sexta-feira, maio 16, 2014

FESTIVAL O CASTELO EM IMAGENS



O CASTELO EM IMAGENS
XII FESTIVAL “O CASTELO EM IMAGENS”
11º CONCURSO NACIONAL ESCOLAR
 Programação prevista

Domingo, dia 18 de Maio de 2014
21,00: Inauguração da Exposição de trabalhos “O Castelo em Imagens” e Cerimónia de Abertura
Espectáculo lírico DUETOS DE OPERA com Carlos Guilherme e Filipa Lopes
Segunda-feira, dia 19 de Maio de 2014
10,00: A PANTERA COR-DE-ROSA, Animação; Episódios: The Pink Phink, Pink Pajamas, We Give Pink stamps, Dial “p” for Pink, Sink Pink, Pickled Pink, Pink Finger, Shocking Pink, Pink Ice, The Pink Tail Fly, Pink Panzer e An Ounce of Pink; 72 minutos; M/ 4 anos.
14,00: A PANTERA COR-DE-ROSA (The Pink Panther), de Blake Edwards (EUA, Inglaterra, 1963); com David Niven, Peter Sellers, Robert Wagner, Capucine, Claudia Cardinale, etc. 113 minutos; M/ 12 anos.
21,30: BARRY LYNDON (Barry Lyndon), de Stanley Kubrick (Inglaterra, 1975); com Ryan O'Neal, Marisa Berenson, Patrick Magee, Hardy Krüger, Gay Hamilton, etc. 184 minutos; M / 12 anos.
Terça-feira, dia 20 de Maio de 2014
10,00: A PANTERA COR-DE-ROSA, Animação; Episódios: Reel Pink; Bully for Pink; Pink Punch; Pinky Pistons; The Pink Blueprint; Pink, Plunk, Pink; Smile Pretty Say Pink; Pink-A-Boo; Genie With the Light Pink Fur; Super Pink; Rock a Bye Pinky; 72 minutos; M/ 4 anos.
14,00: UM TIRO ÁS ESCURAS (The Pink Panther: A Shot in the Dark), de Blake Edwards (EUA, Inglaterra, 1964); com Peter Sellers, Elke Sommer, George Sanders, Herbert Lom, etc.: 102 minutos; M/12 anos. 
21,30: O MUNDO A SEUS PÉS (Citizen Kane), de Orson Welles (EUA, 1941-2); com Orson Welles, Joseph Cotten, Dorothy Comingore, Everett Sloane, Ray Collins, Agnes Moorehead, Paul Stewart (Raymond), etc. 119 minutos; M/ 12 anos.
Quarta-feira, dia 21 de Maio de 2014
10,00: A PANTERA COR-DE-ROSA, Animação; Episódios: Pinknic; Pink Panic; Pink Posies; Pink of the Litter; In the Pink; Jet Pink; Pink Paradise; Pinto Pink; Congratulations! It’s Pink;  Prefavricated Pink; The Hand is Pinker; Pink Outs; 72 minutos; M/ 4 anos.
14,00: A PANTERA COR-DE-ROSA VOLTA A ATACAR (The Pink Panther Strikes Again), de Blake Edwards (EUA, Inglaterra, 1976); com Peter Sellers, Herbert Lom, Lesley-Anne Down, Burt Kwouk, Colin Blakely etc. 103 minutos; M/12 anos.
21,30: A GRANDE ILUSÃO (La Grande Illusion), de Jean Renoir (França, 1937); com Jean Gabin, Dita Parlo, Pierre Fresnay, Erich von Stroheim, etc. 114 minutosM/12 anos.
Quinta-feira, dia 229 de Maio de 2014
10,00: A PANTERA COR-DE-ROSA, Animação; Episódios: Sky Blue Pink; Pinkadilly Circus; Psychedelic Pink; Com on in! The Water’s Pink; G.I. Pink; Lucky Pink; The Pink Quarterback; Twinkle, Twinkle, Little Pink; Pink Valiant; The Pink Pill; Prehistoric Pink; 72 minutos; M/ 4 anos.
14,00: A VINGANÇA DA PANTERA COR-DE-ROSA (Revenge of the Pink Panther), de Blake Edwards (EUA, Inglaterra, 1978); com Peter Sellers, Herbert Lom, Burt Kwouk, Dyan Cannon, Robert Webber etc. 104 minutos; M/12 anos.
21,30: LUÍS DA BAVIERA ou LUÍS DA BAVIERA - REQUIEM PARA UM REI VIRGEM (Ludwig), de Luchino Visconti (Itália, França, RFA, 1972); com Helmut Berger, Trevor Howard, Silvana Mangano, Gert Fröbe, Helmut Griem, etc. 235 minutos; M/12 anos.
Sexta-feira, dia 23 de Maio de 2014
10,00: A PANTERA COR-DE-ROSA, Animação; Episódios: Pink in the Clink; Little Beaux Pink; Tickled Pink; Pink Sphinx; Pink is a Many Splintered Thing; The Pink Package Plot; Pinkcome Tax; Pink-A-Rella; Pink Pest Control; Think Before You Pink;  Skin Pink; In thr Pink of the Night. 72 minutos; M/ 4 anos.
14,00: NA PISTA DA PANTERA COR-DE-ROSA (Trail of the Pink Panther), de Blake Edwards (EUA, Inglaterra, 1982); com Peter Sellers, David Niven, Herbert Lom, Capucine, Robert Loggia, etc. 96 minutos; M/ 12 anos.
18,00: XI CONCURSO NACIONAL ESCOLAR “O CASTWELO EM IMAGENS”
Exibição de obras a concurso
21,30: HENRIQUE V (The Chronicle History of King Henry the Fift with His Battell Fought at Agincourt in France ou Henry V), de Laurence Olivier (Inglaterra, 1944); com Laurence Olivier, Renee Asherson, Robert Newton, Leslie Banks, etc. 137 minutos; M/ 12 anos;
24,00: DRÁCULA (Dracula), de Tod Browning (EUA, 1931); com Bela Lugosi, Helen Chandler, David Manners, Dwight Frye, etc. 75 minutos; M/16 anos.
Sábado, dia 24 de Maio de 2014
10,00: A PANTERA COR-DE-ROSA, Animação; Episódios: Pink on the Cob; Extinct Pink; A Fly in the Pink; Pink Blue Plate; Pink Tuba-Dore; Pink Pranks; The PinkFlea; Psst Pink; Gong With the Pink; Pink- in; Pink& Ball; Pink Aye; 72 minutos; M/ 4 anos.
15,00: Masterclass sobre “A REALIZAÇÃO CINEMATOGRÁFICA” com Vicente Alves do Ó e Lauro António
21,00: Cerimónia de Encerramento e entrega de prémios

Concerto CANTANDO...OS FILMES DA NOSSA VIDA com Vânia Fernandes, Valter Rolo, José Canha

domingo, maio 11, 2014

TEATRO: 8 MULHERES

8 MULHERES

“8 Mulheres” é uma peça teatral do francês Robert Thomas que mistura com alguma agilidade a comédia e o policial. Tudo se passa no salão de uma casa senhorial na província francesa, na época do Natal, com muita neve a isolar oito mulheres, seis da família e duas empregadas. É manhã, e todas esperam que o único homem da casa acorde, para tomar o pequeno almoço, mas este não sai do quarto. Vão descobrir que o corpo do mesmo  se encontra na cama, envolto em sangue, com o cabo de uma faca a sair-lhe das costas. Crime!, dizem elas. E uma das oito mulheres será a criminosa, pois todas têm algum motivo para o ajuste de contas e nenhuma delas tem um alibi muito forte. A estrutura policial baseia-se nesta curiosidade de saber quem poderia ter assassinado o homem da casa, a comédia vem sobretudo do facto de toda a gente ter algo a esconder. Divertido, um pouco na linha de Agatha Christie e dos “Ten Little Niggers”.
A peça teve sucesso e múltiplas encenações por todo o mundo, mas o êxito veio-lhe sobretudo de uma excelente adaptação para cinema assinada por François Ozon, com oito mulheres de luxo a integrarem o elenco: Catherine Deneuve, Isabelle Huppert, Emmanuelle Béart , Fanny Ardant, Virgine Ledoyen, Danielle Darrieux, Firmine Richard e Ludivine Sagnier.  Ozon, que é definitivamente um dos mais interessantes cineastas franceses no activo, introduz uma novidade de peso: cada personagem tem direito a uma canção mais ou menos conhecida do reportório francês, e o talento narrativo do cineasta, aliado à genialidade de algumas das actrizes e à intensidade dos momentos musicais faz do filme um clássico.  
Agora, o grupo “Tenda”, com encenação de Hélder Gamboa, leva à cena no Teatro da Trindade, “8 Mulheres”, com um elenco interessante, onde se podem ver Ângela Pinto, Carmen Santos, Catarina Mago, Custódia Gallego, Inês Castel-Branco, Joana Brandão, Paula Guedes e Victoria Guerra. A qualidade é irregular, mas de um modo geral é agradável e eficaz, com relevo para Custódia Gallego e Inês Castel-Branco, Paula Guedes e Ângela Pinto. Mas o mais evidente é que a direcção de actores não foi muito exigente e cada actriz funciona em registo livre.
A encenação é o mais discutível do espectáculo. O cenário não é brilhante, a utilização de elementos de outros espectáculos não ajudou, mas sobretudo há incoerências que tornam frágil a globalidade. Por exemplo: porquê nomes portugueses e franceses nas personagens? Porquê a utilização de duas canções na versão teatral, sem qualquer justificação? Por quê a mescla de guarda-roupa, que não define nem época nem personagem? Mesmo ao nível das marcações e da movimentação das actrizes ressalta um certo primarismo.
Mas, neste momento da vida nacional, em que resistir é importante, tudo o que se faça para manter teatros a funcionar, actores e técnicos a trabalhar e público a frequentar as salas, será bem-vindo. De resto, apesar alguns reparos, “8 Mulheres” merece uma visita.

8 MULHERES (8 Femmes)
Texto de Robert Thomas; encenação Hélder Gamboa; produção musical Fernando Martins; coreografia Paulo Jesus; cenografia Eurico Lopes; guarda-roupa Sandra Rodrigues; assistente de encenação Gonçalo Ferreira; desenho de Luz Paulo Sabino; produção executiva Miguel Manaças: produção Tenda; Intérpretes: Ângela Pinto, Carmen Santos, Catarina Mago, Custódia Gallego, Inês Castel-Branco, Joana Brandão, Paula Guedes e Vitória Guerra; Teatro da Trindade, até 1 Junho;  4ª feira a sáb. 21h30, domingo 18h; M / 12 anos.

segunda-feira, abril 28, 2014

TEATRO: BOEING, BOEING


BOEING, BOEING

O teatro tem muitas formas de se exprimir e uma comédia de costumes (ou de maus costumes) ou vaudeville, também é teatro. Normalmente são comédias populares, relativamente simples nos seus propósitos e construção, sem grandes estudos psicológicos ou subtextos sociais ou políticos. Digamos que pode este género pode ir ligar-se ao teatro de boulevard que surgiu em França no século XVI, nas grandes feiras da cidade, e que posteriormente se foi aburguesando, desviado dos recintos populares para as salas dos boulevards parisienses.   
Tem uma construção relativamente simples, vive de casos amorosos, normalmente de adultérios, e costuma ter muitas portas no cenário, por onde saem e entram personagens que não convém encontrarem-se no mesmo tempo e local. Quando isso acontece, é a tragédia em forma de comédia. No seculo XIX teve uma grande vivacidade em França, com excelentes autores como Georges Feydeau, Eugène Scribe, Eugène Labiche, Georges Courteline, entre outros, que ainda se encenam um pouco por todo o lado com evidente sucesso e agrado público.
Já no século XX, Marc Camoletti, nascido em Genebra, mas a trabalhar em França desde cedo, foi um dramaturgo e encenador dos mais populares, sobretudo e precisamente pelos seus vaudevilles adaptados ao seu tempo. Foi ele que escreveu “Boeing-Boeing”, que o “Guiness Book of Records” considera “a peça francesa mais representada no mundo inteiro”, com mais de 10 000 representações mundiais. Mas Camoletti deu à luz mais de quarenta peças, encenadas em mais de 55 países, com dezena e meia adaptada ao cinema e à televisão. “Boeing-Boeing” foi uma delas, realizada por John Rich, e interpretada por Tony Curtis e Jerry Lewis, ao lado de Christiane Schmidtmer, Dany Saval, Suzanna Leigh e ainda a inigualável Thelma Ritter. Não é das melhores comédias de Jerry Lewis, para mim um génio do humor, mas é o suficiente para muitos gostarem muito, entre os quais Quentin Tarantino, que seleccionou o filme para o seu primeiro Quentin Tarantino Film Fest, em Austin, Texas, em 1996.
A peça chegou a Lisboa e teve temporada no Trindade, com enorme sucesso de público (mais de 10.000 espectadores), e prepara-se, segundo sei, para partir em tournée. Vale a pena falar sobre ela, pois se trata de um espectáculo muito divertido, bem encenado num cenário único, de uma brancura esmerada, paredes interrompidas por várias portas que conduzem a quartos (muitos), casas de banhos (uma), cozinha, e obviamente um recheio pejado de trocadilhos que terminam num engarrafamento de trânsito aéreo invulgar. Na peça francesa, o pinga amores é arquitecto, por cá é jornalista, mas para o caso não interessa. O que conta é que possui um apartamento muito movimentado com entradas e saídas de hospedeiras de bordo, que o jornalista controla ao minuto: sai uma agora, entra a outra, levanta voo a seguinte e aterra uma nova, para ninguém colidir com ninguém. A hospedeira francesa, a inglesa e a alemã (no original, em Portugal aparece uma brasileira a substituir a inglesa, e uma italiana em vez da francesa) estão todas noivas do mesmo homem, que não pensa casar com nenhuma. Até ao dia em que surge nos ares o Boeing 747, que torna as viagens muito mais rápidas e as escalas impossíveis de coordenar. Desponta assim o frenesim das portas que se abrem e fecham e a diversão promete, bem assim como a moralidade final. Há hospedeiras para todos, nenhuma fica apeada e o sacrossanto casamento não deixa de ser salvo. Mas a coisa tem graça, é bastante divertida, requer um savoir faire de ritmo invulgar (encenação de Claudio Hochman), e os actores (Luís Esparteiro e João Didelet) cumprem e as actrizes sobressaem sob todos os pontos de vista (Elsa Galvão, a empregada, tem muita graça a transformar a casa a cada nova partida e chegada, Sofia Ribeiro, Patrícia Tavares, Melânia Gomes, as hospedeiras, cada uma no seu estilo, dominam a cena).
Posto isto, “Boeing, Boeing” anda no ar, e prepara-se por aterrar por aí. Estejam atentos. É uma comédia despretensiosa, sem grandes preocupações, a não ser fazer rir e sorrir. O teatro também é isso. E às vezes mais vale uma comédia assim que um presunçoso e falhado espectáculo de teatro “vanguardista” que só procura atirar areia para os olhos. A versão da Broadway foi galardoada com os Tonys, um para Melhor Peça e outro para Melhor Actor.




Boeing, Boeing – Texto: Marc Camoletti; tradução Marc Xavier; adaptação Paulo Sousa Costa; encenação Cláudio Hochman; produção Yellow Star Company; Intérpretes: Luis Esparteiro, João Didelet, Elsa Galvão, Sofia Ribeiro, Patrícia Tavares, Melânia Gomes.

TEATRO: SIMPLESMENTE MARIA


SIMPLESMENTE MARIA

"Simplesmente Maria" era uma rádio novela muito popular no início dos anos 70 (começou a ser transmitido a 23 de Março de 1973) e funcionava na rádio como as telenovelas posteriormente o fariam na televisão. Arrebatava multidões de ouvintes e era coisa popular, popularucha, mesmo. Os intelectuais desdenhavam, diga-se com razão. Quando alguém quera atingir outro, poderia referir-se ao "Simplesmente Maria". João César Monteiro, um dia que acordou mal-humorado, resolveu escrever um texto sobre mim, no “Cinéfilo”, chamado “Simplesmente Lauro”. Eu, que não sou para me ficar, repliquei-lhe com uma versão adaptada do célebre discurso pronunciado por Marco António, nas escadarias do Senado Romano, em frente ao corpo assassinado de César. Foi uma polémica divertida, como eram sempre as polémicas naquele tempo e sobretudo como o João César Monteiro. Esta recordação pessoal funciona aqui apenas para mostrar a popularidade da rádio novela "Simplesmente Maria". 
Há um ano, a Mirró Pereira teve a feliz ideia de escrever uma peça que tem por base a rádio novela, que encenou em “A Barraca”. Na altura não pude ver. O espectáculo fez tournée e regressou há pouco à Malaposta, onde o fui ver na sua última sessão. Em boa hora. Não vou dizer que é uma obra-prima, mas tem muitos pontos positivos e, sobretudo, demonstra mais uma vez o esforço que tanta gente nova que gosta de teatro vai fazendo para não deixar morrer o teatro. E confirma ainda a vontade de muito público de resistir igualmente, de ir ao teatro, de saudar os actores, de se emocionar, de sorrir, de se revoltar, de chorar, de rir, de se comover, de pensar… O que é muito bom sempre, e mais ainda em momentos de crise, como o actual. Resistir é preciso. Está é uma maneira muito saudável de afirmar o essencial.
A ideia da peça é bem concebida: no palco, o estúdio radiofónico onde se gravam os episódios de "Simplesmente Maria" e, à medida que vamos assistindo a algumas gravações, espaçadas no tempo, vamos percebendo como se realizavam essas emissões, com os seus ruídos ”inventados” em estúdio, uma sonoplastia muito manual e fascinante na sua criatividade e, ao mesmo tempo, vamos recordando a época (ou descobrindo-a, para quem não a viveu), as canções, a publicidade, as notícias, o vestuário, os usos e costumes, os discursos oficiais, e também histórias de amores e desamores eternos, que eram da década de 70 e permanecem com outras roupagens nos dias de hoje. Tudo isso até se chegar à noite de 24 de Abril, como marca o calendário na parede… Fim daquela "Simplesmente Maria", para se dar origem a novos folhetins radiofónicos que transformaram radicalmente o País.
O espectáculo possui um bom cenário, imaginativo, suprindo com invenção a falta de meios (que se não nota), todo o apetrecho técnico é eficaz e sóbrio, com um bom desenho de luz, uma encenação cuidada e divertida, e uma interpretação com base num grupo de jovens que se sai muito bem da encomenda, mostrando nalguns casos grande potencial. É gente que manifestamente gosta do que faz e o faz por prazer. Um prazer que se estende ao espectador.


"Simplesmente Maria" – Criação, texto e encenação: Mirró Pereira; Direcção de projecto: Gisela Duque Pereira; Espaço sonoro: Pedro Costa; Desenho de luz: Feliciano Branco; Design de comunicação: Patrícia Guimarães; Produção executiva: Mariana Vilela; Direcção de cena: Joana Barros; Intérpretes: Mirró Pereira: Amélia que é Maria; Daniel Moutinho: Henrique que é Eduardo; Joana Barros: Maria Ana que é Arminda; Pedro Luzindro: Tony que é Narrador, Artur, Padre; Patrícia Queirós: Maria Albertina que é Dona Zéza, Empregada de Café, Toninho; Bernardo Gavina: Apresentador e Venceslau que é Substituto de Henrique; Vozes: José Neves - Carlos Manuel.

terça-feira, abril 15, 2014

TEATRO: O INSPECTOR GERAL


“O INSPECTOR GERAL” NO CARTAXO

“O Inspector Geral”, de Nikolai Gogol, uma peça escrita em 1836, falando da Ucrânia natal do escritor, ou da Rússia em cuja língua Gogol sempre escreveu, ou de qualquer outro país onde se possa adaptar a crítica (infelizmente, a todos), é uma obra universal que parece ter desenvolvido polémica ao longo dos tempos, sem que se perceba porquê. “O Inspector Geral” é uma peça política, local e mundial, que nos fala não tanto de uns certos políticos (que os há, oh se há!, mas não são todos!), mas sobretudo da condição humana que, quer queiramos ou não, permanece imutável com o rolar do séculos. Na verdade há muita gente que se procura aproveitar das situações e dos postos que ocupa, há muito traste corrupto, muita inveja, muita snobeira, muita intriga, muito oportunista, muito arrivista, e a História da Humanidade tem sido um confronto constante entre Maus e Bons, com uma alta percentagem de Assim-Assins pelo meio, que lá vão fazendo progredir lentamente a roda da História. Gogol serve-se de uma anedota, desenvolvida com mestria, para apontar o dedo na direcção certa.
Curiosamente a peça tem milhares de representações pelo mundo fora e algumas adaptadas às realidades de outros países. Em Portugal, Raúl Solnado inaugurou o seu Teatro Villaret (1965) com uma encenação memorável; aqui não há muitos anos (2009) a Maria do Céu Guerra deu-nos outra excelente versão, na Barraca (ver aqui), e no cinema ficou célebre a adaptação, realizada por Henry Koster, em 1949, com Danny Kaye no protagonista.


A história é muito simples: as autoridades de uma pequena localidade descobrem, por vias travessas, que um inspector dos serviços centrais está para chegar à povoação para inspeccionar o funcionamento local. Com culpas no cartório e muitos segredos na manga, o edil e outros responsáveis procuram localizar o inspector antes de ele se anunciar e cortejá-lo de forma a domesticar a inspecção. Se necessário, com benesses várias, notas, muitas notas entregues por debaixo da mesa, ofertas diversificadas, que vão até à sedução da mulher e da filha do presidente. Desgraçadamente, enganam-se no figurão, e passam uns dias a cumular de prendas não o inspector geral, mas um aldrabão que se aproveita da situação.
Depois de terem encenado Oscar Wilde (“Um Marido Ideal”), Bernardo Santareno (“O Crime de Aldeia Velha”), William Shakespeare (“As Alegres Comadres de Windsor”), Eduardo De Filippo (“Nápoles Milionária”), um original (“Pânico”), e Alice Vieira (“Trisavó de Pistola à Cinta”), a Área de Serviço, uma companhia de teatro comunitário, criada no Cartaxo, e que tem em Frederico Corado o seu encenador e impulsionador desde a primeira hora, levou agora à cena, no Centro Cultural do Cartaxo, uma nova versão de “O Inspector Geral”, adaptada a Portugal e a este período de austeridade troiqueana.
Este espectáculo deve ser visto sob vários aspectos. Esteticamente é muito conseguido, com cenários económicos (a companhia não tem subsídios, vive de si própria e dos pequenos apoios locais), mas muito bonitos e eficazes, numa encenação inventiva, e um tratamento técnico que não fica nada a dever aos profissionais (sim, toda a companhia é amadora, trabalha pelo prazer de fazer teatro, bom teatro, veja-se a escolha intransigente dos autores). Quanto ao grupo de actores, que já chegou a ter em palco mais de 60 intervenientes, os progressos são evidentes. A rodagem vai trazendo experiência e há já muito boas surpresas e um nível global que não envergonha ninguém. O resultado final é muito divertido, contundente, não procura o riso fácil, nem o êxito a todo o custo. As salas do Centro Cultural do Cartaxo estão sempre cheias (esgotadas ou quase) e o trabalho da companhia é saudado por todos quantos ali se deslocam.
Mas há um outro aspecto particularmente relevante nesta companhia. Os mais de 40 elementos que a integram regularmente são trabalhadores, estudantes, reformados e encontram ali um refúgio para as suas frustrações pessoais, aspirações, solidão, crises emocionais, problemas profissionais, etc. Num momento tão dramático da nossa vida colectiva, a existência de grupos como este é não só um estímulo cultural notável, como uma benesse social de invulgar significado. É altura de os poderes locais e nacionais encararem esta iniciativa com outro olhar e sobretudo que a comunicação social lhe empreste a visibilidade que merece. Se “O Inspector Geral” nos fala dos trafulhas, esta companhia comunitária mostra-nos o outro lado da sociedade, aquele que deve ser acarinhado e aplaudido.
observação: para os devidos efeitos tenho a declarar que o Frederico Corado é meu filho. Pode dar-se o caso de haver alguma parcialidade, que tento sempre contrariar. Mas, ficam a saber.  


Fotos : Neno Photo e Germano Campos, que agradeço.
O INSPECTOR GERAL, de Nikolai Gogol; Encenação e Adaptação: Frederico Corado; Concepção e Execução Cenográfica: Frederico Corado, Carlos Ouro e Mário Júlio; Produção CCC: Marco Guerra e Carlos Ouro; Produção Área de Serviço: Frederico Corado, Florbela Silva e Vânia Calado com a assistência de Pedro Ouro, Carolina Viana, Rita Correia Alves; Grafismo: Cátia Garcia; Assistente de Encenação: Florbela Silva, Maria Ramalho e Rita Correia Alves; Desenho de Luz: Ricardo Campos; Direcção Musical: Maestro Nuno Mesquita com a Banda da Sociedade Cultural e Recreativa de Vale da Pinta; Direcção de Cena: Mário Júlio; Contra-Regra: Filipe Falua; Fotografia: Vitor Neno; Montagem: Mário Júlio e Vitor Lima; Intérpretes: André Diogo, João Nunes, Sara Xavier, Vânia Calado, Mauro Cebolo, Mário Júlio, Pedro Ouro, Pedro Lino, Júlio Cardoso, Norberto Sousa, Luís Rosa Mendes, Paulo Cabral, Daniel Mateus, Constança Lopes, Ana Rita Oliveira, Carolina Viana, José Manuel Rodrigues, Miguel Viegas, André Vieira, José Ribeiro, Rosário Narciso, Mena Caetano, Jeanine Steuve, Isabel Coelho, José Falagueira, Maria Cerqueira, Bruna Diogo Santos, Amélia Martins, César Cordeiro, Susana Pais, Carlos Ramos, Guilherme Vicente, Inês Perdigão, Andreia Lourenço e Inês Barbosa; Uma Produção do Área de Serviço com o Centro Cultural do Cartaxo e a Mosaico e Entrar Em Palco; Bilhetes: 4€ •• M12 anos; Próximo espectáculo: dia 25 de Abril. 

segunda-feira, abril 14, 2014

TEATRO: REGRESSO A CASA


REGRESSO A CASA

 
Harold Pinter é um autor fascinante que surge em Inglaterra lá pelos anos 50 e 60 do século XX e que aparece a acompanhar os “angry young men”, mas deles se afasta nalguns aspectos, enquanto noutros faz parelha sem nunca se assumir. Mas há muito nas suas obras, pelo menos nalgumas, em que o espírito “kitchen sink drama” é visível, como alguma preocupação de um realismo social. Mas, se se aproxima por vezes, logo se afasta desse realismo, experimentando  uma toada que roça o teatro do absurdo. “O Regresso a Casa”, escrita em 1964, é a terceira peça longa de Harold Pinter e, para muitos, “debaixo da aparente banalidade do visível, a sua obra mais complexa”.

O cenário é único e fala-nos de uma modesta casa de um bairro operário do Norte de Londres. Ao centro, um cadeirão, símbolo do poder, onde se senta o pai, reformado, ex-talhante, empunhando a sua bengala. À sua volta, dois filhos, um que quer ser boxeur, outro que não se movimenta mal nas águas da prostituição. Há ainda um velho tio, que se acha o mais competente taxista da região. Um outro irmão, Teddy, que emigrou para os EUA, onde ensina filosofia numa universidade, regressa, nesse dia, a casa com a mulher, Ruth. Vem passar uns dias, apresentar a mulher, e pensa voltar rápido aos EUA.

Deve acrescentar-se que nesta casa onde coexistem quatro homens sem mulher, desde que a mãe dos rapazes partiu, nunca se chega a perceber muito bem quando e porquê, a presença de Ruth perturba a harmonia reinante (se é que essa harmonia existia). O que se sabe é que Ruth recusa regressar aos EUA com o marido, acede às investidas do proxeneta, seduz o aspirante a boxeur e destrona o pai de família, ocupando o cadeirão no centro do palco. Aceita e adopta o machismo instituído ou, pelo contrário, subverte a ordem das coisas e serve-se do seu sexo para estabelecer uma nova ordem (ou desordem)? Harol Pinter é perito nestas frias análises de conquista de poder através do sexo (veja-se o excelente argumento de “O Criado”, de Joseph Losey, com que esta peça mantem curiosas afinidades).

Sobre “O Regresso a Casa”, diz Jorge Silva Melo, que encena com rigor e interpreta o tio com um particular brilho nos olhos, que o "encanta trabalhar o teatro exacto de Harold Pinter, os silêncios, o humor, a crueldade, que o encanta a maneira que tem de fazer falar o mais simples objecto, como aqui faz com um copo de água, por exemplo. Que o encanta, igualmente, trabalhar com o João Perry, tal como o encantam estes actores, exactos."

Ora é também na interpretação que este “Regresso a Casa” oferece outro dos vários motivos de regozijo para o espectador. João Perry, que regressa aos palcos, Rúben Gomes, Maria João Pinho, Elmano Sancho, João Pedro Mamede e o próprio Jorge Silva Melo, são excelentes, sendo de realçar a magnífica dupla Perry-Silva Melo, que relembra o jogo de relógio que existia entre Jack Lemon e Walter Mathau. É um prazer vê-los, assim como a todos os outros, mas, no meu caso pessoal, é um prazer rever amigos em plena forma. O cenário e os figurinos de Rita Lopes Alves ajustam-se na perfeição, luz e som cumprem e “O Regresso a Casa” merece um regresso ao Teatro Nacional D. Maria II.

O REGRESSO A CASA de Harold Pinter; tradução: Pedro Marques; encenação: Jorge Silva Melo; cenografia e figurinos: Rita Lopes Alves; luz: Pedro Domingos; fotografias: Jorge Gonçalves; construção de cenário: Thomas Kahrel; assistência: Leonor Carpinteiro e Nuno Gonçalo Rodrigues; produção executiva: João Meireles; Intérpretes:  João Perry, Rúben Gomes, Maria João Pinho, Elmano Sancho, João Pedro Mamede e Jorge Silva Melo; co-produção: TNDM II, TNSJ, Artistas Unidos. M/16 anos.

segunda-feira, março 03, 2014

OSCARS 2014 - OS VENCEDORES


OS OSCARS DE 2014 – VENCEDORES


Vinte e quatro Oscars atribuídos, dos quais só fiz previsões sobre 20 (os outros quatro não conhecia os nomeados). Dos vinte palpites, dois (os musicais) falhei. Acertei os outros 18. Nada mau. De resto, “Gravidade” arrecadou 7 estatuetas, “12 Anos Escravo” e “O Clube de Dalas” 3 cada um. “O Grande Gatsby “ e “Frozen”, 2. “Her”, Blue Jasmine” e “A Grande Beleza”, um cada um. Para lá de curtas e documentais. Uma cerimónia interessante, emocionada, num dos melhores anos de colheita cinematográfica dos últimos tempos.
Aqui ficam os vencedores  em cada categoria: 

MELHOR FILME
*** 12 ANOS ESCRAVO

MELHOR REALIZADOR
*** ALFONSO CUARÓN - GRAVIDADE

MELHOR ACTOR PRINCIPAL
*** MATTHEW MCCONAUGHEY - O CLUBE DE DALLAS

MELHOR ACTOR SECUNDÁRIO
*** JARED LETO - O CLUBE DE DALLAS

MELHOR ACTRIZ PRINCIPAL
*** CATE BLANCHETT - BLUE JASMINE

MELHOR ACTRIZ SECUNDÁRIA
*** LUPITA NYONG'O - 12 ANOS ESCRAVO

MELHOR ARGUMENTO ADAPTADO
*** 12 ANOS ESCRAVO - JOHN RIDLEY

MELHOR ARGUMENTO ORIGINAL
*** HER - SPIKE JONZE

MELHOR FILME DE ANIMAÇÃO
*** FROZEN, O REINO DO GELO

MELHOR FOTOGRAFIA
*** GRAVIDADE - EMMANUEL LUBEZKI

MELHOR GUARDA-ROUPA
*** O GRANDE GATSBY - CATHERINE MARTIN

MELHOR BANDA SONORA
GRAVIDADE - Steven Price

MAQUILHAGEM E CABELO
*** O CLUBE DE DALLAS - ADRUITHA LEE E ROBIN MATHEWS

MELHOR CANÇÃO
Let It Go FROZEN - O REINO DO GELO música e letra Kristen Anderson-Lopez e Robert Lopez

MELHOR FILME ESTRANGEIRO
*** «A GRANDE BELEZA», DE PAOLO SORRENTINO / ITÁLIA

MELHOR MONTAGEM
*** GRAVIDADE - ALFONSO CUARÓN E MARK SANGER

DESIGN DE PRODUÇÃO
*** O GRANDE GATSBY - CATHERINE MARTIN E BEVERLEY DUNN

MONTAGEM DE SOM
*** GRAVIDADE - GLENN FREEMANTLE

MISTURA DE SOM
*** GRAVIDADE - SKIP LIEVSAY, NIV ADIRI, CHRISTOPHER BENSTEAD E CHRIS MUNRO

EFEITOS VISUAIS
*** GRAVIDADE - TIM WEBBER, CHRIS LAWRENCE, DAVE SHIRK E NEIL CORBOULD

CURTA-METRAGEM DE ANIMAÇÃO
MR. HUBLOT - Laurent Witz e Alexandre Espigares

MELHOR CURTA-METRAGEM
HELIUM - Anders Walter e Kim Magnusson

MELHOR DOCUMENTÁRIO: LONGA-METRAGEM
20 FEET FROM STARDOM 


MELHOR DOCUMENTÁRIO: CURTA-METRAGEM
THE LADY IN NUMBER 6: MUSIC SAVED MY LIFE - Malcolm Clarke e Nicholas Reed

domingo, março 02, 2014

TEATRO: “PÂNICO”


“PÂNICO” NO CARTAXO

Os ingleses têm uma palavra que quer dizer muita coisa. Play. Pode ser, por exemplo, brincar, jogar ou interpretar. Estes três conceitos andam por vezes ligados, e quando se assiste a uma peça de teatro, os actores interpretam, jogam e brincam, quando o significado de brincar é o desenvolver uma actividade que lhes dá prazer.
No Cartaxo, no edifício de uma escola há pouco tempo desactivada, o colectivo teatral “Área de Serviço” procura isso mesmo, surpreendendo todos os que ousarem desafiar o desconhecido. Eles apresentam a ideia assim: “Há quem tenha medo de tudo. E quem não tenha medo de nada. Mas ninguém resiste a ver até onde vai o seu limite. E no limite está o PÂNICO”.
Numa escola fora de serviço do Cartaxo, uma equipa de televisão de um programa dedicado a casos paranormais, procura saber por que  circula o boato (será boato?) que aquele edifício está assombrado, possuído por seres do outro mundo, espíritos maléficos. Será herança de um padre que executou mais de duzentos exorcismos? De sala em sala vão procurando a solução para o mistério, mas só vão encontrando mais certezas trágicas.
Medo, muito medo? Enfim, há muitos momentos de frison, mas o que há sobretudo é um divertimento cheio de graça, de invenção, parodiando vários estereótipos de filmes de terror, com os actores a gozarem as situações imaginadas, juntamente com os espectadores que os acompanham neste “trágico” percurso. O elenco é de amadores, daqueles que “amam” o que fazem nas horas vagas, uma companhia de teatro comunitário que já nos deu Oscar Wilde, William Shakespeare, Bernardo Santareno e Eduardo de Fillipo e que agora resolveu divertir-se e divertir-nos. São eles João Nunes, Vânia Calado, Pedro Lino, Pedro Ouro, Constança Lopes, Mauro Cebolo, Ana Rita Oliveira, Carolina Viana, Jeanine Steuve, José Falagueira, Maria Cerqueira e Alexandre Amendoeira. A ideia, texto e encenação é do Frederico Corado, com colaboração no texto de Vânia Calado, sendo a concepção e execução cenográfica de Frederico Corado e Mário Júlio, a produção da Área de Serviço (Frederico Corado, Florbela Silva e Vânia Calado), o design de Cátia Garcia, o desenho de luz de Ricardo Campos, tendo como assistente de encenação Florbela Silva, Rita Correia Alves, Pedro Ouro e Maria Ramalho. Desenho de som e ambientes sonoros é de Pedro Bona, a fotografia de Vitor Neno, a montagem de Mário Júlio e o contra-regra chama-se Henrique Carvalho. Esta é uma produção da “Área de Serviço” com a colaboração do Centro Cultural do Cartaxo e “Entrar em Palco”. A estreia aconteceu a 28 de Fevereiro, com duas sessões, e continua a 1, 2, 3 e 4 de Março às 21h30 e 23h00.

Posto isto, eu diverti-me imenso no ensaio geral. Mas é conveniente acrescentar que o brincalhão mor deste “Pânico” é o meu filho Frederico Corado. Fica a ressalva. Eu estou muito orgulhoso das suas façanhas cénicas, mas, já se sabe, pai é pai. Mas, com a maior imparcialidade, creio que vale mesmo a pena.


ALAIN RESNAIS



ALAIN RESNAIS (1922-2014)


Morreu um dos meus realizadores franceses preferidos. Altura para recordar um daqueles momentos únicos na minha vida. Cannes, 1980. A minha “Manhã Submersa” na Quinzena dos Realizadores, “O Meu Tio da América” em competição na selecção oficial. É a noite  da apresentação do filme de Resnais. Na avenida principal de Cannes, eu e uns amigos caminhamos num dos passeios, daqueles cheios de esplanadas repletas de comensais, e de súbito, apanho pela frente a comitiva de "Mon Oncle d'Amérique", com o cineasta à frente, impecável no seu smoking, ladeado por Gérard Depardieu e Nicole Garcia. Irresistível, paro-o, apresento-me, saúdo-o como um dos meus cineastas de eleição, ele pergunta-me pelo meu filme, deseja-me felicidades, e eu peço-lhe um autógrafo no catálogo do Festival (imagem acima). Esta foi uma minhas alegrias em Cannes 80. Aqui fica a recordação que não se apaga na minha memória. Morreu Resnais, mas a sua obra fica para sempre na história do cinema, desde os fabulosos documentários de meados dos anos 50, “Toute la Mémoire du Monde” ou  “Nuit et Brouillard”, até aos recentes “As Ervas Daninhas”, “Vous n'avez Encore Rien Vu” ou “Aimer, Boire et Chanter”, este último já de 2014.  E que dizer de obras como “Hiroshima, Meu Amor” (1959), “O Último Ano em Marienbad” (1961), “Muriel ou o Tempo de um Regresso” (1963), “A Guerra Acabou” (1966), “Amo-te, Amo-te” (1968), “Stavisky, o Grande Jogador” (1974), “Providence” (1977), “A Vida é um Romance” (1983), “Mélo” (1986), “É Sempre a Mesma Cantiga” (1997) ou  “Corações” (2006)?

OS OSCARS - PREVISÕES



OS OSCARS DE 2014 - PREVISÕES

Amanhã é a grande noite dos Oscars relativos às estreias de 2013 nos EUA. Aqui fica a lista dos nomeados com os palpites pessoais para os vencedores. As minhas apostas vão em MAISCULAS, Bold, e a amarelo. As curtas-metragens e os documentários não vi nenhum, pelo que só vão enunciados os nomeados.

MELHOR FILME
«Golpada Americana»
«Capitão Philips»
«O Clube Dalas»
«Gravidade»
«Her»
«Nebraska»
«Philomena»
«12 ANOS ESCRAVO»
«O Lobo de Wall Street»

MELHOR REALIZADOR
David O. Russell - «Golpada Americana»
ALFONSO CUARÓN - «GRAVIDADE»
Alexander Payne - «Nebraska»
Steve McQueen - «12 anos Escravo»
Martin Scorsese - «O Lobo de Wall Street»

MELHOR ACTOR PRINCIPAL
Christian Bale GOLPADA AMERICANA
Bruce Dern NEBRASKA
Leonardo DiCaprio O LOBO DE WALL STREET
Chiwetel Ejiofor 12 ANOS ESCRAVO
MATTHEW MCCONAUGHEY O CLUBE DE DALLAS

MELHOR ACTOR SECUNDÁRIO
Barkhad Abdi CAPITÃO PHILLIPS
Bradley Cooper GOLPADA AMERICANA
Michael Fassbender 12 ANOS ESCRAVO
Jonah Hill O LOBO DE WALL STREET
JARED LETO O CLUBE DE DALLAS

MELHOR ACTRIZ PRINCIPAL
Melhor Atriz
Amy Adams GOLPADA AMERICANA
CATE BLANCHETT BLUE JASMINE
Sandra Bullock GRAVIDADE
Judi Dench FILOMENA
Meryl Streep UM QUENTE AGOSTO

MELHOR ACTRIZ SECUNDÁRIA
Sally Hawkins BLUE JASMINE
Jennifer Lawrence GOLPADA AMERICANA
LUPITA NYONG'O 12 ANOS ESCRAVO
Julia Roberts UM QUENTE AGOSTO
June Squibb NEBRASKA

MELHOR ARGUMENTO ADAPTADO
ANTES DA MEIA-NOITE Richard Linklater, Julie Delpy, Ethan Hawke
CAPITÃO PHILLIPS Billy Ray
FILOMENA Steve Coogan e Jeff Pope
12 ANOS ESCRAVO JOHN RIDLEY
O LOBO DE WALL STREET Terence Winter

MELHOR ARGUMENTO ORIGINAL
AMERIC AN HUSTLE Eric Warren Singer e David O. Russell
BLUE JASMINE Woody Allen
O CLUBE DE DALLAS Craig Borten e Melisa Wallack
HER - SPIKE JONZE
NEBRASKA Bob Nelson

MELHOR FILME DE ANIMAÇÃO
OS CROODS
GRU O MALDISPOSTO 2
ERNESTO E CELESTINE
FROZEN - O REINO DO GELO
THE WIND RISES

MELHOR FOTOGRAFIA
O GRANDE MESTRE Philippe Le Sourd
GRAVIDADE - EMMANUEL LUBEZKI
A PROPÓSITO DE LWELYN DAVIS Bruno Delbonnel
NEBRASKA Phedon Papamichael
RAPTADAS Roger A. Deakins

MELHOR GUARDA-ROUPA
GOLPADA AMERICANA Michael Wilkinson
O GRANDE MESTRE William Chang Suk Ping
O GRANDE GATSBY - CATHERINE MARTIN
THE INVISIBLE WOMAN Michael O'Connor
12 ANOS ESCRAVO Patricia Norris

MELHOR BANDA SONORA
A RAPARIGA QUE ROUBAVA LIVROS John Williams
GRAVIDADE Steven Price
HER - WILLIAM BUTLER E OWEN PALLETT
FILOMENA Alexandre Desplat
AO ENCONTRO DO SR. BANKS Thomas Newman

MELHOR CANÇÃO
Alone Yet Not Alone ALONE YET NOT ALONE,  música Bruce Broughton; letra Dennis Spiegel
Happy GRU O MALDISPOSTO 2 música e Letra Pharrell Williams
Let It Go FROZEN - O REINO DO GELO música e letra Kristen Anderson-Lopez e Robert Lopez
The Moon Song HER música de Karen O; letra de Karen O e Spike Jonze
ORDINARY LOVE - MANDELA: LONGO CAMINHO PARA A LIBERDADE - MÚSICA PAUL HEWSON, DAVE Evans, ADAM CLAYTON E LARRY MULLEN; LETRA PAUL HEWSON

MELHOR FILME ESTRANGEIRO
«The Broken Circle Breakdown», de  Felix Van Groeningen / Bélgica
«A GRANDE BELEZA», DE PAOLO SORRENTINO / ITÁLIA
« A Caça», de Dane Thomas Vinterberg  / Dinamarca
«The Missing Picture», de Rithy Panh / Cambodja
«Omar», de  Hany Abu-Assad / Palestina

MELHOR MONTAGEM
GOLPADA AMERICANA Jay Cassidy, Crispin Struthers e Alan Baumgarten
CAPITÃO PHILLIPS Christopher Rouse
O CLUBE DE DALLAS John Mac McMurphy e Martin Pensa
GRAVIDADE - ALFONSO CUARÓN E MARK SANGER
12 ANOS ESCRAVO Joe Walker

MAQUILHAGEM E CABELO
O CLUBE DE DALLAS - ADRUITHA LEE E ROBIN MATHEWS
JACKASS PRESENTS: BAD GRANDPA Stephen Prouty
O MASCARILHA Joel Harlow e Gloria Pasqua-Casny

DESIGN DE PRODUÇÃO
GOLPADA AMERICANA Judy Becker e Heather Loeffler
GRAVIDADE Andy Nicholson, Rosie Goodwin e Joanne Woollard
O GRANDE GATSBY - CATHERINE MARTIN E BEVERLEY DUNN
HER K.K. Barrett e Gene Serdena
12 ANOS ESCRAVO Adam Stockhausen e Alice Baker

MONTAGEM DE SOM
QUANDO TUDO ESTÁ PERDIDO Steve Boeddeker e Richard Hymns
CAPITÃO PHILLIPS Oliver Tarney
GRAVIDADE - GLENN FREEMANTLE
O HOBBIT: A DESOLAÇÃO DE SMAUG Brent Burge
LONE SURVIVOR Wylie Stateman

MISTURA DE SOM
CAPITÃO PHILLIPS Chris Burdon, Mark Taylor, Mike Prestwood Smith e Chris Munro
GRAVIDADE - SKIP LIEVSAY, NIV ADIRI, CHRISTOPHER BENSTEAD E CHRIS MUNRO
O HOBBIT: A DESOLAÇÃO DE SMAUG Christopher Boyes, Michael Hedges, Michael Semanick e Tony Johnson
A PROPÓSIDO DE LLEWYN DAVIS Skip Lievsay, Greg Orloff e Peter F. Kurland
LONE SURVIVOR Andy Koyama, Beau Borders e David Brownlow

EFEITOS VISUAIS
GRAVIDADE - TIM WEBBER, CHRIS LAWRENCE, DAVE SHIRK E NEIL CORBOULD
O HOBBIT: A DESOLAÇÃO DE SMAUG Joe Letteri, Eric Saindon, David Clayton e Eric Reynolds
HOMEM DE FERRO 3 Christopher Townsend, Guy Williams, Erik Nash e Dan Sudick
O MASCARILHA Tim Alexander, Gary Brozenich, Edson Williams e John Frazier
ALÉM DA ESCURIDÃO - STAR TREK Roger Guyett, Patrick Tubach, Ben Grossmann e Burt Dalton

CURTA-METRAGEM DE ANIMAÇÃO
FERAL Daniel Sousa e Dan Golden
GET A HORSE! Lauren MacMullan e Dorothy McKim
MR. HUBLOT Laurent Witz e Alexandre Espigares
POSSESSIONS Shuhei Morita
ROOM ON THE BROOM Max Lang e Jan Lachauer

MELHOR CURTA-METRAGEM
AQUEL NO ERA YO  Esteban Crespo
AVANT QUE DE TOUT PERDRE Xavier Legrand e Alexandre Gavras
HELIUM Anders Walter e Kim Magnusson
PITÄÄKÖ MUN KAIKKI HOITAA? (DO I HAVE TO TAKE CARE OF EVERYTHING?) Selma Vilhunen e Kirsikka Saari
THE VOORM AN PROBLEM Mark Gill e Baldwin Li

MELHOR DOCUMENTÁRIO:  LONGA-METRAGEM
THE ACT OF KILLING Joshua Oppenheimer e Signe Byrge Sørensen
CUTIE AND THE BOXER Zachary Heinzerling e Lydia Dean Pilcher
DIRTY WARS Richard Rowley e Jeremy Scahill
THE SQUARE Jehane Noujaim e Karim Amer
20 FEET FROM STARDOM

MELHOR DOCUMENTÁRIO:  CURTA-METRAGEM
CAVEDIGGER Jeffrey Karoff
FACING FEAR Jason Cohen
KARAMA HAS NO WALLS Sara Ishaq
THE LADY IN NUMBER 6: MUSIC SAVED MY LIFE Malcolm Clarke e Nicholas Reed

PRISON TERMINAL: THE LAST DAYS OF PRIVATE JACK HALL Edgar Barens

quarta-feira, fevereiro 26, 2014

CINEMA: NEBRASKA

NEBRASKA

Belíssimo filme este de Alexander Payne, que regressa ao registo da "road movie" (o que já acontece anteriormente com “Sideways”, 2004) e retoma o cenário da sua terra natal, ele que nasceu em Omaha, no Nebraska, e que aí já rodou alguns filmes, como “As Confissões de Schmidt” ou o anterior “Caminhos Mal Traçados” (Citizen Ruth, 1996). Paine é um cineasta muito particular, procurando protagonistas pouco habituais no cinema dominante norte-americano, misturando humor e um retrato de certa forma angustiante da sociedade actual, o que volta a acontecer em “Nebraska”, mantendo como polo central da acção uma família (tal como noutro sentido o fizera em “Os Descendentes”, seu título anterior que justificou grande sucesso de público e crítica).

Desta feita, tudo roda à volta de Woody Grant (Bruce Dern), um velho casmurro e dado à bebida, que recebe um dia um folheto publicitário a prometer-lhe um milhão de dólares. Resolve então ir cobrar o prémio e viajar da sua cidade, Billings, em Montana, para Lincoln, no Nebraska, caminhando pela berma da estrada. Claro que a família é avisada, ele é forçado a voltar a casa, mas teima em receber o prémio a que tem direito, sem se aperceber das letras mínimas do folheto. Um dos seus filhos, David Grant (Will Forte) resolve então meter-se no carro com o obstinado Woody e levá-lo ao Nebraska, aproveitando para passar pela terra natal do pai, Hawthorne, onde ele é reconhecido e muito aclamado por familiares, velhos amigos e conhecidos depois de lhes ter dito que vai receber um milhão de dólares. Obviamente que alguns deles sonham já colher favores da fortuna do velho.


Velhos rezinguentos, teimosos e dados à bebida, não são casos raros no cinema. Quem não se lembra, por exemplo, do fabuloso “Uma História Simples” (The Straight Story, 1999), de David Lynch, com um inspiradíssimo Richard Farnsworth? O que faz o grande interesse desta nova obra de Alexander Payne é, por um lado, a justeza do tom, mesclando sabiamente dramatismo e humor, sem cair na pieguice nem na caricatura, antes optando por um olhar terno e compreensivo. O que se fica a dever à sensibilidade e pudor do trabalho do realizador, mas igualmente ao do argumentista, Bob Nelson. Por outro lado, o rigor da interpretação de todo o elenco, com particular destaque para Bruce Dern, que nos oferece uma personagem inesquecível, um velho rural, meio careca, de cabelo desalinhado, arrastando persistentemente uma perna trôpega na perseguição de um sonho, alheio a todas as vozes racionais, e não esquecendo nunca a sua cerveja, ao longo de todos os bares por onde vai parando. Claro que a fotografia a preto e branco de Phedon Papamichael desempenha igualmente um papel decisivo para o excelente resultado final, criando uma patine de documento histórico desolador que funciona muito bem, e torna desconcertante esta história metafórica sobre os dias de hoje, na América profunda. A partitura musical de Mark Orton também ajuda.
Mas há um aspecto adicional que é fundamental para a importância do filme e que tem a ver com o retrato de uma sociedade em período de depressão económica e psicológica. A América envelhecida, solitária, reformada, imóvel diante dos aparelhos de televisão, desempregada, ávida e rancorosa, violenta ao menor sinal que a desperte da sua letargia, é inquietante e muito bem transmitida pela câmara atenta do cineasta, que sabe captar esses indícios sem demagogia barata. A abordagem da velhice e de todo o caudal de consequências que acarreta, a relação do casal Grant, e destes com os filhos, a permeabilidade ao embuste e a inocência desta “segunda infância” são aspectos a sublinhar.


Esta viagem de Montana ao Nebraska não acaba em total desespero. A relação pais e filhos cimenta-se e o velho Woody Grant regressa a casa orgulhoso, com o seu boné de milionário, conduzindo um novo jeep e trazendo consigo o compressor com que sempre sonhara. Nem tudo são quimeras na vida e ainda há lugar para alguma esperança. Mesmo que do milhão ambicionado reste somente o boné.
O filme foi nomeado para Melhor Filme do Ano, Melhor Realização, Melhor Actor, Melhor Argumento Original, Melhor Actriz Secundária (June Squibb) e Melhor Fotografia para os Oscars de 2014.  São às dezenas as nomeações para outros prémios e Bruce Dern ganhou alguns deles, em particular o do Festival de Cannes 2013. As referências são todas elas justíssimas e, infelizmente para Alexander Payne, a concorrência este ano é feroz e a delicada fragilidade desta obra belíssima vai sair seguramente relegada para segundo plano. Mas cremos que este é, indiscutivelmente, o melhor trabalho de um cineasta que se acompanha com prazer e de quem muito se deve esperar no futuro.


NEBRASKA
Título original: Nebraska

Realização: Alexander Payne (EUA, 2013); Argumento: Bob Nelson; Produção: Albert Berger, Doug Mankoff, George Parra, Julie M. Thompson, Ron Yerxa; Música: Mark Orton; Fotografia (p/b): Phedon Papamichael; Montagem: Kevin Tent; Casting: John Jackson; Design de produção: J. Dennis Washington; Direcção artística: Sandy Veneziano; Decoração: Fontaine Beauchamp Hebb; Guarda-roupa: Wendy Chuck; Maquilhagem: Gary Archer, Robin Fredriksz, Waldo Sanchez, Melanie Smith; Direcção de produção: Mads Hansen, Valerie Flueger Veras, Sheryl Benko; Assistentes de realização: Scott August, Gregory S. Carr;  Departamento de arte:  Wes Clowers, Jeff Cronin; Som: Frank Gaeta; Efeitos visuais: Scott Dougherty, David Lingenfelser; Companhias de produção: Blue Lake Media Fund, Bona Fide Productions, Echo Lake Productions; Intérpretes: Bruce Dern (Woody Grant), Will Forte (David Grant), June Squibb (Kate Grant), Bob Odenkirk (Ross Grant), Stacy Keach (Ed Pegram), Mary Louise Wilson (Tia Martha), Rance Howard (Tio Ray), Tim Driscoll (Bart), Devin Ratray (Cole), Angela McEwan (Peg Nagy), Glendora Stitt (Tia Betty), Elizabeth Moore, Kevin Kunkel, Dennis McCoig, Ronald Vosta, Missy Doty, John Reynolds, Jeffrey Yosten, Neal Freudenburg, Eula Freudenburg, Ray Stevens, Lois Nemec, Francisco Mendez, Jose Munoz, Catherine Rae Schutz, Terry Lotrous, Dennis McCave, Rachel Lynn Liester, etc. Duração: 115 minutos; Distribuição em Portugal:; Classificação etária: M/ 12 anos; Data de estreia em Portugal: 27 de Fevereiro de 2014.