



No conto de F. Scott Fitzgerald a narrativa inicia-se no “longínquo ano de 1860”. Os pais da criança chamam-se Button e tinham aderido ao "fascinante velho costume de ter bebés", mas, em vez de os ter em casa, a mãe vai pari-lo no "Hospital Particular de Maryland para Damas e Cavalheiros", onde, no dia certo, dá a luz um velho de barbas, que provoca a indisposição em todo o hospital e a ira do médico assistente: "Peço-lhe que vá e veja com os seus olhos. Escandaloso! (...) Imagina que um caso como este beneficia a minha reputação profissional? Outro igual arruinar-me-ia... arruinaria qualquer um. (...) Não, não se trata de trigémeos. Sabe que mais? Vá e veja com os seus olhos. E arranje outro médico. Trouxe-o a este mundo, meu rapaz, e há quarenta anos que sou médico da sua família, mas agora acabou-se! Estou farto. Não quero voltar a vê-lo nunca mais, nem a si, nem a nenhum dos seus familiares! Passe bem."





"Contar-vos-ei o que aconteceu e deixar-vos-ei ajuizar por vós próprios”, afirma F. Scott Fitzgerald no início do seu conto. David Fincher, numa outra perspectiva, parece deixar igualmente ao espectador essa tarefa, sem impor uma leitura unívoca. Sem ser um filme que nos apaixone particularmente, “O Estranho Caso de Benjamin Button” possui, todavia, motivos bastantes para se situar entre os títulos importantes do fim de 2008 (nos EUA) e do início de 2009 (em Portugal). As treze nomeações para Oscars não nos espantam, sobretudo porque muitas delas se situam em domínios onde o filme é particularmente brilhante (a fotografia de Claudio Miranda é especialmente notável, pelas variações de estilo que ostenta, sempre perfeita, até quando copia o filme mudo nessas deliciosas cenas do velho que recorda os sete raios que o atingiram ao longo da vida; a direcção artística de Donald Graham Burt e o guarda-roupa, de Jacqueline Westé, são igualmente extraordinários, pela forma como vão captando o tom das épocas por onde vai passando o filme; a partitura musical de Alexandre Desplat é admiravelmente evocativa; o trabalho da equipa de caracterização é também excelente). Já nos parece muito duvidoso que as nomeações principais se cumpram realmente em Oscars. A realização, os actores principais e adaptação do argumento não nos parecem merecer os prémios, apenas justificam as nomeações. São realmente bons, mas sem deslumbrarem. Caso muito diverso é o de Taraji P. Henson, na figura de Queenie, inteiramente à altura do Oscar. Resumindo, se o filme regressar com quatro ou cinco estatuetas intermédias, já será um bom resultado.

Título original: The Curious Case of Benjamin Button
Realização: David Fincher (EUA, 2008); Argumento: Eric Roth, Robin Swicord; Produção: Ceán Chaffin, Jim Davidson, Kathleen Kennedy, Frank Marshall, Marykay Powell; Música: Alexandre Desplat; Fotografia (cor): Claudio Miranda; Montagem: Kirk Baxter, Angus Wall; Casting: Laray Mayfield; Design de produção: Donald Graham Burt; Direcção artística: Kelly Curley, Tom Reta; Decoração: Victor J. Zolfo; Guarda-roupa: Jacqueline West; Maquilhagem: Colleen Callaghan, Brian Sipe; Direcção de Produção: Manon Bougie, Marc A. Hammer, Peter Mavromates, Daniel M. Stillman; Assistentes de realização: Carl Kouri, Allen Kupetsky, Steve Lonano, Maria Mantia, Bob Wagner, Pete Waterman; Departamento de arte: Lorrie Campbell, Tammy S. Lee, Masako Masuda, Clint Wallace, Randall D. Wilkins; Som: Ren Klyce; Efeitos especiais: Ted Allen, Burt Dalton, Liah Saldaña; Efeitos visuais: Eric Barba, Charlie Bolwell, Atsushi Imamura, Chris McLeod, James Pastorius, Wendy Pirotte, Steve Preeg, David Pritchard, Kyle Ware, Kyle Ware, Daniel Warom; Animação: Jonah Austin; Anthony Rizzo; Companhias de produção: The Kennedy/Marshall Company, Paramount Pictures, Warner Bros. Pictures; Intérpretes: Brad Pitt (Benjamin Button), Cate Blanchett (Daisy), Julia Ormond (Caroline), Tilda Swinton (Elizabeth Abbott), Elias Koteas (Monsieur Gateau), Taraji P. Henson (Queenie), Jason Flemyng (Thomas Button), Faune A. Chambers (Dorothy Baker), Donna DuPlantier (Blanche Devereux), Jacob Tolano (Martin Gateau), Earl Maddox, Ed Metzger (Teddy Roosevelt), Danny Vinson, David Jensen, Joeanna Sayler (Caroline Button), Mahershalalhashbaz Ali (Tizzy), Fiona Hale, Patrick Thomas O'Brien, Danny Nelson, Marion Zinser, Peter Donald Badalamenti II, Paula Gray, Lance E. Nichols, Rampai Mohadi, Troi Bechet, Phyllis Somerville, Elle Fanning, Ted Manson, Clay Cullen, Edith Ivey, Robert Towers, Jared Harris, Sonya Leslie-Shepherd, Yasmine Abriel, Madisen Beaty, Tom Everett, Don Creech, Joshua DesRoches, Christopher Maxwell, Richmond Arquette, Josh Stewart, Ilia Volok, David Ross Paterson, Taren Cunningham, Myrton Running Wolf, Stephen Taylor, Devyn A. Tyler, Adrian Armas, Wilbur Fitzgerald, Ashley Nolan, Louis Herthum, Katta Hules, Rus Blackwell, Joel Bissonnette, Deneen Tyler, Spencer Daniels, Chandler Canterbury, Charles Henry Wyson, Jessica Cropper, Katherine Crockett, etc. Duração: 166 minutos; Distribuição em Portugal: Columbia TriStar Warner; Classificação etária: M/ 12 anos; Estreia em Portugal: 15 de Janeiro de 2009.