sábado, abril 25, 2009

25 DE ABRIL SEMPRE!!!

"A Cantiga é uma Arma", de José Màrio Branco, no Festival da Canção.

E ainda dizem que não valeu a pena o 25 de Abril?

Se calhar a burguesia não tinha a culpa, mas a festa foi bonita, pá!

25 ANOS (SEGUIDOS) DE SÓCIO

Hoje, dia 25 de Abril de 2009, de manhã,
recebi oficialmente o emblema de prata
do Sporting Clube de Portugal, de 25 anos de sócio.
Anos seguidos, pois tenho mais uns quantos que não contaram.
Gostei.

sexta-feira, abril 24, 2009

VAVADIANDO

:

VAVADIANDO COM LAURO MOREIRA
Texto dedicado aos Caros Amigos da tertúlia, e ali lido:
Um café é, sempre foi, tende a deixar de ser, mas há quem procure manter essa boa tradição, um lugar de encontro, de diálogo, de confraternização, de tertúlia. Durante esse tempo de encontro, fazem-se (e às vezes desfazem-se) amizades que se prolongam pela vida fora. No Vavá, este café a que me encontro ligado há quase 50 anos, desde o tempo da sua fundação, fiz uma boa parte da minha vida social (e até pessoal e íntima, aqui fiz e desfiz namoros, aqui almoço quase todos os dia, só, ou com a Eduarda, com o Frederico, agora também com a namorada do Frederico…).
Mas tudo isto para vos dizer que aqui fiz muitas e boas amizades. Uma delas partiu esta semana, e eu gostaria de a recordar muito rapidamente. O Aventino Teixeira, militar de Abril e de Novembro, conselheiro pessoal do General Eanes, habitual frequentador deste espaço durante anos a fio. Ligado ao MRPP, de início, depois aderente ao grupo de Melo Antunes, Aventino Teixeira era um espírito de uma acutilância crítica e de uma inteligência rara. Tivemos por aqui muitas conversas sobre política arrasadoras, foi ele que me convidou em nome do General Eanes, a integrar a Comissão de Honra da sua Recandidatura, foi através dele que convidei o Presidente Eanes a assistir à ante-estreia da Manhã Submersa numa das salas do Quarteto. Com ele que me divertia muitas vezes à hora do almoço com os mexericos do Procópio da noite anterior. Partiu sem eu o saber, li a notícia estupefacto na Visão, e não queria deixar de o recordar hoje aqui. Nesta sala que ele habitou em tertúlia quase diária à hora de almoço.
Estamos a dois dias das comemorações do 25 de Abril. Os mais velhos sabem que sem esse dia, nunca teriam existido, por exemplo, estas tertúlias. Existiam outras, que espontaneamente brotavam em cada mesa do velho Vavá, onde se falava a medo de política, onde se conspirava brandamente, onde o “reviralho” aquecia a esperança de transformações. Mas estas, que nos permitem ouvir e dialogar em liberdade, com Otelo Saraiva de Carvalho ou Marcelo Rebello de Sousa, baptista Bastos ou Lídia Jorge, Feytor Pinto ou Fernando Rosas, Iva Delgado ou Paulo Portas, Maria do Céu Guerra ou Raul Solnado ou Nicolau Breyner, estas nunca teriam sido possíveis sem o 25 de Abril, que aqui gostaria de recordar.
Há muita coisa mal no nosso País, há de certeza, como em todos os países do mundo. Mas estaríamos muito pior sem o 25 de Abril, não tenho dúvidas. E devo dizer-vos, ao contrário de muitos velhos do Restelo do bota abaixo nacional, que este é um belo país onde apetece viver, apesar de tudo poder ser melhor. Lutar por essa melhoria é a herança do 25 de Abril que todos nós teremos de ajudar a cumprir.
Mas queria dizer-vos mais: hoje é dia mundial do livro, temos connosco vários autores de livros, e temos um convidado brasileiro, que além de embaixador do Brasil junto da CPLP (Comunidade dos Povos de Língua Portuguesa), é ele próprio um embaixador da Língua Portuguesa e do Livro. A biografia de Lauro Moreira está resumida de forma muito sucinta no folheto que vos foi distribuído. Não está ai, porém, o seu amor à Cultura, em especial o seu amor à Poesia, à Música, ao Livro. Organizou em Lisboa dois eventos magníficos para dar a conhecer a obra de dois dos maiores escritores brasileiros de sempre (e não só brasileiros, mas da língua portuguesa, e da literatura mundial). Machado de Assis e Clarice Lispector. Continua a pugnar pela cultura lusófona e é um prazer tê-lo connosco, hoje, aqui.

segunda-feira, abril 13, 2009

VAVADIANDO COM LAURO MOREIRA

31 º J A N T A R D A T E R T Ú L I A
V Á . V Á . D I A N D O
23.ABRIL.2009
20,00 horas


VAMOS FALAR DE
“LUSOFONIA, POESIA E BRASIL”
CONVIDADO:
LAURO MOREIRA

(Embaixador do Brasil junto da CPLP)

Depois de RAÚL SOLNADO, FERNANDO DACOSTA, NUNO JÚDICE, TEOLINDA GERSÃO, IVA DELGADO, LÍDIA JORGE, MARIA DO CÉU GUERRA, EURICO GONÇALVES, PAULO PORTAS, LAURO ANTÓNIO, ROGÉRIO SAMORA, CARLOS DO CARMO, CELINA PEREIRA, OTELO SARAIVA DE CARVALHO, MARCELO REBELO DE SOUSA, IRENE PIMENTEL, PADRE FEYTOR PINTO, FERNANDO ROSAS, BÁRBARA GUIMARÃES, NICOLAU BREYNER, GONÇALO RIBEIRO TELLES, FRANCISCO MOITA FLORES, BAPTISTA BASTOS, ALICE VIEIRA, SÃO JOSÉ LAPA, INÊS LAPA LOPES, ANTÓNIO VICTORINO D’ALMEIDA, JOSÉ MANUEL ANES, ANTHÌMIO DE AZEVEDO CONTINUAM OS NOSSOS ENCONTROS, MANTENDO UMA TRADIÇÃO DE TERTÚLIA DO CAFÉ-RESTAURANTE VÁVÁ.

ENTRADA: 17,5 EUROS POR PESSOA. COM DIREITO A ENTRADAS, SOPA, UM PRATO DO DIA, PEIXE OU CARNE, SOBREMESA, BEBIDA (VINHO É O DA CASA!) E CAFÉ. EXTRAS POR CONTA DO FREGUÊS.


[ LOTAÇÃO LIMITADA A 50 CADEIRAS. ACEITAM-SE INSCRIÇÕES NO BALCÃO DO VÁVÁ. ]
Para informações e marcações de lugares:
LAURO ANTÓNIO - Blogue Va.Va.diando (http://vava-diando.blogspot.com/][mail: laproducine@gmail.com]
RESTAURANTE - CAFÉ VÁVÁ AV. EUA, Nº 100 - 1700-179 – LISBOA (TELF 21.7966761).

LAURO MOREIRA

Embaixador Lauro Barbosa da Silva Moreira nasceu em Anápolis, Estado do Goiás, Brasil, em 1940. É licenciado em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUCRJ). Ingressou no serviço diplomático em 1965, tendo nesse mesmo ano integrado o Grupo de Coordenação com os Países Socialistas da Europa de Leste (COLESTE), na qualidade de Secretário Executivo Adjunto. Serviu em postos diplomáticos em Buenos Aires, Genebra, Washington, Barcelona e Marrocos, além de chefiar a Divisão de Difusão Cultural e, mais tarde, o Departamento Cultural do Itamaraty. De 1981 a 1983 foi Director Superintendente da Trading Company COMEXPORT (em São Paulo) e Presidente da firma de consultoria Lauro Moreira & Castro. Em 1997 foi nomeado Presidente da Comissão Nacional para as Comemorações do V Centenário do Descobrimento do Brasil e Presidente, ainda, da Comissão Executiva Bilateral Brasil/Portugal para as Comemorações do Descobrimento do Brasil. Em 2003 foi Director da Agência Brasileira de Cooperação. É, desde 2006, o Representante Permanente do Brasil junto da CPLP.
Para além das suas actividades profissionais de diplomata de carreira, foi sempre um militante da causa cultural e artística, dedicando-se às artes cénicas (actor, director e autor), ao cinema (documentarista) e à fotografia (premiado em concursos nacionais). Em todos os postos diplomáticos por onde passou dedicou-se à promoção das artes e da cultura brasileiras, sobretudo da música e da poesia em língua portuguesa, proferindo palestras, escrevendo textos e organizando recitais. Em 1998 lançou o CD duplo Mãos Dadas, onde interpreta poetas de todos os países de língua portuguesa e, em 2005, gravou o álbum Manuel Bandeira: o poeta em Botafogo. Criou também o grupo Solo Brasil para apresentar o que há de mais representativo na música brasileira do século XX. O grupo já esteve em 16 países, alcançando sempre um marcante sucesso.Recebeu as seguintes distinções honoríficas: Do Brasil, Medalha do Mérito da Marinha do Brasil (1984), Medalha do Mérito Santos Dumont (1985); Comendador da Ordem do Mérito Militar (1999); Grã-Cruz da Ordem do Rio Branco (1999) e Grã-Cruz da Ordem do Anhanguera do Estado de Goiás (2000); de Portugal, Grã-Cruz da Ordem do Infante.

sábado, abril 11, 2009

COM VOTOS DE BOA PÁSCOA

:

TRÊS "OVOS DE PÁSCOA" PARA
AS AMIGAS E OS AMIGOS DA BLOGOSFERA

(Duas cantigas de “amor” e uma de “maldizer” certas existências,
nesta "bloglândia" por vezes tão filatelista)

REFERÊNCIA
(Maria Teresa Horta)

Quantas vezes te digo
quantas vezes...
que és para mim
o meu homem amado?

O que chega primeiro
e só parte, por vezes
antes de eu perceber
que já tinhas voltado

Quantas vezes te digo
quantas vezes...
que és para mim
o meu homem amado?

Aquele que me beija
e me possui,
me toma e me deixa
ficando a meu lado

Quantas vezes te digo
quantas vezes...
que és para mim
o meu homem amado?

Que sempre me enlouquece
e só aí percebo
como estava perdida
sem te ter encontrado

PRINCÍPIOS
(Nuno Júdice)

Podíamos saber um pouco mais
da morte. Mas não seria isso que nos faria
ter vontade de morrer mais
depressa.

Podíamos saber um pouco mais
da vida. Talvez não precisássemos de viver
tanto, quando só o que é preciso é saber
que temos de viver.

Podíamos saber um pouco mais
do amor, Mas não seria isso que nos faria deixar
de amar ao saber exactamente o que é o amor, ou
amar mais ainda ao descobrir que, mesmo assim, nada
sabemos do amor.

ZEITGEIST
(Fernando Pino do Amaral)

Os meus contemporâneos falam muito
e dizem: “Então é assim”,
com o ar desenvolto de quem se alimenta
do som da própria voz, quando começam
a explicar longamente as actuais tendências
das artes ou das letras ou das sociedades
a pouco e pouco iguais umas às outras
neste primeiro mundo em que nascemos,
agora que o segundo deixou de existir
e que o terceiro, mais guerra, menos fome,
continua abstracto, em folclore distante.

Parece que está morta a metafísica
e que a verdade adormeceu, sonâmbula,
nos corredores vazios, onde às escuras
se vão cruzando alguns milhões de frases
dos meus contemporâneos. Todavia,
falam de tudo com o entusiasmo
de quem lança «propostas» decisivas
e percorre as «vertentes» de novos caminhos
para a humanidade, enquanto saboreiam
a cerveja sem álcool, o café
sem cafeína e sobretudo
o amor sem amor, pra conservarem
o equilíbrio físico e mental.

Os meus contemporâneos dizem quase sempre
que não são moralistas, e é por isso
que forçam toda a gente, mesmo quem não quer,
a ser livre, saudável e feliz:
proíbem o tabaco e o açúcar
e se por vezes sofrem, tomam comprimidos
porque a alegria é uma questão de química
e convém tê-la a horas certas, como
o prazer vigiado por preservativos
e outros sempre obrigatórios cintos
de segurança, pra que um dia possam
sentir que morrem cheios de saúde.
Quando contemplo os meus contemporâneos
entre as conversas trendy e os lugares da moda,
«tropeço de ternura», queria ser
pelo menos tão ingénuo como eles,
partilhar cada frémito dos lábios,
a labareda vã das gargalhadas
pela madrugada fora. No entanto,

assedia-me a acédia de ficar
assim, mais preguiçoso do que um Oblomov
à escala portuguesa — ó doce anestesia
a invadir-me o corpo, a libertar-me
desse feitiço a que se chama o “espírito
do tempo” em que vivemos, sob escombros
de um céu desmoronado em mil pequenos cacos
ainda luminosos, virtuais
estrelas que se apagam e acendem
à flor de todos os écrans
que os meus contemporâneos ligam e desligam
cada dia que passa, nunca se esquecendo
de carregar nas teclas necessárias
para a operação “save”
e assim alcançarem a eternidade.

in, Colecção “Poesia e Prosa” Ed. Publicações Dom Quixote, Visão, Lisboa 2009
Ao preço de 50 cêntimos cada (e ainda dizem que o livro está caro!).
Nesta colecção de 8 volumes, Nuno Júdice, Maria Teresa Horta, Fernando Pinto do Amaral, Mário Cláudio, Manuel Alegre, Mia Couto, João de Melo e Ondjaki. A não perder.

quinta-feira, abril 09, 2009

CINEMA: GRAN TORINO

:
UMA (QUASE) OBRA-PRIMA
Clint Eastwood teve, nos seus tempos de actor iniciado, dois belíssimos mestres, Don Siegel e Sergio Leone. Depois começou o seu próprio percurso como realizador, herdando de um e outros certas características, mas criando um caminho muito pessoal. Homem de visão conservadora e de estilo clássico, enveredou por um tipo de cinema que, oscilando entre o policial e o western, se podia colocar entre o mais reaccionário americanismo, algo racista e mesmo um pouco afascistizado, sobretudo nas aventuras do “justiceiro” “Dirty Harry”. Já então, todavia, excelente realizador e brilhante actor. Conservador continua, americano até à medula também, excelente realizador e brilhante actor igualmente, refinando com o passar dos anos. Insurgi-me (e insurjo-me hoje em dia) com a mentalidade Dirty Harry, mas este cineasta conquistou-me completamente.
“Gran Torino” não sei se será uma obra-prima ou não, sei que é um dos grandes filmes que vi recentemente (acrescentando que não há muito também vira “A Troca”, que me deixara igualmente emudecido pela grandeza do porte ético deste homem que sabe lidar como poucos com as emoções extremadas e com o que de mais profundo e secreto existe na alma humana).
Com argumento de Nick Schenk, sobre história sua e de Dave Johannson, “Gran Torino” tem como protagonista Walt Kowalski (Clint Eastwood), veterano da Guerra da Coreia, que nos é apresentado de forma magistral no velório da mulher, onde grunhe de desaprovação perante os piercings e o telemóvel da neta e os impropérios de um outro neto. Kowalski, assim mesmo para os que não são seus amigos, é homem de outros tempos e de outras maneiras. Não gosta do comportamento dos filhos e demais família, no que tem razão, diga-se em abono da verdade, não é preciso ser conservador, racista e reaccionário, vive sozinho numa vivenda de um bairro de Detroit invadido por orientais e latino americanos, infestado por bandos de jovens violentos e desbragados. Não tolera que os americanos actuais comprem carros japoneses, ele que trabalhou na Ford e conserva como relíquia o “Gran Torino”, modelo de 1972, que ele próprio ajudou a montar. Não conserva só o carro, símbolo que dá o nome ao filme, conserva também armas e relíquias da guerra da Coreia, onde matou e viu morrer, em nome da pátria e da sobrevivência.
Kowalski é um duro, daqueles de antes quebrar que torcer. O espírito de Dirty Harry anda por ali e pensamos mesmo que pode ir até ao fim, mas o fim será outro, e com esta obra Clint Eastwood parece ter assinado o seu testamento (ainda que não tenha arrumado as botas, já está na África do Sul a filmar “The Human Factor”, com argumento de Anthony Peckham, segundo romance de John Carlin, que fala de Nelson Mandela e da forma como este lutou contra o “apartheid” e conseguiu unir o seu país, durante o campeonato do mundo de rugby de 1995). Um testamento que reforça o que acha justo e contrapõe algumas ideias à sua imagem de justiceiro por conta própria ou de proto-racista. O que o leva mesmo a dizer como é possível gostar mais destes “hmongs” (refugiados vietnamitas de uma etnia do sudeste da Ásia, que combateu no Vietname ao lado dos americanos) do que da própria família. Mas a verdade é que se não escolhe a família, mas se pode escolher quem nos trate por Walt. Portanto, o filme é uma longa (ou rápida) aprendizagem da vida e dos seus valores, que tanto pode ser levada a cabo por um duro americano de 78 anos, como por um adolescente “hmong”.
A personagem de Kowalski é admiravelmente composta por Clint Eastwood, num misto de herói solitário e de velho marreta (o humor está sempre presente neste retrato de amargo ressentimento e de apego à vida) que oscila entre a figura enraivecida de uma desencantada ruína dos anos 70 que aponta uma arma à cabeça de um gang de facínoras e a desenvolta personagem de um familiar cliente de barbeiro, com quem troca insultos de fraterna cumplicidade (a iniciação do jovem “hmong”, que deve entrar na barbearia como um “homem”, é divertidíssima, e mostra bem a faceta de humor deste cineasta).
De resto, “Gran Torino” é uma lição de cinema, sereno, vigoroso, profundo, dramático, angustiante, perverso e inocente, maduro, clássico e moderno. Cinema que apetece ver e ficar a apreciar durante dias, sonhando recordá-lo anos depois.
O que faz a grandeza de certos Homens que nos fazem ultrapassar todas as barreiras? 53 anos como actor, 37 como realizador, vários Oscars, dezenas de prémios nos maiores festivais, alguns dos melhores filmes do mundo, uma silhueta inesquecível e inimitável, um nome que se venera – Clint Eastwood!
GRAN TORINO
Título original: Gran Torino
Realização: Clint Eastwood (EUA, Austrália, 2008); Argumento: Nick Schenk, Dave Johannson; Produção: Clint Eastwood, Bill Gerber, Jenette Kahn, Robert Lorenz, Tim Moore, Adam Richman; Música: Kyle Eastwood, Michael Stevens; Fotografia (cor): Tom Stern; Montagem: Joel Cox, Gary Roach; Casting: Ellen Chenoweth; Design de produção: James J. Murakami; Direcção artística: John Warnke; Decoração: Gary Fettis; Guarda-roupa: Deborah Hopper; Maquilhagem: Tania McComas; Direcção de Produção: Tim Moore; Assistentes de realização: Peter Dress Michael Judd, Donald Murphy; Departamento de arte: Kai Blomberg, Steven Ladish, Scott Schutzki; Som: Bub Asman, Walt Martin, Alan Robert Murray; Efeitos especiais: Hank Atterbury, Steve Riley; Efeitos visuais: Kelly Port; Companhias de produção: Matten Productions, Double Nickel Entertainment, Gerber Pictures, Malpaso Productions, Media Magik Entertainment, Village Roadshow Pictures, Warner Bros.;
Intérpretes: Clint Eastwood (Walt Kowalski), Christopher Carley (padre Janovich), Bee Vang (Thao Vang Lor), Ahney Her (Sue Lor), Brian Haley (Mitch Kowalski), Geraldine Hughes (Karen Kowalski), Dreama Walker (Ashley Kowalski), Brian Howe (Steve Kowalski), John Carroll Lynch (barbeiro Martin), William Hill (Tim Kennedy), Brooke Chia Thao (Vu), Chee Thao (avó), Choua Kue (Youa), Scott Eastwood (Trey), Xia Soua Chang, Sonny Vue, Doua Moua, Greg Trzaskoma, John Johns, Davis Gloff, Thomas D. Mahard, Cory Hardrict, Nana Gbewonyo, Arthur Cartwright, Austin Douglas Smith, Conor Liam Callaghan, Michael E. Kurowski, Julia Ho, Maykao K. Lytongpao, Carlos Guadarrama, Andrew Tamez-Hull, Ramon Camacho, Antonio Mireles, Ia Vue Yang, Zoua Kue, Elvis Thao, Jerry Lee, Lee Mong Vang, Tru Hang, Alice Lor, Tong Pao Kue, Douacha Ly, Parng D. Yarng, Nelly Yang Sao Yia, Marty Bufalini, etc.
Duração: 116 minutos; Distribuição em Portugal: Zon Lusomundo; Classificação etária: M/ 12 anos; Estreia em Portugal: 12 de Março de 2009.

segunda-feira, abril 06, 2009

LEONARD COHEN: LIVE IN LONDON

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Leonard Cohen: "I' m your Man"
Tem-se ouvido (e visto), cá por casa, com agrado, o DVD de Leonard Cohen em Londres. Mais de duas horas de um reportório que fez História na música das últimas décadas, e onde se encontram alguns dos "musts" do cantor, poeta e compositor canadiano, nascido em Montreal no ano de 1934. Tudo nele é uma marca expressiva de um estilo próprio, da voz ao lirismo das palavras, da apresentação em palco á temática (por onde passa religião, pacifismo, amor e sexo, cidadania ou poder prepotente).
Leonard Norman Cohen. que começou a carreira de cantor tarde (“Songs of Leonard Cohen”, de 1967, foi um acontecimento que o projectou internacionalmente), conta com uma dúzia de álbuns, passou por Lisboa no ano passado, actuando no Passeio de Algés, e vai voltar dia 30, agora ao Pavilhão Atlântico, em Lisboa.
Não sei se me apetece um recinto como esse para ouvir Cohen. Não sei se não prefiro o ecrã do televisor e este registo de um concerto dado em Londres, “Live in London”, por acaso nada mal gravado, captando bem, e de forma discreta, o intimismo de uma comunicação que se quer perto.


If you want a lover
I'll do anything you ask me to
And if you want another kind of love
I'll wear a mask for you
If you want a partner
Take my hand
Or if you want to strike me down in anger
Here I stand
I'm your man

If you want a boxer
I will step into the ring for you
And if you want a doctor
I'll examine every inch of you
If you want a driver
Climb inside
Or if you want to take me for a ride
You know you can
I'm your man

Ah, the moon's too bright
The chain's too tight
The beast won't go to sleep
I've been running through these promises to you
That I made and I could not keep
Ah but a man never got a woman back
Not by begging on his knees
Or I'd crawl to you baby
And I'd fall at your feet
And I'd howl at your beauty
Like a dog in heat
And I'd claw at your heart
And I'd tear at your sheet
I'd say please, please
I'm your man

Dance me to your beauty with a burning violin
Dance me through the panic 'til I'm gathered safely in
Lift me like an olive branch and be my homeward dove
Dance me to the end of love
Dance me to the end of love

Oh let me see your beauty when the witnesses are gone
Let me feel you moving like they do in Babylon
Show me slowly what I only know the limits of
Dance me to the end of love
Dance me to the end of love

Dance me to the wedding now, dance me on and on
Dance me very tenderly and dance me very long
We're both of us beneath our love, we're both of us above
Dance me to the end of love
Dance me to the end of love

Dance me to the children who are asking to be born
Dance me through the curtains that our kisses have outworn
Raise a tent of shelter now, though every thread is torn
Dance me to the end of love

Dance me to your beauty with a burning violin
Dance me through the panic till I'm gathered safely in
Touch me with your naked hand or touch me with your glove
Dance me to the end of love
Dance me to the end of love
Dance me to the end of love

quinta-feira, abril 02, 2009

NA CASA FERNANDO PESSOA




CLARICE LISPECTOR E O CINEMA

Para abordar o tema “Clarice Lispector e o Cinema” vou ater-me essencialmente a duas obras desta escritora: “Uma Aprendizagem ou O Livro dos Prazeres” (1969) e “A Hora da Estrela” (1977). As razões são diversas. Primeiro, não conheço toda a obra de Clarice Lispector e entre os títulos que melhor conheço estão estes dois, que reli agora; segundo, ambos me parecem paradigmáticos de dois aspectos fulcrais desta relação da obra de Lispector com o cinema. Uma relação de contaminação intensa e de dificuldade extrema na passagem de uma narrativa para outra.
Coisa singular: encontro a escrita de Clarice Lispector muito influenciada pelo cinema e vejo uma dificuldade quase total em verter a escrita de Clarice Lispector em cinema. Acho “Uma Aprendizagem ou O Livro dos Prazeres” uma obra muito cinematográfica. Revejo “A Hora da Estrela” num belíssimo filme de Suzana Amaral (1985) e não encontro nele senão resquícios do romance de Clarice Lispector.
Vamos então por partes, resumindo muito o essencial: literatura e cinema possuem duas estruturas narrativas diferentes. Adaptar um romance ao cinema não é ilustrá-lo, mas sim recriá-lo. Em princípio, quando se adapta uma obra literária, na base dessa adaptação está uma opção que quase sempre se reconhece numa escolha por admiração e identificação: o realizador admira e identifica-se com a obra que adapta, fazendo-a sua. Há algumas outras razões para adaptações deste tipo, mas as mais vulgares são estas.
Quando adaptei ao cinema “Manhã Submersa”, de Vergílio Ferreira, as razões foram essas: admiração pela obra, identificação com o seu espírito, com o tom da escrita, com o sentir e as intenções do autor.
Tal como quem ergue um argumento de cinema partindo de factos reais, o argumentista de cinema faz da obra que adapta uma realidade pré-existente que molda segundo a sua leitura, a sua perspectiva, o seu sentir, o seu olhar. A obra escrita organiza-se de uma determinada forma, a cinematográfica irá obedecer a uma outra arquitectura. Os signos são diferentes, a ordem por que se estruturam obedece a regras diversas. Será necessário controlar duas escritas, não copiar uma na outra, mas reinventar uma na outra. Se se quiser ser fiel à primeira. Mas fidelidade aqui não é nunca mimetismo. Muito pelo contrário: muitas vezes, quando mais livre é uma da outra, melhor serão os resultados, para se atingirem metas semelhantes.
Ao adaptar um romance ao cinema, muitas vezes há que cortar, deslocar, condensar, inventar. O que é dito por palavras num romance pode não aparecer ilustrado tal e qual numa situação visual, mas sim num pequeno apontamento recriado numa nova ordem. Uma descrição de muitas palavras pode ser sugerida numa pequena imagem. Pelo contrário, uma palavra ou uma frase podem necessitar de uma sequência no cinema.
Há quem procure recuperar um estilo, há quem desista do estilo do original, que não é o seu, e imponha este sobre o do autor que adapta. Há quem agarre num romance de trezentas páginas, e escolha vinte para repovoar num outro universo, o do cineasta. Há quem pegue numa obra anónima e insípida e a transforme numa obra-prima de cinema, e quem destrua um marco da literatura numa xaropada audiovisual sem ponta por onde se pegue. Há momentos de felicidade e inspiração que prolongam em imagens magníficas palavras inesquecíveis. Cada um de nós se lembrará de exemplos que elucidem o que atrás tento descrever. Nestas áreas de contaminação artística tudo é possível. Literatura, cinema, teatro, artes plásticas, música, arquitectura interpenetram-se sem fronteiras, sobretudo desde meados do século passado, quando essa tendência da especificidade das linguagens deu origem a uma miscigenação que tudo admite e muitas vezes instiga.
Reli há dias um dos romances de Clarice Lispector que mais me fascina: “Uma Aprendizagem ou O Livro dos Prazeres”. Peguei nele e iniciei a leitura sem relembrar o ano da sua escrita. Deliberadamente. Li cada página e à medida que as páginas se iam somando, deu-se uma curiosa sensação que se foi cimentando. Recordei “O Último Ano em Marienbad”, de Resnais, vieram-me à lembrança romances e filmes de Marguerite Duras e Alain Robbe-Grillet (sobretudo de Marguerite Duras), não esquecia Antonioni, de “A Noite”, “A Aventura”, “O Eclipse” ou “Deserto Vermelho”.
Acabada a leitura, fui confrontar datas. O romance era de 1969, os filmes quase todos anteriores. Nada me garante que Clarice Lispector os tivesse visto, mas tenho quase a certeza que sim, ela que era uma cosmopolita que viajava entre Nova Iorque e a casa no Leme, passava por Itália, Suíça, Paris e pela Polónia.
O neo-realismo da primeira fase dos anos 40 tinha dado origem a outros realismos, e sobretudo a uma arte algo desiludida com a identificação directa com os problemas sociais e com ideologias que propunham “homens novos” que afinal nada tinham de novo.
Clarice Lispector é ainda mal vista por aqueles que não tinham abandonado esses ditames, exigia-se-lhe um ingénuo comprometimento com a realidade política e social, e ela sentia uma literatura nova, mais livre, nem por isso menos angustiada. Não errarei muito se a pressentir admiradora de Simone de Beauvoir e de uma certa ideia do existencialismo, e sobretudo muito próxima do “nouveau roman”. Não errarei nada se a vir ligada a movimentos de libertação da mulher, mas movimentos profundos e enraizados em sólidas convicções e sentires.
Lendo “Uma Aprendizagem ou O Livro dos Prazeres”, a influência do cinema que então se fazia na Europa é-me mais que evidente. Sobretudo ao nível da estrutura da linguagem, a ruptura com o romanesco tradicional, o prazer na utilização da palavra, o ritmo da frase, a repetição, a melopeia, a criação de um clima de uma sensualidade extrema pela voluptuosa exaltação da palavra. “A palavra é o meu domínio sobre o muno”, dirá. Mas se a influência da Europa parece evidente, o espírito do Brasil, de um certo Brasil nordestino, mas também carioca, nunca deixa de ser a terra fértil sobre que assenta toda a estrutura da obra de Clarice.
Nascida na Ucrânia, mas brasileira por formação, a escrita de Lispector é moderna, vanguardista, antecede e acompanha a explosão do Cinema Novo, mas nunca deixa de ser original, sinceramente pessoal e intransmissível, única, cosmopolita, nordestina, urbana e europeia, numa palavra: universal.
Que o diga “Uma Aprendizagem ou O Livro dos Prazeres”. A estória quase não existe.
Lóri mora num apartamento de Ipanema. Veio de Campos, de família rica, mas escolheu a solidão e o ordenado de professora primária. Uma vida adiada, como tantas em Lispector. Adepta de cartomante, respeitadora de Deus, encontra Ulisses, professor de filosofia numa faculdade. Homem paciente, que sabia dominar o desejo e ensinava a Lóri o prazer da aprendizagem. Encontram-se raramente, ela tem dúvidas sobre si e os outros, sobre assumir ou não, umas quantas vezes falam ao telefone, até ao dia em que a aprendizagem parece estar pronta. Aprender por si própria a “ser eu”, a viver, a ter prazer na vida. E no amor. E na dor.
Estranho romance este, que começa com uma vírgula e termina em dois pontos. Uma vida toda pela frente, é certo. E a descoberta do amor.
Em Clarice Lispector o essencial é a palavra e o prazer em manuseá-la. Mas também os conceitos, cada frase uma máxima a merecer reflexão e citação. Aqui relembra-me a nossa Agustina, na escrita solta e livre, no gosto pelos aforismos, e sobretudo em algo em que ambas são únicas: este tipo de literatura facilmente pode cair na snobeira e na arrogância, mas Lispector “escreve simples”, escreve enxuto e sem efeitos, escreve na linguagem coloquial de todos os dias, apenas a estrutura das suas obras é complexa, mas de uma complexidade que sentimos brotar directamente das entranhas desta escritora aristocrática no porte, distante no discurso, de cintilante olhar de raposa, grega no perfil, que transmite uma inteligência fulgurante e uma sensibilidade vulcânica envoltas numa serenidade majestática que impressiona quem a vê.
Basta olhar a entrevista que concedeu em 1977, pouco tempo antes da sua morte, à TV Cultura. Todos os filmes que vi retirados de obras de Clarice Lispector, não lhe fazem justiça, ainda que quase todos, curtas e longas metragens, me parecem merecer destaque especial, havendo mesmo um, “A Hora da Estrela”, de Suzana Amaral, de 1985, que se aproxima muito da obra-prima. Mas, sendo um filme excelente, uma das obras mais marcante da história do cinema brasileiro, “não é” toda a Clarice Lispector, é uma intriga idealizada por Clarice Lispector e recriada de forma brilhante por uma outra personalidade que a trabalha cinematograficamente de forma diversa.
Creio, porém, que adaptar Clarice Lispector ao cinema, mantendo os valores estruturais da sua criação literária, é (quase) impossível. A construção das suas obras é labiríntica e mantém um diálogo quase permanente entre a escritora, as personagens e o leitor. Este desdobrar de campos narrativos ou de níveis expositivos não facilita a adaptação.
Atentemos no caso de “A Hora da Estrela”. Antes de mais, assinale-se a presença de uma personagem-narrador, escritor, homem, que todavia se identifica obviamente com Clarice Lispector-escritora, que inventa treze títulos para a mesma obra. Treze títulos poderia representar apenas um efeito, mais ou menos gratuito, uma “private joke”, mas na realidade não o é: são treze enfoques diversos, complementares, uma forma de mostrar que o que se vai ler tem múltiplas leituras. O que é verdade.
O narrador, “eu, Rodrigo S. M.” (na verdade Clarice Lispector, anuncia a escritora na dedicatória da obra), afirma: “Proponho-me a que não seja complexo o que escreverei, embora obrigado a usar as palavras que vos sustentam. A história – determino com falso livre arbítrio – vai ter uns sete personagens e eu sou um dos mais importantes deles, é claro.”
A assim será: o narrador não só relata a história das desventuras de Macabéa, uma nordestina no Rio de Janeiro, como vai muito mais longe: fala de si próprio, do ofício de escritor, comenta a acção que descreve, distancia-a ou aproxima-a do leitor, dirige-se a este, enfim, cria uma teia de observações que o torna omnipresente e omnisciente.
Ele é o escritor que comanda a estória e a faz evoluir no sentido que pretende, mas é simultaneamente o autor que se anula, ao anunciar-se enquanto tal. Ao tornar claro o processo criativo.
O romance é assim uma obra de um complexidade extrema, que o leitor tem de acompanhar com uma invulgar atenção, para saber sempre – se é que o consegue – qual o nível da narrativa, se a descrição da estória, se o seu comentário irónico, se a auto-avaliação do escritor, se Nordeste, se Rio, se a ingenuidade de Macabéa é dela só, se retrato de um Brasil que migra e se suicida, se a dor de dentes de Macabéa é fingida para arrolar um dia de folga ou se corresponde às aspirinas que toma para controlar esse mal estar geral que vem de dentro de si, inlocalizável. “Não se trata apenas de narrativa, é antes de tudo vida primária que respira, respira, respira”, volto a citar Rodrigo S. M.
Esta proposta do narrador foi por completo (e deliberadamente) ignorada por Suzana Amaral, que abandonou o relato na primeira pessoa do singular e optou por um relato desde sempre na terceira pessoa do singular, contando, é certo de forma austera e rigorosa, a vida de Macabéa. Mas este desdobrar de olhares, esta invectiva ao leitor, este desenrolar de textos sobre textos, esta metalinguagem perde-se e, no entanto, é um dos pontos essenciais deste romance.
Curiosamente, o romance sofre obviamente forte influência da montagem cinematográfica, com os seus contínuos “flashbacks”, que alternam passado e presente, que recusam a ordem linear da narrativa.
Escrito como vimos em 1977, “A Hora da Estrela”, último romance de Clarice Lispector é simultaneamente a despedida da escritora, que morre pouco depois. Macabéa é um retrato fragmentado de uma mulher, uma alagoana órfã, que vive só, depois da morte dos pais, depois de ter sido criada por uma tia despótica que lhe batia na cabeça e lhe arranjou um lugar de dactilógrafa, que executa mal, por um ordenado abaixo do ordenado mínimo, que a leva a comer cachorro quente e Coca Cola a todas as refeições.
Ouve a Rádio Relógio que lhe fornece anúncios, informações horárias e pequenas efemérides culturais. É virgem, sente um calor pecaminoso pelo corpo, acha a vida bela, mas pressente a morte, não sabe quem é e por que vive (pergunta-se mesmo que é “ser eu”?), tem um olhar de princípio de mundo e um destino traçado na ponta da estrela de um Mercedes Benz. Quer ser artista de cinema, acha que Marilyn é cor-de-rosa e esta história “é escrita na hora mesma em que é lida, como explica Rodrigo, isto é Clarice Lispector. Uma história de vida adiada e de morte anunciada.
"Escrevo por não ter nada a fazer no mundo: sobrei e não há lugar para mim na terra dos homens", diz Rodrigo. Por isso se identifica com Macabéa, e com ela morre.
Muito de todo este novelo ficcional se perde no filme. Resta a vida de Macabéa, descrita de uma forma linear, num estilo discreto, seco, com um lirismo forte, mas contido, sem floreados de qualquer espécie. Aí sim, Suzana Amaral respeita o tom de Clarice Lispector, sustenta a ironia, aprofunda a psicologia das personagens, mantém as obsessões temáticas da escritora: o retrato da mulher e da sua condição num mundo dominado pelo homem, o mistério da vida e da morte, a busca do amor e a descoberta da sexualidade, a inocência ofendida no seu confronto com uma realidade social inóspita, o diálogo com o desconhecido, a religião (e a cartomancia), sobretudo a procura do significado do “eu”.
Macabéa, que tem 19 anos, nunca teve namorado ou homem dito seu. Cruza-se com Olímpico de Jesus Moreira Chaves, "metalúrgico", e não “operário”, vindo da Paraiba, onde deixou para trás o cadáver de quem se lhe opôs.
Ele chama-a de “senhorinha” e convida-a a dar um passeio. Diz ser forte e muito inteligente e ter um destino a cumprir, ser talvez deputado. Adorava ver sangue, e sonha ser toureiro. Detesta ser encostado à parede, e tem sempre resposta pronta para o que não sabe: “Na Rádio Relógio disseram uma palavra que achei meio esquisita: “mimetismo”, fala Macabéa. Ao que Olímpico contrapõe: “Isso é lá coisa para moça virgem falar?”
O namoro termina rápido quando Glória, a companheira de escritório, moça sabida, frequentadora de cartomante, se interpõe entre os dois. Macabéa, que não sabe revoltar-se e pede desculpa de todas as ofensas de que é vítima, parece ultrapassar a tristeza que sente, vai também ela à cartomante, que lhe troca as voltas e lhe inventa um príncipe encantado que será afinal o seu matador. “Grávida de um futuro” que não terá, é atropelada por um carro na sua “Hora da Estrela”. “Hoje, pensa ela, hoje é o primeiro dia de minha vida: nasci.” É na morte que se assume “eu”: “Eu sou, eu sou, eu sou, eu sou”.
Tal como Clarice Lispector, ela afirma: “Eu vou ter tanta saudade de mim, quando morrer.”
Tendo na sua obra tanto das estruturas cinematográficas, nunca encontrou no cinema (até hoje) réplica da complexidade dessa construção literária. Muito embora, num registo diverso, Suzana Amaral, inspirando-se na “Hora da Estrela”, tenha concebido um filme admirável, que restitui muito das personagens, situações e clima do romance. Mas neste inesgotável universo da contaminação das linguagens o que está certo ou o que está errado?
Fica a certeza de que o romance de Clarice Lispector é um torrencial rio de leituras plurais e o filme de Suzana Amaral é outro perfeito objecto artístico de novas interpretações.
E fica ainda uma última convicção: a de que a obra de Clarice Lispector não deixará de justificar novas aproximações da parte de cineastas apaixonados pela sua criação inesgotável e pelo seu talento que ninguém conseguirá aprisionar ou conter.
Lauro António, Lisboa, Casa Fernando Pessoa, 2 de Abril de 2009.
FILMES RETIRADOS DE OBRAS DE CLARICE LISPECTOR OU SOBRE A ESCRITORA:

PERTO DE CLARICE
Título original: Perto de Clarice
Realização: João Carlos Horta (Brasil, 1982); curta-metragem.

A ESTRELA NUA
Título original: A Estrela Nua
Realização: José Antonio Garcia, Ícaro Martins (Brasil, 1984); Argumento: José Antonio Garcia, Ícaro Martins, segundo história de Clarice Lispector; Produção: Ary Fernandes, Adone Fragano; Música: Arrigo Barnabé; Fotografia (cor): Antonio Meliande; Montagem: Eder Mazzini; Design de produção: Oswaldo Afonso Mesquita Filho; Guarda-roupa: Emilia Duncan; Maquilhagem: Vavá Torres; Direcção de Produção: Geraldo José Martinho Filho; Assistente de realização: Paulo José Correa; Companhias de produção: Olymbus Filmes; Intérpretes: Cristina Aché, Patricio Bisso, Carla Camurati, Selma Egrei, José Antonio Garcia, Ícaro Martins, Jardel Mello, Cida Moreira, Ricardo Petráglia, Vera Zimmerman, etc. Duração: 90 minutos.

A HORA DA ESTRELA
Título original: A Hora da Estrela
Realização: Suzana Amaral (Brasil, 1985); Argumento: Suzana Amaral, Alfredo Oroz, segundo romance de Clarice Lispector; Produção: Assunção Hernandes; Música: Marcus Vinícius; Fotografia (cor): Edgar Moura; Montagem: Idê Lacreta; Design de produção: Clovis Bueno; Guarda-roupa: Mauricio Kawamura; Maquilhagem: Maria Antonia Lombardi; Direcção de Produção: Eliane Bandeira; Assistente de realização: Sylvia Bahiense; Departamento de arte: João Paulo Schlittler; Efeitos especiais: Paulo Schettino; Companhias de produção: Raíz Produções Cinematográficas; Intérpretes: Marcélia Cartaxo (Macabéa), José Dumont (Olímpico de Jesus), Tamara Taxman (Glória), Fernanda Montenegro (Madame Carlota (a macumbeira), Manoel Luiz Aranha (fotógrafo), Marli Botoletto (assistente de Macumba), Denoy de Oliveira (Pereira), Maria Do Carmo Soares (Maria do Carmo), Walter Filho (homem no Mercedes), Sonia Guedes (Mrs. Joana), Umberto Magnani (Seu Raimundo), Miro Martinez (cego), Euricio Martins (guarda do Metro), Raymundo Matos (Arnaldo), Dirce Militello (Mãe de Glória), Lizete Negreiros (Maria), Cláudia Rezende (Maria de Penha), Rubens Rollo (pai de Gloria), etc. Duração: 96 minutos.

BRASILIÁRIOS
Título original: Brasiliários
Realização: Sérgio Bazzi, Zuleica Porto (Brasil, 1986); Duração: 16 minutos.

O CORPO
Título original: O Corpo
Realização: José Antonio Garcia (Brasil, 1991); Argumento: José Antonio Garcia, segundo obra de Clarice Lispector; Produção: Adone Fragano, Anibal Massaini Neto; Música: Arrigo Barnabé, Paulo Barnabé; Fotografia (cor): Antonio Meliande; Montagem: Eder Mazzini, Danilo Tadeu; Direcção artística: Felipe Crescenti; Guarda-roupa: Luiz Fernando Pereira; Direcção de Produção Sara Silveira; Assistentes de realização: Ana Arantes, Alexandre de Oliveira; Som: Tide Borges, Lia Camargo; Coreografia: Lennie Dale; Companhias de produção: Cinearte Produções Cinematográficas, Olympus Filmes; Intérpretes: Antônio Fagundes (Xavier), Marieta Severo (Carmem), Cláudia Jimenez (Bia), Sérgio Mamberti (chefe da polícia), Carla Camurati (Monique), Maria Alice Vergueiro (mulher do chefe de polícia), Ricardo Pettine, Lala Deheinzelin, Arrigo Barnabé, Guilherme de Almeida Prado, Daniel Filho, Carlos Reichenbach, etc. Duração: 80 minutos.

CHAMADA FINAL
Título original: Chamada Final ou Final Call
Realização: Ana Maria Magalhães (Brasil, Alemanha, China e EUA, 1994); Argumento inspirado no conto “A língua do P.”, do livro “A Via Crucis do Corpo”;”Intérpretes: Claudia Ohana, Guilherme Leme, etc. Episódio de média-metragem integrado no filme “Erotique”. Outros realizadores: Lizzie Borden (episódio "Let's Talk About Love"), Clara Law (episódio "Wonton Soup") e Monika Treut (episódio "Taboo Parlor").

RUÍDO DE PASSOS
Título original: Ruído de Passos
Realização: Denise Tavares Gonçalves (Brasil, 1995); Argumento segundo o conto homónimo, do livro “A Via Crucis do Corpo”; curta-metragem. Duração: 11 minutos.

CLANDESTINA FELICIDADE
Título original: Clandestina Felicidade
Realização: Beto Normal e Marcelo Gomes (Brasil, 1998 - curta metragem que trata da infância da autora); Intérpretes: Luisa Phebo.

MACABÉIA
Título original: Macabéia
Realização: Erly VieiraJr., Lizandro Nunes e Virgínia Jorge (Brasil, 2000 -curta-metragem).

AEROPORTO EM O EMBARQUE
Título original: Aeroporto em o embarque
Realização: Nicole Algranti (Brasil, 2002 - curta-metragem); Intérpretes: Marcélia Cartaxo.

INFINITIVAMENTE GUIOMAR NOVAES
Título original: Infinitivamente Guiomar Novaes
Realização: Norma Bengell (Brasil, 2003); Argumento: Anna Akhmatova, Clarice Lispector; Intérpretes: Norma Bengell, Lauro Machado Coelho, José Antônio de Almeida Prado, Sônia Goulart, Gilbert Matté, Guiomar Novaes, Maria Stella Orsini, Roberto Tibiriçá, etc.; Companhias de produção: RioCine; Duração: 40 minutos.

O OVO
Título original: O Ovo
Realização: Nicole Algranti (Brasil, 2003); Argumento: Luiz Carlos Lacerda, Segundo conto de Clarice Lispector; Produção: Nicole Algranti, Pedro Maranhão; Música: Marcelo S. Petraglia; Fotografia (cor): Araken Dourado; Montagem: Lucas Margutti; Direcção artística: Marcella Morizot; Guarda-roupa: Fernanda Lomonaco; Som: Pedro Sá Earp, Juliano Zanoni; Companhias de produção: Fora do Eixo Filmes, Taboca Filmes; Intérpretes: Maria Bethânia (narrador), Carla Camurati, Louise Cardoso, Chico Díaz, Karla Martins, Rodney Pereira, Cláudio Perotto, Lucélia Santos, etc. Duração: 11 min

O MISTÉRIO SEGUNDO CLARICE LISPECTOR
Título original: O Mistério Segundo Clarice Lispector
Realização: Patrícia Lino (Portugal, 2008); Argumento: Patrícia Lino; Música: Caetano Veloso – “Clarice”; Fotografia (cor) : Patrícia Lina; Montagem: Patrícia Lino; Som: Patrícia Lino; Intérpretes: Andreia Oliveira, Cristina Felgueiras, Dinis Leitão, Edson Basílio, Henrique Monteiro, Hugo Lima, Patrícia Lino, Tayna Borges, Tiago Lino, Tiago Sousa Garcia. Duração: 5 minutos.

OBRAS PARA TELEVISÃO:

FELIZ ANIVERSÁRIO, Rede Globo, 1978

ESPECIAL CLARICE LISPECTOR - TV Cultura, 1999
Inclui a entrevista concedida por Clarice Lispector a Júlio Lerner, em 1977.

A HORA DA ESTRELA, Rede Globo, 2003

CLARICE LISPECTOR NO TEATRO:

PERTO DO CORAÇÃO SELVAGEM (1965)
Encenação: Fauzi Arap; Intérpretes: Glauce Rocha, José Wilker e outros

UM SOPRO DE VIDA (1979)
Encenação: José Possi Neto; Intérpretes: Marilena Ansaldi.

A HORA DA ESTRELA (1984)
Encenação: Naum Alves de Souza; Intérpretes: Maria Bethânia.

A PAIXÃO SEGUNDO G. H. (1989)
Encenação: Cibele Forjaz; Intérpretes: Marilena Ansaldi.

A PECADORA QUEIMADA E OS ANJOS HARMONIOSOS (1992)
Encenação: José Antônio Garcia; Intérpretes: Sérgio Mambertti e outros.

A MULHER QUE MATOU OS PEIXES (1994)
Encenação: Lúcia Coelho; Intérpretes: Zezé Polessa.

A MULHER QUE MATOU OS PEIXES (1998)
Adaptação: Adriane Azenha.

A HORA DA ESTRELA (1998)
Encenação: Roberto Vignatti; Intérpretes: Alexandra Tavares.

QUE MISTÉRIOS TEM CLARICE? (1998)
Encenação: Luiz Arthur Nunes; Intérpretes: Rita Elmôr (monólogo)

CLARICE - CORAÇÃO SELVAGEM (1998)
Encenação: Maria Lucya de Lima; Intérpretes: Aracy Balabanian.

QUASE DE VERDADE (2001)
Encenação: Ulisses Cohn; Intérpretes: Cia. Delas de Teatro

A HORA DA ESTRELA (2001)
Encenação: Marcus Vinicius Faustini; Intérpretes: Marcélia Cartaxo e outros.

A DESCOBERTA DO MUNDO (2001)
Encenação: Marco Antonio Rodrigues; Intérpretes: Cia. Delas de Teatro

A HORA DA ESTRELA (2002)
Encenação: Naum Alves de Souza; Intérpretes: Célia Borbes, Ester Lacava e Edgar Jordão.

A PAIXÃO SEGUNDO G. H. (2002)
Adaptação: Fauzi Arap.
Encenação: Enrique Diaz; Intérpretes: Mariana Lima.

AMOR - UMA ODE AO UNIVERSO FEMININO DE CLARICE LISPECTOR (2002)
Adaptação: Marta Baião e Conceição Acioli.
Encenação: Conceição Acioli; Intérpretes: Marta Baião.

ÁGUA VIVA (2003)
Encenação: Maria Pia Scognamiglio; Intérpretes: Susana Vieira.

ENCONTRO COM CLARICE (2003)
Encenação: Ítalo Rossi; Intérpretes: Ester Jablonski

QUE MISTÉRIOS TEM CLARICE (2008)
Encenação e interpretação: Rita Elmôr.

LEITURAS:

CLARICE LISPECTOR - Áudio (1998)
Selecção de contos feita por Paulinho Lima. Interpretação: Aracy Balabanian; Luz da Cidade, colecção Poesia Falada.

DOZE LENDAS BRASILEIRAS - Clarice Lispector (V. 1) (2000)
Ideia e produção de Paulinho Lima; Luz da Cidade.

CLARICE LISPECTOR - A MULHER QUE MATOU OS PEIXES (V. 4) (2000)
Ideia e produção de Paulinho Lima; Luz da Cidade.

A DESCOBERTA DO MUNDO (2002)
Selecção de crónicas feita por Teresa Montero, interpretação: Aracy Balabanian; Luz da Cidade, Coleção Os cronistas.

LA PASSION SELON G. H. (sem data)
Gravação de trechos do romance “A Paixão segundo G. H.” pela actriz Anouk Aimée; Des Femmes, Paris.

LIENS DE FAMILLE (sem data)
Gravação de contos do livro “Laços de Família” por Chiara Mastroianni; Des Femmes, Paris.

quarta-feira, abril 01, 2009

O SOPRO EXTINGUIU-SE

:
A carne começa a ser roída por dentro, a pele cola-se aos ossos, os olhos encovam-se por detrás de uma pálpebras corridas pelo cansaço, a respiração é ofegante, mas tímida, os dias vão passando e sente-se um sopro de vida preso, enjaulado num corpo já cadáver. A morte caminha, pressente-se, hoje está pior que ontem, há dias ainda dormia na cama e via televisão no cadeirão. Depois passou a pernoitar de dia na cama almofadada que as enfermeiras lhe vão colocando dos lados para não ferir a pele amarelecida. Toco-lhe na mão e sinto ainda um leve apertar de tendões. Tenta abrir os olhos, procura dizer o que lhe vai no coração. Faz um esforço para entreabrir os olhos. Hoje nem isso, à tarde. À noite, voava sabe-se lá para onde. Vestiram-na com o “vestido de ver a Deus”, que ela escolhera, negro e abotoado até cima, jaz na cama onde passou os últimos dias, mãos sobrepostas sobre o corpo, olhos fechados, um lenço a amparar-lhe a boca. Havia ainda há minutos um sopro de vida neste corpo. Que mistério é este que faz da matéria uma força desconhecida e que, num ápice, a devolve às cinzas? Que força é essa, Tia Ivone?

CLARICE LISPECTOR EM ENCONTRO

:

Hoje e amanhã, a Casa Fernando Pessoa recebe o Colóquio Clarice Lispector (1920-1977). Conferências, debates, leituras, uma peça de teatro, visionamento de filmes, a apresentação da fotobiografia de Clarice, e uma exposição/instalação dedicada à autora de "Perto do Coração Selvagem" preenchem o programa que segue abaixo. Todas as actividades têm entrada gratuita.
PROGRAMA
1 de Abril
9h30: Recepção
10h00: Abertura
10h30: Conferência: “Clarice Lispector: da biografia à fotobiografia”
Profª Nádia Battella Gotlib – Universidade de São Paulo –USP
11h15: Debate
11h30: Conferência: “Clarice Revisitada
Profº Carlos Mendes de Sousa – Universidade do Minho
12h15: Debate
12h30: Abertura da Exposição de Fotografias de Clarice e Lançamento do
Livro: “Clarice: Fotobiografia”, de autoria da Profª Nádia Battella
Gotlib
13h30: Pausa para almoço
15h00: Conferência: “Com uma fixidez reverberada de cego: visão e
distorção em Clarice Lispector”
Profª Clara Rowland – Universidade de Lisboa
16h15: Debate
16h30: Conferência: “Impossível Explicar”
Francisco José Viegas – Jornalista e Escritor
17h15: Debate
18h00: Peça Teatral: “Que mistérios tem Clarice” , Rita Elmôr
2 de Abril
10h00: Leitores de Clarice:
Maria Antónia Fiadeiro
Ana Paula Tavares
Patrícia Lino
Depoimento de Paulo Gurgel Valente por Lauro Moreira
11h00: Debate
11h15: Pausa para café
11h30: Leituras de Clarice:
Inês Pedrosa
Cristina Elias
Vasco Durão
Lauro Moreira
13h00: Pausa para almoço
14h30: Palestra: “Clarice no Cinema”, cineasta Lauro António
15h00: Exibição de curta-metragens extraídos da obra de Clarice Lispector
16h00: Pausa para café
16h15: CINEMA: Exibição de “A hora da Estrela”, de Suzana Amaral
18h00: Encerramento

domingo, março 29, 2009

PORTUGAL-SUÉCIA

:
Mas o que é isto? pergunta o melhor do mundo

PARA O LADO E PARA TRÁS
O ADEUS AO MUNDIAL

O que se deve retirar deste 0-0 do Portugal-Suécia?
Que Portugal está afastado do Campeonato do Mundo da África do Sul?
Para mim essa era uma realidade desde o empate com a Albânia. Para nós o Campeonato vai ser visto pela TV, no sofá, sem a excitação de lá termos os nossos melhores do mundo. Não é ser pessimista, é ser realista. Entrámos num dos grupos mais acessíveis do apuramento europeu, e o resultado, ao fim de cinco jogos, são os mesmos pontos que a Albânia.
Mas há que retirar lições.
Com a Suécia jogámos bem?
Sim, jogámos bem, aquele jogo que faz que anda mas não anda, que me faz sempre lembrar o primeiro Indiana Jones, aquele duelo entre o mestre do chicote que o esgrimia sabiamente, mas que o Indiana arruma com um tiro único de revólver. Estilo, danças bem, mas não me encantas. Lembrou-me também os malfadados jogos do Sporting-Bayern, o Sporting a triangular e a lateralizar e os alemães a marcarem. Cada tiro, cada melro.
Ontem, os Suecos podiam ter ganho. Bastava terem tido sorte num daqueles contra-ataques venenosos.
As equipas portuguesas não sabem jogar contra o pragmatismo de outras selecções ou equipas de clubes. Somos mestres no para trás e para o lado, mas rematar certeiro é coisa que nos atrapalha muito. Falta convicção. Os avançados parecem aterrorizados na hora decisiva. Remato? E se falho? O melhor é lateralizar.
Depois, é claro que a minha selecção era outra. Deixar de início o Deco e o Nani no banco a mim espanta-me. Não é que os que jogaram, o tenham feito mal. O meio campo esteve bem, a fazer o que sabe: para trás e para o lado. Mas o Meireles a rematar, meu Deus! O que se necessitava era poder de fogo, e o que se viu foram “bichas de rabiar”.
Porque foi eficaz Scolari? Porque os jogadores portugueses são dos melhores do mundo em técnica, mas dos mais fracos psicologicamente. Não aguentam pressão, precisam de quem os instigue. Scolari não devia fazer grandes treinos técnico-tácticos. Usava mais a psicologia, porque é um temperamento forte e emocional. Pôs os portugueses (quase) todos com as bandeiras nas janelas e deu uma outra alma ao conjunto.
Carlos Queirós não é deste campeonato por muito que o admire. O seu trabalho nas camadas jovens foi óptimo, mas são coisas muito diferentes. Nos jovens é necessário discipliná-los tacticamente e desenvolver a técnica. Mas não é isso que precisam os “melhores do mundo” da selecção sénior. Não precisam de um pai, mas de um devoto de Nossa Senhora do Caravaggio.
É a perspectiva espiritual, a crença que nos falta. A certeza de rematar para o golo, a convicção de que não é necessário “lateralizar” e ter “muita paciência”.
Nós, os espectadores, é que temos de ter paciência para este jogo que não leva a nada. O futebol, claro que tem de ser bonito, mas bonito e eficaz foram os jogos do Bayern. Ter técnica e dar toques de calcanhar é bom numa peladinha entre amigos. O importante é pôr a técnica, a velocidade ao serviço da eficácia. Um, dois toques, abrir em profundidade para o extremo, centrar e fuzilar a baliza. A BALIZA!. Não o espaço aéreo. E fuzilar é rematar forte e colocado, não aqueles passes ao guarda-redes que ontem se viram.
Enfim, vamos ver o campeonato no sofá, via TV, e sem sombra de excitação. A torcer pelo Brasil? Claro. Por Angola? Claro. Ou pela Albânia?

quarta-feira, março 25, 2009

A LUA NO CINEMA


"Viagens à Lua e outras extravagâncias cinematográficas, românticas ou não"
- Lauro António -
no Clube Literário do Porto

Hoje, dia 26 de Março, pelas 21h30, o Clube Literário do Porto recebe Lauro António para uma conferência em torno do tema da Lua no Cinema, intitulada "Viagens à Lua e outras extravagâncias cinematográficas, românticas ou não".
(como podem ver pelo cartaz, a data foi alterada para 26 de Março)

Texto da Apresentação:
VIAGENS À LUA E OUTRAS EXCENTRICIDADES CINEMATOGRÁFICAS, ROMÂNTICAS OU NÃO

Vamos então falar da Lua no cinema. Tema vastíssimo. Logo desde o aparecimento do cinema, os realizadores passaram a andar com a Lua no pensamento (e nas imagens) ou não fosse a Lua fonte de inegável inspiração. Devo dizer aliás que foi com o cinema que começámos a ter as primeiras imagens reais e concretas da Lua, ainda que muitos anos antes vários escritores tivessem imaginado a Lua em palavras e outros tantos artistas plásticos a tenham tentado explorar em imagens sonhadas. Mas o cinema, mesmo inventando, “mostrou a Lua”, como o fez George Méliès, com “Viagem à Lua” (Le Voayge dans la Lune”), em 1902.
Se há várias perspectivas por que analisar este tema, “A Lua no Cinema”, a primeira e a mais óbvia será mesmo a da ficção científica, ou da ciência propriamente dita, reflectidas ambas nos ecrãs de muitas cinematografias. Na tradição de Herbert George Wells e Jules Verne "De la Terre à la Lune" (1865), o cinema, como fábrica de sonhos e do maravilhoso, do fantástico e do terror, tratou logo de inventar viagens extraterrestres, muitas delas à Lua, o satélite da Terra, o astro que mais perto se encontra de nós. Depois de Méliès, houve o alemão Fritz Lang, com “Uma Mulher na Lua” (Frau im Mond), em 1929, a que se seguiram obras para todos os gostos e com todas as intenções, de puro entretenimento ou de projecção politica, como muitas das que se realizaram na década de 50, durante o apogeu da guerra fria e do machartismo. Cite-se “Destination Moon”, de Irving Pichel (EUA, 1953) ou “First Men in the Moon”, de Nathan Juran (1964). Estamos no domínio da pura ficção científica, ainda que a corrida espacial entre os EUA e a União Soviética, que decorreu entre os anos de 1957 e 1975, durante a guerra-fria, tenha aberto o espaço (e aberto o espaço) a outras projecções, agora mais científicas.
Depois do fim da II Guerra Mundial, tanto os EUA como a URSS disputaram cientistas alemães (que tinham trabalhado na concepção do foguete V-2), entre os quais Wernher von Braun, que participou activamente do programa de mísseis balísticos dos EUA e depois dos primeiros passos do programa espacial norte-americano (tendo sido, inclusive, o chefe da equipa que projectou o lançador Saturno V que levou as naves Apollo para a Lua).
Foi a Rússia que se antecipou com o lançamento do satélite artificial Sputnik no dia 4 de Outubro de 1957, que partiu do Cosmódromo de Baikonur (base de lançamento de foguetes da URSS), em Tyuratam, no Cazaquistão. Foi o início da competição com os EUA e a preparação da chegada do Homem à Lua.
A 3 de Novembro de 1957 no Sputnik II, a cadela Laika é lançada no espaço. Quatro meses após o lançamento do Sputnik I, os EUA responderam com o seu primeiro satélite, o Explorer I, em 31 de Janeiro de 1958.
Pouco depois, Yuri Gagarin (1934-1968), em 12 de Abril de 1961, faz um voo orbital, de 48 minutos, a bordo da nave Vostok I. Neste voo, Gagarin, como bom materialista, disse uma frase que ficou célebre: "A Terra é azul, e eu não vi Deus". Já muito anos antes, outro explorador dissera algo semelhante: "A Igreja diz que a Terra é achatada, mas sei que ela é redonda, porque vi a sombra dela na Lua, e acredito mais numa sombra do que na igreja." - Fernão de Magalhães.
E povoa-se assim o céu de naves e satélites. Em Julho de 1958 é criada a agência espacial dos EUA, a NASA, responsável por coordenar todo o esforço de exploração espacial e administrar o programa espacial dos EUA. Em 1961, John F. Kennedy lançou o desafio de "enviar homens à Lua e retorná-los a salvo" antes que a década terminasse.
“We choose to go to the Moon. We choose to go to the Moon in this decade and do the other things, not because they are easy, but because they are hard” ("Nós decidimos ir a Lua. Nós decidimos ir à Lua nesta década e fazer as outras coisas, não porque elas são fáceis, mas porque elas são difíceis").
E assim foi: os EUA conseguiram atingir a Lua antes da URSS, com a missão Apollo 11, que pousou na superfície lunar em 20 de Julho de 1969, num local chamado "Sea of Tranquility" (Mar da Tranquilidade). Neil Armstrong e Edwin Aldrin tornaram-se os primeiros homens a caminhar no solo lunar. O primeiro disse: “Um pequeno passo para o Homem, um grande passo para a Humanidade”.
Vi pela televisão, emocionado, Neil Armstrong a descer da nave e hesitar a colocar o pé no terreno arenoso que o esperava. Vi os primeiros passos. Vi a colocação da bandeira dos EUA esvoaçando numa aragem que não devia existir e que deu origem a farta polémica. Ouvi depois os velhos do Restelo duvidarem do que viram, “encenação de Hollywood”, como lhe chamaram. A Televisão tinha-se apoderado da Lua. Mais tarde, em 1993, Ron Howard iria disputar os Óscars com “Apollo 13”, baseado numa história verdadeira, a trágica aventura do “Apollo 13”. Da ficção científica passava-se ao relato quase documental de uma viagem à Lua.
Um cientista, Isaac Asimov, lamentava: “A Terra retrocedeu. A Humanidade retrocedeu em todos os lados, excepto na Lua.” Um pessimista diria, com clarividência: “De nada serve ao homem conquistar a Lua se acaba por perder a Terra” - François Mauriac. Não sei se se perdia a Terra, mas perdia-se a gloriosa imagem de uma Lua inacessível que fora fonte de inspiração para apaixonados que se amavam furtivamente à luz ténue da Lua, para poetas do amor e do inatingível, para escritores das emoções lunares.
Oscar Wilde já o tinha previsto, simbolicamente: “Um sonhador é aquele que só ao luar descobre o seu caminho e que, como punição, apercebe a aurora antes dos outros.” Aí estava a aurora da Lua, agora fonte de experiências científicas, à vista de todos, em directo pela televisão, quando até aí fora musa misteriosa para insondáveis paixões.
O que nos leva à segunda vertente desta sucinta aproximação do tema “A Lua no Cinema”.
“O amor é como a Lua: quando cresce diminui” - Paul Valéry. Não sei se será verdade, os escritores também se enganam, mas o amor anda de mãos dadas com a Lua. Nos cartazes de filmes românticos, muitas vezes encontramos a Lua como elemento referencial do amor e desse mesmo romantismo. “Oh Lua que vais tão alta…” não é apenas uma referência jocosa é muito mais do que isso. A Lua que vai tão alta é uma meta inacessível, uma alusão ao impossível que o amor concretiza ou não nesta terrena existência. Por isso os filmes com referência à Lua são aos milhares. (ainda bem que não me coube falar da Lua na Poesia!).
No Motor de Buscas do IMDB, coloquei a palavra Moon para títulos de filmes e logo me aparecerem 838 menções, a maioria das quais a obras de cariz sentimental, com as mais variadas valências. Filmes de amor e desamor, filmes que se afirmam pela positiva, que anunciam feitos temerários, projectos cumpridos, arrojos para lá do previsível. Obras que demonstram que se pode atingir a Lua, ou que quem “vive na Lua” nada consegue, o que demonstra que a Lua pode ser sim e não, positiva e negativa, aspiração e rejeição, mas sempre feminina. Um filme de Zeffirelli a isso nos conduz: “Fratello Sole, Sorella Luna” (Itália, 1972). O Sol como elemento masculino, a Lua como pólo feminino.
Sendo a Lua feminina “andar na Lua” deverá ser um passeio deveras agradável. Por isso se chama “Lua-de-Mel” a esse período de (quase sempre) inequívoca felicidade. Há um escritor catalão, Noel Clarasó, que o refere com alguma ironia: “Sem dúvida, o período mais feliz do casamento é a Lua-de-mel; o problema é que, para poder repeti-la, devem acontecer coisas muito desagradáveis.”
O mesmo autor vai mais longe na ironia: “Antes do matrimónio ele fala e ela escuta; durante a Lua-de-mel ambos falam e escutam; mais tarde, ela fala e ele não escuta; finalmente gritam os dois e escutam os vizinhos.” A Lua-de-mel é excelente, mas dura pouco. “Lua de Mel, Lua de Fel” (Bitter Moon), de Roman Polanski, parece responder à questão.
Mas deixando de lado a questão Lua-de-mel, o cinema arquiva muitos outros títulos onde a Lua ocupa destacado lugar de fortes conotações emocionais: “Lua de Papel” (Paper Moon), de Peter Bogdnanovich (EUA, 1973), “Shoot the Moon”, de Alan Parker (EUA, 1982), “O Feitiço da Lua” (Moonstruck), de Norman Jevison (EUA, 1987), “Racing with the Moon”, de Richard Benjamin (EUA, 1984), “The Raging Moon”, de Bryan Forbes (Inglaterra, 1971), “Blue Moon”, de John A. Gallagher (EUA, 2000), “Moon over Parador”, de Paul Mazursky (EUA, 1988), “Onde Night the Moon”, de Rachel Perkins (EUA, 2001) “Mountains of the Moon”, de Bob Rafelson (EUA, 1990) e tantos e tantos outros títulos.
Temos estado no domínio do filme anglo-saxónico, mas há exemplos em todas as latitudes e línguas. Franceses, “La Lune dans le Caniveau”, de Jean-Jacques Beineix (1983), “Les Nuits de la Pleine Lune”, de Eric Rohmer (1984), “Les Favoris de la Lune”, do russo Otar Iosseliani (1984), “Black Moon, de Louis Malle (1975); em Itália: Le Voce della Luna, de Federico Fellini (1990), La Luna, de Bernardo Bertollucci (1979), In Una Notte di Chiaro di Luna, de Lina Wertmuller (1989), ou comédias como “Veneza, a Lua e Tu” (Venezia, la Luna e Tu), de Dino Risi (1951), musicais como “Tintarella di Luna”, de Gaspar Noé (1985), encontrando-se mesmo em autores neo realistas, como Luciano Emmer, em “Il Conte di Luna” (1948).
Em Espanha desde o académico Luís César Amadori, com “Claro di Luna” (1942), até aos vanguardistas Bigas Luna (“La Teta i la Lluna”, 1994) ou Imanol Uribe (“La Luna Negra”, 1989), passando pela “Luna”, de Alejandro Amenabar, de 1995, muitos se deixam contagiar. Na China há um dos mais belos filmes de sempre, “Os Contos da Lua Vaga”, de Mizoguchi. Não há muito, de uma das recentes repúblicas saídas da ex-URSS, vimos “Luna Papa”, de Bakhtyar Khodojnazarov (1999).
“Palavras sobre a guerra, de pessoas que estiveram numa guerra, são sempre interessantes; palavras sobre a Lua, de um poeta que nunca esteve na Lua, têm toda a probabilidade de serem enfadonhas”, disse Mark Twain, mas muitos dos filmes realizados sob o signo da Lua são particularmente interessantes. Ainda que não sejam única e simplesmente obras de ficção científica ou prantos amorosos.
Há comédias “Um Rato na Lua” (A Mouse on the Moon), do britânico Richard Lester (1963), há westerns, como “By the Light of the Silver Moon”, de David Butler (1953), há operas rock, “The Rite of Luna: a Rock Opera”, de Melissa Holm e Jon Sevell, há mesmo soft cores, como “Nude on the Moon”, de Raymond Phelan e Doris Wishman (EUA, 1961), que deslustram um pouco a imagem inocente e cândida da Lua tradicional. Mas até os cineastas mais alternativos e experimentalistas, como Kenneth Anger, não fogem ao feitiço, por exemplo em “Rabbit’s Moon” (1950).
Nem todas as obras de teor romântico provocam, todavia, finais felizes. Muitas há que abordando temas de cariz sentimental, é certo, por vezes até melodramático, terminam na frustração. Como diz Fernando Pessoa: “O que é doença é desejar com igual intensidade o que é preciso e o que é desejável, e sofrer por não ser perfeito como se se sofresse por não ter pão. O mal romântico é este: é querer a Lua como se houvesse maneira de a obter.”
Mas há os românticos empedernidos, para quem a felicidade vem de dentro de si e o olhar da mulher amada, para quem nem Sol, nem Lua conseguem interferir: "A partir desse momento, o sol, a Lua e as estrelas podem continuar a brilhar, sem que eu dê por isso. Já não sei se é dia ou noite; o universo inteiro já não existe mim.", assim escreve Johann Wolfgang von Goethe, em "Os Sofrimentos do Jovem Werther".

Terceira vertente da Lua no cinema: o fantástico. “Cada um de nós é uma Lua e tem um lado escuro que nunca mostra a ninguém”. Cito de novo Mark Twain. Na verdade assim é, e o cinema tem-no demonstrado bem. A Lua tem duas faces, o homem, qualquer homem, qualquer mulher tem sempre algo encoberto, o lado obscuro, secreto, o outro lado que não se vê, que não se expõe tão facilmente à vista de todos. O invisível, o indizível. Muitas vezes o pecaminoso.
O fantástico expressa-o de forma simbólica, com uma força telúrica, por vezes ameaçadora, por vezes sedutora. É Drácula que de noite sai da sua cripta onde hiberna para mostrar os seus sensuais caninos que penetram pescoços inocentes e desejados. Os maiores cineastas da história do cinema cultivaram este erotismo brutal ou esse desejo envolvente que leva as vítimas a entregarem-se à volúpia desse beijo sangrento. Dreyer, Murnau, Tod Browning, Terence Fisher, Coppola, Abel Ferrara e dezenas de outros percorreram os caminhos desses seres nocturnos.
Mas se Drácula e todos os outros vampiros são seres da noite, apenas iluminados pela Lua, o Lobisomem acorda, revela-se, em noites de Lua Cheia e o Médico e o Monstro (Strange Case of Dr Jekyll and Mr Hyde, de Robert Louis Stevenson) desdobra-se entre o que há de mais nobre e o que há de mais perverso na condição humana, ambos por obra e graça da Lua ou na noite. Tal como intervém poderosamente na natureza e nas marés, a Lua interfere obviamente no comportamento do homem, despertando nele a ternura romântica que dissimula o desejo, ou os instintos mais primitivos que, nesse caso, podem ou não camuflar o amor. Mistérios que a Lua põe a descoberto, mas não esclarece. Esse o lado mais simpático e fascinante deste único satélite natural da Terra que se situa a uma distância de cerca de 340.000 km do nosso planeta, e que é um substantivo, proveniente do latim “luna”.
Termine-se com um poeta: “É noite. A Lua, ardente e terna, Verte na solidão sombria A sua imensa, a sua eterna Melancolia... / Dormem as sombras na alameda Ao longo do ermo Piabanha. / E dele um ruído vem de seda Que se amarfanha... - Manuel Bandeira
Ou de um escritor português, Nobel, aqui bem inspirado: “"Além da conversa das mulheres, são os sonhos que seguram o mundo na sua órbita. Mas são também os sonhos que lhe fazem uma coroa de luas, por isso o céu é o resplendor que há dentro da cabeça dos homens, se não é a cabeça dos homens o próprio e único céu" - José Saramago.

Lauro António, Porto, 26 de Março de 2009

segunda-feira, março 23, 2009

OS PRÉMIOS DO FAMAFEST

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FAMAFEST 2009
XI FESTIVAL INTERNACIONAL DE CINEMA E VÍDEO DE FAMALICÃO – CINEMA E LITERATURA

ACTA DO JÚRI INTERNACIONAL


Aos dias 20 do mês de Março de 2009, às 23h e 40m, o Júri Internacional do 11º Festival Internacional de Cinema e Vídeo de Famalicão – FAMAFEST 2009 presidido por Laura Soveral e composto por Uxia Blanco Iglésias, actriz (Espanha, Galiza), Ibrahim Spahic, director do Festival de Inverno de Sarajevo (Bósnia e Herzegovina), Suzana Borges, actriz (Portugal) João Pereira Bastos, musicólogo (Portugal) António Colaço, sociólogo (Portugal), Anxo Santomil, realizador e director de CinemasDixitais (Espanha, Galiza) e Fernando Dacosta, escritor (Portugal) decidiu atribuir os seguintes prémios:
- PRÉMIO DE CRIAÇÃO JOVEM
“Cântico Negro”, de Hélder Magalhães (Portugal), por maioria;
- PRÉMIO BIOGRAFIA/DOCUMENTÁRIO
“Mestre-Cantor de Wagner, Siegfried de Hitler – A vida e o Tempo de Max Lorenz”, de Eric Schulz e Claus Wisemann (Alemanha), por unanimidade;
- PRÉMIO DE ADAPTAÇÃO DE OBRA LITERÁRIA
“12 = Amo-te”, de Connie Walther (Alemanha), por unanimidade;
- GRANDE PRÉMIO FAMAFEST 2009/LUSOFONIA
“Fernando Lopes Graça”, de Graça Castanheira (Portugal), por maioria;
- GRANDE PRÉMIO FAMAFEST 2009 (Câmara Municipal de Famalicão)
“O Clube da Calceta”, de Antón Dobao (Espanha, Galiza), por unanimidade.

ACTA DO JÚRI DA JUVENTUDE

No dia vinte de Março, do ano de 2009, pelas vinte e duas horas, em Vila Nova de Famalicão, o Júri da Juventude do XI Festival Internacional de Cinema e Vídeo de Famalicão – Cinema e Literatura, constituído por Ana Regina Abreu, Andreia Silva, Isabel Figueiredo, Catherine Boutaud, Cátia Ferreira, Cláudia Almeida, Joana Mendes, Silvana Fontes, Vanessa Pelerigo reuniu-se para decidir o grande vencedor do Festival, tendo em consideração a importância dos seguintes critérios:
I. Adaptações de Obras Literárias – relação pungente entre cinema e literatura;
II. Biografias e Documentários sobre temas literários – abordando e esmiuçando a complexidade entre os diferentes formatos;
III. Adaptações de obras literárias para crianças e jovens – alertando para a importância da cultura e da cinematografia em particular no público mais jovem.
Por ter o júri considerado que algumas das obras apresentadas revelaram séria qualidade e inovação no panorama cinematográfico, decidiu-se, por unanimidade, atribuir menções honrosas, nomeadamente:
- Melhor curta-metragem - Hélder Magalhães, com “Cântico Negro”, pela simplicidade e coragem demonstrada entre os meios utilizados e a magnificência da imagem aliada à beleza da poesia de José Régio.
- Melhor documentário –Esther Hoffenberg, com “Discorama, Signé Glaser” por ter feito um excurso fabuloso por toda la chanson française, através da hábil capacidade de comunicação de Denise Glaser.
Grande Prémio do Júri da Juventude - Após reunião, decidiu-se atribuir, por maioria, o grande prémio do Júri da Juventude a “La Reine Morte” (“The Dead Queen”), do realizador Pierre Boutron, exibido no Domingo, 15 de Março, por revelar, com o seu argumento, a força do sentir e a pureza do amor, ao longo da História. Esse vence até a morte.


NOTICIAS NA COMUNICAÇÃO SOCIAL

O filme "O Club da Calceta", do realizador galego Antón Dobao, foi o grande vencedor do Famafest` 2009 - Festival Internacional de Cinema e Vídeo de Famalicão, que terminou domingo, anunciou hoje fonte da organização.
O filme, que resulta da adaptação ao cinema da novela homónima de María Reimóndez, constitui "uma profunda reflexão sobre a condição feminina" e reuniu a unanimidade do júri do festival, composto pelas actrizes Laura Soveral e Suzana Borges (Portugal), Uxia Blanco (Galiza), o realizador e director de "Cinemas Digitais" da Galiza, Anxo Santomil, o director do Festival de Inverno da Bósnia, Ibrahim Spacic, o musicólogo João Pereira Bastos, o sociólogo António Colaço e o escritor Fernando Dacosta.
O júri decidiu galardoar com o Grande Prémio da Lusofonia Manoel de Oliveira a película "Fernando Lopes Graça", de Graça Castanheira, de produção nacional.
O filme "12 Means: I Love You", da alemã Connie Walther, recebeu o prémio de Adaptação de Obra Literária.
O Prémio Biografia/Documentário foi para outra obra alemã, "Wagner`s Mastersinger Hitler`s Siegfried", de Eric Schulz e Claus Wisemann.
O Prémio Criação Jovem ficou em casa, tendo sido entregue ao jovem realizador famalicense Hélder Magalhães, pelo filme "Cântico Negro".
A concurso estiveram mais de 30 filmes oriundos de países como a Itália, Canadá, Alemanha, Bulgária, EUA, Áustria e Espanha, sendo, no entanto, a grande maioria proveniente de França e Portugal. Quase três centenas de títulos se inscreveram, donde resultou a pré selecção que foi exibida publicamente.
O director do FamaFest 2009, Lauro António fez um balanço "muito positivo" do festival, salientando que durante os nove dias do evento cerca de 16 mil pessoas assistiram às sessões programadas. O festival decorreu nos dois auditórios da Casa das Artes, centro do evento, e nos auditórios da Biblioteca Municipal Camilo Castelo Branco e do Centro de Estudos Camilianos, em S. Miguel de Seide.
O Famafest`2009 homenageou ainda a carreira de diversas personalidades da cultura portuguesa, com a atribuição do galardão Pena de Camilo. Neste âmbito, referência para as homenagens às actrizes Laura Soveral e Suzana Borges e aos escritores Mário Cláudio e Urbano Tavares Rodrigues e ainda ao actor e encenador de teatro, Luís Miguel Cintra.

domingo, março 15, 2009

FAMAFEST 2009


PROGRAMAÇÃO SALA A SALA
Domingo, Dia 15 de Março de 2009
CASA DAS ARTES * GRANDE AUDITÓRIO

10,00 - ANIMAÇÃO: “Madagascar 2” (Madagascar: Escape 2 Africa), de Eric Darnell, Tom McGrath (EUA, 2008); 89’; M/ 6 anos.
15,00 - DA PALAVRA À IMAGEM: “O Estranho Caso de Benjamin Button” (The Curious Case of Benjamin Button), de David Fincher (EUA, 2008); com Brad Pitt, Cate Blanchett, Julia Ormond, Tilda Swinton, Taraji P. Henson, etc. 166’; M/ 12 anos.
18,00 - DA PALAVRA À IMAGEM: “Destruir Depois de Ler” (Burn After Reading), de Ethan Coen, Joel Coen (EUA, Inglaterra, França, 2008); com George Clooney, Frances McDormand, John Malkovich, Tilda Swinton, Brad Pitt, Richard Jenkins etc. 96’: M/ 12 anos.
21,30 - DA PALAVRA À IMAGEM: “O Estranho Caso de Benjamin Button” (The Curious Case of Benjamin Button), de David Fincher (EUA, 2008); com Brad Pitt, Cate Blanchett, Julia Ormond, Tilda Swinton, Taraji P. Henson, etc. 166’; M/ 12 anos.
24,00 - DA PALAVRA À IMAGEM: “Este País não é para Velhos” (No Country for Old Men), de Ethan Coen, Joel Coen (EUA, 2007); com Tommy Lee Jones, Javier Bardem, Josh Brolin, Woody Harrelson, etc. 122´; M/18 anos.

CASA DAS ARTES * PEQUENO AUDITÓRIO
10,00 - ANIMAÇÃO: 80 ANOS DE TINTIM: “A Ilha Negra” (L'Ile Noire) (1990) 45’; “O Ceptro de Ottokar” (Sceptre d' Ottokar) (1990) 45’.
15,00 - CONCURSO: “Little White Wires”, de Massimo Amici (Itália, Canadá) 7’; “O Adeus à Brisa”, de Posidónio Cachapa (Portugal) 55’; “Levantado do Chão”, de Alberto Serra (Portugal) 50’.
18,00 - CONCURSO: “L'Affaire Kravchenko”, de Bernard Gorge (França) 52’; “Discorama, Signé Glaser”, de Esther Hoffenbere (França ) 67’.
21,30 - CONCURSO: “Cântico Negro”, de Hélder Magalhães (Portugal) 7’; “La Reine Morte”, de Pierre Boutron (França, Portugal) 90’.
24,00 - HOMENAGEM A EDGAR ALLAN POE: “The Tell-Tale Heart”, de Jules Dassin (EUA, 1941) 20’ (V.O. leg. português); “House of Usher”, de Roger Corman (EUA, 1960) 76’ (V.O. inglesa, leg. francês).

BIBLIOTECA MUNICIPAL * AUDITÓRIO

10,00 - ANIMAÇÃO: 80 ANOS DE TINTIM: “Objectivo Lua” (Objectif Lune) (1991) 45’; “Pisando a Lua” (On a Marche sur la Lune) (1991) 45’.
15,00 - HOMENAGEM A EDGAR ALLAN POE: “Two Evil Eyes”, de George Romero e Dario Argento 120’ (EUA, Itália, 1990) (V.O. inglesa).
18,00 - HOMENAGEM A EDGAR ALLAN POE: “The Raven” (O Corvo), de Ulli Lommel (EUA, 2006) 81’ (V.O. inglesa. leg. português).

CASA DE CAMILO, SEIDE * AUDITÓRIO
10,00 - ANIMAÇÃO: Wall•E, de Andrew Stanton (EUA, 2008); com Ben Burtt, Elissa Knight, Jeff Garlin, Fred Willard, MacInTalk, Sigourney Weaver, etc. Animação; 98’; M/ 6 anos.
18,00 - MACHADO DE ASSIS NO CINEMA: “Memórias Póstumas” (2001), de André Klotzel.

sexta-feira, março 13, 2009

VAI COMEÇAR...

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FAMAFEST 2009
Apresentação

A XI edição do Famafest, Festival de Cinema e Vídeo de Famalicão, como sempre dedicado às relações entre “Cinema e Literatura” arranca com uma programação invulgarmente importante e diversificada, procurando não só colmatar graves lacunas cinematográficas e culturais, como ainda impor-se como um dos mais significativos certames a nível nacional e internacional. Cerca de três centenas de obras inscritas, das quais mais de três dezenas foram seleccionadas a concurso, com origem em diversos países do mundo (particularmente significativas as presenças portuguesa e francesa), estreia de novos realizadores (inclusive revelações famalicenses, que o Famafest ajudou a fazer despontar), cerca de uma centenas de obras em projecção simultânea em quatro salas, eis um conjunto de factores poderosíssimos para continuar a justificar a realização deste festival, com este formato, desde sempre um projecto que pretendia ser algo de completamente diferente do que existia até então no nosso País, e mesmo internacionalmente: um festival para abordar as relações entre o cinema e a literatura, incentivando o gosto pelo cinema e pela literatura, procurando estudar as complexas e contraditórias relações que existiram desde sempre entre estas duas formas de narrativa, e também lutar contra a debandada dos espectadores das salas de cinema e dos leitores das livrarias.
Uma secção presente desde a primeira edição do Famafest é “Da Palavra à Imagem”, que este ano volta a chamar a atenção para muitos dos filmes estreados em Portugal e que tiveram particular relevo nas relações entre a escrita literária e a cinematográfica. Desde “Ensaio sobre a Cegueira” até alguns dos melhores filmes que disputaram os recentes Oscars há um pouco de tudo para ver.
Entre os ciclos paralelos, de homenagem a escritores, temos uma fortíssima mostra de Edgar Allan Poe no Cinema, por altura das comemorações dos 200 anos sobre o nascimento deste decisivo escritor norte-americano. De Griffith a Corman, dezenas de raridades preciosas podem ser vistas. De Yukio Mishima apresentam-se igualmente vários filmes que sublinham a particularíssima relação do escritor japonês com o cinema. De Machado de Assis tenta-se uma aproximação idêntica, por altura do seu centenário, numa colaboração com a Embaixada Brasileira junto da CPLP, que muito agradecemos. Numa curta homenagem a Alexandre Soljenitsin, cuja morte ocorreu em Agosto do ano passado, projectam-se obras onde se testemunha o pensamento deste escritor russo que teve preponderante papel crítico e humanista. De colaboração com o recém-criado FICAP (Festival Internacional de Cinema e Artes Performativas) organizam-se duas mostras absolutamente imperdíveis sobre dois dos maiores encenadores da actualidade, Peter Brook e Robert Wilson. Ainda associado às comemorações do centenário do nascimento de Carmen Miranda, recorda-se a vida e a obra da popularíssima actriz de origem portuguesa que o Brasil viu explodir em talento natural. Os 80 anos de Tintim, cinema português, animação para os mais jovens são outros temas não esquecidos, relembrando-se que desde a primeira edição do Famafest já passaram pelas suas salas largos milhares de crianças, muitas das quais tiveram aqui o seu primeiro contacto com o cinema.
Tal como nas anteriores edições, também este ano o Famafest homenageia algumas personalidades do mundo da literatura e do espectáculo. Luís Miguel Cintra, Laura Soveral, Suzana Borges, no campo do teatro, do cinema ou da televisão, Mário Cláudio e Urbano Tavares Rodrigues, no da literatura são os nomes que este ano passarão pelo palco do Famafest e que o “Passeio do Famafest” irá eternizar com inscrições alusivas nos passeios circundantes à Casa das Artes.
Finalmente, dois fabulosos concertos portugueses, irão abrir e fechar o Famafest deste ano. Carlos do Carmo e Corvos dispensam apresentação. O nosso reconhecimento pela presença. No Júri Internacional teremos a comparência, este ano, de gratas figuras da cultura nacional e internacional, como Uxia Blanco, actriz, e Anxo Santomil, realizador, ambos de Espanha, e Ibrahim Spahic, director do Festival de Inverno de Sarajevo, Bósnia Herzegovina, além dos portugueses Laura Soveral e Susana Borges, actrizes, João Pereira Bastos, musicólogo, António Colaço, sociólogo, e Fernando Dacosta, escritor, todos de Portugal. O Júri da Juventude mantém-se e a todos os que colaboraram nos dois júris o meu mais sincero obrigado, em nome pessoal e do Famafest. Muito obrigado ainda ao Embaixador Lauro Moreira pela disponibilidade para nos vir falar de Machado de Assis, ao João Pereira Bastos, por aceitar relembrar Cármen Miranda, ao escritor António Mega Ferreira por ajudar a sublinhar a importância de Mishima.

: PROGRAMAÇÃO SALA A SALA
CASA DAS ARTES * PEQUENO AUDITÓRIO

Sábado, Dia 14 de Março de 2009
10,00 - ANIMAÇÃO: 80 ANOS DE TINTIM: “Objectivo Lua” (Objectif Lune) (1991) 45’; “Pisando a Lua” (On a Marche sur la Lune) (1991) 45’.
15,00 - HOMENAGEM A EDGAR ALLAN POE: “Edgar Allan Poe, a Concise Biography”, de Malcolm Hossick (The Famous Authors) (EUA, 1993) 30’ (V.O. inglesa).
HOMENAGEM A ALEXANDER SOLJENÍTSIN: “Alexander Solzhenitsyn” (série “Great
Writers”) 45’ (V.O. inglesa).
18,00 - HOMENAGEM A EDGAR ALLAN POE: “Edgar Allen Poe”, de D.W. Griffith (EUA, 1908) 7’ (V.O. inglesa, mudo); “The Avenging Conscience”, de D.W. Griffith (EUA, 1914) 84’
(V.O. inglesa, mudo).
21,30 - HOMENAGEM A EDGAR ALLAN POE: “The Fall of the House of Usher”, de J. S. Watson e Melville Webber (EUA, 1926) 13’ (V.O. inglesa, mudo); “La Chute de la Maison Usher”, de Jean Epstein (França, 1928) 66’ (V.O. inglesa, mudo).
24,00 - HOMENAGEM A EDGAR ALLAN POE: “Murders in the Rue Morgue”, de Robert Florey (EUA, 1932) 61’ (V.O. inglesa, leg. espanhol); “The Raven”, de Lew Landers (EUA, 1934) 61’ (V.O. inglesa, leg. espanhol).

CASA DAS ARTES * GRANDE AUDITÓRIO
10,00 - ANIMAÇÃO: “Wall•E”, de Andrew Stanton (EUA, 2008); com Ben Burtt, Elissa Knight, Jeff Garlin, Fred Willard, MacInTalk, Sigourney Weaver, etc. Animação; 98’; M/ 6 anos.
21,30 - ABERTURA OFICIAL
HOMENAGENS: LAURA SOVERAL,
SUSANA BORGES, MÁRIO CLÁUDIO
CONCERTO CARLOS DO CARMO

BIBLIOTECA MUNICIPAL * AUDITÓRIO
10,00 - ANIMAÇÃO: 80 ANOS DE TINTIM: “As 7 Bolas de Cristal” (Les 7 Boules de Cristal) (1990) 45’; “O Templo do Sol” (Le Temple du Soleil) (1991) 45’.
15,00 - HOMENAGEM A EDGAR ALLAN POE: “Revenge in the House of Usher”, de Jesus Franco (Espanha, 1982) 99’ (V.O. francesa).
18,00 - HOMENAGEM A EDGAR ALLAN POE: “Murders in the Rue Morgue”, de Gordon Hessler (EUA, 1971) 98’ (V.O. inglesa, leg. espanhol).