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quinta-feira, julho 14, 2011

FESTIVAL DE TEATRO DE ALMADA 2011 - 4

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 Notas Rápidas

CHEF (Chefe), com texto a partir de “Uma Modesta Proposta”, de Jonathan Swift, com a colaboração de Guillermo Calderón. Encenação de Jaime Lorca. Produção do Tearo Viaje Inmóvel, Santiago do Chile | Chile.

Um chefe de cozinha em apuros económicos resolve concorrer a um “reality show”, na televisão, para ultrapassar a crise. Mas a televisão quer espectáculo e “receitas” cada vez mais inusitadas. Que tal propor a venda dos bebés dos pobres para alimento de excelência dos ricos?  A ideia não é nova, noutro contexto, visando a Irlanda do seu tempo, já tinha sido dada por Jonathan Swift, num texto provocatório, de nome “Uma Modesta Proposta”. Escrita, dirigida e protagonizada por Jaime Lorca, “Chef” é uma tragicomédia sobre as fraquezas e as obsessões da natureza humana, através de uma sátira corrosiva à sociedade contemporânea, tendo a gastronomia e a televisão como pretexto para abordar o tema da fome no mundo e da desigualdade social cada vez mais gritante.
O cenário é uma cozinha decadente. O actor é Jaime Lorca, excelente. A encenação é inventiva e ácida, controlada ao milímetro, num espaço criteriosamente desenhado para cumprir a função. O resultado: um grande espectáculo de teatro político, onde se castigam os costumes através do riso.
Jaime Lorca já é um velho conhecido do Festival de Almada. Em 1996, o seu espectáculo “Viagem ao Centro da Terra” foi eleito como “Espectáculo de Honra”. Em 2007, “Gulliver” viria a obter a mesma distinção. Ele animou e dirigiu durante dezoito anos o projecto “La Troppa”, a que se segue es “Viaje Inmóvil”.

Intérpretes: Daniela Montt, Jaime Lorca; Cenário: Carlos Rivera, Rodrigo Ruiz, Manuel Paredes; Figurinos: Loreto Monsalve; Desenho de luz: Tito Velásquez; Desenho de som: Antonio Palácios; Música: Juan Salinas; Fotografia: Cláudio Pérez; Ass. de dramaturgia e direcção de actores: Cristián Ortega; Produção: Andrea Gutiérrez Travesía Producciones; Língua: Espanhola; Duração: 1H10. 


AMNÉSIA (Amnésia), de Jalila Baccar e Fadhel JaÏbi; Encenação de Fadhel Jaïbi; Criação do Teatro “Familia Productions”, Tunes (Tunísia).

Em 1994, o Festival de Almada apresentou “Família”, onde se revelou um grupo tunisino desconhecido na Europa. Voltaram em 1997 e em 1999, e agora Fadhel Jaïbi regressa com o grupo e “Amnésia”. Em boa hora. Trata-se de um espectáculo absolutamente inesquecível, com onze actores magníficos, num cenário vazio, apenas acompanhados por cadeiras e alguns outros (poucos) adereços, onde nos contam uma história “edificante”, sobre um chefe político de um qualquer país africano (não seria a própria Tunísia?) que, na noite do seu aniversário, sabe pela televisão que foi destituído do Governo. O partido a que pertence substitui-o por outro (certamente igual a ele, tão déspota e corrupto como), e ele é preso e colocado em residência fixa. Tenta fugir para o estrangeiro e é impedido. Fechado na sua biblioteca, fica queimado quando esta arde e é posteriormente internado num hospício por mostrar “sinais de confusão mental”. Tudo como mandam as regras.
Também como mandam as regras (estas as cénicas) funciona este belíssimo e vigoroso espectáculo, com actores que se multiplicam em papéis e oferecem um autêntico vendaval de obsessivo rigor e invenção. Magnífico jogo de luzes e de música valorizam uma marcação sóbria mas fulgurante. Entusiasmante.
Vamos às notas colhidas no Festival de Almada: Fadhel Jaïbi (n. 1945) é encenador, autor, realizador e um nome fundamental do teatro árabe contemporâneo. Fez os seus estudos em França (1967/1972) e dirigiu o Conservatório de Arte Dramática da Tunísia entre 1974 e 1978. Em 1976, fundou com Jalila Baccar a companhia “Nouveau Théâtre” de Tunis e, em 1993, “Familia Productions”. Em 2003, o realizador tunisino Mahmoud dedicou-lhe o documentário “Fadhel Jaïbi, un Théâtre en Liberté”. Quanto a Jalila Baccar (n. 1952) é actriz de teatro, de cinema e de televisão e, desde 1976, acompanha Fadhel Jaïbi em todas as suas criações, sendo muitas vezes co-autora dos seus textos: é o caso, nomeadamente, de “Comedia” (1991), “Família” (1993), “Les Amoureux du Café Désert” (1995) e, agora, “Amnésia”. No cinema, foi dirigida, entre outros, por Nicolas Klotz e Randa Chakal Salbag.”

Intérpretes: Jalila Baccar, Fatma Ben Saîdane, Sabah Bouzouita, Ramzi Azaiez, Moez M’rabet, Lobna M’lika, Basma El Euchi, Karim El Kefi, Riadh El Hamdi, Khaled Bouzid, Mohammed Ali Kalaî; Cenário: Kaîs Rostom; Figurinos: Anissa B’diri; Desenho de luz: Fadhel Jaïbi; Música: Gérard Hourbette; Dramaturgia: Jalila Baccar, Fadhel Jaïbi; Ass. de encenação: Narjes Ben Ammar; Ass. de figurinos: Jalila Madani; Operação de luz:  Naîm Zaghab; Língua: Árabe, legendado em português; Duração: 2H00. 


A RAINHA LOUCA, Ópera de Alexandre Delgado; Libreto de Alexandre Delgado, a partir de “O Tempo Feminino”, de Miguel Rovisco; Direcção musical de Alexandre Delgado; Encenação de Joaquim Benite; Criação do Centro Cultural de Belém e Festival de Almada, Almada, Lisboa (Portugal).  

Excelente criação da ópera “A Rainha Louca”, com música e libreto (a partir de “O Tempo Feminino”, de Miguel Rovisco), da inspirada responsabilidade de Alexandre Delgado, e encenação de Joaquim Benite. “A Rainha Louca” é D. Maria I, que vamos encontrar, no fim da vida, enclausurada na sua dor e loucura. Estamos no final do século XVIII, a Rainha ainda não partiu para o Brasil, onde iria morrer, lamenta a sua má sorte, os funestos acontecimentos em Portugal, e em França, a braços com uma revolução que cortou a cabeça à realeza. Tem à sua cabeceira uma criada negra, Rosa, e a rígida Duquesa de Lafões. É visitada por quatro damas da corte que lhe traçam um retrato pitoresco e delirante da realidade social portuguesa da altura. Uma das damas parece adormecida até se descobrir que está morta. A morte perpassa por estas salas sem janelas.
D. Maria I é vista sob um duplo prisma, ora se sublinha o seu amor às artes e às letras, à educação, como a sua loucura e fanatismo. Mas na hora da morte, José Bonifácio da Silva exaltou “o nobre carácter, o bondoso coração, a prudência de entendimento e a constância de ânimo.” A ópera interessa-se mais pelo retrato da rainha como reflexo de uma época.
A partitura musical é riquíssima e exemplar. As vozes das sopranos e meio soprano são belíssimas (pena não se perceber melhor o texto, que é de boa qualidade) e a encenação de Joaquim Benite sublinha o essencial, com rigor e inventiva, num cenário austero, onde explode a melodia e as paixões abafadas.
Notas do Festival: Compositor e violetista, Alexandre Delgado (Lisboa, 1965) estudou na Fundação Musical dos Amigos das Crianças e foi aluno de composição de Joly Braga Santos e Jacques Charpentier. Tem composições suas para música de câmara, música concertante e música vocal. Autor da ópera de câmara O Doido e a Morte, venceu o 1.º prémio do Conservatório de Nice em 1990 e o Prémio Jovens Músicos em 1987. É director do Festival de Música de Alcobaça.
Director do Festival de Almada (que criou há 27 anos) e da Companhia de Teatro de Almada, Joaquim Benite, desde o seu primeiro espectáculo em 1971 (“O Avançado-centro Morreu ao Amanhecer”, de Agustin Cuzzani), encenou mais de uma centena de peças de autores portugueses e estrangeiros. Em 2008, dirigiu, para o Teatro Nacional de São Carlos, a ópera de Mozart “La Clemenza de Tito”. Como reconhecimento público da sua vasta e rica carreira possui numerosas distinções: é Comendador da Ordem do Infante D. Henrique e da Ordem do Mérito Civil de Espanha, e Cavaleiro da Ordem das Artes e das Letras de França. Possui ainda a Medalha de Honra da Cidade da Amadora, a Medalha de Ouro da Cidade de Almada, a Medalha de Mérito do Distrito de Setúbal e a Medalha de Mérito Cultural do Ministério da Cultura.

Intérpretes: Sopranos Ana Ester Neves, Ana Paula Russo e Teresa Cardoso Meneses, Meio-soprano Maria Luísa de Freitas, e a actriz Nilma Santos, OrchestrUtopica;  Correpetidores João Paulo Santos, Jan Wierzba; Cenário e figurinos: Jean-Guy Lecat; Desenho de luz: José C. Nascimento; Col. Coreográfica: Jean Paul Bucchieri; Dir. de montagem: Carlos Galvão, Guilherme Frazão; Caract. e cabeleiras: Sano de Perpessac; Ass. de encenação: Rodrigo Francisco; Ass. de cenografia e figurinos: Joana Ferrão; Ass. de produção: Paulo Mendes; Língua: Português; Duração 1H15. Estreia absoluta.

sexta-feira, julho 08, 2011

FESTIVAL DE TEATRO DE ALMADA 2011 - 1

 
Notas rápidas

1. FÁBULA BUFA (Fabula Buffa), a partir de Dario Fo, com Ciro Cesarano e Fabio GORGOLINI, e a colaboração artística de Carlo Boso.

Inauguração em grande da 28ª edição do Festival de Teatro de Almada, com a apresentação de ”Fábula Bufa”, a partir de um belíssimo texto de Dario Fo, que recria, em termos de actualidade, a estrutura cénica da “Commedie dell’Arte”. Dois excelentes actores, Ciro Cesarano e Fabio Gorgolini, que contaram com a colaboração artística de Carlo Boso, formado no Piccolo Teatro di Milano, onde trabalhou com Peppino de Filippo, Giorgio Strehler e Ferruccio Soleri, e encenou mais de quarenta obras. Boso foi director do Carnaval de Veneza entre 1983 e 1994 e dirigiu companhias em Veneza, Milão e Treviso. Em 2004, fundou nos arredores de Paris, nos estúdios criados em 1904 por Charles Pathé, a Académie Internationale des Arts du Spectacle. São dele estas palavras sobre “Fábula Bufa”: “quisemos dar vida a uma forma espectacular destinada a acordar a esperança numa sociedade enfraquecida por um vazio existencial e relembrar, ainda assim, que o teatro, sob todas as suas formas, mesmo as mais burlescas, permanece uma arma poderosa”.
O espectáculo, que conta apenas com dois actores em cena, recria um burlesco de enganos onde um cego e um paralítico invocam o milagre da cura, para depois se revoltarem contra ela, “pois assim terão de trabalhar” e ninguém lhes dá esmolas. Jesus é evocado na cruz e vilipendiado pelos pedintes, mas é dele a última palavra de esperança numa sociedade nada pacífica, mas onde o lugar do actor e do cómico permanece inalterável e essencial para manter o alento do cidadão comum e lhe dar o conforto de uma alegria.
Segundo a documentação do Festival, “Ciro Cesarano e Fabio Gorgolini, formados por Carlo Boso na sua Escola de Montreuil e licenciados em História do Teatro pela Universidade de Bolonha, criaram em Paris, em 2006, a companhia Teatro Picaro com o objectivo de encontrar uma linguagem teatral capaz de conciliar a herança tradicional com as temáticas contemporâneas na concretização de um teatro simultaneamente popular, social, burlesco e poético”.  Conseguem-no plenamente com um trabalho de altíssima qualidade, quer ao nível da palavra, quer no do gesto, da pantomima ou da acrobacia.
Um espectáculo para recordar e que introduziu da melhor forma o tema central da edição deste ano do Festival de Teatro de Almada, que presta homenagem à “Commedie dell’ Arte”-


2. SANTA JOANA DOS MATADOUROS, de Bertolt Brecht, com encenação de Bernard Sobel Colaboração artística de Francis Seleck e Eric Castex

Bernard Sobel, encenador francês de créditos firmados, regressou ao Festival de Almada para dirigir um espectáculo com interpretação de alunos finalistas da Escola Superior de Teatro e Cinema e alunos recém-formados da ACT – Escola de Actores. Uma experiencia inédita e particularmente sugestiva. Creio que não inteiramente lograda, mas ainda assim muito estimulante, tanto mais que deu a conhecer uma nova geração de aspirantes a actores portugueses, onde se vislumbra muita qualidade para futuros voos.
Brecht é um dramaturgo genial, criador de um teatro didáctico de intenções declaradamente comunistas, mas que ultrapassa esse circunstancialismo histórico com a grandeza da sua palavra, vigorosa e poética, e pela clareza das suas intrigas, que procuram desmontar jogos de poder e de interesses criados. As lutas de classe entre os poderosos e os explorados do mundo podem ser acusadas de algum esquematismo, mas são fascinantes de acompanhar. “Santa Joana dos Matadouros” não será das suas obras-primas (“Mãe Coragem e seus filhos”, “O Círculo de Giz Caucasiano, “A Alma Boa de Tzé Chuan”, “A Mãe” ou “Ascensão e Queda da Cidade de Mahagonny”), mas é muito interessante, sobretudo por trazer para o palco um tema violento e agressivo como o da exploração do comércio da carne, numa Chicago em plena crise de 1929.
Acontece que a forma escolhida por Bernard Sobel para encenar este espectáculo, um longo e largo corredor no meio de duas bancadas de espectadores, por onde evoluem duas dezenas de actores, que vão trocando de papéis, não terá sido a melhor para clarificar as intenções da peça. Mas revela-se estimulante como experiência, e revela um bom conjunto de promessas.
Santa Joana é uma jovem que ingressou no Exército de Salvação para aliviar a miséria dos trabalhadores dos matadouros de Chicago, e que acaba vítima das contradições de um capitalismo selvagem que só olha ao lucro.
Citando fontes do Festival, Bernard Sobel (n. 1935) é o criador do Teatro de Gennevilliers, uma cidade da periferia de Paris, onde desenvolveu a sua acção de director e encenador entre 1963 e 2006. Foi em 1963, depois de fazer a sua formação no Berliner Ensemble, então dirigido por Helene Weigel, viúva de Brecht, que Sobel se instalou em Gennevilliers, onde começou por fundar o Ensemble Théâtral de Gennevilliers (ETG), um grupo de jovens actores e investigadores que adoptou um estatuto amador, cuja intenção era contribuir para o nascimento de uma forma teatral diferente das que existiam nessa época. Entre os autores que apresentou, contam-se Vichnevski, Koplov, Volokhov, Erdman, Heiner Müller, Kleist, Schiller, Lessing, Lenz, Heinrich Mann, Grabbe e, naturalmente, Brecht. Mas é também um especialista de Molière, de quem encenou várias obras, e o seu repertório inclui muitos outros autores clássicos e modernos, como Eurípedes, Marlowe ou Sarah Kane. Após deixar a direcção do Teatro de Gennevilliers, por ter atingido o limite de idade, Sobel fundou a sua própria companhia, tendo dirigido textos de Olecha, Mayenburg e Kleist.

Intérpretes: Alice Medeiros, Ana Cris, Bartolomeu Paes, Carlos Gomes, Catarina Rosa, Daniel Fialho, Diogo Tavares, Eduardo Breda, Elisabete Pedreira, Joana Campos, Joana de Verona, José Mata, José Redondo, Mafalda Jara, Marco Trindade, Rita Miranda, Sara Reis, Sofia Vitória, Tomás Tojo, Vera Barreto; Tradução: Manuel Resende; Cenário: Pierre Setbon, Guilherme Frazão; Figurinos: Mina Ly; Música e canções Olivier Bernaux; Desenho de luz: Guilherme Frazão; Som: Bernard Vallery; Fotografia: Rui Carlos Mateus; Ass. de figurinos: Bárbara Pinto, Inês Pereira, Lydia Neto; Ass. de dramaturgia: Miguel Curiel, Nuno Pontes; Duração: 2H40.


3. MOI, RODIN (Eu, Rodin), de Patrick Roegiers, com encenação de Mihai Maniutiu. Criação do Teatro Nacional Radu Stanca Sibiu (Roménia).

As relações entre Rodin e a sua discípula e amante Camille Claudel estiveram na origem de “A Paixão de Camille Claudel”, um belíssimo filme de Bruno Nuytten, com Gérard Depardieu e Isabelle Adjani. Soube agora que, em 2002, o Museu Guggenheim de Bilbau convidou o coreógrafo belga Marc Bogaerts para criar uma performance com interpretação de Esther Cloet. Um ano depois, o dramaturgo francês Patrick Roegiers juntou-se ao projecto, escrevendo o monólogo “Eu, Rodin”. A fusão da dança com as palavras deu-se no Teatro Nacional Radu Stanca de Sibiu, sob a direcção do encenador romeno Mihai Maniutiu, com interpretação de Constantin Chiriac.
Nada de mais decepcionante. A peça é um monólogo sem qualquer dramaticidade. A encenação é antiquada, obsoleta, de um gosto estético deprimente. A representação tonitruante e o bailado que a acompanha um apêndice sem graça nem convicção. “Eu, Rodin” afirma-se “um espectáculo sobre o amor e o poder, sobre a criação e a destruição, que coloca em cena, e em confronto, a escultora Camille Claudel (1864-1943) e o seu mestre e paixão, o escultor Auguste Rodin (1840-1917). Trata-se de uma criação em que Camille “dança” a sua relação com Rodin, e em que este “fala” através de um monólogo. Infelizmente, para mim, não passou de uma enorme maçada apesar de só durar uma hora.

Intérpretes: Constantin Chiriac, Esther Cloet; Tradução: Anca Maniutiu; Cenário: Iuliana Vîlsan, Mihai Maniutiu; Figurinos: Iuliana Vîlsan; Coreografia: Marc Bogaerts; Língua: Romeno, legendado em português; Duração: 1H00.


4. THE JEW (O Judeu), a partir de “The Jew of Malta”, de Christopher Marlowe; criação colectiva de Mundo Perfeito | Dood Paard | Maria Matos Teatro Municipal (Lisboa, Amesterdão).

Deve ser uma heresia o que vou dizer, dado que muitos consideram “O Judeu de Malta” “uma das obras-primas da dramaturgia universal”, Mas a verdade é que acho esta peça de um racismo aviltante, de um anti semitismo sem desculpa, só comparável ao “Judeu Juss”, filme aberrante do período nazi. Christopher Marlowe (1564-1593) é um dos grandes dramaturgos do período isabelino, contemporâneo de Shakespeare. Pode ter sido um mestre no sec. XVI, mas encenar esta peça no sec. XXI não me parece muito sensato. Mesmo que a mesma tente actualizar a mensagem (o que se calhar ainda a torna mais odiosa).
Retirando este aspecto, a encenação do colectivo é magnífica com um primeiro tempo em que, à vista dos espectadores, se constrói todo o cenário, sobrecarregando-o de elementos dispersos até à exaustão, para num segundo momento, se assistir à sua desagregação. Numa peça de mentiras e embustes, a relação entre o texto e a sua encenação é perfeita, ainda que à primeira vista o possa não parecer. Os actores são excelentes, quase todos portugueses a debitarem um texto inglês. Fica o senão, essencial, do significado racista desta história de ganância e vingança que se situa em Malta, ponto de cruzamento de religiões, de culturas e entreposto de rotas de comércio.
Parece ter estado na origem de “O Mercador de Veneza”, de William Shakespeare.
Socorrendo-me das notas do Festival, “Mundo Perfeito”, companhia que nasceu em 2003, tem apresentado o seu trabalho na Europa, Médio Oriente e América do Sul. Além de promover o trabalho artístico de Tiago Rodrigues, que partilha a direcção com Magda Bizarro, esta companhia tem apostado na nova dramaturgia, na criação colectiva e nas colaborações entre artistas portugueses e internacionais. Quanto ao grupo “Dood Paard” (em português, “Cavalo Morto”) foi fundado em Amesterdão em 1993. O seu trabalho, frequentemente politizado e de tom provocatório, inclui dramaturgos como Ésquilo, Shakespeare, Oscar Wilde, Edward Albee, Arthur Schnitzler ou Thomas Bernhard. Sem director, o trabalho colectivo e a autonomia são as principais características deste grupo.

Actores e criadores do espectáculo: Carla Maciel, Gillis Biesheuvel, Gonçalo Waddington, Kuno Bakker, Manja Topper, Tiago Rodrigues e ainda os técnicos André Calado, Julian Maiwald, René Rood; Adaptação: Paul Evans; Tradução: Joana Frazão; Comunicação: Raymond Querido; Produção; Dood Paard Marten Oosthoek; Produção: Mundo Perfeito Magda Bizarro; Residência artística: Espaço Alkantara; Língua: Inglês, legendado em português; Duração: 2H00.

segunda-feira, junho 13, 2011

AS MARCHAS POPULARES DE LISBOA 2011

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 ALTO DO PINA É QUE É!
 A marcha do Alto do Pina venceu as Marchas Populares de Lisboa com 152 pontos, seguida de Alfama (150) e da Madragoa (143), informou hoje a organização. Mas muitas outras marchas marcharam a preceito, numa demonstração cabal da força mobilizadora desta iniciativa que transformou a Avenida da Liberdade num enorme "marchodromo" onde se apinhavam milhares de pessoas a deslumbrarem-se com o garrido das cores e dos sons, e a torcerem pela marcha do seu bairro:

A MINHA MARCHA É LINDA!
  
Nas classificações por categoria, a marcha do Alto do Pina venceu ainda o melhor desfile na Avenida da Liberdade e, juntamente com as marchas de Alfama e da Mouraria (14.º), o melhor figurino, informa, em comunicado, a empresa municipal responsável pela animação cultural da cidade.
A marcha do Beato, que ficou em 8.º lugar na classificação geral, venceu na categoria de melhor coreografia, enquanto Alfama e Castelo (5.º lugar) tiveram a melhor cenografia. A melhor letra foi para a marcha do Bairro Alto (7.º lugar) enquanto a marcha da Bica (6.º lugar) venceu na categoria de melhor composição original e, juntamente com a marcha da Madragoa, na de melhor musicalidade.
Na classificação geral, a marcha de Marvila ficou em 4.º lugar, S.Vicente no 9.º, Graça no 10.º, Carnide no 11.º, Campolide no 12.º, Alcântara e Santa Engrácia no 13.º, Olivais no 15.º, Penha de França e Belém no 16.º, Bela Flor no 17.º e Baixa no 18.º.
As 20 marchas a concurso, da Baixa, Beato, Belém, Campolide, Marvila, Castelo, Mouraria, Penha de França, Graça, Carnide, Santa Engrácia, Bairro Alto, Bica, Olivais, São Vicente, Madragoa, Bela Flor, Alto do Pina, Alfama e Alcântara, competiram entre si para eleger o melhor desfile da cidade.
Pela avenida passaram também, fora de concurso, as marchas dos Mercados e Infantil, organizada pela Voz do Operário. Uma marcha marroquina foi a convidada da noite, introduzindo algum exotismo.  
 Houve quem rodasse um documentário sobre a Marcha de Campolide. Boa sorte!
E quem tivesse a coragem de carregar com arco, sem balão.
(as fotos são da autoria de MEC, de um fotógrafo de uma marca de café e do próprio. agradecido.)