segunda-feira, outubro 10, 2011

LEITURAS: JULIAN BARNES

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NADA A TEMER? 

Ultimamente tenho lido, lido, lido imenso. Dezenas de policiais de excelente qualidade, alguns prodigiosos, de que tentarei ir dando conta no blogue “Policiais no Cinema”. Mas, entremeados com os policiais, tenho-me deliciado com clássicos e modernos, de Thomas Mann a Gonçalo M. Tavares, de Walter Hugo Mãe a Giorgio Bassani, de Guy de Maupassant aos “Portugueses”, de Barry Hatton, e sei lá mais quê.  Agora ando a ler “Nada a Temer”, do britânico Julian Barnes, um dos meus ingleses actuais preferidos.
“Nada a Temer” é um romance (será?) lúcido, bem documentado, irónico, erudito que pensa e estuda a morte. Coisa aparentemente macabra. Mas Barnes mostra que não. Fala do medo da morte. Medo da morte ou medo de morrer? Foi esta questão que me leva a transcrever um excerto desta obra que acho brilhante e que dá bem a ideia do “problema”. Um “problema” muito democrático que se torna, porém, em condições normais, “premente” para quem ultrapassou os sessenta. 

Diz assim:

“Se temos medo da morte, não temos medo de morrer; se temos medo de morrer, não temos medo da morte. Mas não hã razão lógica para que um medo exclua o outro; não há razão para que o espírito, com um pouco de treino, não possa expandir-se e incluir ambos. Na qualidade de pessoa que não se importava de morrer desde que depois não ficasse morto, posso certamente começar a elaborar quais seriam os meus medos em relação à morte. Receio ser como o meu pai que, sentado numa cadeira ao lado da cama do hospital, me censurava com irritação pouco habitual — «Disseste que vinhas ontem.» — antes de deduzir pelo meu embaraço que fora ele quem confundira as coisas. Receio ser como a minha mãe, quando imaginava que ainda jogava ténis. Receio ser como aquele meu amigo que, ansiando pela morte, nos confidenciava incessantemente que conseguira obter e engolir comprimidos suficientes para se matar, mas se encontrava agora numa agitação ansiosa, porque os seus actos podiam causar problemas a uma enfermeira. Receio ser como aquele homem de letras de uma cortesia inata, que conheci e que, ao ficar senil, começou a falar constantemente à mulher nas fantasias sexuais mais extremas, como se isso fosse o que secretamente sempre desejara fazer-lhe. Receio ser como Somerset Maugham octogenário, que baixava as calças atrás do sofá e defecava no tapete (apesar de isso me fazer lembrar alegremente a minha infância). Receio ser como aquele meu amigo Idoso, homem ao mesmo tempo refinado e cheio de melindres, cujo olhar mostrava um pânico animal quando a enfermeira do lar anunciava, diante das visitas, quo estava na hora de mudar a fralda. Receio o riso nervoso que terei quando não estiver a perceber uma alusão ou tiver esquecido uma lembrança comum ou um rosto familiar, e começar a desconfiar, primeiro duma grande parte e depois de tudo o que julgo saber. Receio o cateter e o elevador de escadas, o corpo incontinente e o cérebro devastado. Receio o destino de Chabrier/Ravel, não saber quem fui nem o que fiz. Talvez Stravinsky, na velhice extrema, tivesse esses finais em mente quando chamava do quarto a mulher ou algum membro da família. «De que precisas?», perguntavam-lhe. «De ter a certeza da minha própria existência», respondia. E a confirmação podia vir sob a forma de um afago de mão, de um beijo ou de lhe porem a tocar um dos seus discos preferidos.
Arthur Koestler, na velhice, orgulhava-se duma adivinha que formulara: «E melhor para um escritor ser esquecido antes de morrer, ou morrer antes de ser esquecido?» (Jules Renard sabia a resposta: «”Poil de Carotte” e eu vivemos juntos, e espero morrer antes dele,») Mas é um «preferimos o quê» suficientemente poroso para deixar que se infiltre uma terceira possibilidade: o escritor, antes de morrer, pode ter perdido toda a memória de ser escritor.
Quando perguntaram a Dodie Smith se ela se lembrava de ter sido uma dramaturga famosa ela respondeu: «Sim, acho que sim», disse-o exactamente da mesma maneira — com uma espécie de concentração, sobrolho franzido, moralmente consciente da exigência da verdade — como eu a vira responder a dezenas de perguntas ao longo dos anos. Por outras palavras, pelo menos continuava igual a si própria. Para além desses medos mais imediatos de deterioração física e mental, é isto que esperamos e desejamos para nós próprios. Queremos que as pessoas digam: «Até ao fim foi ele próprio, mesmo sem conseguir falar/ver/ouvir.» Embora a ciência e o autoconhecimento nos tenham feito duvidar daquilo que compõe a nossa individualidade, queremos continuar a encarnar essa personagem que nos convencemos, talvez erradamente, que é nossa e só nossa.”
Ed. Quetzal.

domingo, outubro 09, 2011

TEATRO NO CASINO DO ESTORIL

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O Melhor de La Féria”


“O Melhor de La Féria” é e não é “o melhor de La Féria”. O nome pode enganar um pouco, pois La Féria não é só o encenador de musicais, muito embora tenha sido através deles que adquiriu a celebridade de que hoje desfruta. Mas, para se ser mais rigoroso, este espectáculo que agora estreou no Salão Preto e Prata do Casino do Estoril deveria chamar-se “O Melhor de La Féria – Os Musicais”. Filipe La Féria tem um historial que vai muito para além dos musicais, os seus tempos na Casa da Comédia são recordados com grande interesse, quando ele era um jovem vanguardista que encenava peças como "A Paixão segundo Pier Paolo Pasolini", "A Marquesa de Sade", "Eva Péron", "Savanah Bay”, "A Bela Portuguesa", " Noites de Anto", "A llha do Oriente", de autores como Marguerite Yourcenar, Marguerite Duras, Mishima, Agustina Bessa-Luís ou Mário Cláudio. Depois há o seu primeiro grande sucesso popular, de público e de crítica, "What Happened to Madalena Iglésias?". Mesmo após a sua “conversão” ao musical, La Féria assina espectáculos memoráveis que não são musicais, desde "Maria Callas" a “A Casa do Lago”, passando por "Rosa Tatuada", entre outros.
Enfim, Filipe La Féria é mais do que aquilo que se mostra em “O Melhor de La Féria”. Mas, nesta antologia laferiana do musical em Portugal, há algo que perpassa e aí sim, temos o melhor de La Féria. O melhor de La Féria é a sua paixão pelo teatro, pelo espectáculo, pelo palco, pelos actores e o público, por esse momento mágico que acontece sempre que as cortinas se abrem (ou sobem) e o milagre acontece. Este milagre não tem muito a ver até com a qualidade do espectáculo. Acontece numa modesta sociedade recreativa de amadores ou no Scala. Em intensidades diferentes, é certo, mas acontece porque quem gosta de teatro e do espectáculo sente esse mergulhar no puro sortilégio do jogo da transformação, da mentira que passa a verdade, do fascínio do milagre das rosas ou da travessia das águas. Ali, naquele local hipnótico que é o palco, tudo é possível. Todos os sonhos de criança se tornam possíveis, o que aliás marca o início deste espectáculo, onde La Féria, miúdo, brinca aos teatrinhos, para depois se abrir perante si o enorme palco do Casino, onde a sua “feérie” irá acontecer. Podem assacar-se a La Féria alguns defeitos, mas não se lhe pode recusar o seu amor ao teatro. Depois da sua encenação de “As Fúrias”, no Nacional D. Maria II, La Féria passou a ser conhecido, para o bem ou para o mal, como “La Fúria”. Essa “fúria” marca bem a sua personalidade, o seu arrojo, a sua temeridade, a sua megalomania, a forma como se lança nos projectos mais loucos, como sobe ao palco e grita “Viva o Teatro!”. Ele é isso mesmo, um amante agitador, um Dom Quixote teatral. “O Melhor de La Féria” faz justiça à figura.
Agora o espectáculo em si mesmo: como já se disse, inicia-se com La Féria criança a imaginar-se no teatro, passa por La Féria no teatro ao longo de uma vasta carreira como autor de musicais, e termina com La Féria na actualidade, a imaginar novas encenações. Não deixa de ser coerente. “La Fúria” não pára. Desde criança. Hoje ainda mantém o mesmo desejo, o mesmo apetite, a mesma obsessão. Se pudesse, não havia musical que lhe escapasse.
A evocação dessa carreira começa por alguns números de “Passa por mim no Rossio”, e depois desfilam “Maldita Cocaína”, “My Fair Lady”, “Amália”, “A Canção de Lisboa”, “Música no Coração”, “West Side Story”, “Piaf”, “Jesus Cristo Superstar”, “ Um Violino no Telhado”, “A Gaiola das Loucas”, “Fado - História de um Povo”, e uma antevisão de todos os que ele ainda sonha realizar, desde “Chapéu Alto” ou “Serenata à Chuva”,  “Sweet Charity” ou “O Feiticeiro de Oz” (que já encenou, e bem), até aqueles que se sabe que andam no seu horizonte próximo, como “Evita” (a sua próxima estreia já anunciada), “O Fantasma da Ópera”, “Man of la Mancha”, “Os Miseráveis”, “Mamma Mia” ou “Hello Dolly”, que lhe serve a preceito como gala de encerramento.
Ao longo de quase duas horas temos um pouco de tudo, para deleite de nostálgicos empedernidos, bons números, encenações criativas, música da melhor, cantores que cumprem galhardamente, coreografias espectaculares, bonito guarda-roupa, cenários discretos, mas quase sempre eficazes (como resulta bem “Piaf” num cenário minimalista), bailarinas, plumas, lantejoulas, luzes, e ainda acrobatas, dependurados do tecto, tal como a cruz de Cristo, como O próprio em arriscada postura. É, portanto, “O Melhor de La Féria” quase em todo o seu esplendor. Há uma ou outra solução que não me parecem as melhores, dispensava bem alguns números de trapézio, por inúteis, mas deixava ficar as belíssimas mariposas que descem do tecto, e quanto à animação dos vídeos, muitas vezes bem conseguida, deixava cair a Maria, de “Música no Coração”, regadeira, a verter águas sobre as verdes montanhas, que me pareceu de muito mau gosto. 
De resto, o que poderia ser uma manta de retalhos, acaba por resultar numa bonita evocação de uma carreira, que é simultaneamente uma homenagem a um autor que bem a merece. É Filipe La Féria quem escreve no programa: “Tantas vezes encontro, a um canto de um velho armazém, velhos adereços, peças de guarda-roupa que já tiveram vida sob as luzes brilhantes dos projectores. O Teatro deu-me também Vida. A ele devo o que sou, com toda a sua luz e sombras. Levou-me a sítios inimagináveis, a países para além do arco-íris, fez-me conhecer pessoas inesquecíveis, deu-me momentos de prazer e glória e também de desilusão e dor, e aprendi com ele a compreender melhor o ser humano. É injusto a vida não ser como o teatro: ter tempo para ensaiar e depois para viver”.
Pois é: no teatro ensaia-se a vida, na vida ensaia-se o teatro. Entre o teatro e a vida vamo-nos todos ensaiando, uns aos outros. Essa a grande lição da arte de representar.
O elenco, bem encabeçado por Alexandra e Henrique Feist, conta ainda com a presença de Gonçalo Salgueiro, Paula Sá, Vanessa, F.F., Eva Santiago, Flávio Gil, Elsa Casanova e João Frizza, um corpo de bailado, dois acrobatas e um orquestra privativa.

No Salão Preto e Prata do Casino do Estoril. A partir de 7 de Outubro, de quarta a sábado às 21h30, e ainda sábados e domingos às 17h00.

THOMAS JEFFERSON ESCREVEU HA 200 ANOS

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THOMAS JEFFERSON, 
terceiro presidente dos EUA,
  escreveu...há 200 anos
(agora sabe-se por quê) 
 com agradecimento especial à mão amiga que me fez chegar a citação por email.

sábado, outubro 08, 2011

CINEMA: MEIA-NOITE EM PARIS

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MEIA-NOITE EM PARIS

“Meia-Noite em Paris” é um excelente divertimento, inteligente e bem saboreado pelo seu autor, Woody Allen. Não está, porém, segundo a minha perspectiva, muito acima de alguns outros filmes rodados recentemente por este cineasta, e que parece que caíram na desdita de alguma crítica, vá-se lá saber porquê. Isto não quer dizer que “Meia-Noite em Paris” seja fraquinho, porque está ao nível de alguns outros títulos recentes. Muito pelo contrário. Quer dizer que Woody Allen não faz maus filmes, pode desiludir aqui e ali, mas muito raramente, e que a qualidade geral é sempre boa ou muito boa. Compreendo que se ressalve “Match Point” (2005), mas não percebo por que razão não se valoriza devidamente obras tão interessantes como “Scoop” (2006), “Vicky Cristina Barcelona” (2008) ou “Tudo Pode Dar Certo” (2009).
“Midnight in Paris” começa desde logo por apresentar um óbice grave à partida: o nome de Owen Wilson como protagonista não augurava nada de auspicioso. É um actor medíocre, de comédias tão idiotas (duas ou três das quais tive a desdita de ver), que fazia prever o pior. Acontece que Woody Allen consegue o milagre de tornar suportável este génio da inexpressividade e da parvoíce, transformando-o numa espécie de alter ego seu. Depois coloca-o a contracenar com actores tão bons que ele sai valorizado: em vez de parvoíce parece inocência e candura a sua pose.
A ideia é interessante, mas nada original. Woody Allen já tinha experimentado o efeito em “Rosa Púrpura do Cairo”, uma das suas obras-primas indiscutíveis. Nos anos 30, uma dona de casa desesperada faz do cinema a sua tábua de salvação e acaba por passar para o outro lado do ecrã, e trazer consigo personagens do filme para a realidade. Era uma nova versão de “Alice no Pais das Maravilhas”. Agora, Gil Pender (Owen Wilson), argumentista de sucesso em Hollywood e aspirante a escritor boémio em Paris, volta a viajar para fora da sua realidade, entrando na Paris dos loucos anos 20. Mas como Woody Allen gosta de contos de fadas, desta feita acrescenta-lhe um cheirinho de “Gata Borralheira”: é à meia-noite que passa o automóvel que o conduzirá à sua época de eleição.
Gil Pender está noivo de Inez (Rachel McAdams), filha de um casal de republicanos radicais. Andam todos a visitar Paris, mas Gil prefere uma Paris que lhe recorda a inspiração e a boémia dos anos 20, e todos os outros membros da família optam por compras e visitas guiadas a museus, conduzidos por um emproado amigo universitário que vem à cidade luz dar uma lição à Sorbonne. Não há muito a esperar do casamento, mas há muita deambulação pela capital de França então povoada pelo mais intenso brilho do génio internacional.
Numa noite em que percorre sozinho os bairros de Paris, Gil apanha uma boleia e vai parar à conversa com Scott Fiztegearld e Zelda, numa festa dada por Jean Cocteau, onde aparecem ainda Cole Porter, Hemingway e Gertrud Stein. Nas noites seguintes, lá continuará a peregrinação pelos cenáculos da cultura e da arte dos anos 20, encontrando Picasso, e a sua paixão do dia, Adriana, Dali, Josephine Baker, Buñuel (a quem oferece a ideia para um filme, que será precisamente “O Anjo Exterminador”), Man Ray, T. S. Elliot, Matisse, etc.
Gil passeia extasiado por estes ambientes de devaneio estético e de efervescência cosmopolita, mas descobre que Adriana, por quem se apaixona secretamente, vive obcecada pela “Belle Epoque”. Afinal ninguém está satisfeito com a realidade que vive e todos sonham com tempos passados. Adriana consegue mesmo viajar com Gil até à “Belle Epoque”, onde se cruzam com Toulouse Lautrec, Degas e Gauguin, mas estes suspiram, por sua vez, pelo Renascimento. A mensagem está dada: o presente é insatisfatório, sobretudo entre artistas que aspiram sempre a “outra coisa” e, neste caso, a um paraíso perdido, onde, todavia, ainda não existe nem valium nem penicilina. Que podem ser muito úteis em certos casos.
“Meia-Noite em Paris” é divertido, sensível, sensual, traumatizado e angustiado como todo o cinema de Woody Allen, mas agora sereno em relação à vida: afinal não é preciso ir buscar a felicidade ao passado, porque Cole Porter continua entre nós e há embaixadoras suas bem interessantes. A viagem por Paris é seguida pelo olhar apaixonado do cineasta e pela câmara de tons nostálgicos do iraniano Darius Khondji. Um belo filme sobre o amor e a vida, com um Owen Wilson, quase irreconhecível, e excelentes aparições de um elenco de luxo: Rachel McAdams, Michael Sheen, Carla Bruni (uma cativante guia turística), Marion Cotillard (a sedutora Adriana), Alison Pill, Kathy Bates, Adrien Brody (fabuloso Dali), Corey Stoll, Tom Hiddleston,  Kurt Fuller, Mimi Kennedy, David Lowe ou Léa Seydoux. Quase no final, um irresistível gag protagonizado por um detective encerra de forma brilhante esta viagem na máquina do tempo.

MEIA-NOITE EM PARIS
Título original: Midnight in Paris.
Realização: Woody Allen (EUA, Espanha, 2011); Argumento: Woody Allen; Produção: Letty Aronson, Raphaël Benoliel, Javier Méndez, Helen Robin, Jack Rollins, Jaume Roures, Stephen Tenenbaum; Fotografia (cor): Johanne Debas, Darius Khondji; Montagem: Alisa Lepselter; Casting: Stéphane Foenkinos, Patricia Kerrigan DiCerto, Juliet Taylor; Design de produção: Anne Seibel; Direcção artística: Anne Seibel; Decoração: Hélène Dubreuil; Guarda-roupa: Sonia Grande; Maquilhagem: Catherine Leblanc, Thi Thanh Tu Nguyen, Jean-Christophe Roger, Olivier Seyfrid; Direcção de Produção: Matthieu Rubin; Assistentes de realização: Mallorie Ballestra-Duquesnoy, Delphine Bertrand, Aurore Coppa, Gil Kenny; Departamento de arte: Tatiana Bouchain, Hélène Dubreuil, Georges Kafian; Som: Jean-Marie Blondel, Lee Dichter, Matthew Haasch; Efeitos especiais: Georges Demétrau; Efeitos visuais: Ryan Duffy, Marika D. Litz, Chris MacKenzie; Companhias de produção: Gravier Productions, Mediapro, Televisió de Catalunya (TV3), Versátil Cinema; Intérpretes: Owen Wilson (Gil), Rachel McAdams (Inez), Kurt Fuller (John), Mimi Kennedy (Helen), Michael Sheen (Paul), Nina Arianda (Carol), Carla Bruni (guia de museu), Maurice Sonnenberg, Thierry Hancisse, Guillaume Gouix, Audrey Fleurot, Marie-Sohna Conde, Yves Heck (Cole Porter), Alison Pill (Zelda Fitzgerald), Corey Stoll (Ernest Hemingway), Tom Hiddleston (F. Scott Fitzgerald), Sonia Rolland (Joséphine Baker), Daniel Lundh (Juan Belmonte), Laurent Spielvogel, Thérèse Bourou-Rubinsztein  (Alice B. Toklas), Kathy Bates (Gertrude Stein), Marcial Di Fonzo Bo (Pablo Picasso), Marion Cotillard (Adriana), Léa Seydoux (Gabrielle), Emmanuelle Uzan (Djuna Barnes), Adrien Brody (Salvador Dalí), Tom Cordier (Man Ray), Adrien de Van (Luis Buñuel), Serge Bagdassarian (Detective Duluc), Gad Elmaleh (Detective Tisserant), David Lowe (T.S. Eliot), Yves-Antoine Spoto (Henri Matisse), Laurent Claret (Leo Stein), Sava Lolov, Karine Vanasse, Catherine Benguigui, Vincent Menjou Cortes (Henri de Toulouse-Lautrec), Olivier Rabourdin (Paul Gauguin), François Rostain (Edgar Degas), Marianne Basler, Michel Vuillermoz, Kenneth Edelson, etc. Duração: 94 minutos; Distribuição em Portugal: Zon Lusomundo Audiovisuais; Classificação etária: M/ 12 anos; Estreia em Portugal: 15 de Setembro de 2011.

sexta-feira, setembro 23, 2011

ABERTURA DO CICLO IRMÃOS MARX NO PORTO

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NA BIBLIOTECA ALMEIDA GARRETT,
PROSSEGUE A "INVICTA FILMES"
COM O CINEMA AMERICANO 
DA GRANDE DEPRESSÃO

quarta-feira, setembro 21, 2011

HOJE, NA RTP MEMÓRIA

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O DIA DE... RIBEIRINHO
O DIA DE... RIBEIRINHO

Uma emissão especial dedicada a Ribeirinho, na RTP Memória entre as 17 horas e a 1 da manhã.
Homem multifacetado, Francisco Carlos Lopes Ribeiro, que adoptou como nome artístico Ribeirinho foi, para além de actor, encenador e directo de diversas companhias de teatro. Por ocasião dos 100 anos do nascimento de Ribeirinho, a RTP Memória transmite uma emissão especial de oito horas durante a qual Júlio Isidro conversa com várias personalidades acerca deste nome maior do espectáculo português: José de Matos-Cruz (escritor), Lauro António (cineasta), Salvato Telles de Menezes (diretor executivo da Fundação D. Luis I), Vítor Pavão dos Santos (teatrólogo, museólogo e biógrafo), Jorge Leitão Ramos, um dos mais dinâmicos divulgadores de cinema e o autor Victor de Sousa. 
Os programas da RTP "Há Conversa" e “Fim do Século”, bem como “A Paródia”, de Lauro António, e os filmes “O Pai Tirano”, de António Lopes Ribeiro, e “O Grande Elias”, de Arthur uarte, fazem parte desta emissão especial. A ver.

quinta-feira, setembro 15, 2011

THE PRINTING BLOG

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O primeiro número, que esgotou, saiu em Agosto. O segundo, anunciam-no nas bancas no final desta semana. "The Printing Blog" é uma criação norte-americana que tem agora a sua versão portuguesa. É um trabalho de qualidade e muito interessante. Digamos que é a “outra face da moeda”. Muitos escrevem blogues porque não têm acesso a publicações impressas. Outros escrevem nos blogues porque estão fartos de publicações impressas. Eu escrevo em blogues porque gosto de escrever o que quero, como quero, curto ou longo, sem dar justificações a editores que as não merecem. Agora os escritores de blogues têm uma revista que parte dos blogues, para aparecer em escrita impressa. O slogan é excelente: “Como na Internet, mas inflamável”.
A escolha dos convidados tem sido criteriosa, o grafismo é moderno e sugestivo. Fui convidado para lá escrever, e aceitei de imediato, tanto mais que o convite partiu da amiga Mafalda Samuel Diniz. Aguardo com muita curiosidade este segundo número, cuja bela capa aqui deixo, para aguçar o apetite. O tema é “Qual o Nosso Papel”. Eu começo por dizer que é de embrulho. Saiba mais lendo, depois de comprar.

sábado, setembro 10, 2011

"AMADEUS" NO TEATRO


NO TEATRO NACIONAL DE D. MARIA II


“Amadeus”, de Peter Shaffer, estreado agora no Teatro Nacional D. Maria II, é um sugestivo pretexto para abordar um conjunto de temas de grande actualidade. Antes de mais, a própria escolha do reportório de um Teatro Nacional. Ao que se percebe, pelo que se viu na passada temporada e nesta que agora se inicia, e já foi publicitada, o D. Maria II escolheu, sob a direcção de Diogo Infante, um bom caminho, mesclando clássicos, modernos e vanguardistas, procurando nunca se afastar do grande público, tentando antes captá-lo para o teatro. “Amadeus” é muito bom teatro, moderno, actual, de um dos autores mais representativos do século XX inglês, que tem sido êxito nas principais salas mundiais, desde o West End londrino à Broadway nova-iorquina. Teatro que vai ao encontro do espectador, sem o defraudar.
Segundo ponto: “Amadeus” é uma brilhante criação sobre um dos assuntos que mais se prendem com o homem e o seu futuro. A independência criativa, a importância da criação artística e a relação do homem, qualquer homem, do mais humilde ao mais genial, com o poder, o “establishement”. A peça de Shaffer é uma criação artística ela mesmo, que partindo de factos reais e outros lendários, elabora sobre eles uma ficção. Uma ficção que, em certos aspectos, nos mais cruciais, se transforma em metáfora. Mozart e Salieri encontram-se em Viena, um e outro são compositores, músicos, à partida bem sucedidos na sociedade vienense, mas ambos representam realidades diferentes que aqui não só divergem, como se confrontam. Mozart é o génio que desde criança criou obras-primas que se tornaram alguns dos momentos de eleição da história da arte mundial, Salieri é o representante de uma arte mais convencional, perfeitamente integrada no sistema, respeitadora da ordem estabelecida.
Medíocre? Não tanto. Diz-nos a História real e não a lenda, que ele foi professor de Beethoven, Schubert e Liszt, e que muitas das suas obras sobreviveram ao tempo e ainda hoje são executadas com brio (não há muito, 2004, óperas suas foram ouvidas no Scala de Milão, e a grande Cecília Bartoli lançou um CD dedicado a Salieri, “The Salieri Álbum”). Salieri não foi um ignorado músico, mas uma das maiores glórias do seu tempo. Sabe-se que a glória em vida nem sempre é a glória para a posteridade, mas, neste caso, Salieri não morreu ignorado. Sobreviveu. Não só à custa da sua oposição a Mozart e da lenda de o ter envenenado. Talvez a sua grande tragédia fosse ter sido contemporâneo de um dos mais inspirados génios da música mundial. Tomara todos os medíocres do mundo terem a sorte de Salieri. Não se trata tanto de uns serem medíocres e outros génios. Nesse caso, todos seriamos medíocres ao lado dos raros Mozart da História Mundial.
O que torna o confronto Mozart-Salieri extraordinário e motivo de uma constante avaliação, é o facto de um ser um génio que não se integrou no seu tempo e por isso pagou com a vida e a hostilidade dos poderosos seus contemporâneos, e o outro ser um representante oficial do poder e se ter servido desse factor para destruir Mozart (metaforicamente para o “matar”, quer tenha sido por envenenamento ou por intrigas palacianas que o levaram à mais radical pobreza e à doença). Este, o grande tema de “Amadeus” e este terá sido igualmente o grande interesse de Milos Forman por esta obra, que levou vários anos a convencer Shaffer a adaptá-la ao cinema, e vários meses a reescrevê-la para a incluir na sua filmografia. Na verdade, “Amadeus”, filme, integra-se na perfeição na temática central de Milos Forman, e pode mesmo dizer-se que é a cereja em cima do bolo, o ponto mais perceptível dessa preocupação: o confronto do indivíduo “diferente” com a comunidade convencional, com o poder instituído, com as artimanhas, corrupção, intrigas, mesquinhas vinganças e malvadezas diversificadas que destroem quem não se integra ou se molda. 
O que assistimos durante a inteligente peça de Peter Shaffer e a sua magnífica encenação no D. Maria II, é à sucessão de ardis engendrados por Salieri para destruir Mozart, com uma agravante: Salieri soube, sempre o soube desde o primeiro minuto, que Mozart era um génio. Toda a sua perversidade se dirigia contra alguém que ele sabia superior a si, e só por isso arquitectou todos aqueles (reais ou imaginados) sinistros esquemas de demolição do artista e do homem. Foi a inveja, a vingança, tudo o que há de mais mesquinho no homem que o conduziu, que o orientou.
Medíocres podemos ser todos, mesquinhos e perversos a este ponto, só alguns. Só os que sabem ter por detrás de si o poder, só os que se movimentam nos meandros palacianos, só os que, ao contrário de Mozart, se mostram hábeis no jogo das influências e das conjuras. Mozart compunha música, gostava de ser bem pago por ela, gostava dos aplausos a premiar o seu trabalho, mas não bajulava a corte, não transigia, não pactuava. A sua música era o que ele queria que ela fosse. Julgava-se por isso no direito que lhe assistia de ser recompensado. Mas a velhacaria de quem se sentia ameaçado tudo fez para o destruir. Consegui-o em vida, é verdade. Mas não o conseguiu para a posteridade, neste caso.
Na sua infernizada velhice (quando começa a peça de Shaffer, com o moribundo Salieri a recordar o seu tempo com Mozart), Salieri evoca toda a sua vida passada, toda a maldade que inventou e cometeu para destruir o rival, e sente remorsos por isso. Ele, que desafiou Deus, um Deus que dera a Mozart a inspiração divina e reservara para si um papel subalterno, sente-se agora perdido e injustiçado, perante a glória de Mozart que não se cansa de se elevar nos palcos de todo o mundo. Finalmente, a maldade é castigada e a irreverente tumultuosidade, quase infantil e ingénua, de Mozart é premiada.
A peça de Peter Shaffer não inventa toda esta intriga palaciana, nem sequer o envenenamento de Mozart. A lenda vem de trás, há testemunhos que falam de confissões de Salieri, à beira da morte, e o poeta e dramaturgo russo Aleksandr Pushkin, na sua obra "Mozart e Salieri", de 1831, criou este confronto entre os dois compositores, e colocou-o a circular. Shaffer serviu-se de todo este manancial para desenvolver um ponto de vista. Fê-lo de forma muito hábil e inteligente, cruzando tempos diferentes, com Salieri a ser sempre interpretado pelo mesmo actor, que por vezes se dirige directamente ao público, tornando-o testemunha activa do que vê e ouve. A encenação do britânico Tim Carroll é engenhosa e clarifica o texto, servindo-se de um bom cenário de F. Ribeiro, que, no segundo acto, atinge um momento excelente com o desdobrar do espaço do próprio teatro D. Maria II para os bastidores, criando assim uma zona onde o palco se integra no próprio palco. Os figurinos de StoryTailors são muito bons e o desenho de luz de Daniel Worm D´Assumpção igualmente brilhante.
Entre os actores, há um outro confronto, este bem menos dramático do que o das personagens. Diogo Infante é excelente na criação de Salieri, com dois tempos muito definidos e muito bem diferenciados, e Ivo Canelas atinge momentos notáveis, sobretudo no início do segundo acto. Ambos têm um trabalho difícil pela frente, pois todos recordamos o filme e as soberbas actuações de F. Murray Abraham (Antonio Salieri) e Tom Hulce (Wolfgang Amadeus Mozart). Mas ambos não se saem mal do confronto, bem como o saboroso João Lagarto, na figura do Imperador José II, ou Carla Chambel, na personagem de Constanze, mulher de Mozart. De resto, todo o demais elenco é muito bem dirigido e consegue uma homogeneidade de tom de salientar. A tradução de Maria João da Rocha Afonso é também de saudar.
Temos, portanto, no Teatro Nacional de D. Maria II, um espectáculo a não perder.


AMADEUS
Peça de Peter Shaffer; tradução Maria João da Rocha Afonso; encenação Tim Carroll; cenografia F. Ribeiro; figurinos StoryTailors; cabeleiras Helena Vaz Pereira / Griffe Hairstyle; desenho de luz Daniel Worm D´Assumpção; consultor musical James Oxley; interpretação Ivo Canelas, Diogo Infante, Carla Chambel, João Lagarto, Rogério Vieira, Manuel Coelho, Luís Lucas, José Neves e Martinho Silva; figuração especial Bernardo Chatillon, Isabel Costa, Joana Cotrim, João Pedro Mamede, Luís Geraldo e Maria Jorge (da Escola Superior de Teatro e Cinema); produção TNDM II.

sexta-feira, setembro 09, 2011

"AMADEUS" NO CINEMA

 
Estreou-se ontem, dia 8 de Setembro de 2011, no Teatro Nacional de D. Maria II, "Amadeus", a peça de Peter Shaffer. Um bom espectáculo, a não perder, que desde já recomendo, e de falarei mais adiante. 
Mas a curiosidade levou-me a recuar até 1985, Fevereiro, e reler o que então escrevi sobre o filme de Milos Forman. Aqui fica.
“AMADEUS”, de Milos Forman

“Amadeus" foi, inicialmente, uma peça de teatro de Peter Shaffer que apaixonou as plateias dos palcos londrinos e americanos, tendo sido encenada e interpretada também por Roman Polanski, em Paris. Mais tarde, seria Milos Forman, outro cineasta do Leste radicado no Ocidente, a interessar-se pela obra para a transpor para o cinema.

A peça não procurava biografar a vida de Wolfgang Amadeus Mozart, mas dar dela a visão de António Salieri, músico oficial da corte de Viena, que manteve com o singular compositor uma relação tumultuosa, mas secreta, de paixão e ódio, de admiração e despeito, de atracção e ciúme. A peça estruturava-se como uma memória monologada em direcção ao público, onde sobressaia o choque de personalidades entre Mozart e Salieri e entre Mozart e o seu tempo. A componente musical era diminuta (cerca de dez minutos), por confessada incapacidade de Peter Shaffer para a introduzir, com uma maior insistência, no espectáculo. Este seria um aspecto que Milos Forman iria tratar com grande desenvoltura na versão cinematográfica, onde teve ainda o ensejo de aproveitar todas as potencialidades que o cinema oferecia para uma soberba reconstituição da época, não como cenário decorativo onde se inscreve uma acção, mas como elemento (fundamentalmente integrante, componente imprescindível de expressividade no contexto global de filme.
Um dos temas caros a toda a obra de Milos Forman, e que vem já da sua época checoslovaca. dos tempos de “Os Amores de Uma Loura”. de “Cerny Petr”, de “O Baile dos Bombeiros”. e que se irá desenvolver em “Taking Off”, “Voando Sobre Um Ninho de Cucos”, “Hair” ou “Ragtime”, os seus títulos americanos, é precisamente o confronto entre o rebelde e a sociedade do seu tempo, que. não o podendo, não o querendo, ou não o sabendo assimilar, o destrói. “Voando Sobre Um Ninho de Cucos” é, neste particular exemplar, tal como o passará a ser igualmente, a partir de agora, “Amadeus”, ainda com maiores razões, se possível, dado que se trata de uma obra mais complexa e rica. 

Para a sua adaptação ao cinema, Milos Forman e Peter Shaffer encontraram soluções admiráveis para tornar mais explícitos certos aspectos da obra teatral. A escolha de um padre para assistir à confissão de Salieri é uma delas. O filme inicia-se por uma tentativa de suicídio de Salieri, já velho e atormentado pelos remorsos de ter destruído Mozart.
“Perdoa-me, Mozart, perdoa ao teu assassino!” é o grito que se percebe por detrás de uma porta fechada, onde agoniza o velho músico da corte de Viena. Conduzido a um manicómio, aí receberá a visita de um padre que irá escutar a sua confissão, numa altura em que não existiam ainda os psiquiatras, e que Irá funcionar como uma consulta desse tipo. Salieri revela a esse jovem padre todo o drama que transporta consigo desde o tempo em que Mozart irrompeu pela corte de Viena e pôs em causa o seu prestígio, o valor da sua música e, sobretudo, a sua auto-confiança. Porque, para lá de tudo o mais, Salieri “sabe” que Mozart é o grande músico, o talento, que ele nunca conseguiu, nem conseguirá vir a ser. A forma como este toca de ouvido a composição que Salieri criara para saudar a sua chegada, e logo ali a transforma, e transfigura, num rasgo de génio, para sempre irá perturbar o equilíbrio de Salieri.
Perturbação que se manterá, recalcada no mais íntimo daquele homem puritano e casto, que oferece a Deus a sua vida, a troco de uma dádiva de génio que nunca recebeu, e descobre estampada no rosto daquele miúdo, irreverente e impudico, que surpreende enrolado debaixo das saias de uma qualquer cortesã. Salieri sabe que Deus o abandonou e revolta-se contra a divindade que assim procede, numa cena que marcará toda a obra. A partir daí Salieri idealiza um assassínio premeditado à distância, com uma transferência de talento que se concretiza à beira da morte de Mozart, quando este lhe vai ditando as notas que irão compor o “Requiem” que acompanhará o seu enterro. Salieri junto ã sua cama assiste fascinado à criação de um génio. E nós, espectadores eleitos deste acto sublime, descobrimos como se constrói, nota a nota, uma obra musical, numa autêntica lição de música. Empolgante e admirável. 

Como empolgante e admirável é todo este filme marcado por rasgos de génio, onde Milos Forman atinge um dos momentos mais altos da sua carreira. Dois actores, inspirados e rigorosos no seu trabalho, oferecem o corpo a Amadeus e Salieri: Tom Hulce e F. Murray Abraham. O primeiro é um Mozart turbulento e louco, infantil e inocente, desbocado e brejeiro, tocado pela graça divina e transbordante de energia e de criatividade até ao último momento de vida. O outro é o frio e ressequido Salieri, escondendo, atrás de uma máscara seca e austera, todo o turbilhão de sentimentos contraditórios que o invade.
Notável é a banda sonora, com um aproveitamento original e quase didáctico da música de Mozart para, através dela, melhor se servirem as intenções do filme. Não só a cena derradeira da escrita do “Requiem” é fabulosamenle bem conseguida, como o são igualmente todas as outras onde surgem excertos de obras musicais de Mozart. Brilhante é ainda a fotografia de Miroslav Ondricek, funcionando como precioso auxiliar da arte do decorador e do cineasta, para reconstruir um tempo e uma época. Um filme empolgante. Uma obra-prima. 

AMADEUS

Título original: Amadeus
Realização: Milos Forman (EUA, 1984); Argumento: Peter Shaffer, segundo obra teatral homónima de sua autoria; Produção: Michael Hausman, Bertil Ohlsson, Saul Zaentz; Música: Wolfgang Amadeus Mozart (excertos); Fotografia (cor): Miroslav Ondrícek; Montagem: Michael Chandler, Nena Danevic, T.M. Christopher (montagem de 2002: “director's cut”); Casting: Maggie Cartier, Mary Goldberg; Design de produção: Patrizia von Brandenstein; Direcção artística: Karel Cerný; Guarda-roupa: Theodor Pistek, Christian Thuri; Maquilhagem: Paul LeBlanc, Jiri Simon, Dick Smith; Direcção de Produção: James Fee, Ronald Jacobs, Václav Rouha; Assistentes de realização: Michael Hausman, Jan Kubista, Petr Makovicka, Tommaso Mottola, Jan Schmidt, Tomás Tintera, Mirek Lux; Francesco Chianese, Karel Koci, Michael Ross, Josef Svoboda; Som: Tomas Cervenka, Jan Friedrich, Vivien Hillgrove Gilliam, John Nutt, B.J. Sears, Milan Sodomka, Ivo Spalj; Efeitos especiais: Bill Cohen, Ian Corbould, Neil Corbould, Paul Corbould, Gordon Coxon, Steve Crawley, Ricky Farns, Dave Garrett, Martin Gutteridge, Jimmy Harris, Garth Inns, Kevin Mathews, Kevin Mathews, Brian Smithies; Efeitos visuais: Thomas Baker; Companhias de produção: The Saul Zaentz Company; Intérpretes: F. Murray Abraham (Antonio Salieri), Tom Hulce (Wolfgang Amadeus Mozart), Elizabeth Berridge (Constanze Mozart), Simon Callow (Emanuel Schikaneder / Papageno), Roy Dotrice (Leopold Mozart), Christine Ebersole (Katerina Cavalieri / Constanza), Jeffrey Jones (Imperador Joseph II), Charles Kay (Conde Orsini-Rosenberg), Kenny Baker, Lisabeth Bartlett, Barbara Bryne, Martin Cavina, Roderick Cook, Milan Demjanenko, Peter DiGesu, Richard Frank, Patrick Hines, Nicholas Kepros, Philip Lenkowsky, Herman Meckler, Jonathan Moore, Cynthia Nixon, Brian Pettifer, Vincent Schiavelli, Douglas Seale, Miroslav Sekera, John Strauss, Karl-Heinz Teuber, Miro Grisa, Helena Cihelnikova, Karel Gult, Zuzana Kadlecova, Magda Celakovska, Slavena Drasilova, Eva Senková, Leos Kratochvil, Gino Zeman, Janoslav Mikulín, Ladislav Krecmer, Karel Fiala, Jan Blazek, Zdenek Jelen, Milada Cechalova, etc. Duração: 160 minutos (180, “director’s cut); Distribuição em Portugal: Filmes Castello Lopes; Classificação etária: M/ 12 anos; Estreia em Portugal: 21 de Fevereiro de 1985.

quarta-feira, agosto 31, 2011

MEDIDAS CONTRA A CRISE

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CONTABILISTAS CONTRA A CRISE
Um casal de contabilistas bancários chega ao consultório de um médico terapeuta sexual.
- O que posso fazer por vocês? Pergunta o médico.
O homem responde:
- Doutor, o senhor poderia observar-nos enquanto fazemos sexo? 
O médico fica um pouco espantado, mas concorda...
Quando a sessão de sexo termina, o médico diz:
- Não há nada de errado na maneira como vocês fazem sexo...
E, cobra €70,00 pela consulta.

Isto repete-se por várias semanas!
O casal marca horário, faz sexo sem nenhum problema, paga ao médico e deixa
o consultório.

Finalmente o médico, resolve perguntar:
- Mas o que é que vocês estão a tentar descobrir?
Responde o homem:
- Nada de especial doutor. É que ela é casada e eu não posso ir à casa dela.Eu também sou casado e ela não pode ir até minha casa. No Hotel Vila Galé, um quarto custa €140,00. No Hotel Ibis custa €100,00. Aqui pago €70,00, com acompanhamento médico, direito a atestado para faltar ao trabalho, sou reembolsado em €42,00 pelo SAMS e ainda consigo uma dedução de €19,20 no IRS.  
Tudo calculado o custo é de 8,80 €.

terça-feira, agosto 30, 2011

FUTEBOL: QUESTÕES CLUBISTICAS

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O SPORTING ESTÁ DE VOLTA?
Em relação a jogadores, treinadores, direcções, árbitros, a chamada pré-época é precisamente para isso: para preparar a época. Durante a pré-época pode desculpar-se tudo. Quando a época começa, ainda se pode dar o desconto de um jogo ou outro menos bem conseguido. Mas chega uma altura em que é preciso dizer basta!
Acontece com o Sporting Clube de Portugal, o meu clube desde que me conheço e aquele por que regularmente sofro.
O jogo de domingo impõe algumas perguntas, que se orientam para vários destinatários. Vamos a elas:
- O que leva o SCP a marcar um jogo difícil da Liga para um domingo quando jogou para a Europa na quinta-feira? O Braga e o Nacional jogaram na mesma quinta-feira e só voltam a jogar na segunda; o Benfica jogou na quarta e só volta a jogar na segunda. O Porto jogou na sexta e viu o seu jogo da Liga adiado. O SCP e o Guimarães jogaram na quinta e voltaram a campo no domingo e ambos levaram, em casa, 3 golos e averbaram respectivas derrotas. O SCP não tem dirigentes que zelem pelos seus interesses? Não tem estatuto para se impor como o fizeram Braga, Benfica e Porto?
- A arbitragem nos jogos do SCP só é razoável com árbitros dos distritais. A pandilha profissional é o que se vê: golos mal anulados e penaltis por marcar. Não me venham dizer que é mera coincidência. Tanta asneira junta não é coincidência. O que é então?
Um dirigente do Sporting critica a arbitragem e as virgens ofendidas decretam greve. Todos os outros dirigentes multiplicam-se em críticas e nada lhes acontece. Nem uma virgem se sente maculada. Não há ninguém que ponha cobro a esta vergonhosa dualidade de critérios? No futebol não há justiça?
- O Sporting em 3 jogos perdeu 7 pontos. Se não fossem os árbitros poderia ter perdido apenas 2. Sim, o futebol praticado pelo Sporting não é bom. Os 16 novos  reforços até agora não trouxeram nada nem de novo, nem de reforço. Aceito que precisam de tempo para se ambientarem. Talvez o mesmo tempo que Coentrão levou a adaptar-se ao Real Madrid, para só dar um exemplo português. Mas no Sporting tudo é diferente, para tudo voltar a ser igual. Compraram pinheiros encorpados para a defesa, mas estes não conseguem dar meia volta, no caso do americano, ou vêm tocados pelo míldio. São ainda Polga e Carriço os melhores da companhia, depois de muitas experiências malogradas. Mas os golos continuam a entrar por alto, como antigamente.
- Um jogador do Sporting remata e, logo a seguir, vai para o balneário a torcer-se com dores. O que se passa? Não serão muitos os casos clínicos para uma equipa que fez sete jogos a sério? Não serão demasiados os jogadores vindos de fora a precisarem de cuidados médicos? Por que será que alguns grandes clubes vendem certos jogadores a preços módicos? Era bom saber o que se passa, pois as coincidências são muitas também aqui.
- A equipa de futebol do Sporting precisa urgentemente de aconselhamento psicológico. Não basta dizer, antes da época começar, que vai ser campeã, quando à terceira jornada já deixou pelo caminho todas as hipóteses de o ser. Teve, na apresentação aos sócios, uma casa cheia para ver o Valência marcar 3 e tudo leva a crer que, a partir de agora, só os masoquistas do costume voltem a Alvalade. O Sporting joga mal, tem os árbitros como inimigos especiais, e a pouca sorte como companheira semanal. O Sporting voltou sim, para atirar ao poste e falhar golos de baliza aberta. A crise de confiança é total, a perca de bolas uma constante, os passes transviados o pão-nosso de cada jornada.
- O Sporting não tem Messis nem Ronaldos, mas tem alguns bons jogadores que ficaram e alguns novos que prometem. Mas falta organização à equipa, falta estofo de vencedores, falta a fibra de lutar contar a sorte e contra os árbitros, falta uma “equipa”. Assim, arrisca-se a lutar com o Vitória de Guimarães contra a descida de divisão.
Eu, que sou um sportinguista sofredor e dos sete costados, não exijo um Sporting campeão. Exijo apenas um Sporting que lute de igual para igual, que pratique bom futebol e que não humilhe os seus sócios e simpatizantes sempre que sobe a um relvado. E que não seja humilhado por árbitros sem categoria. Não é exigir muito. Apenas o razoável.

sexta-feira, agosto 26, 2011

TEATRO: O PRISIONEIRO DA SEGUNDA AVENIDA


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O PRISIONEIRO DA SEGUNDA AVENIDA 
ESTREOU EM CAMPOLIDE

E pronto. Aconteceu. Estrearam. Obviamente que estive na estreia, e gostei. Podem dizer: pudera, a mulher traduz, o filho encena, a nora interpreta e ainda andam por lá amigos. Pois é verdade, mas acho que consigo ser imparcial.
Não tinha visto nada até à estreia. Conhecia Neil Simon, com ele me estreei eu no teatro, como assistente de encenação do saudoso Artur Ramos, numa peça chamada “A Guerra do Espanador” (The Odd Couple), com um elenco de luxo, Raul Solnado, Armando Cortez, Barroso Lopes, e alguns mais. Neil Simon é um dramaturgo excelente, misturando humor, crítica social, dramatismo, e sabendo muito bem, sobretudo, penetrar na alma humana. É um bom retratista da América, e isso mesmo se pode ver nesta comédia amarga que se estreou no Sport Lisboa e Campolide, “O Prisioneiro da Segunda Avenida”. Onde se fala de crise nos EUA, de desemprego e de desespero, de corrupção e gatunagem, e daquelas coisas todas do costume que normalmente acompanham as crises, depois de as provocarem. A peça é de 1971, o que prova que as crises existem há muito (mas algumas são mais profundas que outras) e deu um filme quatro anos depois, relativamente interessante, assinado por Melvin Frank, com excelentes desempenhos de Jack Lemmon e Anne Bancroft. Lembro-me que se estreou no desaparecido Berna, e que o fui ver na estreia, ainda como crítico de cinema diário, na companhia do meu pai. Acho que foi a última vez que fui ao cinema sozinho com o meu pai. Ficou registada a efeméride.
Agora, a peça estreia, com muito boa tradução de Maria Eduarda Colares, e uma inventiva encenação. Mas convém contextualizar: Sport Lisboa e Campolide não tem uma sala de teatro, tem um ginásio com piso de cimento, onde a marcha do bairro ensaia. O Frederico andou por lá a fazer um filme sobre a marcha deste ano e afeiçoou-se ao bairro e às pessoas. O inverso também parece ter acontecido e lá veio a ideia de transformar o ginásio num palco, com cadeiras a circular a cena e a casa de Mel e Edna a ser invadida diariamente por oitenta turistas que pagam 5 euros para ver as desgraças do casal em momento de crise. Ele foi despedido, não sabe como o dizer à mulher, e entra em depressão. Com 51 anos, não consegue emprego (pelo ordenado que lhe pagavam arranjam 2 de 25 a quem pagam metade) e acaba por ser Edna a ir ao combate e arranjar emprego, onde tem a mesma desdita e entra em depressão. Mas nem tudo acaba mal, descansem.
A companhia não teve um tuste de subsídio, arranjou-se com a prata da casa e a prata da casa dos amigos, improvisou sistemas cénicos, pintou o chão, limpou varreu e depois de duas semanas de intensos ensaios, estreou. Temia o pior. Puro amadorismo amarrado por cordas e boa vontade. Nada disso. Não é seguramente um espectáculo genial, mas é obra recomendável e afaga o ego de quem a ele se entregou de alma e coração (não tinham mesmo mais nada para entregar, que por ali, logo se vê, são todos pindéricos). Mas também há talento. E muito. Isso descobre-se à primeira vista, mesmo por baixo das imperfeições.
A encenação e a forma de resolver o espaço disponível, da responsabilidade de Frederico Corado, é muito meritória, tem coisas muito boas, vê-se que com outros meios, outro galo cantaria. Mas este já acorda de madrugada com um bom som.
Paulo César, que conhecia, sobretudo, da revista, aguenta bem a composição de Mel, Nuanceado, podia, aqui e ali, ser um pouco mais comedido (nomeadamente no início do segundo acto), mas globalmente resulta bem. Cátia Garcia, a Edna, consegue disfarçar a sua juventude para este papel e tem bonitos momentos de entrega e de interioridade. Carlos Martins tem ainda um pequeno trabalho.
Com tão poucos meios e tão rudimentares, pode dizer-se que “O Prisioneiro da Segunda Avenida” ultrapassa em muito as expectativas e aí está a desafiar uma visita. Vai ver que se sente bem, sentado no interior da sala de estar de Mel e Edna, a saborear com humor e alguma amargura os dramas e os banhos de água fria deste casal que depositou grandes esperanças na “american way of life” e… ficou um pouco baralhado com o resultado. Mas talvez o campo de férias resulte e se safem. Como a companhia. Boa sorte para todos.
 Para mais informações veja no FB em “O Prisioneiro da Segunda Avenida”.

sábado, agosto 20, 2011

TEATRO: O PRISIONEIRO DA SEGUNDA AVENIDA


O PRISIONEIRO DA SEGUNDA AVENIDA 
EM CAMPOLIDE

Dia 25 deste mês de Agosto estreia a peça “O Prisioneiro da Segunda Avenida”, do dramaturgo norte americano Neil Simon. Comédia crítica sobre a vida americana e a crise (esta nos anos 70, muito amena em relação à actual, mas ainda assim muito difícil para muita gente), este é um texto subtil e mordaz, entre o humor e o drama, que deu em cinema (1975) um filme muito interessante, assinado por Melvin Frank, com excelentes desempenhos de Jack Lemmon e Anne Bancroft.
A tradução de  "The Prioner of Second Avenue" é da Maria Eduarda Colares, a encenação é do Frederico Corado, a interpretação do Paulo César, Cátia Garcia e Carlos Martins.
O espectáculo vai subir a cena no Sport Lisboa e Campolide, de 5ª a Domingo, de 25 Agosto a 4 de Setembro,com entradas a um preço único de 5€. (Reservas para 93 962 9012). 
Eu não vi nada, e devo advertir desde já que a minha família anda metida nisto até aos cabelos.  Mas esta montagem é feita sem um tostão de subsídio de qualquer espécie, é coisa de carolas que amam o teatro, e isso merece-me todo o carinho. Por isso, aqui fica o aviso: O Prisioneiro da Segunda Avenida está a partir de 25 em Campolide.

Neil Simon e o cartaz da versão hollyoodesca

MORREU RAUL RUIZ

Raul Ruiz era chileno e gostava de Portugal. Trabalhou várias vezes no nosso país e deu-nos, a fechar, esses magnificos "Mistérios de Lisboa". Morreu agora, com 70 anos e uma vasta filmografia, cheia de belos filmes.
Aqui fica a minha homenagem.
Na foto: Raul Ruiz com o produtor Paulo Branco, durante a rodagem de "Os Mistérios de Lisboa". Contava realizar a seguir "As Linhas de Torres". Já não será ele, infelizmente, a assinar a obra.

terça-feira, julho 26, 2011

FESTIVAL DE AVANCA, 2011

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 DEBATE SOBRE CINEMA E CENSURA
Leonor Areal, CIMJ, Centro de Estudos Media e Jornalismo, Universidade Nova de Lisboa  (“A Censura no Cinema Português: um estudo caso - Manuel Guimarães”), Ana Bela Morais, Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (“A censura ao corpo nos primeiros anos do governo de Marcello Caetano”), Lauro António, que moderou a sessão, Paulo Cunha, CEIS20, Universidade de Coimbra, ("Uma Censura depois da extinção da Censura: o caso dos filmes eróticos e pornográficos (1974-76)").