
PEQUIM, 2008, II
É verdade que há muita coisa na China actual a merecer críticas e críticas severas. Mas a campanha orquestrada contra os Jogos Olímpicos e a China que os organiza ronda a esquizofrenia mais atormentada.
As imbecilidades que por aí circulam bradam aos céus: a menina que se via a cantar não era afinal a menina que cantava, porque uma não era assim tão bonita, mas cantava bem, e outra não cantava assim tão bem, mas era muito engraçadinha, e os aldrabões dos chineses colocaram a voz de uma e a cara da outra. Coisa nunca vista, a não ser milhares de vezes em qualquer filme americano ou não. Quantos musicais não mostram um rosto a cantar e se ouve outra voz? Dezenas e dezenas, e até há mesmo uma obra-prima (“Serenata à Chuva”) que termina parodiando a situação com imensa graça. O “play back” é uma técnica muito usada no teatro, no cinema, nos próprios concertos. Um espectáculo, em qualquer parte do mundo, procura ser o melhor possível, reunindo o melhor dos diversos componentes integrantes. Nada a opor portanto à utilização das duas meninas. A não ser para mentes torturadas, em buca de quaqluer pretexto para dizer mal.
O mesmo se deve dizer quanto à utilização de filmagens com céu límpido, em lugar de um directo com céu encoberto. A ideia era fornecer um espectáculo que fosse o melhor possível, repete-se. Um espectáculo não é um documentário que imponha uma ética rigorosa quanto ao que se mostra. Um espectáculo é por definição uma verdade encenada, ou uma mentira que se legitima por isso mesmo, por ser artificial, criada, recriada.
Lugares vazios ocupados por figurantes? Que tragédia! Pois é a mesma tragédia que ocorre em quase todas as grandes transmissões, dos Óscares aos Emis, e por aí fora. Toda a gente sabe que se faz assim, e que assim é que funciona bem. Excepto na China. Aqui esse artifício não pode ser admissível. Minha nossa!
Mais uma apenas: os chineses contrataram para algumas grandiosas obras arquitectónicas na cidade olímpica um arquitecto, Albert Spear, Jr, filho do célebre Albert Spear, arquitecto oficial do regime nazista, e amigo pessoal de Hitler. Claro que o referido arquitecto é um dos mais famosos do mundo, construiu um dos estádios do Mundial de Futebol de 2008, em Munique, tem trabalhos dispersos por todo o mundo, mas não podia funcionar na China. Aqui levanta-se igualmente uma questão curiosa: o filho de um nazi tem de ser obrigatoriamente nazi. “Se não foste tu, foi o teu pai!”, há uma fábula que termina assim, procurando criticar certos comportamentos. Pois, se fossemos por esse caminho, quantos “filhos da mãe” (ou do pai) não se tramariam em Portugal, e em todas as localidades do mundo? Mas um filho de nazi passa incólume em Munique a erguer um estádio, mas já é muito suspeito em Pequim. Por favor!
Durante a transmissão da cerimónia de abertura, um comentador técnico da RTP ia protestando contra a demora de tudo. Foi ao ponto de vociferar conta a volta que o atleta olímpico deu ao estádio, na pista olímpica virtual que se estendia no alto do mesmo. Acontece que aquela volta foi, só por si, um momento único e de uma originalidade total. Saborear aquele momento era quanto se pedia a qualquer ser medianamente sensível. Mas o comentador protestava. Já se tinha visto ele subir, para quê ele agora andar ali às voltas? Protestara antes por haver velhos atletas olímpicos a serem homenageados quando transportavam ente si o facho olímpico. Para quê essa palhaçada sem sentido, chego quase a perguntar? Enfim, perdoai-lhe Senhor porque não sabem o que dizem.
E num jornal qualquer, um articulista dizia que o facho olímpico servia os interesses imperialistas dos chineses, tal como o fizera aquando da sua aparição, nas olimpíadas de Berlim, no tempo de Hitler. Até pode o facho ter esse significado, mas por que razão só o relembram agora, na China? Em Los Angeles ou em Sidney não representava o mesmo? Não seria já aí um símbolo fascista?
Enfim, falem do trabalho infantil, falem da falência do sindicalismo, falem do partido único, falem da exploração gritante, falem da poluição que é mais grave do que a dos EUA, mas tenham olhos para a verdade e um algum sentido da imparcialidade.
As imbecilidades que por aí circulam bradam aos céus: a menina que se via a cantar não era afinal a menina que cantava, porque uma não era assim tão bonita, mas cantava bem, e outra não cantava assim tão bem, mas era muito engraçadinha, e os aldrabões dos chineses colocaram a voz de uma e a cara da outra. Coisa nunca vista, a não ser milhares de vezes em qualquer filme americano ou não. Quantos musicais não mostram um rosto a cantar e se ouve outra voz? Dezenas e dezenas, e até há mesmo uma obra-prima (“Serenata à Chuva”) que termina parodiando a situação com imensa graça. O “play back” é uma técnica muito usada no teatro, no cinema, nos próprios concertos. Um espectáculo, em qualquer parte do mundo, procura ser o melhor possível, reunindo o melhor dos diversos componentes integrantes. Nada a opor portanto à utilização das duas meninas. A não ser para mentes torturadas, em buca de quaqluer pretexto para dizer mal.
O mesmo se deve dizer quanto à utilização de filmagens com céu límpido, em lugar de um directo com céu encoberto. A ideia era fornecer um espectáculo que fosse o melhor possível, repete-se. Um espectáculo não é um documentário que imponha uma ética rigorosa quanto ao que se mostra. Um espectáculo é por definição uma verdade encenada, ou uma mentira que se legitima por isso mesmo, por ser artificial, criada, recriada.
Lugares vazios ocupados por figurantes? Que tragédia! Pois é a mesma tragédia que ocorre em quase todas as grandes transmissões, dos Óscares aos Emis, e por aí fora. Toda a gente sabe que se faz assim, e que assim é que funciona bem. Excepto na China. Aqui esse artifício não pode ser admissível. Minha nossa!
Mais uma apenas: os chineses contrataram para algumas grandiosas obras arquitectónicas na cidade olímpica um arquitecto, Albert Spear, Jr, filho do célebre Albert Spear, arquitecto oficial do regime nazista, e amigo pessoal de Hitler. Claro que o referido arquitecto é um dos mais famosos do mundo, construiu um dos estádios do Mundial de Futebol de 2008, em Munique, tem trabalhos dispersos por todo o mundo, mas não podia funcionar na China. Aqui levanta-se igualmente uma questão curiosa: o filho de um nazi tem de ser obrigatoriamente nazi. “Se não foste tu, foi o teu pai!”, há uma fábula que termina assim, procurando criticar certos comportamentos. Pois, se fossemos por esse caminho, quantos “filhos da mãe” (ou do pai) não se tramariam em Portugal, e em todas as localidades do mundo? Mas um filho de nazi passa incólume em Munique a erguer um estádio, mas já é muito suspeito em Pequim. Por favor!
Durante a transmissão da cerimónia de abertura, um comentador técnico da RTP ia protestando contra a demora de tudo. Foi ao ponto de vociferar conta a volta que o atleta olímpico deu ao estádio, na pista olímpica virtual que se estendia no alto do mesmo. Acontece que aquela volta foi, só por si, um momento único e de uma originalidade total. Saborear aquele momento era quanto se pedia a qualquer ser medianamente sensível. Mas o comentador protestava. Já se tinha visto ele subir, para quê ele agora andar ali às voltas? Protestara antes por haver velhos atletas olímpicos a serem homenageados quando transportavam ente si o facho olímpico. Para quê essa palhaçada sem sentido, chego quase a perguntar? Enfim, perdoai-lhe Senhor porque não sabem o que dizem.
E num jornal qualquer, um articulista dizia que o facho olímpico servia os interesses imperialistas dos chineses, tal como o fizera aquando da sua aparição, nas olimpíadas de Berlim, no tempo de Hitler. Até pode o facho ter esse significado, mas por que razão só o relembram agora, na China? Em Los Angeles ou em Sidney não representava o mesmo? Não seria já aí um símbolo fascista?
Enfim, falem do trabalho infantil, falem da falência do sindicalismo, falem do partido único, falem da exploração gritante, falem da poluição que é mais grave do que a dos EUA, mas tenham olhos para a verdade e um algum sentido da imparcialidade.