terça-feira, janeiro 18, 2011

CINEMA: O PREÇO DA TRAIÇÃO E NATHALIE

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"O PREÇO DA TRAIÇÃO"
E "NATHALIE"

Em 2003, a francesa Anne Fontaine realizou e escreveu (de colaboração com Jacques Fieschi e François-Olivier Rousseau, segundo ideia original de Philippe Blasband), “Nathalie”, um filme com um argumento interessante e sugestivo que, muito embora não fosse obra particularmente relevante, iria justificar, anos mais tarde, precisamente em 2009, uma nova versão, outra vez escrita por Anne Fontaine, mas agora realizada por Etom Egoyan, egípcio a viver no Canadá, a que deu o título “Chloe” (O Preço da Traição).
“Nathalie” desenvolvia uma ideia particularmente estimulante que, todavia, não era convenientemente aproveitada pela realizadora para dela extrair todas as consequências. Catherine (Fanny Ardant), médica ginecologista, suspeita que o seu marido, Bernard (Gérard Depardieu), a atraiçoa. Fascinada por um clube de “strip tease” onde parava a bela Marlene (Emmanuelle Béart), resolve ir ter com esta prostituta de luxo e propor-lhe um estranho plano. Esta irá fazer-se passar por Nathalie, uma pretensa aluna universitária, e irá seduzir o marido da médica, para assim se confirmar a traição deste. O que acontecerá.
Após cada “rendez-vous”, Marlene encontra-se com Catherine e relata-lhe com pormenores o que entretanto aconteceu no quarto de hotel onde ela (sob o pseudónimo e a personalidade de Nathalie) e Bernard dão azo às suas fantasias. Catherine passa então por um estado indefinido, que vai da repulsa ao fascínio. Ela sente-se atraída por esta história de transferência amorosa, dir-se-ia que faz amor com o marido por interposta pessoa, a quem ela criteriosamente paga de cada vez que a situação se repete. Catherine vive uma pulsão erótica nova ao ouvir a narrativa de alguém que também aceita transformar-se numa outra pessoa, para satisfazer os caprichos dela. Mas será que Catherine faz amor com Bernard através de Nathalie, ou fará amor com Marlene através de Bernard e Nathalie?
Os actores cumprem, bem envolvidos pela excelente banda sonora de Michael Nyman, mas falta alguma densidade psicológica aos personagens para estes se imporem. Parece existir uma tendência para exibir o lado sensual e provocador da obra, explorá-lo em termos comerciais, e esquecer o que poderia ser mais interessante no projecto, se levado até às últimas consequências. A figura de Bernard quase não existe, está ali apenas para servir de pretexto a este filme de mulheres, mas exigia-se mais a esta obra para lograr a intensidade dramática e erótica que teria de viver de alguma saturação, mas se fica pelo esboço de um triângulo não muito convencional. Há alguma intencionalidade em certas sequências, como no aproveitamento dos espelhos, para uma das mulheres se ver reflectida na outra, mas fica sempre a sensação de que se ficou aquém. Interessante, mas pouco mais do que isso.

Atom Egoyan, com a colaboração da mesma Anne Fontaine (agora ajudada na escrita do guião por Erin Cressida Wilson), agarra nesta história e repega o tema, com algumas variações, mas com muitas cenas quase refilmadas, plano a plano. O projecto volta a partir de uma boa ideia, e volta a ficar pelas meias tintas, ainda que uma ou outra alteração introduza uma outra densidade, sobretudo ao nível das ambiguidades em que esse argumento é fértil.

Agora a médica ginecologista é interpretada por Julianne Moore (Catherine Stewart), o marido é Liam Neeson (David Stewart), e a prostituta Amanda Seyfried (Chloe), todos eles com bons registos, sobretudo no caso de Liam Neeson, cuja personagem é muito mais desenvolvida, criando algum mistério em relação a si. Enquanto no filme francês, o marido assume as relações extra conjugais, mas explica à mulher que elas pouco significado têm, na película canadiana David Stewart reafirma continuadamente a sua inocência, ficando ao longo de todo o filme a dúvida sobre o seu comportamento.
Também a personagem da médica ganha maior consistência, na forma como é desenvolvida, com alguns apontamentos que a tornam mais complexa: a aproximação de Chloe é mais intensa, a propensão voyerista de Catherine é melhor caracterizada, com as espreitadelas da janela da sua clínica para as entradas e saídas de Chloe do bar, a forma como Julienne Moore interioriza as descrições eróticas que ouve, a sua evidente atracção física por Chloe, tudo isso favorece um jogo lúbrico de certa perversidade que cria um clima mais intimista e denso no filme, carregando-o de um sedutor mistério a envolver as relações humanas que as tornam indecifráveis a uma primeira aproximação. Na verdade, “O Preço de uma Traição” tenta penetrar no segredo das paixões, das atracções físicas, e, mais profundo ainda, na verdade do que se revela e se esconde de nós próprios aos outros. Mesmo aos mais chegados. Ou sobretudo a estes. Projecto ambicioso, não totalmente conseguido, mas ainda assim interessante de se seguir.
Atom Yeghoyan, nome de baptismo, nasceu no Cairo, a 19 de Julho de 1960. Filho de pintores, muito jovem se transferiu para o Canadá, onde estudou na universidade do Toronto, começando a rodar algumas curtas no final da década de 70. Entre os seus filmes estreados em Portugal contam-se “Exótica” (1994), “O Futuro Radioso” (1997), “A Viagem de Felícia” (1999), “Ararat” (2002) ou “Onde Está a Verdade?” (2005).

O PREÇO DA TRAIÇÃO
Título original: Chloe
Realização: Atom Egoyan (Canadá, EUA, França, 2009); Argumento: Erin Cressida Wilson, Anne Fontaine ("Nathalie"); Produção: Ali Bell, Jeffrey Clifford, Daniel Dubiecki, Ron Halpern, Joe Medjuck, Tom Pollock, Ivan Reitman, Jason Reitman, Stephen Traynor, Simone Urdl, Jennifer Weiss, Erin Cressida Wilson; Música: Mychael Danna; Fotografia (cor): Paul Sarossy; Montagem: Susan Shipton; Casting: Joanna Colbert, Richard Mento; Design de produção: Phillip Barker; Decoração: Jim Lambie; Guarda-roupa: Debra Hanson; Maquilhagem: Suzanne Benoit; Direcção de Produção: Gerald D. Moon, Stephen Traynor, Douglas Wilkinson; Assistente de realização: Adam Bocknek; Departamento de arte: James Becker, Mayumi Konishi-Valentine; Som: Steve Munro; Efeitos especiais: Brock Jolliffe; Efeitos visuais: Robert Crowther, Terence Krueger, Anthony Paterson, Davin Robbins, Derek Robertson, Thomas Turnbull; Companhias de produção: Studio Canal, The Montecito Picture Company; Intérpretes: Julianne Moore (Catherine Stewart), Liam Neeson (David Stewart), Amanda Seyfried (Chloe), Max Thieriot (Michael Stewart), R.H. Thomson (Frank), Nina Dobrev (Anna), Mishu Vellani, Julie Khaner, Laura DeCarteret, Natalie Lisinska, Tiffany Lyndall-Knight, Meghan Heffern, Tamsen McDonough, Kathryn Kriitmaa, Arlene Duncan, Adam Waxman, Krysta Carter, Severn Thompson, Sarah Casselman, etc. Duração: 96 minutos; Distribuição em Portugal: Zon Lusomundo; Classificação etária: M/ 12 anos; Estreia em Portugal: 6 de Janeiro de 2011.

NATHALIE
Título original: Nathalie
Realização: Anne Fontaine (França, Espanha, 2003); Argumento: Jacques Fieschi, Anne Fontaine, François-Olivier Rousseau, segundo ideia original de Philippe Blasband; Produção: Alain Sarde, Christine Gozlan; Música: Michael Nyman; Fotografia (cor): Jean-Marc Fabre; Montagem: Emmanuelle Castro; Casting: Constance Demontoy, Richard Rousseau; Design de produção: Michel Barthélémy; Decoração: Boris Piot; Guarda-roupa: Pascaline Chavanne; Maquilhagem: Cédric Gérard, Agathe Moro; Direcção de Produção: Rémi Bergman, Frédéric Blum, Françoise Piraud ; Assistentes de realização: Julien Féret, Laurent Perreau, Thierry Verrier; Departamento de arte: Martinus Van Lunen ; Som: Jean-Pierre Laforce, Jean-Claude Laureux, Nicolas Moreau; Efeitos especiais: Philippe Hubin; Efeitos visuais: Roxane Fechner, Valérie Flouquet, Frederic Moreau; Companhias de produção: France 2 Cinéma, DD Productions, Vértigo Films, Canal+, Studio Images 9, Les Films Alain Sarde; Intérpretes: Fanny Ardant (Catherine), Emmanuelle Béart (Nathalie / Marlène), Gérard Depardieu (Bernard), Wladimir Yordanoff (François), Judith Magre, Rodolphe Pauly, Évelyne Dandry, Christian Aaron Boulogne, Aurore Auteuil, Idit Cebula, Sasha Rucavina, Macha Polikarpova, Marie Adam, Sophie Séfériadès, Serge Boutleroff, Marinette Lévy, Ida Techer, Caroline Frank, Sophie Noël, Angélique Thomas, Evelyne Macko, Prudence Maïdou, Karine Hulewicz, Marc Rioufol, Pierre Manganelli, Hassan Maadi, etc. Duração: 100 minutos; Distribuição em Portugal (cinema e DVD): Atalanta Filmes; Classificação etária: M/ 16 anos; Estreia em Portugal: 19 de Agosto de 2004.

segunda-feira, janeiro 17, 2011

2011 GOLDEN GLOBE AWARDS


 :

REDE SOCIAL (4 Globos para Cinema)
e GLEE (3 Globos para TV)
triunfam nos Globos de Ouro de 2011
 

Nomeações e Prémios

1.BEST MOTION PICTURE – DRAMA
a.BLACK SWAN
b.THE FIGHTER
c.INCEPTION
d.THE KING’S SPEECH
e.THE SOCIAL NETWORK

2.BEST PERFORMANCE BY AN ACTRESS IN A MOTION PICTURE – DRAMA
a.HALLE BERRY / FRANKIE AND ALICE
b.NICOLE KIDMAN / RABBIT HOLE
c.JENNIFER LAWRENCE / WINTER’S BONE
d.NATALIE PORTMAN / BLACK SWAN
e.MICHELLE WILLIAMS / BLUE VALENTINE

3.BEST PERFORMANCE BY AN ACTOR IN A MOTION PICTURE – DRAMA
a.JESSE EISENBERG / THE SOCIAL NETWORK
b.COLIN FIRTH / THE KING’S SPEECH
c.JAMES FRANCO / 127 HOURS
d.RYAN GOSLING / BLUE VALENTINE
e.MARK WAHLBERG / THE FIGHTER

4.BEST MOTION PICTURE – COMEDY OR MUSICAL
a.ALICE IN WONDERLAND
b.BURLESQUE
c.THE KIDS ARE ALL RIGHT
d.RED
e.THE TOURIST

5.BEST PERFORMANCE BY AN ACTRESS IN A MOTION PICTURE – COMEDY OR MUSICAL
a.ANNETTE BENING / THE KIDS ARE ALL RIGHT
b.ANNE HATHAWAY / LOVE AND OTHER DRUGS
c.ANGELINA JOLIE / THE TOURIST
d.JULIANNE MOORE / THE KIDS ARE ALL RIGHT
e.EMMA STONE / EASY A

6.BEST PERFORMANCE BY AN ACTOR IN A MOTION PICTURE – COMEDY OR MUSICAL
a.JOHNNY DEPP / ALICE IN WONDERLAND
b.JOHNNY DEPP / THE TOURIST
c.PAUL GIAMATTI / BARNEY’S VERSION
d.JAKE GYLLENHAAL / LOVE AND OTHER DRUGS
e.KEVIN SPACEY /  CASINO JACK
7.BEST ANIMATED FEATURE FILM
a.DESPICABLE ME
b.HOW TO TRAIN YOUR DRAGON
c.THE ILLUSIONIST
d.TANGLED
e.TOY STORY 3

8.BEST FOREIGN LANGUAGE FILM
BIUTIFUL (MEXICO/SPAIN)
THE CONCERT (FRANCE)
THE EDGE (Kpaй) (RUSSIA)
I AM LOVE (IO SONO L’AMORE) (ITALY)
IN A BETTER WORLD (Hævnen) (DENMARK)

9.BEST PERFORMANCE BY AN ACTRESS IN A SUPPORTING ROLE
a.AMY ADAMS / THE FIGHTER
b.HELENA BONHAM CARTER / THE KING’S SPEECH
c.MILA KUNIS / BLACK SWAN
d.MELISSA LEO / THE FIGHTER
e.JACKI WEAVER / ANIMAL KINGDOM

10.BEST PERFORMANCE BY AN ACTOR IN A SUPPORTING ROLE
a.CHRISTIAN BALE / THE FIGHTER
b.MICHAEL DOUGLAS /
WALL STREET
: MONEY NEVER SLEEPS
c.ANDREW GARFIELD / THE SOCIAL NETWORK
d.JEREMY RENNER / THE TOWN
e.GEOFFREY RUSH / THE KING’S SPEECH

11.BEST DIRECTOR – MOTION PICTURE
a.DARREN ARONOFSKY BLACK SWAN
b.DAVID FINCHER THE SOCIAL NETWORK
c.TOM HOOPER THE KING’S SPEECH
d.CHRISTOPHER NOLAN INCEPTION
e.DAVID O. RUSSELL THE FIGHTER

12.BEST SCREENPLAY – MOTION PICTURE
a.DANNY BOYLE, SIMON BEAUFOY  / 127 HOURS
b.LISA CHOLODENKO, STUART BLUMBERG  / THE KIDS ARE ALL RIGHT
c.CHRISTOPHER NOLAN / INCEPTION
d.DAVID SEIDLER / THE KING’S SPEECH
e.AARON SORKIN / THE SOCIAL NETWORK

13.BEST ORIGINAL SCORE – MOTION PICTURE
a.ALEXANDRE DESPLAT / THE KING’S SPEECH
b.DANNY ELFMAN / ALICE IN WONDERLAND
c.A.R. RAHMAN / 127 HOURS
d.TRENT REZNOR, ATTICUS ROSS  / THE SOCIAL NETWORK
e.HANS ZIMMER / INCEPTION

14.BEST ORIGINAL SONG – MOTION PICTURE
a.“BOUND TO YOU” — BURLESQUE
Music by: Samuel DixonLyrics by: Christina Aguilera, Sia Furler
b.“COMING HOME” — COUNTRY STRONG
Music & Lyrics by: Bob DiPiero, Tom Douglas, Hillary Lindsey, Troy Verges
c.“I SEE THE LIGHT” — TANGLED
Music by: Alan MenkenLyrics by: Glenn Slater
d.“THERE’S
A PLACE FOR US
” — CHRONICLES OF NARNIA: THE VOYAGE OF THE DAWN TREADER
Music & Lyrics by: Carrie Underwood, David Hodges, Hillary Lindsey
e.“YOU HAVEN’T SEEN THE LAST OF ME” — BURLESQUE
Music & Lyrics by: Diane Warren

15.BEST TELEVISION SERIES – DRAMA
a.BOARDWALK EMPIRE (HBO)
b.DEXTER (SHOWTIME)
c.THE GOOD WIFE (CBS)
d.MAD MEN (AMC)
e.THE WALKING DEAD (AMC)AMC

16.BEST PERFORMANCE BY AN ACTRESS IN A TV SERIES – DRAMA
a.JULIANNA MARGULIES / THE GOOD WIFE
b.ELISABETH MOSS / MAD MEN
c.PIPER PERABO / COVERT AFFAIRS
d.KATEY SAGAL / SONS OF ANARCHY
e.KYRA SEDGWICK  /THE CLOSER

17.BEST PERFORMANCE BY AN ACTOR IN A TV SERIES – DRAMA
a.STEVE BUSCEMI / BOARDWALK EMPIRE
b.BRYAN CRANSTON / BREAKING BAD
c.MICHAEL C. HALL / DEXTER
d.JON HAMM / MAD MEN
e.HUGH LAURIE / HOUSE

18.BEST TELEVISION SERIES – COMEDY OR MUSICAL
a.30 ROCK (NBC)
b.THE BIG BANG THEORY (CBS)
c.THE BIG C (SHOWTIME)
d.GLEE (FOX)
e.MODERN FAMILY (ABC)
f.NURSE JACKIE (SHOWTIME)

19.BEST PERFORMANCE BY AN ACTRESS IN A TELEVISION SERIES –COMEDY OR MUSICAL
a.TONI COLLETTE UNITED STATES OF TARA
b.EDIE FALCO NURSE JACKIE
c.TINA FEY 30 ROCK
d.LAURA LINNEY THE BIG C
e.LEA MICHELE GLEE

20.BEST PERFORMANCE BY AN ACTOR IN A TELEVISION SERIES – COMEDY OR MUSICAL
a.ALEC BALDWIN / 30 ROCK
b.STEVE CARELL / THE OFFICE
c.THOMAS JANE / HUNG
d.MATTHEW MORRISON / GLEE
e.JIM PARSONS / THE BIG BANG THEORY

21.BEST MINI-SERIES OR MOTION PICTURE MADE FOR TV
a.CARLOS (SUNDANCE CHANNEL)
b.THE PACIFIC (HBO)
c.PILLARS OF THE EARTH (STARZ)
d.TEMPLE GRANDIN (HBO)
e.YOU DON’T KNOW JACK (HBO)

22.BEST PERFORMANCE BY AN ACTRESS IN A MINI-SERIES OR MOTION PICTURE MADE FOR TELEVISION
a.HAYLEY ATWELL / PILLARS OF THE EARTH
b.CLAIRE DANES / TEMPLE GRANDIN
c.JUDI DENCH / RETURN TO CRANFORD
d.ROMOLA GARAI / EMMA
e.JENNIFER LOVE HEWITT / THE CLIENT LIST

23.BEST PERFORMANCE BY AN ACTOR IN A MINI-SERIES OR MOTION PICTURE MADE FOR TELEVISION
a.IDRIS ELBA / LUTHER
b.IAN MCSHANE / PILLARS OF THE EARTH
c.AL PACINO / YOU DON’T KNOW JACK
d.DENNIS QUAID  / THE SPECIAL RELATIONSHIP
e.EDGAR RAMIREZ / CARLOS

24.BEST PERFORMANCE BY AN ACTRESS IN A SUPPORTING ROLE IN A SERIES, MINI-SERIES OR MOTION PICTURE MADE FOR TELEVISION
a.HOPE DAVIS / THE SPECIAL RELATIONSHIP
b.JANE LYNCH / GLEE
c.KELLY MACDONALD / BOARDWALK EMPIRE
d.JULIA STILES / DEXTER
e.SOFIA VERGARA / MODERN FAMILY

25.BEST PERFORMANCE BY AN ACTOR IN A SUPPORTING ROLE IN A SERIES, MINI-SERIES OR MOTION PICTURE MADE FOR TELEVISION
a.SCOTT CAAN / HAWAII FIVE-O
b.CHRIS COLFER  / GLEE
c.CHRIS NOTH / THE GOOD WIFE
d.ERIC STONESTREET / MODERN FAMILY
e.DAVID STRATHAIRN / TEMPLE GRANDIN

Momento particularmente tocante:
Prémio Cecil B. De Mille para Robert De Niro
The 68th Annual Golden Globe Awards NOMINATIONS
HOLLYWOOD FOREIGN PRESS ASSOCIATION

sexta-feira, janeiro 14, 2011

CINEMA: BURLESQUE

BURLESQUE

Este é o típico filme cujo argumento foi escrito com base em aulas de “escrita criativa”, onde se ensina os alunos a escreverem segundo regras que tornam as obras produtos de uma máquina de repetição de estereótipos. Não há a mínima originalidade em “Burlesque”, tudo já foi visto e revisto: Ali (Christina Aguilera), é a rapariguinha que se despede de um perdido bar no Iowa, e se dirige a Los Angeles cheia de vontade de triunfar como bailarina e cantora. Farta-se de andar pelas ruas da cidade dos anjos até esbarrar com o “Burlesque Lounge”, um cabaret dirigido por Tess (Cher). O número que se vê é “Welcome to Burlesque.” Ali tem o seu destino traçado, com aquelas peripécias do costume de permeio, ciúmes de rivais, dificuldades económicas da patroa, o capitalista que quer comprar o local para ali fazer erguer um arranha-céus, um barman com namorada em Nova Iorque que se apaixona por Ali, hetero e homossexualidade a contento de todos.
Nada que não se tivesse já visto centenas de vezes e muito melhor. Mas, felizmente, temos Cher e Christina Aguilera. Temos? Felizmente? Christina Aguilera parece uma barbie de plástico, que tem uma boa voz, mas a quem disseram que podia ser cantora e actriz. Puro engano. Cher é uma querida, com quem simpatizava muito, mas que depois de umas (quantas?) operações plásticas quase não consegue abrir a boca. No cômputo geral há uma boa personagem, Vince (interpretada pelo excelente Peter Gallagher, que aqui constrói a enésima figura de mesmo tipo da sua filmografia).
Nada a salvar neste “musical”? Uma certa vitalidade na coreografia de alguns números que aqui e ali se conseguem ver com relativo agrado, sobretudo os que decorrem no palco do “Burlesque Lounge”, com excepção de duas pepineiras insuportáveis, judiciosamente divididas pelas duas protagonistas: uma em que Aguilera aparece decorada como árvore de Natal e uma outra, muito “dramática” de Cher.
Para os amantes do “musical”, uma desilusão. Para os cinéfilos, a evitar.

BURLESQUE
Título original: Burlesque
Realização: Steve Antin (EUA, 2010); Argumento: Steve Antin; Produção: Bojan Bazelli, Dana Belcastro, Stacy Cramer, Donald De Line, Glenn S. Gainor, Dave Goldberg, Risa Shapiro; Música: Christophe Beck; Fotografia (cor): Bojan Bazelli; Montagem: Virginia Katz; Design de produção: Jon Gary Steele; Direcção artística: Chris Cornwell; Decoração: Dena Roth; Guarda-roupa: Michael Kaplan; Maquilhagem: Martin Samuel, Cindy J. Williams; Direcção de Produção: Buddy Enright; Assistentes de realização: Rosemary C. Cremona, Geoffrey Hansen; Departamento de arte: David Elliott, Candice Muriedas, Patte Strong-Lord; Som: David MacMillan, Robert Ulrich, Richard E. Yawn; Efeitos especiais: John Frazier, Tommy Frazier; Efeitos visuais: Raoul Bolognini, Joey Bonander, Sheila Giroux, Rocco Passionino; Companhias de produção: De Line Pictures; Intérpretes: Cher (Tess), Christina Aguilera (Ali), Eric Dane (Marcus), Cam Gigandet (Jack), Julianne Hough (Georgia), Alan Cumming (Alexis), Peter Gallagher (Vince), Kristen Bell (Nikki), Stanley Tucci (Sean), Dianna Agron (Natalie), Glynn Turman (Harold Saint), David Walton, Terrence Jenkins, Chelsea Traille, Tanee McCall, Tyne Stecklein, Paula Van Oppen, Isabella Hofmann, James Brolin, Stephen Lee, Denise Faye, Baldeep Singh, Michael Landes, Wendy Benson-Landes, Tisha French, Katerina Mikailenko, Jay Luchs, Katelynn Tilley, Gwen Van Dam, Catherine Natale, Jonathon Trent, Blair Redford, etc. Duração: 119 minutos; Distribuição em Portugal: Columbia TriStar Warner Filmes de Portugal; Classificação etária: M/ 12 anos; Estreia em Portugal: 30 de Dezembro de 2010.

quinta-feira, janeiro 13, 2011

CINEMA: JOSÉ E PILAR

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JOSÉ E PILAR


Na aldeia de Azinhaga, terra natal de José Saramago, existem duas ruas que se cruzam: uma com o nome do próprio José Saramago, outra com o de Pilar del Rio, segunda mulher do escritor, a quem ele dedica algumas palavras em “As Pequenas Memórias”, que o dístico que indica a rua eterniza, “A Pilar que ainda não havia nascido, e tanto tardou a chegar.”
“José e Pilar”, filme de Miguel Gonçalves Mendes, pode caracterizar-se bem por esse cruzamento de duas vidas que a toponímia de Azinhaga guarda. Este documentário de pouco mais de duas horas que levou quatro anos a ser rodado, é isso mesmo, o cruzar e entrecruzar de pessoas, de emoções, de sentidos contrários que, em vez de se oporem, se completam.
O filme acompanha a vida do escritor entre 2006 e 2009 e passa por momentos decisivos. Saramago é já um escritor com o Nobel, reconhecido internacionalmente, prepara e escreve “A Viagem do Elefante”, interrompida por um período grave de doença. Assistimos a uma época de bem estar e equilíbrio na vida do casal, depois precipitamo-nos na doença, posteriormente na recuperação, e na feira das homenagens, das sessões de autógrafos, das viagens intercontinentais, até ao sopro final.
José Saramago, como qualquer outro homem, não é feito de uma peça só e o filme de Miguel Gonçalves Mendes tem essa virtude: consegue transmitir a imagem de um homem intelectualmente estimulante e arrogante, confrontado com a debilidade física, a doença, a fragilidade.  Consegue captar igualmente o duelo de personalidades que aproxima José e Pilar.
São universos diversos, ambos são forças da natureza, que podiam facilmente colidir, mas facilmente se moldam um ao outro. Pela força do amor, mas também pela mútua admiração. É Pilar quem explica: “Ele era um intelectual, e eu não. Eu organizava a agenda. Mas com a consciência de que o importante era o intelectual. Porque a vida, e a realização da vida, qualquer pessoa consegue. Mas as pessoas que nos enriquecem a todos são muito poucas. E Saramago era uma delas.” Pilar parece dissolver-se no universo de Saramago para o servir o melhor que sabe e pode (mas atenção que nunca perde a palavra, que não aceita a opinião de Saramago sobre Hilary Clinton, por exemplo), mas Saramago também se ajeita ao afago de Pilar. Ambos se encontram nesse cruzamento de Azinhaga, e ambos se dão bem em serem duas ruas diversas que se cruzam num abraço infinito que tem a sóbria paisagem de Lanzarote como cenário de eleição.
Mas há muitos outros contrários que o filme refere, do prazer da vida que se leva e da fama que se alcançou à desumanidade das longas sessões de autógrafos, das amenas cavaqueiras com amigos, aos enfadonhos congressos onde se irmana o bocejar de alguns escritores, onde se dormita sem má consciência, das longas viagens que atravessam oceanos às recatadas manhãs em pijama no seu escritório, escrevendo. Saramago é pessimista, cínico, terno, comovente, sarcástico, forte como um touro a subir à montanha, seco e quebradiço quando levado numa cadeira de rodas que o desloca na doença.
O segredo do filme de Miguel Gonçalves Mendes é a câmara estar lá, no sítio certo, na hora exacta, sem parecer que está. É o respeito do realizador para com o objecto do seu trabalho. É a transparência do olhar e o propósito aparentemente contemplativo: o realizador olha, regista, não interfere, deixa que aconteça, rouba esses momentos de intimidade sem no entanto os sublinhar. Por vezes mostra-nos que está lá, intencionalmente. Saramago fala-nos directamente, via câmara. Questiona-nos. Sabemos: isto é um filme. Saramago representa: “Encontramo-nos num outro sítio”.
Um abraço, um beijo, uma caminhada, uma conversa no interior de um carro ou de um avião, um fechar de olhos numa cerimónia pública, um assomo de aborrecimento por mais um acontecimento a que não se pode faltar, tudo isto a câmara regista, quase indiscreta, mas sempre discreta, serena, objectiva. Objectiva? Onde a objectividade se cruza com a subjectividade. Porque esta forma de não interferir é a forma que Miguel Gonçalves Mendes escolheu para mostrar a sua admiração, o seu apreço para com o casal José e Pilar.
É difícil não gostar deste filme límpido, de uma beleza austera e helénica. Mesmo quem não goste dos livros de Saramago ou não aprecie a postura do homem, mesmo quem não sinta especial simpatia por Pilar, não pode deixar de se render a esta homenagem onde se assiste a um escritor repensar a vida e a morte, embrenhar-se pelo processo criativo de gerar um novo romance, espreitar o desenrolar de um grande amor, e até assistir de janela à girândola quase assassina das imposições do mercado que não recua perante nada e suga os autores até ao tutano. Não deixa também de ser incómodo, (re)vermo-nos no papel de constrangedores leitores, entusiastas, disputando um autógrafo, numa nova esquina de rua.  
“José e Pilar” é um belíssimo retrato, esboçado com largueza, mas simultaneamente com rigor e precisão. Mais um que Miguel Gonçalves Mendes (Covilhã, 2 de Setembro de 1978) nos oferece de um escritor português, depois dessa sua outra aproximação de Mário Cesariny de Vasconcelos, em “Autofagia” (2004).
 
JOSÉ E PILAR
Título original: José e Pilar
Realização: Miguel Gonçalves Mendes (Portugal, Espanha, Brasil, 2010); Produção: Ana Jordão, Abel Ribeiro Chaves, Daniela Siragusa; Música: Adriana Calcanhoto, Camané, José Mário Branco, Luís Cilia, Bruno Palazzo, Noiserv, Pedro Gonçalves, Pedro Granato; Fotografia (cor): Daniel Neves; Montagem: Cláudia Rita Oliveira; Som: Barbara Alvarez, Hugo Alves, Olivier Blanc, Adriana Bolito; Companhias de produção: Jumpcut, El Deseo (Espanha), O2 Filmes (Brasil), Abel Ribeiro Chaves / OPTEC, Lda; SIC (Portugal), YLE (Finlândia), SVT (Suécia); Intérpretes: José Saramago, Pilar del Rio, etc. Duração: 125 minutos; Distribuição em Portugal: JumpCut; Classificação etária: M/ 6 anos; Estreia em Portugal: 18 de Novembro de 2010.

domingo, janeiro 09, 2011

NA MORTE DE CARLOS CASTRO

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À PROCURA DE UM SONHO

O Carlos Castro que eu conheci foi sempre uma pessoa extremamente simpática, afável, com quem mantive excelente convívio quase sempre ditado por algumas paixões comuns: o cinema, como é obvio, mas sobretudo duas paixões específicas: o musical, tanto em cinema, como nos palcos dos teatros, e a actriz Romy Schneider, que ambos muito admirávamos. Sempre que nos encontrávamos por essas andanças de estreias de teatro ou de cinema ou lançamentos de livros, ele me falava dela ou dos diferentes musicais que tinha visto nas muitas viagens que fazia ao estrangeiro (Nova Iorque e Londres, sobretudo). Quando eu estava na TVI, onde tinha um programa de cinema, ele intercedia sempre para eu organizar um ciclo dedicado a Romy Schneider, o que nunca aconteceu, pois nunca consegui reunir um número significativo de bons filmes da actriz, mas tarefa que muito gostaria de ter realizado. A última vez que o vi, e com ele estive um bom tempo de cavaqueira, foi numa sala dos estúdios da RTP, onde ambos esperávamos para ser entrevistados para um programa. Os musicais de Nova Iorque e Londres e as tentativas portuguesas nesse campo foram o tema da conversa. Reconfirmei que Carlos Castro era um homem de paixões intensas.
Tenho alguns livros dele, generosamente autografados, admirava a persistência no seu trabalho e a forma quase obsessiva como defendia os seus gostos. Era intransigente na amizade, protegia com ardor quem admirava, e atacava sem piedade quem não cabia nas suas escalas de valores. Era frontal, não ocultava nada. Criou amizades e inimizades. Vivia intensamente as suas paixões e, pelo que tenho lido, morreu na cidade que amava, por entre idas ao teatro, vendo e revendo musicais, hospedado num requintado quarto de hotel bem no centro de Manhattan e tudo indica que vai ver cumprida uma das suas ambições mais queridas: morrer em N.Y. e ver as suas cinzas lançadas por sobre a cidade. Parece ainda que, segundo testemunhos, vivia em afortunado sobressalto amoroso. Teria sido um final feliz, não fossem as condições trágicas desta sua última viagem. Que encerram duas ou três questões a merecer certamente um olhar mais atento.
Algumas delas prendem-se com o jovem com quem Carlos Castro dividia o quarto do hotel nova-iorquino e que surge agora como principal suspeito do crime. A história desta vida de 21 anos, que se arrisca a prisão perpétua nas celas norte americanas, é sintomática: pacato, tímido e bem comportado em Cantanhede, sua terra natal, desportista e temente a Deus, à beira de terminar um curso universitário, deixa-se atrair por um concurso televisivo da SIC para pretendentes a modelos: “À Procura de Um Sonho”. E parte à procura de um sonho, deixa de ver telenovelas à noite com a família, sente necessidade de voos mais altos, um dia escreve no Facebook a Carlos Castro, pedindo-lhe apoio para a sua carreira. Foi assim que se conheceram. Foi assim que tudo começou e continuou depois com viagens a Paris, Madrid, Londres, agora Nova Iorque. Os colegas da equipa de basquetebol de Cantanhede afirmam que nada nele denunciava outra coisa senão “gostar de mulheres”, “como todos nós”, acrescentam, não vá haver alguma confusão. Mas amigos de Carlos Castro afirmam que este vivia “em plena lua-de-mel, num grande amor”.
A vida de todos nós é uma constante busca da felicidade. Uma verdade insofismável e plenamente justificada. “À Procura de Um Sonho”? É difícil viver algumas semanas de brilho intenso, num programa de tv, e depois desmaiar numa agência de modelos, onde raramente era chamado a trabalhar. A glória incendeia os sonhos, a glória efémera causa estragos irreversíveis. Basta olhar para o que se sabe de muitos concorrentes de alguns desses programas que, de um dia para o outro, catapultam para a fama um desconhecido que nada fez para a merecer, e um dia depois de sair de cena é projectado na escuridão mais negra (escuridão que antes nunca tinham conhecido, porque nunca tinham conhecido a luz intensa).
Cronista do cor-de-rosa, mas homem de cultura e gostos sensíveis, Carlos Castro acaba vítima de um “sonho” que se transformou em “pesadelo”, facto que se está a tornar moeda corrente nas sociedades actuais, onde se trituram jovens a uma velocidade insustentável. Eles são apenas a lenha que alimenta a fogueira das audiências. Do cor-de-rosa às cinzas, é umpasso. Ou um passe. De magia. Com champanhe. Lantejoulas e plumas. Como num musical de Bob Fosse: “Sweet Charity” ou “Cabaret”.

quarta-feira, janeiro 05, 2011

CINEMA: O CONCERTO

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 O CONCERTO


“O Concerto” é mais um daqueles filmes de uma cinematografia minoritária que, todavia, engata junto do público desde o dia da sua estreia e vai por aí fora. “Cinema Paraíso”, “O Carteiro de Pablo Neruda”, “Adeus, Lenine”, “O Fabuloso Destino de Amélie Poulain”, etc. Normalmente são filmes que apelam ao sentimento, que lutam por causas nobres, que são bem dirigidos e interpretados, que sendo filmes de autor são simultaneamente obras de grande público. Podem sair-se bem ou não, mas nestes casos resultam em cheio. Maionese bem batida, já o afirmei por diversas vezes.
Radu Mihaileanu, o director, é romeno por nascimento (Bucareste, 23 de Abril de 1958), mas francês por formação. Fugido da ditadura de Ceauşescu, passou por Israel (é judeu), e fixou-se em Paris desde os vinte e poucos anos, onde estudou cinema no IDHEC, foi assistente de Marco Ferreri, e se estreou no cinema com uma curta, “Les Quatre Saisons” (1980), a que se seguiram diversas longas: “Shuroo” (1990), “Trahir”, (1993), “Bonjour Antoine” (telefilme, 1997), “Train de vie” (1998), “Les Pygmées de Carlo” (telefilme, 2002), “Vai e Vive” (Va, vis et deviens, 2005), “Opération Moïse” (documentário, 2007); e finalmente “O Concerto” (Le Concert, 2009). Prepara entretanto “La Source des Femmes”, para estrear em 2011.
“O Concerto” confirma qualidades anteriormente entrevistas (em Portugal dele só se viu “Vai e Vive”) e aponta um curioso caminho para o cineasta: uma nostálgica viagem ao passado, aos tempos de Brejnev na URSS, e um ajuste de contas com essa recordação, mas eivado de um tom de comédia romântica por um lado, satírica por outro.
O filme arranca na actualidade, mas entronca nos anos 80, na URSS governada por Brejnev. Nessa altura, Andreï Filipov era o maior maestro da URSS, dirigindo a célebre Orquestra do Teatro Bolshoï. Um dia, porém, recusa-se a despedir os seus músicos judeus, como havia ordenado o Partido, e entre os quais se contava o seu amigo Sacha, e foi afastado da direcção do Bolschoi. Trinta anos mais tarde, continua no mesmo teatro, agora como empregado de limpeza, mas sempre apaixonado pela música. Uma noite, quando Filipov fica a trabalhar até mais tarde, surpreende a chegada de um fax, endereçado à direcção do Teatro, com um convite do Teatro de Châtelet de Paris para que a Orquestra de Bolshoï ali vá tocar. É então que Filipov tem uma ideia brilhante: e se reunisse os seus antigos companheiros, que hoje em dia sobrevivem (os que sobreviveram) em pequenos trabalhos, e fosse com eles até Paris, fazendo-se passar pela actual orquestra do Bolchoï? A proposta é de difícil execução, mas em cinema não há impossíveis, basta os argumentistas quererem e a obra nasce.
Assim aconteceu “O Concerto” que, não sendo uma obra-prima, satisfaz plenamente o público que fez dele um sucesso estrondoso a nível mundial. A comédia nunca é burlesca, o sorriso impera, terno e discreto; a crítica aos maus costumes da URSS nunca é virulenta, mas o bastante para fazer a distinção entre os bons perseguidos e os maus perseguidores; o lado sentimental nunca é explorado até à náusea, antes se fica pela emoção contida; o todo é sabiamente manuseado, não é particularmente excitante, mas nunca incomoda. Há sensibilidade e inteligência, apontamentos críticos divertidos (os músicos repescados estão mais interessados em conhecer Paris e fazer negócio do que tocar no famoso Châtelet, onde não ensaiam, e chegam atrasados para o concerto) e uma interpretação escorreita: Alexei Guskov defende bem o papel de maestro, e Mélanie Laurent (que já conhecia de “Sacanas sem Lei”) merece referência especial, tanto pela beleza, que é radiosa, como pela forma como aguenta a música de Tchaikovsky, no “concerto para violino e orquestra em ré menor” final, momento alto do filme.

O CONCERTO
Título original: Le Concert
Realização: Radu Mihaileanu (França, Itália, Roménia, Bélgica, Rússia, 2009); Argumento: Radu Mihaileanu, Matthew Robbins, Alain-Michel Blanc, Héctor Cabello Reyes, Thierry Degrandi; Produção: Alain Attal, Valerio De Paolis, André Logie, Bogdan Moncea, Vlad Paunescu; Música: Armand Amar; Fotografia (cor): Laurent Dailland; Montagem: Ludo Troch; Casting: Gigi Akoka, Hervé Jakubowicz; Design de produção: Christian Niculescu, Stanislas Reydellet; Direcção artística: Vlad Roseanu; Decoração: Gina Stancu; Guarda-roupa: Viorica Petrovici, Maira Ramedhan Lévy; Maquilhagem: Daniela Busoiu, Michèle Constantinides, Catherine Crassac, Bernard Floch, Adelina Popa; Direcção de Produção: Xavier Amblard, Nicolas Mouchet, Grégory Valais, Elena Valeanu; Assistentes de realização: Vasile Albinet, Hany El-Sayed, Julie Grumbach, Olivier Jacquet, Ovi Morariu, Michaël Pierrard; Som: Pierre Excoffier; Efeitos visuais: Benjamin Ageorges, Stephane Bidault; Companhias de produção: Oï Oï Oï Productions, Les Productions du Trésor, France 3 Cinéma, Europa Corp., Castel Film Romania, Panache Productions, Radio Télévision Belge Francophone, BIM Distribuzione, Canal+, CinéCinéma, France 3 (FR 3), Eurimages, Région Ile-de-France, Belgacom TV, Tax Shelter ING Invest de Tax Shelter Productions, Le Fonds d'Action de la Sacem, Wild Bunch; Intérpretes: Aleksey Guskov (Andrey Simonovich Filipov), Dimitri Nazarov (Aleksandr 'Sasha' Abramovich Grosman), Mélanie Laurent (Anne-Marie Jacquet / Lea), François Berléand (Olivier Morne Duplessis), Miou-Miou (Guylène de La Rivière), Valeriy Barinov (Ivan Gavrilov), Lionel Abelanski (Jean-Paul Carrère), Laurent Bateau (Bertrand), Vlad Ivanov (Pyotr Tretyakin), Anna Kamenkova (Irina Filipova), Roger Dumas, Anghel Gheorghe, Aleksandr Komissarov, Vitalie Bichir, Despina Stanescu, Guillaume Gallienne, Valentin Teodosiu, Ion Sapdaru, Ramzy Bedia, etc. Duração: 90 minutos; Distribuição em Portugal: Castello Lopes Multimédia; Classificação etária: M/ 6 anos; Estreia em Portugal: 25 de Novembro de 2010.