brasileira, onde não vejo qual tenha sido a utilidade deste empate de capital nacional. O resultado é zero, muito embora o filme tenha ganho dois prémios no festival do Gramado. Como é possível? Gramado aqui vem de gramar?

"Diário de Um Novo Mundo", de Paulo Nascimento (Brasil, Portugal, 2005), com Edson Celulari, Daniela Escobar, Rogério Samora, Jean Pierre Noher, José Vitor Castiel, Gonzalo Durán, Marcos Paulo, José Eduardo, Felipe Kannenberg, Ney Matogrosso, etc. 94 minutos; M/ 12 anos;

UM FILME EM DEBATE

"Angel-A"
De repente, "Angel-A", de Luc Besson, apareceu em grande nos blogs portugueses. Alguns textos:
No "Divas e Contrabaixos", surge um bom texto de Maria do Rosário Fardilha. Não vi ainda o filme, não acredito que tenha o mesmo entusiasmo (Luc Besson não é realizador da minha especial preferência, faz sempre o filme que outros já fizeram, mas a um nível abaixo, o que é sempre frustrante. Este "cheira-me" que é Wim Wenders, sem o golpe de asa). Acontece que o texto da "Diva" é bom, inteligente, bem escrito. Vale a pena espreitar.
No "Ante e Post", um blog colectivo muito desequilibrado (*) (tem vindo a piorar, o Verão foi nefasto!), onde o mau gosto e o oportunismo mais rafeiro se cruzam com bons textos, inteligentes e coisas divertidas, uma referência da Lilly Rose merece igualmente reflexão. Esta Lilly Rose (que, há dias, assinara um belo texto neste blog, sobre "ser portuguesa", e que tem novo blog seu, "Antes que me Deite II", para deleite dos muitos fãs da sua sensualidade forte, onde dá livre curso às suas fantasias com alguma subtileza e uma evidente envolvência) não fala tanto do filme mas da procura de "anjos franceses". que a sobressaltam, quero quer.
Este texto, intimista, "inspirou-me" um comentáro que aqui transcrevo:

"Não será retirar-te valor, nem ao teu belo post, mas já agora aproveito para referir um texto, num outro blog, sobre este filme, que me parece interessante: http://www.divasecontrabaixos.blogspot.com/ Vale a pena ler. Eu não sou um apaixonado por Luc Besson, um francês muito americanizado, muito comercialão, mas com talento. O teu texto é bonito, e espero que encontres o teu "anjo francês", se ainda o não encontraste. E tens razão: há muitos falsos anjos só com pele deles, mas alma de puta. Já é muito mais dificil encontrar putas com almas de anjo, mas não se deve perder a esperança. E não acredito que apareçam só em França. Nem em Berlim. Mas tu lá sabes onde os procuras. Os anjos não se procuram, porém. Encontram-se. E quando assim acontece, guardam-se num cantinho que muitos (deveriam ser todos) temos no coração. Um cantinho quente e confortável, onde o anjo se aconchega e se sente bem. Mas não é preciso só encontrar anjos. É preciso estar "disponível" para os receber no seu coração. Ou seja: "ser" anjo para "ver" os anjos. Só os anjos descobrem os seus semelhantes. Por isso tanto gente os procura e os não descobre. Talvez porque não está preparada, não tem o cantinho no coração aberto a essa descoberta, não tem os olhos abertos para o mistério que é ser-se anjo. E há tantas formas de se ser anjo e tanta maneira de os ver. Beijos, de anjo para anjo.:) Quem dera!
Colocado por: Lauro António setembro 15, 2006 01:33 AM
POST_POST
(*) Por lapso, tinha saído "desiquilibrado". Normalmente escrevo estes posts em directo, no local da postagem, por vezes altas horas da noite, e é vulgar surgirem lapsos. De resto, não sou perfeito, nem anjo, nem nunca me arvorei em tal. E sempre dei erros de ortografia (o que deixava muito triste a minha querida avó Júlia, professora). Mas como houve uma alma caridosa que salientou o facto, apressei-me a rectificá-lo para não difundir, entre outros, "erros meus, má forrtuna." (ver comentários rápidos). Acontece que sei aceitar falhas próprias, o que pelos vistos não acontece com os satisfeitinhos consigo próprios, que não toleram críticas, que se sentem felizes com o que fazem, que se divertem muito com o disparate inconsequente, que julgam os outros por si próprios (orgulho-me muito se tiver 10 leitores, não me orgulharia nada de ter 3.000 se os tivesse, vendendo a alma ao demónio, para me manter no território dos anjos e dos demónios - por isso não ando a postar opiniões noutros blogs para ser visitado, prática de bajulice sistemática em certos dominios da blogosfera). E é verdade: a minha mãe nunca me previniu contra bloguistas. Não precisou. Sei prevenir-me por mim próprio.
Para terminar com esta polémica que nunca deveria ter sido, que nunca desejei: referi que o citado blog era muito desiquilibrado (emendei depois para desequilibrado). Se calhar, tenho de emendar algo mais: é mesmo muito equilibrado: merecem-se todos uns aos outros. Será? A verdade é que alguns que eu considerava em bom plano só me dão desilusões. Outros, mantêm-se ao nível habitual. O que é triste, o que me levou ao comentário inicial, é que globalmente este blog nao é escrito por inconsientes incultos. Não conheço pessoalmente os seus membros, mas tudo o que escrevem denota um nível cultural acima da média. Infelizmente, por vezes desbaratam esse capital, num puro "divertimento", no mínimo muito discutível, que deixa bastante a desejar. Como só mandam beijinhos e felicitações uns aos outros, haver uma voz de fora a chamar a atenção para este desperdício de talento, podia ser um alerta bem vindo. Afinal em certos campos da blogosfera seduz-se para se ser seduzido, em circuito fechado (fechado ou aberto, isso é outra questão, e deve haver para todos os gostos!). É o "toma lá beijinhos e dá cá beijinhos", "que bem que escreves!", "que lindo post!", tudo em superlativo. Em hipocrisia (depois criticam-se pelas costas e devoram-se em invejas - ando cá há três meses, mas já deu para perceber). Há quem queira uma blogosfera portuguesa assim. Assim seja. Amem.
Por mim, o caso está encerrado. Há mais anjos no céu. Alguns devem ser verdadeiros.

quinta-feira, setembro 14, 2006

O LADRÃO DE IMAGENS Uma Thurman

UMA THURMAN

Continuam os roubos: agora,
de um blog que tem belissimas imagens
e muito bom gosto a escolhê-las: "E Deus criou a Mulher"

quarta-feira, setembro 13, 2006

UM BLOG (POR DIA) PARA VISITAR (27)


"O LEÃO DA ESTRELA"

Durante alguns anos mantive no jornal "A Bola", uma página de cinema a que dei o título "O Leão das Estrelas" (uma rincadeira com o nome do filme de Arthur Duarte, mesclando-o com as estrelas que a crítica costuma atribuir aos filmes). Hoje, chamo a atenção, sobretudo dos sportinguistas que me lêem, para um blog de um sportinguista chamado "O Leão da Estrela" e que, dentro dos blogs de adeptos, com o fanatismo sadio inerente a estas coisas, sem as quais nada disto tem graça, se me afigura um blog obviamente apaixonado, muito bem informado sobre o futebol sportinguista, bem documentado, e sem a grosseria e a malidicência baixa de tantos e tantos adeptos de todos os clubes do mundo. Ora se o fanatismo (sadio) tem de existir, é bom que ele coexista com civilidade e cumplicidade. Sem adversários não haverá competição, sem competição não haverá gozo, nem paixão, nem fanatismo (sadio). Sem adversários eu não roeria as unhas sempre que o SCP joga. Os adversários são essenciais e devem-se respeitar. Podemos dar e receber alfinetadas, o que é sádio e pode ser um exercício de inteligência, de humor, de sensibilidade, de observação. Mas nunca ofender ou vilipendiar de forma primária e estúpida. (Eu sei que é dificil contermo-nos se formos, por exemplo, do Beira Mar e apanharmos pela frente com uma arbitragem como aquela do jogo em Leiria!). Mas não estamos na Idade da Pedra. (Nós não, mas alguns árbitros e muitos dirigentes, sim). "O Leão da Estrela" parece um bom exemplo desse tipo de trabalho devotamente apaixonado, mas equilibrado, correcto, inteligente. Um blog jovem (com apenas dois meses), mas com muito trabalho já feito, e uma excelente fonte de informação e de "linkagem" (jornais, blogs, sites, instituições, foruns, etc.).
Aqui fica um exemplo de um bom texto, aparecido logo a seguir ao término do jogo Sporting-Inter, que o autor teve a amabilidade de vir colocar como comentário ao meu Viva o SCP!.



SCP, 1 - INTER DE MILÃO, 0 Leõezinhos à solta
Confesso que não estava à espera de uma vitória sobre o poderoso Inter de Milão. Por várias razões. O Sporting é uma equipa jovem e sem grande experiência internacional ao mais alto nível e apresentava-se desfalcado de jogadores nucleares na zona central do campo. A repetição do 0-0 do jogo da pré-temporada já seria, por isso, "um bom resultado". Mas os 90 minutos de um jogo intenso e disputado a grande ritmo revelaram um Sporting quase perfeito, a jogar um futebol total, atacando e defendendo em bloco, um Sporting combativo, competitivo e harmonioso, capaz de justificar a vitória por 1-0, conquistada através de um golo estupendo de Marco Caneira. A partir de hoje, há leõezinhos à solta na Europa do futebol. A partir de hoje, os holofotes do futebol internacional voltam-se para Lisboa e Alcochete. Importa não perder o pé e continuar a trabalhar com afinco e humildade. Importa interpretar correctamente o discurso sereno e realista do treinador Paulo Bento, interiorizando as ideias centrais. Afinal, o Sporting tem seis pontos da Superliga e três pontos na Liga dos Campeões, mas ainda não ganhou nada. Um discurso talvez pouco adequado a uma noite de glória como esta, tal a valia e o poder do adversário italiano que hoje caiu em Alvalade. Mas um discurso cem por cento certo para que a equipa leonina continue com os pés assentes no chão, semeando qualidade e profissionalismo por essa Europa fora e demonstrando que o futebol português que acontece dentro das quatro linhas não tem nada a ver com quem o dirige e o regula fora delas.
Quarta-feira, Setembro 13, 2006 12:50:22 AM

terça-feira, setembro 12, 2006

SCP

VIVA O
Agora só falta
as outras equipas portuguesas
(de algumas cidades importantes,
como Lisboa, Porto,
Braga, Setubal ou
da região da Madeira)
seguirem a lição do mestre
e ganharem as suas partidas
a partir de amanhã.
Não custa muito:
é só preciso talento.
(juro que vou torcer por todas!)

LIVROS

“A IDEIA DE EUROPA”

Pode falar-se de uma "ideia de Europa"? Que significa a identidade europeia frente à América e à progressiva globalização? Que pode definir uma ideia de Europa? George Steiner interroga-se num brilhante e curto ensaio a que deu o título de “A Ideia de Europa”, e que parte de uma conferência que proferiu no “Nexus Institut” de Amesterdão, durante a presidência holandesa da União Europeia, em 2004. Há cinco itns para Steiner que podem ajudar a formar uma ideia de Europa. Todos eles de cariz cultural e humanista:
A reunião, a tertúlia nos cafés, a homenagem nas avenidas, ruas e praças a grandes nomes da arte, da ciência e do pensamento europeus, a relação do homem com a paisagem, a humanização da geografia, "a 'ideia de Europa' como um 'conto de duas cidades, " entre Atenas e Jerusalém”, “muito frequentemente, o humanismo europeu, de Erasmo a Hegel, procura diversas formas de compromisso entre ideais áticos e hebraicos” , e ainda um quinto elemento: a "consciência escatológica" - o "pânico do ano mil" -, que, no entender de Steiner, é exclusiva do modo de ser europeu, "como se a Europa (..) tivesse intuído que um dia ruiria sob o peso paradoxal dos seus feitos e da riqueza e complexidade sem par da sua História".
O ensaio começa mesmo por uma evocação portuguesa: "A Europa é feita de cafetarias, de cafés. Estes vão da cafetaria de Pessoa, em Lisboa, aos cafés de Odessa frequentados pelos gangsters de Isaac Babel. Vão dos cafés de Copenhaga, onde Kierkegaard passava nos seus passeios concentrados, aos balcões de Palermo. Desenhe-se o mapa das cafetarias e obter-se-á um dos marcadores essenciais da 'Ideia de Europa'". "Na Milão de Stendhal, na Veneza de Casanova, na Paris de Baudelaire, o café albergava o que existia de oposição política, de liberalismo clandestino".
Com prefácio de Durão Barroso na edição portuguesa (em Espanha o livro foi prefaciado por Mário Vargas Llosa), "a Europa tem na liberdade e na diferença a condição e garantia da sua diversidade".
Leia-se um excerto para se ter a consciência de que a inteligência é realmente um dom:

A Europa Ocidental e a Rússia Ocidental tornaram-se casas de morte, cenários de uma bestia­lidade sem precedentes, seja ela a de Auschwitz ou a do Gulag. Mais recentemente, o genocídio e a tortura regressaram aos Balcãs. À luz - dever-se-ia dizer “às trevas”? - destes factos, torna-se quase uma obriga­ção moral acreditar no termo da ideia europeia e das suas habitações. Com que direito deveríamos sobrevi­ver à nossa própria desumanidade suicida?
Cinco axiomas para definir a Europa: o café; a paisagem a uma escala humana que possibilita a sua travessia; as ruas e praças nomeadas segundo esta­distas, cientistas, artistas e escritores do passado — em Dublin, até nos terminais rodoviários se indica o caminho para as casas de poetas; a nossa descen­dência dupla de Atenas e Jerusalém; e, por fim, a apreensão de um capítulo derradeiro, daquele fa­moso ocaso hegeliano que ensombra a ideia e a subs­tância da Europa mesmo nas suas horas mais lumi­nosas.
E a seguir?”
.
“Há duas vozes que nos podem ajudar a encontrar o caminho.
Em Munique, no Inverno desesperado de 1918--1919, Max Weber proferiu uma palestra sobre o conhecimento e a ciência (Wissenschaft) enquanto vocação. Embora não completamente registada, a sua comunicação depressa se tornou um clássico. A Euro­pa jazia em ruínas. A sua civilização, a sua eminência intelectual, da qual o ensino secundário alemão tinha constituído garantia emblemática, revelara-se impo­tente face à demência política. Como se podia restau­rar o prestígio, a integridade da vocação do erudito, pensador e mestre? Profeticamente, Weber previu a americanização, a redução à burocracia gestora da vida do espírito na Europa. Como podia o ensino ser unido novamente à investigação científico-erudita, ao intelecto especulativo de primeira ordem? A rubrica abjecta da «correcção política» ainda não fora en­gendrada. Mas Weber viu e declarou o essencial: «A democracia deve ser praticada onde é apropriado. A formação científica, contudo, [...] implica a existên­cia de um certo tipo de aristocracia intelectual.» Antes de Benda, Weber estabeleceu o ideal austero de uma verdadeira intelectualidade: «A quem faltar a capaci­dade de colocar antolhos a si mesmo [...] e de se con­vencer de que o destino da sua alma depende da correcção ou não da sua interpretação de determi­nada passagem de um manuscrito, será sempre um estranho à ciência e ao estudo.» Os insensíveis àquilo que Platão designava como «mania», à possessão do seu ser pela demanda de verdades tantas vezes ardua­mente abstractas, não utilitárias, devem ir para outro sítio. Os cientistas, os eruditos e os artistas estão, nas palavras de Weber, comprometidos com um ideal sacrificial, antigo como os pré-socráticos e caracterís­tico do génio da Europa.”

LIVROS

“AS VELAS ARDEM
ATÉ AO FIM”

Já tinha aqui referido o húngaro Sándor Márai, quando dele li “A Herança de Eszter”. Nessa altura apareceu um comentário de “Silêncio” que dizia assim: “É, sem dúvida, um bom livro, mas, na minha opinião, não atinge a força e a profundidade de "As Velas Ardem até ao Fim". Este sim um livro excepcional.” Li, dei a ler, é realmente a descoberta de um grande escritor. Este romance, que fala do re-encontro de dois velhos militares que têm algo a contar um ao outro, toca de forma muito secreta em temas como a amizade, o amor, a homossexualidade, a traição, o re-encontro, a velhice, e tantos mais, é realmente uma obra-prima do romance moderno. Vale a pena ler. Ficam aqui dois excertos de uma narrativa matizada e subtil, onde nada transcende o murmúrio, mas marca definitivamente uma leitura.

“- É que estou a contar isto com bastantes pormenores - diz como quem se justifica. - Mas não pode ser de outra maneira: só através dos pormenores podemos perceber o essencial, aprendi assim nos livros e na vida. É preciso conhecer todos os detalhes, porque nunca sabemos qual deles é importante, quando pode uma palavra iluminar um facto. Deve-se manter a ordem em tudo. Mas agora já não tenho muito para contar. Tu tinhas fugido, a Krisztina saiu, foi para casa na caleça. E eu, o que posso fazer nesse momento e nos próximos tempos?... Olho para o quarto, o lugar de onde a Krisztina acabou de sair. Sei que na entrada, atrás da porta, está a tua ordenança, numa postura hirta. Chamo-o pelo seu nome, ele entra e faz continência. “Às suas ordens!” - diz. “Quando é que saiu o senhor capitão?...” “No comboio rápido da madrugada.” Esse comboio vai para a capital. “Levou muita bagagem consigo?...” “Não, apenas umas roupas civis.” “Deixou alguma ordem ou mensa­gem?...” “Sim. Há que fazer a liquidação da casa. E vender a mobília. O senhor advogado trata disso. Eu vou regressar ao regimento” - diz. Só diz isso. Olhamo-nos. E então acontece algo que é difícil de esque­cer: a ordenança - um rapaz de vinte anos, de origem camponesa, lembras-te certamente do seu rosto bondoso, inteligente e humano - aban­dona a posição de sentido hirto, deixa de me olhar nos olhos, como impõe o regulamento, e já não é o soldado que está em frente do seu superior, mas um homem que sabe alguma coisa diante de um outro homem de quem tem pena. Há no seu olhar algo de humano, de com­passivo, que me empalidece, mas que logo depois me deixa completa­mente corado... Neste ponto - pela primeira e última vez na história acontece que eu também perco a cabeça. Aproximo-me dele, agarro-lhe no dólman à altura do peito e com um movimento brusco, quase o levanto do chão. Estamos tão próximos que os nossos hálitos se con­fundem. Olhamo-nos profundamente nos olhos, o olhar do moço reflecte horror e ainda continua com aquela compaixão. Sabes que, nessa altura, não era aconselhável a ninguém cruzar-se com os meus punhos; partia tudo em que não tocava com cuidado. Como também sei isso, sinto que ambos estamos em perigo, eu e o moço. Por isso o solto, quase o deixo cair no chão, como um soldadinho de chumbo; as botas fazem um baque no soalho, ele põe-se outra vez em posição de sentido, como num desfile militar. Tiro um lenço do bolso para secar a testa. Basta uma pergunta e esse rapaz responderá. A pergunta é a seguinte: “A senhora que acabou de sair, tinha vindo cá outras vezes?...” Se ele não me responde, mato-o. Talvez o matasse também, mesmo que me respondesse, e talvez não só a ele... em momentos assim, não há amizade. E, ao mesmo tempo, sei que é escusado per­guntar. Sei que a Krisztina tinha vindo cá antes; não só uma vez, mas muitas vezes.
Recosta-se na poltrona e, com um movimento lento, deixa repou­sar as mãos nos braços da cadeira.
- Agora já não faz sentido perguntar nada - diz.- Aquilo que falta saber, um estranho não o pode revelar. É preciso saber porque é que aconteceu tudo aquilo. E onde está o limite entre seres humanos? O limite da traição? Era preciso saber isso. E ainda, que culpa tenho eu em tudo isto...
Di-lo em voz baixa, num tom interrogativo e desorientado. Nota-se na entoação que é a primeira vez que pronuncia em voz alta essa pergunta que vive latente na sua alma há quarenta e um anos, e para a qual ainda não encontrou a resposta.”

LIVROS

“A SOMBRA DO VENTO”

Acabei de ler “A Sombra do Vento”, de Carlos Ruiz Zafón. Belíssimo romance que mescla um pouco de tudo, do mistério ao melodrama, do picaresco tão retintamente espanhol ao actual romance-investigação que vai de Umberto Eco a Dan Brown, nas devidas proporções, já se vê. História de um pai, viúvo e livreiro, que leva um filho, adolescente, a visitar o Cemitério dos Livros Esquecidos, numa Barcelona nocturna de pós guerra civil. O miúdo escolhe um livro para salvar, tal como em Ray Bradbury. O livro é “A Sombra do Vento”, de um tal Julián Carax. Quem foi o autor, qual o significado do livro, que leva uma misteriosa personagem de rosto transfigurado a andar pelo mundo a comprar e queimar todas as obras desse autor, que aconteceu a várias figuras que se cruzaram com o escritor, onde está, estará vivo ou morto, que tem a ver com a Guerra de Espanha…. Estas e dezenas de outras intrigantes questões vão-se multiplicando ao longo da obra. Entramos na narrativa e lentamente vamo-nos sentindo presos naquela teia algo mórbida, mas mágica também, que Carlos Ruiz Zafón vai lançando subtilmente e nos obriga a galopar nas suas páginas, por vezes com descrições fabulosas:

“Ergui a vista e sustentei-lhe o olhar. Não soube responder. Bea baixou os olhos e afastou-se até ao extremo da galeria. Uma porta conduzia à balaustrada de mármore aberta ao pátio interior da casa. Observei a sua silhueta fundir-se na chuva. Fui atrás dela e detive-a, arrebatando-lhe o envelope das mãos. A chuva fustigava-lhe o rosto, varrendo as lágrimas e a raiva. Conduzi-a de novo ao interior do casarão e arrastei-a até à calidez da fogueira. Ela evitava o meu olhar. Peguei no envelope e entreguei-o às chamas. Contemplámos a carta a quebrar-se entre as brasas e as páginas a evaporarem-se em volutas de fu­mo azul, uma a uma. Bea ajoelhou-se ao pé de mim, com lágrimas nos olhos. Abracei-a e senti o seu hálito na garganta.
— Não me deixes cair, Daniel — murmurou.
O homem mais sábio que alguma vez conheci, Fermín Romero de Torres, tinha-me explicado numa ocasião que não existia na vida experiência comparável como a da primeira vez que se despe uma mulher. Sábio como era, não me tinha mentido, mas tão-pouco me contara toda a verdade. Nada me tinha dito daquele estranho tremelique das mãos que convertia cada botão, cada fecho-éclair, em tarefa de titãs. Nada me tinha dito daquele feitiço de pele páli­da e trémula, daquele primeiro roçagar de lábios nem daquela miragem que parecia arder em cada poro da pele. Nada me contara de tudo aquilo porque sabia que o milagre só sucedia uma vez e que, ao suceder, falava uma língua de segredos que, mal se desvendavam, fugiam para sempre. Mil vezes quis recupe­rar aquela primeira tarde no casarão da Avenida del Tibidabo com Bea em que o rumor da chuva arrebatou o mundo. Mil vezes quis regressar e perder-me numa recordação da qual apenas consigo recuperar uma imagem roubada ao calor das chamas. Bea, nua e reluzente de chuva, deitada junto ao fogo, aber­ta num olhar que me perseguiu desde então. Inclinei-me sobre ela e percorri a pele do seu ventre com a ponta dos dedos. Bea deixou descair as pálpebras, os olhos, e sorriu-me, segura e forte.
- Faz-me o que quiseres - sussurrou.
Tinha dezassete anos e a vida nos lábios.”

(…)
“Um minuto antes do desenlace, o Julián levantou-se e afastou-se ao abrigo das sombras. Durante meses vimo-nos sempre assim, às escuras, em cinemas e vielas à meia-noite. O Julián encontrava-me sempre. Eu sentia a sua presença silenciosa sem o ver, sempre vigilante. Às vezes mencionava-te e, ao ouvi-lo fa­lar de ti, parecia-me detectar na sua voz uma estranha ternura que o confun­dia e que havia muitos anos julgava perdida nele. Soube que tinha regressado ao casarão dos Aldaya e que agora vivia lá, a meio caminho entre espectro e mendigo, percorrendo a ruína da sua vida e velando os restos da Penélope e do filho de ambos. Aquele era o único sítio no mundo que ainda sentia seu. Há piores prisões que as palavras.
Eu ia lá uma vez por mês, para me certificar de que ele estava bem, ou simplesmente vivo. Saltava a sebe meio derrubada da parte de trás, invisível da rua. Às vezes encontrava-o ali, outras vezes Julián tinha desaparecido. Deixava-lhe comida, dinheiro, livros... Esperava-o durante horas, até ao anoitecer. Em certas ocasiões atrevia-me a explorar o casarão. Foi assim que averiguei que ele tinha quebrado as lápides da cripta e extraído os sarcófagos. Já não jul­gava que o Julián estivesse louco, nem via monstruosidade naquela profanação, mas tão-só uma trágica coerência. Nas vezes que o encontrava lá falávamos du­rante horas, sentados ao pé do fogo. O Julián confessou-me que tinha tentado voltar a escrever, mas que não era capaz. Lembrava-se vagamente dos seus livros como se os tivesse lido, como se fossem obra de outra pessoa. As cicatrizes da sua tentativa estavam à vista. Descobri que o Julián confiava ao fogo páginas que escrevera febrilmente durante o tempo em que não nos tínhamos visto. Uma vez, aproveitando a sua ausência, recuperei um molho de folhas de entre as cinzas. Falava de ti. O Julián tinha-me dito certa vez que um relato era uma carta que o autor escreve a si próprio para contar coisas a si mesmo que de ou­tro modo não poderia averiguar. Havia tempo que o Julián perguntava a si mesmo se tinha perdido a razão. Saberá o louco que está louco? Ou os loucos são os outros, que se empenham em convencê-lo da sua insanidade para sal­vaguardarem a sua existência de quimeras? O Julián observava-te, via-te cres­cer e perguntava a si mesmo quem eras. Perguntava a si mesmo se porventura a tua presença não seria senão um milagre, um perdão que tinha de conquis­tar ensinando-te a não cometeres os seus próprios erros. Em mais de uma oca­sião interroguei-me sobre se o Julián não teria acabado por se convencer de que tu, naquela lógica tortuosa do seu universo, te tinhas transformado no fi­lho que ele perdera, numa nova página em branco para voltar a começar aque­la história que não podia inventar, mas que não podia recordar.”
Um belo romance que mais cedo ou mais tarde estará por ai em filme. Esperemos que não o estraguem.

segunda-feira, setembro 11, 2006

O LADRÃO DE IMAGENS

"A ARQUITECTURA NA CIDADE"


No blog "Complexidade e Contradição", a foto de Vincent Laforet, "Dois homens fazem manutenção à antena do Empire State Building". É também a minha recordação do 11 de Setembro: o futuro. Mas nesse blog cruzam-se agora comentários muito interessantes sobre arquitectura. Que aconselho vivamente. João Pereira Coutinho, o delirante João César das Neves, o próprio lourenço falam sobre aquitectura. A arquitecura moderna e os seus pioneirismos vistos "como pecados capitais de um grande mal orquestrado pelos «autoritários» arquitectos." Fala-se de Le Corbusier. Eu acrescentaria Brasilia, onde me deparei com esse dilema de forma mais visivel, a genialidade do projecto e um certo "mal estar" dos seus habitantes. Muito haverá a acrescentar, mas como diz lourenço: "Muito mais haveria para discutir, mas acontece que vou almoçar."

domingo, setembro 10, 2006

TEATRO EM LISBOA

“TRÊS NUM BALOIÇO”

“Três Num Baloiço”, do dramaturgo italiano Luigi Lunari, foi inicialmente levada à cena no Recreios da Amadora, em Julho deste ano, regressando agora no palco do Teatro Taborda. Foi a companhia “O Teatro dos Aloés” que optou por este texto de uma autor não muito conhecido em Portugal, mas de algum prestígio na Europa.
“O Teatro dos Aloés” reúne um conjunto de profissionais que partilharam uma série de projectos e experiências em comum. Muitos deles sobraram da Companhia da Malaposta, onde intervieram num importante grupo de realizações. São membros desta associação os actores e encenadores Elsa Valentim, Jorge Silva, José Peixoto, Luís Alberto, Mário Jacques, Rui Mendes, Rui Rebelo, Sofia de Portugal, Teresa Gonçalves e Victor Santos. A direcção do grupo pertence neste momento a José Peixoto, Jorge Silva e Elsa Valentim.
É o grupo quem anuncia as razões para a sua formação e para a escolha do nome da companhia:

“Em 1996 trabalhámos um magnifico texto de um autor sul-africano, Athol Fugard, que nos falava da amizade, da confiança nos outros, da resistência na luta em defesa de ideais, da beleza da poesia e da arte que fazem dos homens seres superiores e felizes, da força das ideias, da crença no progresso da humanidade e da tranquila sabedoria que é acreditar nesses objectivos.
Fazer teatro para nós significa contribuir para um esclarecido exercício da cidadania, a elevação moral e espiritual e o desenvolvimento cultural das populações para que trabalhamos.
Não temos a arrogância de propor soluções ou orientações. Não pensamos ser essa a função do teatro, nem ser no teatro que os problemas individuais ou sociais se resolvem.
Pensamos apenas ser o teatro um lugar indicado para a reflexão colectiva, o lugar onde é possível aos actores oferecer a sua própria reflexão a um grupo de pessoas interessadas e representativas do todo social.
Pensamos o teatro como o lugar próprio para levantar questões e partilhar problemas, partindo do princípio que os actores são pessoas iguais a tantas outras e portanto as suas inquietações devem ser idênticas.
Não temos dúvidas também que o facto de gente viva representar diante de gente viva, expressando-se com os mesmos meios que são os de toda a gente, podendo a sala e a cena trocar de funções a qualquer momento, dá ao teatro o privilégio da comunicabilidade e da identificação.
O teatro é um fenómeno de cultura.
Por isso aliamos à nossa experiência a herança do passado que nos estruturou o pensamento, nos permitiu a reflexão sobre o que hoje nos determina e é especificamente nosso, na organização do social, dos comportamentos privados e na perspectivação do futuro.
O teatro é uma arte do colectivo.
Para nós é clara a importância da prática teatral na estruturação da personalidade, na aprendizagem da vivência em colectivo e no exercício da democracia. Por isso, temos organizado cursos de Iniciação à Prática do Actor ou Cursos Complementares sobre autores, conforme o grau de relacionamento dos candidatos com o teatro.
Sabemos também que quem alguma vez teve acesso à prática teatral pode não se transformar num praticante profissional ou amador, mas certamente se transforma num espectador avisado.
Este relacionamento com o público leva-nos à organização de sessões de animação (conferências, debates, exibição de filmes ou vídeos, exposições sobre autores e teatros). Estas acções permitem que o público se sinta parte integrante de um projecto que é feito para ele, pensando nele e nas suas necessidades intelectuais e artísticas. Atentos às inquietações e vivências dos jovens, “O Teatro dos Aloés” cria uma unidade dinamizadora para este escalão etário. Complementamos a nossa acção com leituras encenadas e recitais de poesia porque sentimos que temos o dever de contribuir para a divulgação da língua portuguesa. "
“O Teatro dos Aloés” apresentou até à data os seguintes espectáculos, que dão bem a imagem das ambições e intenções do grupo: “A Vida Tem Destas Coisas” (2001), de Mário de Carvalho; “O Fantástico Francis Hardy, Curandeiro” (2002), de Brian Friel; “Amor, Verdade e Mentira”, de Marivaux (2002); “Ensaio2 (2002), de José Peixoto; “Sexta-Feira, Dia da Libertação” (2003), de Hugo Claus; “Stabat Mater Furiosa” (2003), de Jean-Pierre Siméon; “São Nicolau” (2003) de Conor McPherson; “A Grande Imprecação Diante das Muralhas da Cidade” (2004), de Tankred Dorst; “A Dança da Morte” (2005), de August Strindberg; “Os Malefícios do Tabaco” (2005), de de Anton Tcheckov; Os Guardas do Museu de Bagdad (2005), de José Peixoto; “Em Busca dos Lusíadas” (2005), a partir de Luís de Camões e “À Procura de Júlio César” (2006), de Carlos J. Pessoa.

“Três Num Baloiço” é uma peça bastante bem escrita e estruturada, baseada numa boa ideia inicial: três homens reúnem-se por acaso numa sala de uma casa num dia em que soa o recolher obrigatório para um exercício de segurança civil. Um industrial (Mário Jacques), um capitão do exército (Carlos Queiroz) e um professor universitário e escritor (Jorge Silva) entram por portas diferentes, em momentos diversos de uma mesma tarde, com objectivos distintos: um vem passar uma tarde de amor clandestino, numa pensão, outro vem a um escritório de advogados, outro dispõe-se a rever provas de um próximo livro de sua autoria numa editora. Todos têm passados diferenciados, mas o destino parece uni-los. Que sala é aquela, onde se chega, mas donde não se sai? Que tempo é este parado e suspenso? Que vale o ajuste de contas com o passado que cada um vai lentamente estabelecendo consigo próprio e com os outros? Será a morte quem os conduz?
Em tom de comédia, que apesar do absurdo da situação, e do simbolismo da mesma, nunca deixa de ser inteligente e inquietante, “Três Num Baloiço” revela-nos um autor que tem sobre a vida um olhar crítico contundente, mas compreensivo. Cada uma das personagens faz o seu acto de contrição, sobretudo depois do aparecimento da mulher da limpeza (Elsa Valentim), que personifica o proletariado com futuro, perante extractos sociais na agonia, mas há uma evidente ternura a envolver cada figura. É óbvio que esta é uma obra que releva das influências do marxismo, mas de um marxismo actualizado, moderno, pós-queda do Muro de Berlim. Com um humor que, à medida que a peça vai progredindo, se vai acentuando.
A peça de Luigi Lunari, apresentada com tradução de Paulo Eduardo de Carvalho, numa encenação escorreita e fluente de José Peixoto, com cenografia e figurinos de Ana Paula Rocha, música de Luís Cília e produção de Gija Peixoto, conta com a interpretação bem saboreada e divertida de Mário Jacques, Carlos Queiroz, Elsa Valentim e Jorge Silva. É sempre bom, numa comédia, sentir-se o próprio prazer dos actores no palco. Aqui ele é evidente, muito embora o calor apertasse na noite em que por lá passámos. Mas, antes ou depois, sempre se pode descer as escadas e abancar no Café Taborda (que funciona também como restaurante), com o velho casario de Lisboa aos pés, uma iluminação discreta e uma aragem boa a entrar pelas janelas. Pena o jantar não estar à altura da vista panorâmica. Mas para tomar um café ou uma outra bebida, não há muito melhor nesta Lisboa pitoresca.

UM BLOG (POR DIA) PARA VISITAR (26)

“PONTO DE SATURAÇÃO”

Os versos
“Quem foi que à tua pele conferiu esse papel
de mais que a tua pele ser pele da minha pele.”
de David Mourão Ferreira,
colocados no blog de “maldito cinema”,
tiveram um comentário,
assinado por “inominável”, que dizia:
“fui... EU! eu pele tua na minha pele despida... “.
Às 2:33 PM, de um dia.

Quem era esta “inominável” que presumi mulher?
Ela se definia: “Quem sou eu: a que se esconde, que se mostra, voyorista da vida, exibicionista diante do mundo, travesti de emoções... puta e santa... Inominável, porque o nome que nos dão não é nosso.”
Tinha interesses: “poesia, cinema, pessoas, paixões, enduvidamentos.”
Tinha músicas favoritas: “I will survive Karma Killer Ne me quitte pas Non Je Ne Regrette Rien Mon mec à moi Vitoriosa Teresinha Metamorfose ambulante Olhos de farol”, tinha livros favoritos: “Origens Les croisades vues par les arabes Um certo olhar Pensar Aparição Cem anos de Solidão Amor em tempo de cólera Ensaio sobre a Cegueira El llano en llamas”, tinha um blog “ponto.de.saturação……”. (quantidade máxima de vapor de água que o ar pode conter, a uma determinada temperatura).
Professora de física e química? Química já provocara. Vamos atrás desta “Inominável.” Que escreve poesia e prepara tese. "Humanistas", portanto, apsar do Gedeão? Vive entre Aveiro e Berlim? É melhor ler. Descobrir a solidão, a amargura, a ironia, a austeridade, a ternura, a violência que se descobrem por detrás das palavras. A blogosfera tem destas coisas. Não vou deixar de visitar o blog da inominável, que, todavia, (nao) tem rosto (aqui, por solicitação expressa).

UM BLOG (POR DIA) PARA VISITAR (25)

"MALDITO CINEMA"


malditocinema” (que tem o derradeiro olhar de Kubrick como padrinho) descobri-o através da “Gola Alta” e fui atrás dele, guiado pelo cinema, maldito cinema. Descobri que a autora, mulher de 33 anos, de signo peixes e de ano do zodíaco, Ox, definia assim o que escrevia: “Eu achava-me esquisita até ver um retrato cinzento e um beijo rasgado na boca transparente.” Como primeiro post a ler, um retrato de David Mourão Ferreira, um dos meus poetas do amor (e da vida) preferido, assinado por Mário Cabrita Gil, e dois versos de um poema. Sublimes, como sempre em David. Escutem:



Sexta-feira, Junho 16, 2006
a celebração
David Mourão-Ferreira (1927-1996)
Fotografia Mário Cabrita Gil

Quem foi que à tua pele conferiu esse papel
de mais que a tua pele ser pele da minha pele.
posted by maldito cinema at 2:03 PM

E continuei lendo, curtos comentários

Quarta-feira, Fevereiro 15, 2006
Escrevo-te agora porque sei que o fiz nos anos da espera, no tempo do silêncio. Escrevo-te agora porque sei que te digo o lugar onde estou. Escrevo-te agora porque se não for noutra vida, que seja nesta.
posted by maldito cinema at 11:28 AM


Terça-feira, Fevereiro 14, 2006
... e o que digo está tão longe
como o mar está do céu...
posted by maldito cinema at 1:49 AM

Quinta-feira, Fevereiro 09, 2006
Deixei-me ir numa subtileza de imagem, sabendo que o intocável é sempre o mais puro. Em Brokeback Moutain, o amor se diz por entre os silêncios. Dois homens que se amam de dor e a memória que ultrapassa a rigidez.
Até ao final do filme, esperei por um lugar comum, um sítio fácil, mas nunca me deixou agarrar a um fio de quotidiano. Esperei e até ao fim e apenas as águas do rio me diziam que a minha vida também se esgota. E por fim, caí do céu. E lembrei o amor.
Em tons de agonia.
posted by maldito cinema at 3:35 AM

Tudo muito discreto, secreto, límpido, raro. Raro como os raros post deste blog a merecer continuação. Não sei quem és, e não posso dizer que não me interessa, mas continua a escrever. Gosto de te ler, “maldito cinema”.

UM BLOG (POR DIA) PARA VISITAR (24):

"GOLA ALTA"
e
"FÀBRICA LUMIÈRE"

“Sony Hari” é o nome “artístico” de uma mulher de 32 anos, de signo astrológico Libra, do ano do Zodíaco, Ox, que se encontra a viver em Lisboa, mas se afirma minhota (de Viana do Castelo? Que bela cidade! Que saudades dos tempos que lá passei!) e que tem dois Blogs: um, chamado “Gola Alta” (“a “Gola Alta” está sempre ali, pronta para nos salvar de um "chupão" constrangedor, de um frio cortante, das rugas que a idade não perdoa. viva a gola alta, excepto no verão...”) e de um colectivo, “ Fábrica Lumière”, cuja equipa comporta vários membros, alem da Bota Alta, a saber “Roxanne”, “AS”, “Lolita”, “O Asdrúbal”, “Mário”, “Amélie” e “maldito cinema”.
O “Gola Alta”, que se apresenta sob o disfarce de Greta Garbo - Mata Hari (veja-se imagem em anexo, um dia hei-de escrever sobre esta “actriz que me marcou”), conta-me, não "no seu coração", o que lamento, mas entre “os seus prazeres” e eu, agradecido, não pude deixar de a fazer figurar entre os meus, sem favor. Gosta de cinema, de música de que também gosto, gosta de Viana do Castelo, de Lisboa e do Alentejo, gosta de casinos e de “tentar a sorte”, gosta do Cristiano Ronaldo (mas não pelas mesmas razões que eu gosto), gosta de Florença, gosta de Sherlock Holmes (para o ano, no Famafest, Famalicão, Março de 2007, haverá uma homenagem a Conna Doyle no cinema, com uma impressiona nte exibição de obras suas adaptadas ao cinema - inscreva-se já!).
O último post de “Gola Alta” é dedicado ao amor:

Setembro 10, 2006
Pura ficção

Sinto que tenho por ti um amor cerebral. Sinto que pensei em quase tudo antes de chegar a esse amor. Sinto que esse amor não tem cosmética, nem acessórios. É assim um amor de cara lavada, sem sinais de pompa ou circunstância. Mas é poderoso o seu efeito, porque é um amor que se aceita facilmente, que sabe estar em toda a parte. E que não se fique a pensar que é um amor matemático, porque não é disso que se trata. É antes um amor emancipado, conhecedor das suas potencialidades e compatível com outros amores. E é também um amor que se pode guardar uma vida inteira, sem precisar dele a toda a hora. Fica por ali, simplesmente, esperando que mais um ciclo se complete.

Mas Gola Alta também gosta de fotografar, em perspectiva. Aproveito para lhe roubar umas imagens:

Florença (foto de Sony Hari)

Viana do Castelo, vista de Santa Luzia (foto Sony Hari)

Rua de Estremoz (foto de Sony Hari)
"FÁBRICA LUMIÈRE"

Já a "Fábrica Lumière" tem uma definição bem bonita: "Este blog nasceu num café-bar chamado "Vertigo", em Lisboa. Pensámos logo que esse nome era um sinal... Só podia. Adoramos "fazer filmes", essa é que é a verdade! Mas inspiramo-nos sempre nos originais. Se a amizade morresse, sobraria inevitavelmente a paixão pela sétima arte que nos une." Cinema e amizade, eis uma bonita ligação.
Em Maio, a Sony Hari escreveu no "Fábrica Lumiére":
Maio 23, 2006
World Trade Center
Há minutos atrás, a SIC Notícias, ou talvez tenha sido o AXN, fazia referência ao Festival de Cannes a respeito do novo filme de Oliver Stone: World Trade Center.Oliver Stone é um daqueles realizadores que conservo em local fresco e protegido da luz, para que não perca as suas propriedades. Não é um realizador que recorde a toda a hora, porque a toda a hora prefiro recordar os filmes de amor, os filmes para gargalhar, os filmes das coisas simples. Os filmes de Oliver Stone são incómodos e perturbadores. Não serão todos, certamente, mas o número é razoável para estudo. Platoon é o exemplo perfeito. Um filme de efeito prolongado, talvez até que o seu efeito não se acabe nunca. É um daqueles filmes que não se fica pelo estremecer da pele, por um leve arrepiar dos pêlos. O efeito quer-se pesado, cortante. Também me passaram pelos olhos o Nascido a 4 de Julho (1989), JFK (1991), Assassinos Natos (1994). Agora é a vez de World Trade Center (em pós-produção). Parece que, quem viu os 20 minutos exibidos no Festival de Cannes, saiu da sala bem impressionado. Está provado que o cinema também já cedeu às vontades do tempo, que se quer rápido, cada vez mais rápido. Agora já não se esperam décadas para reviver em filme as guerras que a História vai carregando. O 11 de Setembro não chegou, nem por um minuto, a sentir o cheiro do esquecimento. Por mais alguns anos, a sua presença estará fresca na memória de muita gente e Oliver Stone garante, desde já, o seu reforço.No dia 11 de setembro de 2001, coincidência ou não, viajei de avião até ao Porto, a trabalho. Quando regressei a Lisboa tudo já tinha acontecido. Nas poucas horas em que me isolei da rádio e da televisão, um pedaço do Mundo foi profundamente abalado e, nesse dia, aquele pedaço do Mundo parecia a totalidade do Mundo. E eu só tinha ido ao Porto.
posted by Sony Hari
Um testemunho pessoal, a carecer possivlmente de revisão de português, mas onde se descobrem uma sensibilidade e um amor a preservar. O que é sempre o mais importante. Boa sorte para a Sony (Garbo) Hari e companheiros de aventura cinéfila.

sábado, setembro 09, 2006

UM BLOG (POR DIA) PARA VISITAR (23):

"Complexidade e Contradição"

No "Complexidade e Contradição", blog assinado por Lourenço (sem mais), aparece uma simpática referência, que agradeço. Reza assim:
Sexta-feira, Setembro 8

Let's
Há que não deixar passar em claro que o Lauro António tem um
blogue.
lourenço@
10:36

Mas, mais abaixo, neste blog sereno, discreto, de bom gosto e bom senso, ainda que de critica afiada, podia ver-se uma imagem magnifica de um trabalho de Siza Vieira ("Siza, opus n", lhe chama Lourenço), referente a um Pavilhão em Anyang, Coreia do Sul, realizado com a colaboração de Carlos Castanheira e Jun Sung Kim. Não resisti, e como quem rouba uma, rouba 100, aqui a retirei, com a vénia devida, para o meu blog. Um edificio como poucos. Quem me dera algo assim, com esta tranquilidade de horizontes. Para im, um dos mais beos trabalhos de Siza Vieira.

Um pouco mais abaixo ainda, um bom texto que dá o tom do blog e das preocupações do seu autor:

Sexta-feira, Setembro 1
Tabelas

Vital Moreira deixou uma questão interessante: comparar os salários mínimos e médios nos países da UE, para ver se também nessa comparação estamos na cauda da europa. A coisa interessou-me, e dei uma volta por aí. Encontrei esta tabela (Table 3) que faz precisamente essa comparação (deixa alguns estados de fora, incluindo o nosso). Por outro lado, neste relatório da Embaixada Americana aparece referido um valor do salário médio em Portugal, citando a CGTP como fonte. O salário médio ronda os 682€, segundo os comparsas da central sindical. Ou seja, podemos dizer que o salário mínimo em Portugal (374,40€) representa 54,8% do salário médio nacional. Voltemos à tabela inicial. Procuremos, então, algum país com uma percentagem superior a esta. Rapidamente se percebe que estamos à procura do inexistente. A tabela é limitada no seu alcance, pois deixa de fora os países sem salário mínimo (Austria, Alemanha, Itália, e os super-nórdicos todos), mas o facto de entre os páises que foram submetidos a esta análise nenhum apresentar uma relação entre salário mínimo e salário médio tão alta como Portugal, indica que o nosso salário mínimo é alto, e pode ser um factor de desiquilíbrio no mercado de trabalho. Ou significa que o salário médio é baixo. Ou seja, parece que «há um forte argumento para o crescimento do salário mínimo nacional» abaixo «da subida dos salários em geral». Mas eu não percebo nada de economia.
lourenço@
17:42

O LADRÃO DE IMAGENS Pierre Bonnard

PIERRE BONNARD
Na minha viagem de "salteador de imagens", passei pelo blog da minha amiga Rosário e roubei esta, de uma série de textos que ela anda a escrever e documentar iconográficamente, tendo por base uma leitura apaixonada de "O Mar", de John Banville (de que retenho um excerto). Uma bela, e generosa, imagem de um fabuloso quadro de Bonnard (para adormecer mais reconfortado).

Pierre Bonnard
Nu de cócoras no banho, 1940
# posted by MRF : 02:15

"Certo dia, em 1893, Pierre Bonnard avistou uma rapariga a descer de um eléctrico de Paris e, atraído pela sua beleza frágil e pálida, seguiu-a até ao local onde ela trabalhava, uma agência de pompes funèbres, onde passava os dias a coser pérolas em coroas mortuárias. Foi assim que, desde o início, a morte entrelaçou a sua fita negra na vida de ambos. Ele não tardou a conhecê-la - suponho que que essas coisas eram feitas com naturalidade e um certo aprumo na Belle Époque - e pouco tempo depois ela abandonou o emprego e tudo o resto na sua vida e foi viver com ele. Disse-lhe que se chamava Marthe de Méligny e que tinha dezasseis anos. Na realidade, embora só o viesse a descobrir volvidos mais de trinta anos, quando decidiu finalmente casar com ela, o seu verdadeiro nome era Maria Boursin e, quando se conheceram, não tinha dezasseis anos, mas, como Bonnard, vinte e poucos. Permaneceram juntos atravessando várias vicissitudes, cada vez mais frequentes, até à morte dela cerca de cinquenta anos depois. (...) Era reservada, ciumenta, ferozmente possessiva, sofria de um complexo de perseguição, e era uma hipocondríaca ferrenha e obstinada."
Transcrição: in Banville, Jonh, O Mar, ed. ASA, Junho 2006, p 97

O LADRÃO DE IMAGENS Eider Astrain

EIDER ASTRAIN

Não resisti e roubei esta mulher do blog do meu amigo Tomás Vasques. Um óleo admirável de vigor e delicadeza. Uma boa imagem para reter antes de adormecer.

Setembro 9, 2006
(
Eider Astrain, Cansancio, Óleo y carboncillo sobre lienzo)
posted by tomasvasques at
12:41:00 AM

Quando me preparava para encerrar as operações, vou até ao site de Eider Astrain e descobri que tinha uma série dedicada ao Cine. Com excelentes recriações sobre posters de filmes míticos da história do cinema. Não resisti à "Gilda" (nunca resisti, aliás, á Gilda):

E assim iniciei uma nova secção no blog: "O Ladrão de Imagens"

sexta-feira, setembro 08, 2006

UM BLOG (POR DIA) PARA VISITAR (22)

"BLOGOTINHA"

No dia 7 de Setembro, o blog "Blogotinha" fez uma simpática referência a este meu blog. Dizia:

Descobrindo Blogs - 21
Lauro António Apresenta: é mesmo ele! É o crítico de cinema celebrezido pela paródia de Herman José.

Nesse dia, as visitas ao meu blog quase duplicaram.

O poder de alguns blogs.

Em retribuição, deixei um comentário ao post no blog da Blogotinha:

Gotinha, essa referência no teu blog duplicou-me as visitas. Sabias da força do teu blog? Eu que sou novato nestas andança, desconhecia. Fiquei a saber. Agradecido, portanto, com uma ressalva: não sou o critico de cinema que o Herman José celebrizou. Sou o critico (e realizador) que ajudou a celebrizar o Herman José. Merecidamente. Era genial por essa altura. Um beijo. LA

Lauro Antonio Apresenta Homepage 08.09.2006 - 02:58 #

Agora a sério: o poder dos blogs cresce de dia para dia (à medida que a crise nos jornais se acentua, também de dia para dia, não por minha causa que os continuo a comprar à dúzia). É altura dos blogs tomaram consciência da sua força. Muitos ultrapassam em visitas diárias as tiragens de alguns jornais. A sua importância na conscencialização, na polémica, na divulgação cultural, pode ser enorme.

Há, no entanto, que ter em conta alguns aspectos. No blog da Blogotinha, que tanto aborda o mundial para deficientes, como um musculado Chá das Cinco, discute nomes de bébés (o nome a dar à futura Gotitinha, que mereceu 82 comentários!) ou testemunhar como é possível vestir 121 t-shirts, aparecem duas curiosas estatisticas sobre blogs portugueses, que transcrevo com a devida vénia. A primeira data de Julho e mostra os blogs mais populares e os mais sexy da blogosfera portuguesa. Será interessante ver quem é popular e quem é igualmente sexy (com a Gotinha à frente da lista) e espreitar cada blog para ver o que os torna populares e o que os torna sexy. (A definição de sexy também seria interessante saber qual é).

Sexta-feira, Julho 29
The Celebrity Ranker

Vamos lá às contas:

Gotinha: Popularity = 3.497 / Sexiness = 10.7325%

Cap: Popularity = 6.951 / Sexiness = 1.1646% (+ Popular)

Invisible: Popularity = 6.568 / Sexiness = 3.6486% (2.º + Popular)

Angela: Popularity = 6.479 / Sexiness = 3.0897% (3.ª + Popular)

Canto do Melro: Popularity = 3.880 / Sexiness = 105.6653% (+ Sexy.... ui... até escalda!)

Adamastor: Popularity = 2.603 Sexiness = 94.7631% (o 2.º + Sexy)

Xilla: Popularity = 2.922 / Sexiness = 80.3828% (a 3ª + Sexy!)

Luz: Popularity = 6.413 / Sexiness = 1.1313%

Kitty: Popularity = 6.364 / Sexiness = 6.0173%

Cris: Popularity = 4.009 / Sexiness = 4.9314%

João Pedro: Popularity = 3.950 / Sexiness = 4.6914%

Luís: Popularity = 4.167 / Sexiness = 3.2449%

mfc: Popularity = 5.140 / Sexiness = 5.0797%

Sofia Branco: Popularity = 2.803 / Sexiness = 0.3150%

Terapia: Popularity = 5.884 / Sexiness = 1.5405%

Isso Agora: Popularity = 4.104 / Sexiness = 4.7165%

Alguidar Pneumático: Popularity = 5.292 / Sexiness = 0.9541%

Cruxe: Popularity = 3.367 / Sexiness = 5.8798%

Robina: Popularity = 4.664 / Sexiness = 1.3384%

Bufas100: Popularity = 3.093 / Sexiness = 7.5806%

Nanita: Popularity = 3.529 / Sexiness = 14.7337%

SirHaiva: Popularity = 2.558 Sexiness = 2.4931%

Hugo Sá: Popularity = 4.072 / Sexiness = 6.4915%

maria_arvore: Popularity = 1.580 / Sexiness = 0.0000%

Finúrias: 7361st most popular / 8949th most sexy

Vasco: Popularity = 5.992 / Sexiness = 1.4169%

Vizinho: Popularity = 4.768 / Sexiness = 2.9181%

Mushu: 4194th most sexy /5296th most popular

Jerusa: Popularity = 0.778 /Sexiness = 33.3333%

Ideiafixe: Popularity = 1.041 / Sexiness = 0.0000%

Pandora: Popularity = 6.111 / Sexiness = 2.6977%

Principessa: Popularity = 4.913 / Sexiness = 6.0513%

Bem Visto: Popularity = 3.398 / Sexiness = 3.2800%

Blog Loucura e Nata: Popularity = 6.428 / Sexiness = 2.8358%

Wakewinha : Popularity = 5.625 / Sexiness = 8.5071%

gat0pret0: 11621st most sexy / 13427th most popular

re21: 8182nd most popular / 11187th most sexy

Cafajeste: Popularity = 3.658 / Sexiness = 26.8132%

Jotakapa: Popularity = 3.121 / Sexiness = 0.9091%

andreBond: Popularity = 2.354 / Sexiness = 0.0000%

Divas e Contrabaixos: Popularity = 5.215 / Sexiness = 0.6524%

Jacky: Popularity = 5.217 / Sexiness = 9.3939%

Asterisco: Popularity = 5.373 / Sexiness = 0.3131%

babaloud : Popularity = 1.431 / Sexiness = 0.0000%

Ela: Popularity = 5.702 Sexiness = 12.0080%

Papá Urso: Popularity = 1.041 / Sexiness = 9.0909%

James Bond: Popularity = 6.009 / Sexiness = 5.6176%

Ivan: Popularity = 6.330 / Sexiness = 3.2009%

Ediena: Popularity = 2.493 / Sexiness = 0.3215%

aNa: Popularity = 3.140 / Sexiness = 10.3623%


Há alguns dias atrás, a Blogotinha apresentava um outro top dos blogs portugueses. Aqui entra em questão apenas a popularidade, e o ranking é algo diferente, ainda que a presença de blogs ditos sexy não desapareça, muito pelo contrário. Um bom exercicio será descobrir o que leva os portugueses a frequentarem um blog. Veja-se a lista, que tem desde a política à arte, até ao humor, ao "sexy" (chamemos-lhe assim) e ao francamente pimba, e descubra-se o "Portugal profundo" que viaja na net.
Top Blogs
Blogosfera Lusa: Top Blogs
É um exercício de Bruno Ribeiro de criação de um ranking de blogs portugueses que agregasse diversos dados de análise. Foi resultado de uma combinação de dados do Sitemeter com os do Technorati, Google PageRank, Google Blogsearch, Yahoo! Sitesearch, Blogpulse e IceRocket. Publicou, ainda, o relatório com o ranking total dos 102 blogs
bem como o ranking para cada parâmetro:

Os 20 primeiros do ranking ponderado dos blogs portugueses:
6 BLOGotinha
Blogotinha, a fechar, um obrigado pela referência.
Quando precisar de divulgar alguma actividade cultural, vou ter com o teu blog (e outros blogs identicos). Espero que uma certa cumplicidade blogosférica funcione (sem que ninguém violente gostos pessoais e as opções estéticas de cada um). Mas esta força da blogosfera tem de ser aproveitada, sobretudo para contrariar o poder dominante de meia dúzia de familias da comunicação social institucionalizada.
Quanto ao nome da menina, voto Alice.
Sempre pode ter um coelho a guiá-la no "país das maravilhas"
ou "do outro lado do espelho".
Beijos e abraços para a familia
(este é outro lado divertido da blogosfera).