quinta-feira, março 29, 2012

TEATRO: DANÇA DE RODA


DANÇA DE RODA
Arthur Schnitzler, austríaco (Viena, 15 de Maio de 1862 — Viena, 21 de Outubro de 1931), médico, poeta e dramaturgo, é um dos mais importantes autores de finais do século XIX, inícios do século XX, da Europa Central, sobretudo no que ao teatro diz respeito. Filho de Johann Schnitzler, de origem judaica, respeitado médico e director do hospital “Allgemeine Poliklinik”, completou igualmente o curso de medicina, colaborou na revista médica “Allgemeine Klinische Rundschau” e interessou-se desde muito cedo pela psicologia e psiquiatria, fez experiências de hipnose e a sugestão como técnicas terapêuticas. Foi médico no Hospital “Wiener Allgemeines Krankenhaus” e, mais tarde, assistente do seu pai no hospital “Poliklinik”. Em 1893, abriu uma clínica privada, mas começou a dedicar-se cada vez mais à sua absorvente actividade literária, que tinha iniciado aos 18 anos, com a publicação de “A Canção de Amor da Bailarina”.
A sua relação com Sigmund Freud, que se limitou a cartas, muitas das quais desaparecidas, sublinhou a sua importância enquanto autor moderno, explorando 
o “monólogo íntimo”, desvendando o secreto subconsciente dos seus protagonistas. Teve por isso bastantes problemas com as autoridades civis e militares, sendo acusado de “pornografia” nalgumas das suas criações, nomeadamente em “Der Reigen” (Dança de Roda) que provocaria escândalo e alvoroço, sendo censurado.
Mas a similitude de percursos de Schnitzler e Freud é flagrante, ainda que cada um deles tenha as suas próprias vias de aproximação à psicanálise. As semelhanças são indiscutíveis. Ambos viveram, cada um ao seu modo, intensamente a psicanálise. Numa carta endereçada a Schnitzler, de Maio de 1922, Sigmund Freud fazia curiosas considerações sobre a obra do escritor e confessava ter evitado, durante muito tempo, ser-lhe apresentado, pois, ao ler os seus textos, acreditava que tratava-se de seu “duplo”. Alguém que, como ele, era “explorador das profundezas” e que mostrava “as verdades do inconsciente”. Freud escreveu textualmente: “Sempre que me deixo absorver profundamente pelas suas belas criações, parece-me encontrar, sob a superfície poética, as mesmas suposições antecipadas, os interesses e conclusões que reconheço como meus próprios. Ficou-me a impressão de que o senhor sabe por intuição – realmente, a partir de uma fina auto-observação – tudo que tenho descoberto noutras pessoas por meio de laborioso trabalho.”
“Dança de Roda” é uma obra de 1903, que a companhia do Teatro Municipal de Almada encenou com brilho, num trabalho de Rodrigo Francisco, colaborador de longa data de Joaquim Benite, que aqui comprova ter não só aprendido bem a lição, como ainda demonstra sensibilidade e inventiva para uma carreira a seguir com muita atenção. 
A peça é um delicioso exercício cénico, inteligente e sagaz de um ponto de vista crítico. “Dança de Roda” é uma dança em dez quadros, em que cada par vai evoluindo numa ligação sem falhas. A prostituta fala com o soldado, este passa à cena seguinte onde troca galanteios com a criada de quarto que, por sua vez se deixa seduzir pelo jovem senhor na cena 3. Jovem senhor que desvia do bom caminho uma jovem senhora, que depois mostra o seu dia a dia com o marido, que por seu turno se envolve com a doce burguesinha, sendo que esta arrebata o poeta na cena 7, para a seguir o poeta se envolver com a actriz, esta com o conde e finalmente o Conde reencontrar a prostituta da cena 1, no final. Fechado o cerco, o que sai desta girândola muito sensual, onde a libido explode sob os mais diversos pretextos, mostrando os alicerces de uma moral preconceituosa, mas sempre transgressora. Estamos no centro da Europa de inícios do século XX, frívola e efervescente, preparando os loucos anos 20 de uma euforia contagiosa, mas também perigosa. Daí a pouco, surgirão as ditaduras ferozes por todo o continente, para porem em ordem a dita instabilidade social e política, dando como justificação para a repressão a imoralidade e os excessos. Estes acontecimentos são cíclicos e a recuperação de uma obra como esta, neste momento, não deixa de ser criteriosa.
A encenação é cuidada, imaginosa, inteligente, irónica, fluida como convém a uma dança de roda, servida por cenários simples, mas eficazes e plasticamente muito bonitos, com um iluminação e uma sonoplastia que servem habilmente o conjunto. Depois temos uma interpretação globalmente muito conseguida, com um elenco quase todo muito jovem, onde sobressai um conjunto de actrizes que não me arrisco em classificar como uma geração de luxo que se apresenta para ganhar o futuro. Ana Cris, Catarina Campos Costa, Joana Francampos, Joana Hilário e Vera Barreto, cada uma na sua composição, cuidada, sensual, explosiva de talento e personalidade, mostram que o teatro em Portugal está bem servido para os tempos que se aproximam. Quase todas saídas do Conservatório e a rondar os vinte anos, são uma aposta ganha que vale a pena saudar. Certo que a direcção de actores é cuidada e extrai de cada actor o melhor que pode dar, mas sente-se neste grupo de actrizes uma galvanizante generosidade e entrega, sublinhadas por personalidades fortes e presenças marcantes. Um luxo para os espectadores que ainda podem ver André Gomes, Bartolomeu Pães, João Farraia, Miguel Martins e Pedro Walter dar uma boa réplica a este gineceu dramático que promete levar tudo à sua frente, assim lhe sejam dadas oportunidades.
Um belíssimo espectáculo, exigente e popular, que merece bem (ou melhor dizendo: exige) a presença dos espectadores. Quem gosta de teatro não sai defraudado e quem desconhece o teatro, aprenderá a amá-lo. Que melhor se pode dizer?
Dança de roda, de Arthur Schnitzler; Encenação: de Rodrigo Francisco; Tradução: José Palma Caetano; Luz e som: Guilherme Frazão; Cenário e figurinos: Ana Paula Rocha; Movimento: Jean Paul Bucchieri; Caracterização: Sano de Perpessac; Intérpretes: Ana Cris, André Gomes, Bartolomeu Pães, Catarina Campos Costa, João Farraia, Joana Francampos, Joana Hilário, Miguel Martins, Pedro Walter e Vera Barreto.
De 15 de Março a 1 de Abril, no Teatro Municipal de Almada; Sala Principal; M/12 anos; Horário: Quarta a Sábado: 21h30 Terça e Domingo: 16h00; Duração: 1h20.

terça-feira, março 27, 2012

TEATRO TODOS OS DIAS



Não é só no Dia Mundial do Teatro que se deve ir ao Teatro. O ideal é ir sempre que possível. Todas as semanas retirar uma noite para ir ao Teatro, não seria mau. Ouvir o texto, perceber a encenação, ver os actores, admirar os cenários, escutar os sons, deixar-se tocar pelas luzes, olhar para a sala, as diferentes salas onde tudo acontece, sentir a liturgia do acto na comunhão com o vizinho do lado, que está frente à mesma realidade que nós e, todavia, a interpreta de maneira só sua. Esse o fascínio do Teatro, estarmos ali a ver algo de irrepetível. Sim, as sessões repetem-se, noite após noite e, no entanto, nada é igual.  Seja porque o público é diferente, seja porque os protagonistas, sendo os mesmos, são-no de forma diferente. A magia do Teatro vem daí, desse acto único. Algo que vem, porém, desde que o Homem é Homem, porque desde sempre o Homem representou a sua própria peça no grande palco do mundo. Depois os gregos captaram a peça e reproduziram-na em auditórios para plateias mais convencionais. Mas a peça, essa continua a ser a mesma, o Homem a tentar libertar-se do que lhe tolhe os movimentos, o Homem a procurar ser Homem de corpo inteiro. Essa a lição do Teatro, no Dia Mundial do Teatro, em todos os dias da nossa vida. Por isso se deve ir ao Teatro, para nos olharmos ao espelho. Ver as misérias e as grandezas. Ouvir aqueles que dão voz à nossa voz. No Teatro. 

(Na imagem, Anna Magnani, em "La Carrosee d'Or", de Jean Rennoir)

sábado, março 17, 2012

"NOVAS" DO CINE ECO


CINE ECO: ZERO EM COMPORTAMENTO
Segundo a "Porta da Estrela", o Cine Eco tem "novidades". Vejamos então a revolução operada pelo município, que considerava importante "refrescar" a orientação. Depois do Indie e da "revolução" com os resultados que se viram, eis "a nova fórmula". Enfim, os actos fcam com quem os pratica e com quem os apara.

Câmara de Seia avança «novo modelo de organização» do CineEco


Sensivelmente um ano após ter anunciado mudanças no CineEco, substituindo o cineasta Lauro António pela Associação Cultural Zero em Comportamento, organizadora do IndieLisboa, o Município de Seia comunica agora que vai avançar com um «novo modelo de organização» do CineEco - Festival Internacional de Cinema Ambiental, que este ano se vai realizar de 6 a 13 de Outubro.
A autarquia presidida por Carlos Filipe Camelo refere, em comunicado, que «mantém o Festival mais emblemático na agenda cultural do concelho, reduzindo, substancialmente, os custos de organização». Nesse sentido, na sequência do desafio lançado pelo autarca, os serviços do Município, «aproveitando a experiência adquirida ao longo dos anos e os recursos disponíveis», elaborou uma proposta de organização, que este ano vai ser posta em prática.
A direcção do CineEco será assumida por Mário Jorge Branquinho, responsável pela Casa Municipal da Cultura de Seia, e pelo advogado e professor Carlos Teófilo, que desde a primeira edição, em 1995, estão ligados à organização. A programação será da responsabilidade de José Vieira Mendes, jornalista, crítico de cinema e programador, uma figura que desde o ano passado conhece os meandros do certame por ter feito parte do júri.
«O Festival continuará a assentar a sua base na vertente de filmes de ambiente, no seu sentido mais lato, embora este ano se procure acentuar uma tónica nas temáticas natureza, cultura, viagens e turismo, às quais estão intimamente ligadas a cidade de Seia e a região da Serra da Estrela», refere o comunicado.

Aproximar cada vez mais o evento da comunidade

Com o objectivo de aproximar cada vez mais o evento da comunidade, «sem descurar a componente de promoção nacional e internacional», a organização prepara-se para, ainda este mês, dar início às actividades do Festival, sob o lema "CineEco todo o ano".
Das várias iniciativas previstas, é destacada a realização de sessões nas escolas, nas freguesias e na Casa da Cultura, ao longo do ano, assim como a realização de masterclasses, com o cineasta e professor Pedro Sena Nunes, direccionadas para a temática do documentário, numa vertente prática. Está ainda prevista a implementação de um programa designado “todas as carrinhas vão dar ao CineEco”, que assentará na colaboração de várias instituições do concelho que possuem viaturas de transporte, para mobilização de públicos para as sessões de cinema.

Voluntários na organização

O CineEco, para além dos filmes a concurso, «cujas inscrições estarão abertas dentro de poucos dias», contará com várias secções direccionadas a diversos públicos e sensibilidades, além de um conjunto de actividades paralelas, onde se incluem concertos, exposições, workshops, entre outras. Outra das novidades, será a abertura de inscrições para a participação de voluntários na organização do Festival, uma semana antes e durante todo o CineEco. Será ainda lançado o desafio às pessoas da região para que apresentem trabalhos candidatos ao “Prémio da Região” e o desafio a “críticos de cinema por um dia”.
«Reestruturar a ligação às entidades que recebem Extensões do Festival, por todo o país, e estreitar parcerias com festivais internacionais de temática ambiental», são também apostas que fazem parte do projecto do «“novo” CineEco», salienta a organização.
O CineEco vai ser como ponto central o Centro de Interpretação da Serra da Estrela (CISE) e a Casa Municipal da Cultura,

segunda-feira, março 12, 2012

FLORBELA



NOTAS PESSOAIS SOBRE DUAS "FLORBELAS"

Em 1979, quando andava ainda à procura de locais para filmagem de sequências para o meu filme “Manhã Submersa”, encontrei num alfarrabista um pequeno opúsculo com a vida de Florbela Espanca, escritora de uma obra que já tinha lido parcialmente, mas cuja vida, carregada de peripécias e de um significado muito especial, me fascinou sobremaneira. Nessa altura julgava que fazer cinema em Portugal poderia ser difícil, mas ainda assim possível. Enquanto organizava a pré-produção da “Manhã Submersa” resolvi ler tudo quanto havia sobre Florbela, e visitar, com o meu então assistente de realização, Mário Damas Nunes, os locais por onde passou Florbela Espanca. Passamos por Vila Viçosa, Évora e Matosinhos, para lá de vários locais de Lisboa e, inclusivé, uma localidade no Algarve. Compilei elementos, falei com familiares e amigos, descobri histórias que nunca tinham sido contadas. Um velho barbeiro de Vila Viçosa contou-me que, ainda miúdo, ele e Florbela, juntos com outros jovens, costumavam brincar perto do cemitério local e que, já sedutora e apreciadora de flores, Florbela o levava a saltar o muro do cemitério, e ir buscar flores que depois ofertava à bela futura poetisa.
Depois foram os tempos de rodagem de “Manhã Submersa” e tempos depois comecei a escrever um guião para um filme intitulado “Florbela”. Enviado o mesmo a um concurso do IPC, tive um pequeno subsídio para a sua rodagem que, no entanto, não permitiria nunca terminar a obra (o subsídio era de 12.000 contos!). Nunca toquei no subsídio e tentei, por várias formas, arranjar uma co-produção. Nessa altura um produtor e distribuidor, Fernando Fernandes, da Imperial Filmes, procurou, na medida das suas possibilidades, encontrar parceiros estrangeiros para o projecto. Um dia, apareceu-me com uma proposta de um produtor espanhol a quem dera a ler o guião, e que estaria disposto a comparticipar desde que se “fizessem alguns acertos” e o filme fosse sobre uma poetisa ninfomaníaca, e que se introduzissem algumas cenas para condimentar o projecto à sua maneira. Expliquei, delicadamente, que esse não era o propósito do meu projecto e que agradecia muito, mas muito obrigado e até à próxima. Depois apareceu um brasileiro, igualmente interessado, desde que a protagonista fosse uma actriz brasileira. Ainda hoje estou em duvida se fiz bem, mas recusei. Florbela era uma poetisa portuguesa e eu queria uma actriz portuguesa para o papel (na altura tinha pensado em Lia Gama ou Teresa Madruga, e se há coisa que sou é teimoso nas minhas ideias). Mais uma recusa e assim se foi passando o tempo e o subsídio prescreveu. 
Nunca fiz o filme, que pretendia ser um vasto painel sobre a vida de Florbela desde o seu nascimento em Vila Viçosa até à sua morte em Matosinhos. A minha ideia era uma viagem entre o sol alentejano e a sua luz forte de planície em flor, até ao soturno e lúgubre quarto nortenho onde se terá ou não suicidado. No filme ficaria a dúvida que eu próprio tenho (e mantenho). Apeles seria então João Perry, e relembro ainda outros actores com quem gostaria de ter contado nesta aventura, como Rui Mendes, um dos maridos, José Severino, Sinde Filipe, José Nuno Martins, João Maria Tudela, José Wallenstein, Jorge Vale, Ana Zanati, entre outros. Haveria uma curta aparição da Rainha D. Amélia (destinado a Milú ou a Maria Dulce) e D. Carlos (David Silva). E uma das cenas que me tinha apaixonado na altura seria Florbela a passear pela planície alentejana e ouvir um poema seu cantado num acampamento de ciganos (Cidália Moreia a cantar “Amar, Amar, Perdidamente”). Apareceria, igualmente, o encenador Jorge Listopad, que iria interpretar o papel do italiano Guido Batteli. A música seria de Carlos Paredes, com um ou outro excerto da ópera “Traviata”. De resto, o filme estava todo na minha cabeça, local onde se escrevem, filmam e montam os filmes antes de se dar início à primeira take. Depois, é fazer coincidir, o mais aproximadamente que se possa, o que se tem em mente com as possibilidades da realidade, tendo em conta sempre que por vezes a improvisação pode ser boa conselheira, tirando partido de um ou outro ajustamento de última hora.
O filme não se fez. Não houve ajustamento possível à realidade.
Uma das poucas coisas boas que o projecto me trouxe foram algumas conversa com Agustina Bessa Luís, que tinha escrito uma biografia sobre Florbela, e que leu o meu argumento e sobre ele manifestou a sua opinião. Foram conversas muito curiosas, algo divergentes na interpretação, que todavia me aproximaram da escritora, de que sou profundo admirador e amigo incondicional.
Anos depois, retirei do argumento uma peça de teatro que mantenho inédita. Assim creio que se manterá, pois mobilizava um vasto elenco e uma multiplicidade de cenas. 

Correram os anos, e em meados de 2011, recebi um telefonema do Vicente Alves do Ó para interpretar um pequenino papel no seu projecto, já em final de rodagem, “Florbela”. Explicou-me que era uma forma de não esquecer o meu projecto. Achei muito simpático e generoso da sua parte e assim apareci, nas vestes de “visconde”, a fazer um perninha no filme agora em exibição. A simpatia de Vicente Alves do Ó levou-o a convidar-me a subir ao palco do S. Jorge na noite da antestreia, ao lado do elenco e da equipa técnica. Não esqueço a amizade demonstrada e não muito vulgar entre oficiais do mesmo ofício. Acho que os meus camaradas de geração a única coisa que fizeram (alguns deles, os mais influentes) foi dizer entre eles que “esse gajo (eu) nunca mais volta a filmar” e até agora cumpriram a praga. Por isso, soube-me bem este aceno vindo de um jovem que nem sequer me conhecia pessoalmente.
Creio que, apesar disso, posso ter uma opinião serena sobre o filme. Um projecto completamente diferente do meu, mas que julgo muito interessante, filmado com sensibilidade, um certo pendor classicista, romântico e efusivo como se impunha, sensual e misterioso, como deveria ser, confinando-se a um curto período da vida da poetisa, uma época marcada pelo seu casamento com Carlos Lage e a morte do irmão Apeles. Não pretende, pois, ser uma visão da vida e obra de Florbela Espanca, mas apenas um assomo, um sobrevoar sobre momentos furtivos, mas intensos de uma atribulada existência que marcaria gerações de portugueses.
A cuidada reconstituição dos ambientes, a qualidade da fotografia, o colorido, o sentido plástico de (quase) toda a obra fazem deste filme uma aposta ganha e do seu realizador um nome a seguir com todo o interesse. É um cinema de autor que procura público e o merece. Sobretudo ainda porque conta com um elenco magnífico. Dalila Carmo é esplêndida em Florbela Espanca, e a sua interpretação ficará para sempre como referência. Nunca tive dúvidas do seu talento, desde os seus tempos de menina e moça, quando a convidei para membro do júri do Cine Eco. Apenas cumpriu as promessas. Mas Ivo Canelas, em Apeles, Albano Jerónimo, em Mário Lage, António Fonseca, em João Espanca, Rita Loureiro, em Sophia D'Arriaga, Anabela Teixeira, em Júlia Alves, e restantes actores, mostram como estamos bem representados nesta área. O seu trabalho por vezes é brilhante, de eficiência e sobriedade, de segurança e entrega. Sem excessos, sem vedetismos fáceis. Sabe bem ver representar assim. Em português. 
Para o meu gosto, mas como digo, é apenas para o meu gosto, existem apenas duas ou três cenas que acho que descolam um pouco de todo o restante estilo e que maculam um pouco o resultado final. Refiro-me a certas sequências “oníricas”, com folhas de papel a voar ou focos de neve e mãos pelo ar, que julgo tentarem recriar uma “poética” florbeleana e que é o que de mais discutível tem alguma Florbela e este “Florbela”. Mas, mesmo assim, “Florbela” de Vicente Alves do Ó é um belo filme que julgo merecer ser visto por todos. Já é altura do cinema português ter um sucesso comercial que nos prestigie e não nos envergonhe.
Um abraço amigo para o Vicente, do seu (improvisado) “visconde”.

segunda-feira, março 05, 2012

"Vamos ao Nimas" e "Manhã Submersa" dia 13 no Nimas

"Vamos ao Nimas" e "Manhã Submersa" dia 13 no Cinema Nimas, eguido de uma conversa com o realizador

segunda-feira, fevereiro 27, 2012

OSCARS 2012 - OS RESULTADOS

 :
 TRIUNFAM "O ARTISTA"
E "A INVENÇÃO DE HUGO"
Resumindo e concluindo, nada de muito inesperado. 5 estatuetas para “O Artista” e outras 5 para “A Invenção de Hugo”, mas com a ressalva de o primeiro ter arrecadado três das mais cobiçadas estatuetas. Depois, e tal como se previa, distribui-se o bem pelas aldeias. Aqui fica o relatório final.  
(Não é para me gabar mas acertei em quase tudo.)

5 Oscars
O ARTISTA
Melhor filme / Thomas Langmann
Melhor realização / Michel Hazanavicius
Melhor actor / Jean Dujardin
Melhor música original / Ludovic Bource
Melhor guarda-roupa / Mark Bridges

5 Oscars
A INVENÇÃO DE HUGO
Melhor fotografia / Robert Richardson
Melhor direcção artística / Dante Ferretti (Design de produção); Francesca Lo Schiavo (Decoração)
Melhor som / Philip Stockton e Eugene Gearty
Melhor sonoplastia / Tom Fleischman e John Midgley
Melhores efeitos visuais / Rob Legato, Joss Williams, Ben Grossman e Alex Henning

2 Oscars
A DAMA DE FERRO
Melhor actriz / Meryl Streep
Melhor maquilhagem / Mark Coulier and J. Roy Helland

1 Oscar
OS DESCENDENTES
Melhor argumento adaptado / Alexander Payne e Nat Faxon & Jim Rash

1 Oscar
MEIA NOITE EM PARIS
Melhor argumento original / Woody Allen

1 Oscar
ASSIM É O AMOR
Melhor actor num papel secundário / Christopher Plummer

1 Oscar
AS SERVIÇAIS
Melhor actriz num papel secundário / Jessica Chastain

1 Oscar
UMA SEPARAÇÃO
Melhor filme em língua não inglesa/  Irão / Asghar Farhadi

1 Oscar
RANGO
Melhor filme de animação / / Gore Verbinski

1 Oscar
MILLENIUM 1 - OS HOMENS QUE ODEIAM AS MULHERES
Melhor montagem / Kirk Baxter e Angus Wall

1 Oscar
OS MARRETAS
Melhor canção original / "Man or Muppet" /  Música e poema de Bret McKenzie

1 Oscar
UNDEFEATED
Melhor longa-metragem documental / / TJ Martin, Dan Lindsay e Richard Middlemas

1 Oscar
SAVING FACE
Melhor curta-metragem documental / Daniel Junge e Sharmeen Obaid-Chinoy   

1 Oscar
THE FANTASTIC FLYING BOOKS OF MR. MORRIS LESSMORE
Melhor curta-metragem de animação / William Joyce e Brandon Oldenburg

1 Oscar
THE SHORE
Melhor curta-metragem de ficção / Terry George e Oorlagh George

domingo, fevereiro 26, 2012

OSCARS 2012 - PREVISÔES

 :
 OS OSCARS DE 2012

E lá vem o jogo do ano, que tem muito que contar, antecipando o que podem ser os triunfadores de mais uma noite de Oscars. Na lista abaixo publicada, assinalo a verde os que eu gostaria de ver premiados e a vermelho os que penso ganharam. Quando coincidem, prevalece o vermelho. A laranja os hipotéticos, quando os houver. Há categorias de que desconheço todos os nomeados e onde não faço qualquer tipo de prognóstico.  A ver vamos quem ganha no final. Mas não me parece que seja ano para um filme ganhar muitos Oscars. A distribuição pelas aldeias afigura-se-me o mais provável.
Melhor filme
    The Artist / Thomas Langmann
    The Descendants /Jim Burke, Alexander Payne e Jim Taylor
    Extremely Loud & Incredibly Close / Scott Rudin
    The Help / Brunson Green, Chris Columbus e Michael Barnathan
    Hugo / Graham King e Martin Scorsese
    Midnight in Paris / Letty Aronson e Stephen Tenenbaum
    Moneyball / Michael De Luca, Rachael Horovitz e Brad Pitt
    The Tree of Life / produtor a determinar
    War Horse / Steven Spielberg e Kathleen Kennedy

Melhor realização
    The Artist / Michel Hazanavicius
    The Descendants / Alexander Payne
    Hugo / Martin Scorsese
    Midnight in Paris / Woody Allen
    The Tree of Life / Terrence Malick

Melhor argumento adaptado
        The Descendants / Alexander Payne e Nat Faxon & Jim Rash
        Hugo / John Logan
        The Ides of March / George Clooney & Grant Heslov e Beau Willimon
        Moneyball / Steven Zaillian  eAaron Sorkin.  História de Stan Chervin
        Tinker Tailor Soldier Spy / Bridget O'Connor & Peter Straughan

Melhor argumento original
        The Artist / Michel Hazanavicius
        Bridesmaids / Annie Mumolo e Kristen Wiig
        Margin Call / J.C. Chandor
        Midnight in Paris / Woody Allen
        A Separation / Asghar Farhadi

Melhor actor
    Demián Bichir / A Better Life
    George Clooney / The Descendants
    Jean Dujardin / The Artist
    Gary Oldman / Tinker Tailor Soldier Spy
    Brad Pitt / Moneyball

Melhor actriz
    Glenn Close / Albert Nobbs
    Viola Davis / The Help
    Rooney Mara / The Girl with the Dragon Tattoo
    Meryl Streep / The Iron Lady
    Michelle Williams / My Week With Marilyn

Melhor actor num papel secundário
    Kenneth Branagh / My Week With Marilyn
    Jonah Hill / Moneyball
    Nick Nolte / Warrior
    Christopher Plummer / Beginners
    Max von Sydow / Extremely Loud and Incredibly Close

Melhor actriz num papel secundário
    Bérénice Bejo / The Artist
    Jessica Chastain / The Help
    Melissa McCarthy / Bridesmaids
    Janet McTeer / Albert Nobbs
    Octavia Spencer / The Help


Melhor filme em língua não inglesa
    Bélgica, "Bullhead" / Michael R. Roskam
    Canadá, "Monsieur Lazhar" / Philippe Falardeau
    Irão, "A Separation" / Asghar Farhadi
    Israel, "Footnote" / Joseph Cedar
    Polónia, "In Darkness" / Agnieszka Holland

Melhor filme de animação
    A Cat in Paris  / Alain Gagnol e Jean-Loup Felicioli
    Chico & Rita / Fernando Trueba e Javier Mariscal
    Kung Fu Panda 2 / Jennifer Yuh Nelson
    Puss in Boots / Chris Miller
    Rango / Gore Verbinski

Melhor fotografia
    The Artist / Guillaume Schiffman
    The Girl With The Dragon Tattoo / Jeff Cronenweth
    Hugo / Robert Richardson
    The Tree of Life / Emmanuel Lubezki
    War Horse / Janusz Kaminski

Melhor montagem
    The Artist / Anne-Sophie Bion e Michel Hazanavicius
    The Descendants / Kevin Tent
    The Girl with the Dragon Tattoo / Kirk Baxter e Angus Wall
    Hugo / Thelma Schoonmaker
    Moneyball / Christopher Tellefsen

Melhor direcção artística
    The Artist /Laurence Bennett (Design de produção); Robert Gould (Decoração)
    Harry Potter and the Deathly Hallows Part 2 / Stuart Craig (Design de produção); Stephenie McMillan (Decoração)
    Hugo / Dante Ferretti (Design de produção); Francesca Lo Schiavo (Decoração)
    Midnight in Paris / Anne Seibel (Design de produção); Hélène Dubreuil (Decoração)
    War Horse /Rick Carter (Design de produção); Lee Sandales (Decoração)

Melhor guarda-roupa
    Anonymous / Lisy Christl
    The Artist / Mark Bridges
    Hugo / Sandy Powell
    Jane Eyre / Michael O'Connor
    W.E. / Arianne Phillips

Melhor música original
    The Adventures of Tintin / John Williams
    The Artist / Ludovic Bource
    Hugo / Howard Shore
    Tinker Tailor Soldier Spy / Alberto Iglesias
    War Horse / John Williams

Melhor canção original
    "Man or Muppet", de “The Muppets” / Música e poema de Bret McKenzie
    “Real in Rio”, de “Rio” /  Música de Sergio Mendes e Carlinhos Brown; poema de Siedah Garrett

Melhor som
    Drive / Lon Bender e Victor Ray Ennis
    The Girl with the Dragon Tattoo / Ren Klyce
    Hugo / Philip Stockton e Eugene Gearty
    Transformers: Dark of the Moon / Ethan Van der Ryn e Erik Aadahl
    War Horse / Richard Hymns e Gary Rydstrom

Melhor sonoplastia
    The Girl with the Dragon Tattoo / David Parker, Michael Semanick, Ren Klyce e Bo Persson
    Hugo / Tom Fleischman e John Midgley
    Moneyball / Deb Adair, Ron Bochar, Dave Giammarco e Ed Novick
    Transformers: Dark of the Moon / Greg P. Russell, Gary Summers, Jeffrey J. Haboush e Peter J. Devlin
    War Horse / Gary Rydstrom, Andy Nelson, Tom Johnson e Stuart Wilson

Melhor maquilhagem
    Albert Nobbs / Martial Corneville, Lynn Johnston and Matthew W. Mungle
    Harry Potter and the Deathly Hallows Part 2 / Nick Dudman, Amanda Knight and Lisa Tomblin
    The Iron Lady / Mark Coulier and J. Roy Helland

Melhores efeitos visuais
    Harry Potter and the Deathly Hallows Part 2 / Tim Burke, David Vickery, Greg Butler e John Richardson
    Hugo / Rob Legato, Joss Williams, Ben Grossman e Alex Henning
    Real Steel / Erik Nash, John Rosengrant, Dan Taylor e Swen Gillberg
    Rise of the Planet of the Apes / Joe Letteri, Dan Lemmon, R. Christopher White e Daniel Barrett
    Transformers: Dark of the Moon / Dan Glass, Brad Friedman, Douglas Trumbull e Michael Fink

Melhor longa-metragem documental
    Hell and Back Again / Danfung Dennis e Mike Lerner
    If a Tree Falls: A Story of the Earth Liberation Front / Marshall Curry e Sam Cullman
    Paradise Lost 3: Purgatory / Joe Berlinger e Bruce Sinofsky
    Pina / Wim Wenders e Gian-Piero Ringel
    Undefeated / TJ Martin, Dan Lindsay e Richard Middlemas

Melhor curta-metragem documental
    The Barber of Birmingham: Foot Soldier of the Civil Rights Movement / Robin Fryday e Gail Dolgin
    God is the Bigger Elvis / Rebecca Cammisa e Julie Anderson
    Incident in New Baghdad / James Spione
    Saving Face / Daniel Junge e Sharmeen Obaid-Chinoy
    The Tsunami and the Cherry Blossom / Lucy Walker e Kira Carstensen

Melhor curta-metragem de animação
    Dimanche/Sunday / Patrick Doyon
    The Fantastic Flying Books of Mr. Morris Lessmore / William Joyce e Brandon Oldenburg
    La Luna / Enrico Casarosa
    A Morning Stroll / Grant Orchard e Sue Goffe
    Wild Life / Amanda Forbis e Wendy Tilby

Melhor curta-metragem de ficção
    Pentecost / Peter McDonald e Eimear O'Kane
    Raju / Max Zähle e Stefan Gieren
    The Shore / Terry George e Oorlagh George
    Time Freak / Andrew Bowler e Gigi Causey
    Tuba Atlantic / Hallvar Witzø

CINEMA: HUGO

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 A INVENÇÃO DE HUGO  

“A Invenção de Hugo Cabret” ("The Invention of Hugo Cabret"), de Brian Selznick, é um livro magnífico, reunindo de forma muito cinematográfica (ou não fosse o autor da família de David O. Selznick), texto e ilustrações, sobretudo estas lindíssimas, no seu preto e branco depurado. Conta a história de Hugo Cabret, um miúdo que vive escondido nos bastidores dos mecanismos de relojoaria de uma estação de caminhos-de-ferro de Paris, na década de 30 do século passado. Nessa mesma estação existe uma loja de brinquedos e guloseimas, propriedade de um tal senhor George, a quem Hugo vai furtando uns brinquedos e umas ferramentas, para concertar um robot que herdara do pai, relojoeiro e empregado do museu de cinema, que um dia morre num incêndio. O miúdo acha que o pai lhe deixou uma mensagem secreta no interior daquele robot, cuja principal característica é escrever, e que ele salvara da sucata do museu. As peripécias são muitas, até se chegar à conclusão de que o robot tinha sido construído pelo tal senhor George, que não é outro senão George Méliès, um dos pais do cinematógrafo, e o primeiro que intuíra que o cinema era a fábrica de sonhos que hoje povoa o imaginário das plateias de todo o mundo. O livro é uma homenagem a esse pioneiro e um hino de amor ao cinema.
Foi este livro que esteve na base de “Hugo”, filme de Martin Scorsese, que neste momento disputa os Oscars de 2012, referentes a filmes estreados no ano de 2011. Digo desde já que, entre os nomeados para melhor filme, este é o meu favorito. Mas adianto mais. Acho que “A Árvore da Vida”, de Terrence Malick, seria outro dos meus favoritos, mas reconheço que não tem hipóteses nenhumas, dada a sua experimentação e arrojo formal. Também acredito que o triunfador da noite será “O Artista”, apesar de admitir que, sendo um filme simpático e divertido, não passa de uma flute de champanhe, que se esvai com as borbulhas de satisfação que provoca momentaneamente. Curiosamente, sendo “O Artista” e “Hugo” duas homenagens ao cinema, e ao cinema mudo, a obra de Scorsese tem uma densidade e um alcance que a de Michel Hazanavicius nem de perto nem de longe logra. Mas tudo indica que “O Artista” saia triunfante do Oscar de melhor filme e talvez também o de melhor realizador. 
Voltando a “Hugo”, há que referir que se trata de uma belíssima reconstituição não direi histórica mas emotiva de um tempo e de uma certa cinefilia. Como se sabe, Martin Scorsese é não só um grande cineasta, um dos maiores vivos do cinema mundial, como ainda um cinéfilo obstinado que muito tem feito pela divulgação e preservação da história do cinema americano e mundial. A ele se devem séries magníficas sobre a história do cinema e do cinema italiano, como ainda campanhas em defesa do restauro e da conservação dos clássicos da cinematografia mundial. É um bom exemplo neste campo, inclusive produzindo e distribuindo na América e no mundo obras de cineastas que admira.
“Hugo” é apenas um prolongamento desta sua actividade e deste seu sentir. Ama o cinema, e esse amor sente-se em cada imagem de “Hugo”. Um dos aspectos que julgo mais conseguidos desta obra é a forma como ela se integra no espírito do cinema de fantasia e sonho que procura evocar. Ao assistir à projecção do filme, em 3D (indispensável vê-lo em 3D), participamos desse clima de magia e de arrojo técnico que fez (e faz) as delícias de quem conhece a obra de Méliès. Entre o ilusionismo do prestidigitador e a inocência do pioneiro, “Hugo” devolve-nos esse espaço de encantamento, enquanto em simultâneo nos vai conduzindo ao longo de uma pequena lição de história de cinema.
Mas este percurso de “Hugo” cruza-se com um outro, que é igualmente muito interessante e que completa muito bem o anterior. A história de Hugo Cabret e as suas aventuras e desventuras (aventuras desejadas por Hugo e a sua amiga Isabelle, desventuras com a sua condição de órfão, pobre, perseguido, ameaçado com a prisão e o orfanato, etc.) assemelha-se em muito a uma intriga de Charles Dickens, trocando o cenário londrino do século XIX pelo parisiense dos anos 30, com todo o seu pitoresco. Acrescente-se que o tom parisiense é muito bem captado, o que não deixa de ser curioso se cruzado com o “Artista”. O filme de Michel Hazanavicius é uma produção franco-belga, em grande parte filmada na América, e consegue reproduzir muito bem o clima norte-americano, enquanto, pelo contrário, “Hugo”, uma produção americana, parcialmente rodada em Paris, logra igual consistência nessa reconstituição de uma época e de um clima parisiense. Filmes que se cruzam, ambos exaltando a grandiosidade do cinema “mudo”.
De resto, “Hugo” conta com um apurado sentido estético e técnico. Fotografia, direcção artística, guarda-roupa, som, partitura musical são de altíssima qualidade e servem na perfeição as intenções da obra, bem assim como o excelente aproveitamento das 3D, aqui utilizadas não para atirar à cara do espectador efeitos espectaculares, mas para criar uma tridimensionalidade de planos que resulta muito bem. As personagens soltam-se dos cenários, criam espaços entre si, e introduzem alguma novidade neste processo que, até agora, quase só tem servido para “épater le bourgeois”. Na interpretação, Ben Kinglsey é um Méliès brilhante, e Sacha Baron Cohen um inesquecível inspector de polícia. Asa Butterfield não será um Hugo Cabret marcante, mas Chloë Grace Moretz destaca-se na sua composição de Isabelle. De resto, todos os restantes actores conseguem integrar-se bem no tom do projecto, desde Jude Law a Johnny Deep, numa furtiva composição de um músico.
A INVENÇÃO DE HUGO
Título original: Hugo
Realização: Martin Scorsese
(EUA, 2011); Argumento: John Logan, segundo obra de Brian Selznick ("The Invention of Hugo Cabret"); Produção: David Crockett, Barbara De Fina, Christi Dembrowski, Johnny Depp, Tim Headington, Georgia Kacandes, Graham King, Charles Newirth, Martin Scorsese, Emma Tillinger Koskoff; Música: Howard Shore; Fotografia (cor): Robert Richardson; Montagem: Thelma Schoonmaker; Casting: Ellen Lewis; Design de produção: Dante Ferretti; Direcção artística: Alastair Bullock, Dimitri Capuani, Steve Cárter, Stéphane Cressend, Martin Foley, Christian Huband, Stuart Rose, Luca Tranchino, David Warren, Ashley Winter; Decoração: Francesca Lo Schiavo; Guarda-roupa: Sandy Powell; Maquilhagem: Jan Archibald, Ann Buchanan, Nicola Buck, Morag Ross; Direcção de Produção: David Bell, Georgia Kacandes, Angus More Gordon, Scott Rudolph, Donald H. Walker; Assistentes de realização: Mallorie Ballestra-Duquesnoy, Tania Gordon, Richard Graysmark, Robert Legato, Guilhem Malgoire; Departamento de arte: Loïc Chavanon, Stéphane Cressend, Laura Dishington, Dominic Sikking, Delis Valerie; Som: John Midgley, Philip Stockton, Clémence Stoloff; Animação: Ana Maria Alvarado; Efeitos especiais: Jess Lewington, Alistair Williams, Joss Williams; Efeitos visuais: Matt Akey, Anjel Alcaraz, Katrina Barton, Tyler Bennink, Tom Driscoll, Brenda Finster, Trevor Graciano, Danny Huynh, David Ireland, Keith Kolod, Jason Kolowski, Robert Legato, Brendan Llave, Tyler Marino, Erasmo Romero, Jared Sandrew, Jakris Smittant, Julia Smola, Loicia Ware; Companhias de produção: Paramount Pictures, GK Films, Infinitum Nihil; Intérpretes: Ben Kingsley (Georges Méliès), Sacha Baron Cohen (Inspector da estação), Asa Butterfield (Hugo Cabret), Chloë Grace Moretz (Isabelle), Ray Winstone (Tio Claude), Emily Mortimer (Lisette), Christopher Lee (Monsieur Labisse), Helen McCrory (Mama Jeanne), Michael Stuhlbarg (Rene Tabard), Frances de la Tour (Madame Emilie), Richard Griffiths (Monsieur Frick), Jude Law (pai de Hugo), Kevin Eldon (policia), Gulliver McGrath, Shaun Aylward, Emil Lager, Angus Barnett, Edmund Kingsley, Max Wrottesley, Marco Aponte, Ben Addis (Salvador Dali), Robert Gill (James Joyce), Ed Sanders, Terence Frisch, Max Cane, Frank Bourke, Stephen Box, Mihai Arsene, Eric Haldezos, Johnny Depp, Martin Scorsese (fotógrafo), Brian Selznick (estudante), etc. e excertos de filmes de Charles Chaplin, Douglas Fairbanks, Buster Keaton, Harold Lloyd, etc. Duração: 126 minutos; Distribuição em Portugal: Zon Lusomundo Audiovisuais; Classificação etária: M/ 12 anos; Estreia em Portugal: 16 de Fevereiro de 2012.

domingo, fevereiro 19, 2012

TABU E RAFA TRIUNFAM EM BERLIM

Portugal conquista dois prémios no Festival de Cinema de Berlim
"Tabu", de Miguel Gomes, ganha o prémio Alfred Bauer para a Melhor Inovação Artística e "Rafa", de João Salaviza, alcança o Urso de Ouro para a Melhor Curta-Metragem.

O prémio Alfred Bauer, em memória do fundador do Festival de Cinema de Berlim, atribuído a "Tabu", de Miguel Gomes, marca o reaparecimento, ao fim de 12 anos, de uma longa-metragem portuguesa nesta competição berlinense. 
"Tabu" tem como protagonistas Ana Moreira, Carloto Cotta, Teresa Madruga, Laura Soveral, Isabel Cardoso, Henrique Espírito Santo. Recorde-se que ontem "Tabu" conquistara o Prémio da Critica Internacional no mesmo festival.  
Entretanto, "Rafa", de João Salaviza, foi premiado com o Urso de Ouro para a Melhor Curta-Metragem, e conta nos papéis principais com Joana de Verona e Rodrigo Perdigão.
O júri do festival era constituído por oito jurados, presidido pelo realizador inglês Mike Leigh, e intregava a actriz francesa Charlotte Gainsbourg, o cineasta francês François Ozon e o iraniano Asghar Farbadi, de "A Separação".
 
Depois digam mal da cultura e do cinema português. Se temos orgulho nalgumas “coisas” portuguesas, não é seguramente na política e na economia. Mas continuem a cortar no essencial, e a desperdiçar no supérfluo.

terça-feira, fevereiro 14, 2012

SCP

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JÁ NÃO HÁ PACIÊNCIA!
O SCP voltou a enviar para casa mais um treinador. Nada de novo, nada de surpreendente.
Na verdade, desde Paulo Bento que nada corre menos mal ao SCP. Digo menos mal, e não bem, porque nem com Paulo Bento se ganhou o campeonato. Mas jogava-se alguma coisa e ficava-se em segundo, o que, vistas as coisas em perspectiva, não era nada mau.
Depois, veio este turbilhão de treinadores e o maremoto de jogadores que entram e saem, muitos deles quase sem se dar por eles. Muitos até seria melhor não se dar por eles, mas dá-se.
Há muita coisa mal no SCP. Desde há muito tempo. Esta nova direcção terá parecido trazer algum alento, mas foi sol de pouca duração. A paciência não é muita. Nem para um Domingos Paciência que me parece um bom treinador com futuro garantido à sua frente. Mas, já que falamos de Paciência, coloca-se, desde logo, uma questão que me persegue desde a sua vinda para o SCP. Há muita coisa estranha neste mundo da bola. Contratar um treinador que está a treinar uma equipa concorrente para o terceiro lugar, antes de um jogo decisivo entre ambas, como aconteceu no passado final da época? Será lícito? Não andará por aqui um pouco de falta de ética?
Logo a seguir outra questão: contratar um treinador que se sabe ter sido enquanto jogador um símbolo de um clube rival? Não ponho em dúvida a honestidade de Paciência, mas alguém contrataria o Toni ou o Humberto Coelho como treinador do Sporting? Não está e causa nem o prestígio nem a idoneidade de cada um deles. Está em causa algo que se situa um pouco acima desses considerandos – os símbolos são para se respeitar, lá onde devem estar. Ou seja: nos seus clubes predilectos. Acha-se mal que um jogador mude de clube, mas de um treinador já se aceita tudo?
Quanto mais não seja para evitar especulações, como as que já por aí grassam, não me parece boa política. Nem para os clubes, nem para os treinadores. Nem para sócios e adeptos. Claro que falo somente ao nível dos três grandes (onde ainda incluo o meu SCP) dada a rivalidade existente e que é bem acesa.
Sá Pinto é uma boa hipótese? Pode ser que sim ou que não, mas pode ser uma má hipótese com duas contrapartidas: não vingar nos seniores e perder-se o seu trabalho, que se julgo bom, nos juniores.
Que esperar do futuro próximo? Julgo que com um ou outro retoque o SCP tem nesta altura um plantel promissor. Na defesa está o seu calcanhar de Aquiles, com centrais que não convencem. Para mim, e de longe, o melhor central do SCP é o Polga, apesar de uma vez por outra dar as suas fífias. Mas quem as não dá? Só que ao Polga nada se perdoa e as assobiadelas dos sócios em Alvalade fazem regra de ouro. Já o simpático Capitão América pode ser um bom “pinheiro” para caso de força maior, mas a jogar a avançado de centro, nunca como central, onde só acerta por alto, quando acerta. Não vejo qualquer razão para Rodriguez estar no SCP. O recém chegado Xandão deu boas indicações. Acertada a defesa, creio que, no resto, basta ter os jogadores operacionais (outro problema do SCP: por quê tantas lesões?) e colocá-los nos sítios certos. Os resultados virão. Com paciência ou sem Paciência.
Mas há que dar algum tempo ao tempo, dizem. A equipa é jovem e tem de se impor. Mas há outro problema: quando os jovens se começam a impor e a equipa a revelar algum conjunto, lá surgem os agentes e intermediários que os vendem a torto e a direito, como é uso e costume.
A verdade é que o SCP poderia ter uma equipa das melhores do mundo, se tivesse mantido as jóias da coroa. Podia até jogar ao meio dia para poder ser vista na China.

segunda-feira, fevereiro 13, 2012

CINEMA: A DAMA DE FERRO

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 A DAMA DE FERRO  
Nunca fui um entusiasta de Margaret Thatcher, logo não serei alguém muito próximo deste projecto. Mas, curiosamente, e talvez dando razão ao meu afastamento desta primeira-ministra britânica, “The Iron Lady” parece manter algumas curiosas afinidades entre a política desta “dama de ferro” conservadora e o que está a acontecer presentemente na Europa, governada com mão de ferro por outra dama, esta a alemã Merkel – a defesa de uma política de austeridade em nome do equilíbrio das contas públicas, em ambos os casos caindo sobre os mais pobres e a massa trabalhadora o ónus de pagar a conta. Este é, todavia, um aspecto lateral ao filme em questão, uma obra certamente idealizada para servir de veículo ao trabalho de uma actriz, Meryl Streep, com quem a realizadora Phyllida Lloyd já havia trabalhado na sua película de estreia, a divertida “Mamma Mia!”. Posto isto, deve dizer-se que a interpretação de Meryl Streep é excelente, mas também vos devo dizer, em abono da verdade e para ser honesto comigo mesmo, que já a vi muito melhor, em papéis que deram menos nas vistas. Esta é uma composição de encher o olho, muito bem conseguida é certo, mas nem por isso a melhor da carreira desta fulgurante actriz. Mas uma interpretação vistosa, daquelas a que os votantes dos Oscars não costumam resistir.
Se a interpretação é boa, o resto é uma lástima. A estrutura do argumento, estilo salta-pocinhas, agora presente com a senhora perto da morte, velha, doente, alucinada, logo a seguir jovem empregada de mercearia, promissora deputada, leader dos Conservadores ou Primeira Ministra, não convence pelo artificialismo. Esta técnica do flash-back desaustinado não leva a bom porto. A realização é absolutamente nula, a interpretação da figura histórica inexistente, o jogo de ilusão que se estabelece entre Margaret Thatcher e as suas visões de Dennis, o falecido marido, pouco menos que confrangedor, e o resultado final não anda longe da biografia incompleta, descentrada, melodramática e, por tudo isso, insignificante. Pena ver-se esbanjar tanto talento de Streep numa tal empreitada sem alicerces convincentes. Phyllida Lloyd confirma o princípio de Peter: divertida em “Mamma Mia!”, indigesta em “The Iron Lady”.
A DAMA DE FERRO
Título original: The Iron Lady
Realização: Phyllida Lloyd (Inglaterra, França, 2011); Argumento: Abi Morgan; Produção: François Ivernel, Damian Jones, Adam Kulick, Cameron McCracken, Anita Overland, Tessa Ross, Colleen Woodcock; Música: Thomas Newman;  Fotografia (cor): Elliot Davis; Montagem: Justine Wright; Casting: Nina Gold; Design de produção: Simon Elliott; Direcção artística: Bill Crutcher, Nick Dent; Decoração: Annie Gilhooly; Guarda-roupa: Consolata Boyle; Maquilhagem: Marese Langan; Direcção de Produção: Bobby Prince, Michael Solinger, Sarah Wheale; Assistentes de realização: Chris Foggin, Guy Heeley, Charlie Reed; Departamento de arte: Philip Elton; Som: Nigel Stone; Efeitos especiais: Neal Champion; Efeitos visuais: Angela Barson; Companhias de produção: Film4, UK Film Council, Canal+, CinéCinéma, Goldcrest Pictures, DJ Films, Pathé; Intérpretes: Meryl Streep (Margaret Thatcher), Jim Broadbent (Denis Thatcher), Susan Brown (June), Alice da Cunha (Cleaner), Phoebe Waller-Bridge (Susie), Iain Glen (Alfred Roberts), Alexandra Roach (Margaret Thatcher, em jovem), Victoria Bewick (Muriel Roberts), Emma Dewhurst (Beatrice Roberts), Olivia Colman (Carol Thatcher), Harry Lloyd (Denis Thatcher, em jovem), Sylvestra Le Touzel, Michael Culkin, Stephanie Jacob, Robert Portal, Richard Dixon, Amanda Root, Clifford Rose, Michael Cochrane, Jeremy Clyde, Michael Simkins, etc. Duração: 105 minutos; Distribuição em Portugal: PRIS Audiovisuais; Classificação etária: M/ 12 anos; Estreia em Portugal: 9 de Fevereiro de 2012.