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sábado, dezembro 28, 2019

OS FILMES DOS OSCARS DE 2019 (4) ERA UMA VEZ EM HOLLYWOOD




ERA UMA VEZ EM HOLLYWOOD


Quentin Tarantino não é um cineasta consensual e talvez essa seja uma das suas virtudes. Não é dos autores que conseguem unanimidades e deixam todos mais ou menos satisfeitos. Tarantino é provocador e por vezes irritantemente controverso. Um filme seu, salvo raras excepções, nunca convence toda a gente, uns adoram, outros detestam, e há os que passam por ele hesitantes, mas nunca indiferentes. Raras vezes me aconteceu, até hoje, ver um filme duas vezes em dias seguidos (alguns já vi mais de 40 ou 50 vezes, mas com grandes intervalos). Aconteceu agora com “Era uma vez em Hollywood”. Por que razão?
Obviamente que achei logo na primeira visão que se tratava de um filme extremamente bem realizado, sensível à luz e à simbologia de Hollywood, magnificamente interpretado, recuperando com eficácia e, mais do que isso, com emoção, a Hollywood de final dos anos 60, precisamente do ano de 1969, ano em que aconteceu o massacre em casa de Roman Polanski e Sharon Tate, mas também, um ano e uma década de anuncia a morte de uma certa imagem de Hollywood e do cinema norte-americano.
Não foi, portanto, a qualidade da obra que me fez revisitá-la, mas sim por um lado o fascínio por esse mundo mítico do cinema e, por outro lado, uma certa mitologia cinematográfica que tem muito a ver com o universo pessoal do realizador: o mundo da “pulp fiction” (que deu o nome a uma das suas obras mais conhecidas e mais perfeitas), que tem os seus aspectos interessantes, e alguns outros altamente contestáveis. Tarantino gosta de enfatizar as qualidades de algumas dessas obras e certos actores e realizadores. O que não deixa de ser discutível no mínimo.
Compreende-se que, sendo Tarantino nos anos 60, um adolescente apaixonado pelo cinema e pela televisão, hoje tenha uma certa nostalgia por alguns desses produtos que consumia com entusiasmo. Mas já seria altura para destrinçar entre as séries de culto da televisão desses anos e as obras de Welles, Renoir, Hitchcock, Misoguchi, Buñuel ou Visconti. Nem Sergio Sollima, por muito interessante que possam ser alguns dos seus westerns spaghettis, se pode comparar a esse naipe de cineastas atrás referidos.
Depois há no filme uma mescla de factos e personagens reais e outros ficcionados que desorientam objectivamente o espectador. Aqui a razão está com Tarantino que se serve habilmente desta liberdade criativa. Temos assim em simultâneo uma Hollywood que existe, que se sente bem próxima (a recriação é magnifica sob todos os pontos de vista, desde os exteriores naturais até ao guarda-roupa, aos adereços), e uma outra que não tem existência própria que vive apenas da imaginação de Tarantino, ainda que suportada por modelos, esses sim existentes e reais.  Por exemplo, o protagonista, Rick Dalton (Leonardo DiCaprio), vedeta de séries de televisão, é uma criação do argumentista, se bem que moldada sobre Burt Reynold, este sim de existência real (era para surgir no filme, como convidado especial, mas faleceu sem o ter conseguido). Rick Dalton era cartaz em séries de western e de espionagem, e em finais de 90, está a viver um período menos brilhante da sua carreira, numa altura em que, pelo contrário, se procurava impor no mundo do cinema. Em Hollywood as hipóteses são poucas, mas um produtor amigo, Marvin Schwarz (um fabuloso Al Pacino), recomenda-lhe uma viagem até Itália, para filmar com “o segundo melhor realizador de westerns spaghettis, Sergio Sollima”. Sem grande vontade, Rick Dalton lá segue o conselho, regressa casado com uma “ragazza”, e com poucas hipóteses de manter Cliff Booth (Brad Pitt) como seu duplo e motorista privado, além de ser o seu melhor amigo e confidente privilegiado. O filme vive muito desta relação de amizade e lealdade que existe entre ambos.
Entre a verdade e a ficção, está igualmente o caso Sharon Tate (aqui interpretada por Margot Robbie), de que tanto se fala acerca dele em “Once Upon a Time in Hollywood”, e que afinal passa ao lado do filme. Rick Dalton é vizinho do casal Polanski e será a sua casa a assaltada pelos discípulos de Charles Manson que de lá saem esturricados, desenlace bem diverso do que aconteceu na realidade em Cielo Drive, na fatídica noite de 9 de Agosto de 1969. Tarantino poupa Tate e amigos à sua cruel sorte neste filme.
Cinquenta anos depois, Tarantino recorda Hollywood dos seus anos de menino (tinha sete anos em 1969), relembra a morte de uma certa ideia de cinema, e o aparecimento de uma nova geração de cineastas que criaram a Nova Hollywood, com nomes com Spielberg, Copolla, Scorsese, Lucas, entre alguns mais. Tarantino filma a sua nostalgia desses dias, capta a luz dourada dessa mítica capital de sonhos (que transforma pesadelos em sonhos, ainda hoje: “Once Upon a Time in Hollywood” é um exemplo acabado dessa mensagem, o massacre em casa de Sharon tate não acontece e os idiotas dos hippies são confrontados com o lança chamas de Rick Dalton que ele guardara num armazém e “ainda funciona” e de que maneira!), vagueia de carro pelas avenidas emolduradas de cinemas e néons que ostentam cartazes de filmes desse ano (e de outros, como nos mostra o magnifico plano das hippies da família Manson passando em frente a um monumental cartaz de “O Gigante”), penetra nos estúdios e leva-nos a assistir a algumas rodagens (outro excelente plano, um painel é lateralmente deslocado num estúdio, deixando ver o que se passa por detrás), dando tempo para ainda nos cruzarmos com algumas personagens lendárias, para lá de Sharon Tate e Roman Polanski, Bruce Lee, Steve McQueen, Sam Wanamaker, George Spahn, Charles Manson ou Jay Sebring, entre outros. Nenhum sob a aparência real, mas interpretados por actores.
Resumindo, após segunda visão, uma bela viagem pela Hollywood de outras eras, pelo fascínio dessa fábrica de sonhos, numa cuidada e esmerada reconstituição de tempo e local, com uma realização emocionada e uma interpretação excelente (para lá de todos os outros, atenção especial a uma miúda que vai longe, Margaret Qualley, a Pussycat), devendo ainda sublinhar-se a fotografia, a banda sonora musical (com êxitos daqueles anos, fazendo recordar um pouco “American Graffiti”, de Lucas) e a montagem. Um bom concorrente aos prémios que se avizinham. Em diversas categorias.


ERA UMA VEZ EM... HOLLYWOOD
Título original: Once Upon a Time... in Hollywood
Realização: Quentin Tarantino (EUA, 2019); Argumento: Quentin Tarantino; Produção: Tina Anderson, Jeffrey Chan, William Paul Clark, David Heyman, Georgia Kacandes, Shannon McIntosh, Daren Metropoulos, Quentin Tarantino, Dong Yu; Música: Mary Ramos (supervisor); Fotografia (cor): Robert Richardson; Montagem: Fred Raskin; Casting: Victoria Thomas; Design de produção: Barbara Ling; Direcção artística: Tristan Paris Bourne, John Dexter, Richard L. Johnson, Eric Sundahl, Jann K. Engel; Decoração: Nancy Haigh; Guarda-roupa: Arianne Phillips; Maquilhagem: Trish Almeida, Karen Bartek, Stephen Bettles, Jean Ann Black, Kathryn Blondell, Laura Caponera, Diana Choi, Seana Gorlick, Sian Grigg, Carey Jones, Greg Nicotero, Anna Quinn, Janine Rath, Kristen Saia, Heba Thorisdottir, Nicole Venables, Kevin Westmore, Jennifer Zide; Direcção de Produção: Georgia Kacandes, Nathan Kelly, Jason Zorigian; Assistentes de realização: Deborah Chung, William Paul Clark, Mohmmad Yunus Ismail, Brendan Lee, Christopher T. Sadler; Departamento de arte: Richard K. Buoen, Susannah Carradine, Tina Charad, Lisa M. Kittredge-Rodriguez, Vanessa Riegel, Jessica Ripka, Chris Snyder, etc. Som: Harry Cohen, Tom Hartig, Gary A. Hecker, Michael Hertlein, Sylvain Lasseur, etc; Efeitos especiais: Jeremy Hays; Efeitos visuais: Andrew Kalicki, Michael Perdew, Kevin Souls, Raphael A. Pimentel, Chaz Pizani, Eddie Porter; Companhias de produção:Columbia Pictures, Bona Film Group, Heyday Films; Intérpretes: Leonardo DiCaprio (Rick Dalton), Brad Pitt (Cliff Booth), Margot Robbie (Sharon Tate), Emile Hirsch (Jay Sebring), Margaret Qualley (Pussycat), Al Pacino (Marvin Schwarz), Timothy Olyphant (James Stacy), Julia Butters (Trudi Fraser), Austin Butler (Tex Watson), Dakota Fanning (Squeaky Fromme), Bruce Dern (George Spahn), Mike Moh (Bruce Lee), Luke Perry (Wayne Maunder), Damian Lewis (Steve McQueen), Nicholas Hammond (Sam Wanamaker), Samantha Robinson (Abigail Folger), Rafal Zawierucha (Roman Polanski), Lorenza Izzo (Francesca Capucci), Costa Ronin, Damon Herriman, Lena Dunham, Madisen Beaty, Mikey Madison, James Landry Hébert, Maya Hawke, Victoria Pedretti, Sydney Sweeney, Harley Quinn Smith, Marco Rodríguez, Ramón Franco, Clu Gulager, Kurt Russell, Zoë Bell, Michael Madsen, Tim Roth, Brenda Vaccaro,  etc. Duração: 161 minutos; Distribuição em Portugal: Atalanta Filmes; Classificação etária: M/ 16 anos; Data de estreia em Portugal: 15 de Agosto de 2019.

quarta-feira, janeiro 30, 2013

CINEMA: DJANGO LIBERTADO

 
 
 

DJANGO LIBERTADO
 
Creio que os dois melhores filmes norte-americanos nomeados para o Oscar de Melhor Filme de 2013, são “Lincoln” e “Django Libertado”, ambos curiosamente ambientados no mesmo período histórico e abordando igual tema, a escravatura negra. Em nenhum dos casos os realizadores, Steven Spielberg ou Quentin Tarantino, obedecem a qualquer oportunismo político da era Obama: ambos sempre pugnaram por essa causa e ambos têm nas respectivas filmografias exemplos claros disso mesmo. Mas o percurso narrativo e o estilo dos dois filmes são bem diferentes, ainda que as intenções se possam justapor: ambos se batem contra a escravatura, pela igualdade de direitos e pela dignidade humana. Spielberg avança pelo campo da seriedade e da reconstituição histórica, Tarantino joga na cartada da rábula ao western spaghetti, reinventando “Django”, um filme italiano de 1966, dirigido por Sergio Corbucci e protagonizado por Franco Nero. Depois das obras de Sergio Leoni, que são de uma outra constelação, esta de Sergio Corbucci é muito curiosa e, entretanto, tornou-se um “cult movie” que um cinéfilo fanático da série B, como Tarantino, não podia desdenhar. Esta é a sua homenagem, que vai ao ponto de chamar Franco Nero para interpretar um pequeno papel, em jeito de tributo a um dos mais populares actores do western spaghetti, claro que depois de Clint Eastwood (que por acaso era americano e se notabilizou em películas de Leoni).
Mas a inspiração de Tarantino em “Django” fica-se pelo título e pelo estilo. Toda a história é bem diversa e baseia-se numa vingança. As personagens parecem realmente retiradas de um western spaghetti, dada a caracterização brutal, o amoralismo, a baixeza das intenções dos vilões, e os processos nada digno dos anti-heróis.
Tudo começa pelo aparecimento do Dr. King Schultz (Christoph Waltz), um médico alemão que viaja pelo oeste americano numa carroça transformada em clínica dentária, mas que no fundo não passa de um muito eficiente caçador de prémios. Para chegar junto de um gang de irmãos muito cobiçado, tem de libertar um escravo negro, Django (Jamie Foxx), e ambos passam a constituir uma dupla de peso. Um continua a perseguir cadastrados que quer levar às autoridades, vivos ou mortos (de preferência mortos), para arrecadar os prémios prometidos, o outro quer resgatar a noiva, Broomhilda (Kerry Washington), que se encontra escrava numa fazenda de um latifundiário sem escrúpulos (mas quem é que tem escrúpulos neste filme?). Na sua dupla perseguição viajam em conjunto e vão organizando as tarefas com sucesso, até chegarem à propriedade de um verdadeiro tarado sanguinolento, Calvin Candie (Leonardo DiCaprio), que se entretém a ver morrer negros desfeitos pelas dentadas de cães ou a assistir a duelos mortais entre negros mandingos. E chega de falar na intriga que, como em todos os westerns spaghetti, é intrincada, ainda que progrida em linha recta até ao massacre final.
 

Primeira constatação: Tarantino é fiel ao cinema e não à história. Mandingo existe como filme de Richard Fleischer (um dos preferidos do cineasta, segundo revelações do próprio), e a existência ou não real desses combates interessa-lhe pouco. Existem no cinema, é quanto basta. De resto, já vi quem criticasse o aparecimento da KKK, antes de ela ter existido (historicamente e organizada só aparece depois do fim da Guerra da Secessão), mas o que vemos não é a KKK, mas uma pré-KKK que existiu, que parece ter sido conhecida por "The Regulators". Mas a Tarantino, o que interessa é que depois de aparecer no seu filme, passa a existir. O filme não se reclama da fidelidade histórica, quanto muito de uma fidelidade de estilo cinematográfico e de uma coerência ideológica.
Posto isto, se nas sequências finais o massacre atinge um tom de uma violência quase insuportável (o que provocou protestos na América, e o que terá levado a algum constrangimento da Academia nas nomeações, e creio que nos próprios Oscars, o que confirmaremos daqui a alguns dias), a verdade é que todo o filme se desenvolve num tom de paródia, com personagens particularmente bem construídas e divertidas (o Dr. King Schultz, de Christoph Waltz, é uma figura inesquecível, uma das melhores criações da mente pervertida de Tarantino, bem assim como o Calvin Candie, de Leonardo DiCaprio), situações magnificamente sustentadas, uma narrativa nervosa de uma arquitectura quase esquizóide, e uma componente técnica de mestre, desde a sumptuosa fotografia, ao requinte dos ambientes, da inspirada partitura musical à montagem e à sonoplastia. Cremos mesmo que este é dos melhores Tarantinos de sempre. Rapidamente se tornara um cult movie e deixa rasto na história do cinema, mesmo que passe quase desapercebido na cerimónia dos Oscars. Onde se deve sublinhar, todavia, um agradável e bem-vindo regresso de um cinema interventivo, certamente consequência de uma era Obama, incrustada num período de crise que leva os criadores a questionarem a realidade social e política, uma das boas características do cinema norte-americano de esquerda liberal.



DJANGO LIBERTADO
Título original: Django Unchained
Realização: Quentin Tarantino (EUA, 2012); Argumento: Quentin Tarantino; Produção: William Paul Clark, Reginald Hudlin, Shannon McIntosh, Pilar Savone, Michael Shamberg, Stacey Sher, James W. Skotchdopole, Bob Weinstein, Harvey Weinstein; Fotografia (cor): Robert Richardson; Montagem: Fred Raskin; Casting: Victoria Thomas; Design de produção: J. Michael Riva; Direcção artística: Page Buckner, David F. Klassen, Mara LePere-Schloop, Suzan Wexler; Decoração: Leslie A. Pope; Guarda-roupa: Sharen Davis; Maquilhagem: Camille Friend, Heba Thorisdottir; Direcção de produção: Tina Anderson, Marc A. Hammer, Alex G. Scott, James W. Skotchdopole; Assistentes de realização: William Paul Clark, Greg Hale, Melinda Johnson, Teresa Jolene Lee, Leonardo Corbucci, Juana Franklin; Departamento de arte: Ernie Avila, Andrea Babineau, Andrew Birdzell, Caleb Guillotte, Nancy A. King, Molly Mikula, Paul Sonski, Eric Sundahl, Brian Walker, Suzan Wexler; Som: Harry Cohen, Wylie Stateman; Efeitos especiais: John McLeod; Efeitos visuais: John Dykstra, Sheila Giroux, Rachel Faith Hanson, Mohamad Sharil Harees, Tom Rubendall, Wineeth Wilson; Agradecimentos e homenagens: Ralph Bakshi, Sacha Baron Cohen, David Carradine, Sergio Corbucci, Lady Gaga, Joseph Gordon-Levitt, Sid Haig, Isaac Hayes, Sergio Leone, Gordon Parks, Sam Peckinpah, Robert Rodriguez, Richard Roundtree, Kurt Russell, Tony Scott, Michael Kenneth Williams; Companhias de produção: The  Weinstein Company, Columbia Pictures, Brown 26 Productions, Double Feature Films, Super Cool Man Shoe Too, Too Super Cool ManChu; Intérpretes: Jamie Foxx (Django), Christoph Waltz (Dr. King Schultz), Leonardo DiCaprio (Calvin Candie), Kerry Washington (Broomhilda), Samuel L. Jackson (Stephen), Walton Goggins (Billy Crash), Dennis Christopher (Leonide Moguy), James Remar (Butch Pooch / Ace Speck), David Steen (Mr. Stonesipher), Dana Michelle Gourrier (Cora), Nichole Galicia (Sheba), Laura Cayouette (Lara Lee Candie-Fitzwilly), Ato Essandoh (D'Artagnan), Sammi Rotibi (Clay Donahue Fontenot), Miriam F. Glover, Don Johnson (Big Daddy), Franco Nero (Amerigo Vessepi), James Russo (Dicky Speck), Tom Wopat (U.S. Marshall Gill Tatum), Don Stroud (Sheriff Bill Sharp), Russ Tamblyn (filho do pistoleiro), Amber Tamblyn, Bruce Dern (velho), M.C. Gainey, Cooper Huckabee, Doc Duhame, Jonah Hill, Lee Horsley, Zoe Bell, Michael Bowen, Robert Carradine, Jake Garber, Ted Neeley, James Parks, Tom Savini, Michael Parks, John Jarratt, Quentin Tarantino, Amari Cheatom, Keith Jefferson, Marcus Henderson, etc. Duração: 165 minutos; Distribuição em Portugal: Zon Lusomundo; Classificação etária: M/16 anos; Estreia em Portugal: 24 de Janeiro de 2013. 



sexta-feira, setembro 11, 2009

CINEMA: SACANAS SEM LEI

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SACANAS SEM LEI
“Sacanas sem Lei”, último filme de Quentin Tarantino, tem uma história por detrás da própria história do filme, que é interessante conhecer para melhor se perspectivar a obra.
Na verdade, “Inglourious Basterds” inscreve-se numa longa lista de filmes sobre a II Guerra Mundial, onde um grupo de “patifes” ou “sacanas” a contas com a justiça militar se vê envolvido numa acção contra os nazis, tornando-se heróis sem muito bem perceberem como. O primeiro grande filme desta onda foi “Os Doze Indomáveis Patifes” (The Dirty Dozen), de Robert Aldrich (1967), com um elenco notável e uma moralidade evidente, para lá da história e das peripécias decorrentes. O que se procurava testemunhar era a possibilidade de uma “segunda hipótese” que permitisse a redenção de um grupo de proscritos que afinal só precisava de uma nova oportunidade para se regenerar.
Muitos outros filmes se seguiram e procuraram reproduzir o sucesso desta obra, que ela própria teve sequelas, nenhuma delas tão brilhante como o original.
Nas décadas de 60 e 70, os estúdios italianos tinham, por bom ou mau hábito, copiar, com pequenos orçamentos, e em jeito de série B, os grandes sucessos de aventura, acção, terror ou horror que se afirmassem em qualquer outro país, nomeadamente no universo anglo-saxónico. Tendo sido sobretudo os êxitos norte-americanos pirateados até à saciedade. Em filmes que, por vezes, tinham algum interesse (há muitos westerns deste período com uma qualidade inequívoca, que deram a conhecer realizadores como Sergio Leoni e lançaram a carreira de actores como Clint Eastwod), mas a maioria era de péssima qualidade, de um aproveitamento sem escrúpulos das emoções mais primárias que existem no mais fácil dos espectadores.
Não foram só os westerns que foram “revisitados” ou, melhor, “vampirizados”, pelos realizadores italianos (quase sempre com pseudónimos anglicizados), mas também os filmes de terror (que nos deram surpresas agradáveis como Dario Argento, por exemplo) ou de horror (onde o canibalismo e os mortos-vivos bateram recordes de mau gosto). Igualmente os filmes bélicos tiveram o seu auge e uma das obras mais referenciadas é um filme de 1978, assinado por Enzo G. Castellari (que também ficou conhecido por Stephen M. Andrews, Enzo Girolami Castellari, Enzo Castellari, Enzo Girolami, Enzo Girollami, E.G. Rowland ou Enzo G. Rowland), com o título original italiano “Quel Maledetto Treno Blindato”. Nos EUA teve várias outras designações, como “The Inglorious Bastards”, “Counterfeit Commandos”, “Deadly Mission”, “G.I. Bro” ou Hell's Heroes”, para lá de nas Filipinas se ter chamado “The Dirty Bastard”. Em Portugal terá sido “Seis Gloriosos Patifes" e, no Brasil, “Assalto ao Trem Blindado”.
Ora bem, Quentin Tarantino tem desde sempre uma preferência muito especial por séries B, quer sejam americanas, quer sejam de outras origens, das europeias às asiáticas. Quase todos os seus filmes, de “Cães Danados” a “À Prova de Morte”, são demonstrações disso e muito ligadas ao imaginário popular, dos romances de “pulp fiction” aos “comics”, mas sobretudo aos filmes de sessão dupla em salas de bairro. Mais uma vez, isso acontece em “Inglourious Basterds” que, desta feita de forma explícita e por demais publicitada pelo próprio cineasta, se vai basear no já referido “The Inglorious Bastards”, do também já citado italiano Enzo G. Castellari. O que temos é uma “homenagem” de Tarantino a um realizador da acção pura, que faz filmes baseados numa estética (se de estética estamos falando) que tem a ver sobretudo com acção e violência sem muitas explicações históricas ou sociológicas com um enredo diminuto, reduzido a uma ténue linha narrativa que permita fazer suceder, com alguma lógica, as referidas cenas de “Kiss, Kiss, Bang, Bang” (aqui mais “Bang, Bang” e “Pum, Pum”, do que “Kiss, Kiss”). Este género de obras não se preocupa com plausibilidade de situações ou densidade psicológica de personagens, mas com a possibilidade de mandar pelos ares muitos soldados inimigos, ao som de estridentes explosões, que levam consigo tanques ou camionetas de prisioneiros militares. Este o caso da obra de Enzo G. Castellari.
“Quel Maledetto Treno Blindato” é uma película de guerra, de um sub-género muito explorado no cinema, a II Guerra Mundial, ou “os filmes de nazis”. O argumento é de Sergio Grieco e do realizador, o elenco conta actores popularizados neste tipo de filmes, como o sueco Bo Svenson, o afro-americano Fred Williamson, entre outros. Estamos no verão de 1944, na Europa, mais precisamente em França, num acampamento americano. Alguns militares, condenados por crimes graves, são encaixotados numa camioneta rumo ao seu destino mais previsível, o fuzilamento.
Um desertor, Burl (Jackie Basehart), um ladrão, Nick Colasanti (Michael Pergolani), um assassino, Fred (Fred Williamson), um revoltado, Tony (Peter Hooten) e um tenente, Jaeger (Bo Svenson), constituem este grupo de soldados americanos condenados que partem de um acampamento nas Ardenas. Durante a viagem a coluna é bombardeada por aviões alemães e os prisioneiros conseguem libertar-se e fugir. Querem chegar à Suíça. Na deslocação encontram um desertor alemão que se junta ao grupo, formando os “Seis Gloriosos Patifes” da versão portuguesa. Mas, quando são encontrados por membros da resistência francesa são confundidos com um comando que vem efectuar uma perigosa missão de sabotagem, tendo que assaltar um comboio alemão com o objectivo de roubar um dispositivo que alimenta os famigerados V2. E o grupo aceita a missão e “gloriosamente” cumpre-a na íntegra.
Os “westerns spaghetti” (filmes do Oeste, rodados na Europa, sobretudo em Itália e Espanha, entre 60 e 70) tinham criado um estilo. Não havia heróis, mas anti-heróis, personagens romantizadas sem passado nem futuro, andrajosos mas fotogénicos (veja-se Eastwwod com o seu fósforo ou palito ao canto da boca), que atravessavam histórias de uma violência epidérmica, com vilões da pior espécie. A música inspirada de Morricone (e outros continuadores) e uma fotografia densa e soturna criavam o ambiente. E a mística destas obras que tiveram o efeito de projectar o estilo para outros géneros. O filme de guerra, por exemplo.
Em “Quel Maledetto Treno Blindato” não há heróis impolutos, mas patifes contra vilões, assassinos e ladrões contra psicopatas institucionalizados num sistema político que queria dominar o mundo. Obviamente que o público está do lado dos maus simpáticos contra os péssimos antipáticos. O tom destas obras era de violência extrema, mas quase trabalhada ao nível da violência dos cartoons (Speedy Gonzalez contra o demónio da Tasmânia) o que acarretava um humor distanciador. Depois repisavam-se receitas retiradas de outras obras de referência imediata para o grande público. No caso do filme de Enzo G. Castellari são óbvias as citações de “Os Doze Indomáveis Patifes” (Robert Aldrich, 1967), “O Desafio das Águias” (John Sturges, 1973), “Heróis por Conta Própria” (Brian G. Hutton, 1970), “Cruz de Ferro” (Sam Peckinpah, 1877), entre muitos outros. Olhando a obra não me parece que estas referências sejam tanto de uma cinefilia de homenagem, mas fundamentalmente um ingénuo aproveitamento de receitas comprovadas em filmes de grande espectáculo e grande sucesso de bilheteira. O caso de Quentin Tarantino é distinto. Trata-se de uma cinefilia óbvia de um entusiasta por este tipo de filmes de série B, que ele consumiu abundantemente e aprendeu a amar quando ainda era empregado num vídeo clube e se alimentava dessa matéria-prima. Mas, as diferenças são visíveis. Logo nos títulos que parecem idênticos e não são. “The Inglorious Bastards” é o título americano do filme de Castellari, “Inglourious Basterds” é o do filme de Tarantino. A troca do a pelo e, o o acrescentado sublinham a diferença.
Quentin Tarantino escreveu o projecto e diga-se que, tanto ao nível da escrita do argumento como na sua concretização em imagens, o efeito é brilhante. Estamos ao nível do melhor Tarantino.
O cenário é novamente a II Guerra Mundial, quase ao cair do pano, e a história começa na França sob ocupação alemã, onde um oficial das SS, o coronel Hans Landa (Christoph Waltz) dizima traiçoeiramente uma família de judeus. Mas, Shosanna (Mélanie Laurent), uma das filhas, consegue fugir e será ela que mais tarde, sob o nome de Emmanuelle Mimieux, irá dirigir um cinema em Paris. Entretanto, do lado dos Aliados, e entre as tropas americanas, organiza-se um grupo especial de judeus, comandados pelo tenente Aldo Raine (Brad Pitt), conhecido por “Aldo, o Apache” (dado o seu particular gosto por escalpes) que vai liderar este bando de sádicos soldados americanos, numa cruzada que espalha o terror entre os nazis. Uma das espias que colabora com a resistência francesa é a famosa actriz Bridget von Hammersmark (Diane Kruger) que todavia não tem um futuro risonho. Mais perto do fim da guerra, na sala de cinema de Emmanuelle Mimieux, onde se estreia "O Orgulho da Nação", um filme de propaganda nazi, na presença do próprio Adolf Hitler, de Joseph Goebbels e dos principais líderes do III Reich, reúnem-se os “basterds” e o coronel Hans Landa, além de Shosanna, que vai engendrar finalmente a sua vingança, numa pirotecnia brutal que pretende logo ali destruir o III Reich.
Ao contrário do filme de Castellari, Tarantino constrói uma obra extremamente palavrosa, com diálogos infindáveis, onde – o próprio o confessa – testa o seu poder de criar suspense e de o manter. A sequência da taberna francesa com a actriz e os militares alemães é bem exemplar deste propósito. Esta alteração é particularmente significativa para se compreenderem as intenções de Tarantino e a sua base cultural, diversa da de Castellari. Este é um técnico competente para criar cenas de acção, Tarantino é um cinéfilo com uma preparação cinematográfica muito mais apurada. Castellari nunca foi seleccionado para Cannes (nem nunca concorreu, se calhar, é o mais certo), Tarantino é-o quando quiser e declararam-no desde logo o grande acontecimento do Festival desse ano. Um é olhado como um mero tarefeiro, o outro como um pós-moderno. Toda a diferença. O filme de Tarantino organiza-se em redor de uma sala de cinema e da história do cinema. A sala do cinema é o lugar físico onde irá acontecer o momento final, capital, da obra. É nessa sala de cinema, e através de bobines de filmes, que se irá construir a História. Uma História que tem pouco a ver com a verdadeira História, mas que marca bem a diferença entre a realidade (que existe) e a ficção (que tudo torna possível). Mas não será só nessa sala de cinema que o cinema constrói a História, pois o próprio filme é construído pelo cinema, pela sua História (raros filmes terão tantas citações de outros filmes, desde cenas, personagens, referências no diálogo, cartazes, fotografias, legendas, temas musicais, etc.). Este é um filme que vampiriza o cinema, como outrora o fizeram os cineastas italianos dos anos 60 e 70. Curiosamente nessa altura os italianos copiavam os americanos, agora é um americano que se volta para o cinema italiano e nele vai beber inspiração. Círculo fechado.
Diga-se que ao nível de intenções elas prolongam-se de um realizador para o outro. Tarantino realiza um filme onde não há bons e maus, mas maus e mais maus. Uns são péssimos por tradição (os nazis), outros são maus por vingança e sadismo. Pelo meio há alguns inocentes que morrem ou traem, franceses ocupados a bem ou a mal, e resistentes que se esforçam, mas estamos num mundo onde não há ideologias ou causas. Onde parece não haver grandes diferenças comportamentais ao nível ético. Os nazis matam judeus como ratos, os “basterds” matam nazis escalpelizando-os com gozo evidente. Claro que há uma ironia forte a tratar o tema, claro que os diálogos são divertidos, claro que todos percebemos que Tarantino se diverte e nos diverte. Claro que Tarantino não acredita em nada a não ser no cinema. No seu cinema. De acção e diversão. Sem outras pretensões. Claro que é bom nisso, claro que a realização é brilhante, o argumento bem escrito, os actores notáveis (fabuloso Christoph Waltz, no papel do coronel Hans Landa), a banda sonora muito bem escolhida (recorrendo a muitos temas musicais de filmes antigos que Tarantino cita e homenageia). Claro que “Sacanas sem Lei” é um filme a não perder. Mas fica claro também que este não é o “meu” cinema. Apesar de me ter divertido muito a vê-lo. Mas a verdade é que, no final, algo me incomodava (por exemplo: ser levado a achar “porreiros” e “simpáticos” caçadores de escalpes nazis).

SACANAS SEM LEI
Título original: Inglourious Basterds
Realização: Quentin Tarantino (EUA, Alemanha, 2009); Argumento: Quentin Tarantino; Produção: Lawrence Bender, Christoph Fisser, Henning Molfenter, Charlie Woebcken, Bruce Moriarty, William Paul Clark, Lloyd Phillips, Pilar Savone, Erica Steinberg, Bob Weinstein, Harvey Weinstein; Fotografia (cor): Robert Richardson; Montagem: Sally Menke; Casting: Simone Bär, Olivier Carbone, Jenny Jue, Johanna Ray; Design de produção: David Wasco; Direcção artística: Marco Bittner Rosser, Stephan O. Gessler, Sebastian T. Krawinkel, Andreas Olshausen, David Scheunemann, Steve Summersgill, Bettina von den Steinen; Decoração: Sandy Reynolds-Wasco; Guarda-roupa: Anna B. Sheppard; Maquilhagem: Howard Berger, Jake Garber, Pamela Grujic, Grady Holder, Susanne Kasper, Emanuel Millar, Gregory Nicotero, Heba Thorisdottir, Khanh Trance; Direcção de Produção: Tina Anderson, Christopher Berg, Gilles Castera, Philipp Klausing, Arno Neubauer, Michael Scheel, Gregor Wilson; Assistentes de realização: Delphine Bertrand, Jerome Borenstein, William Paul Clark, Carlos Fidel, Mara Fiedler, Scott Kirby, Ariane Lacan, Bruce Moriarty, Jill Moriarty, Julien Petit, Gabriel Roth; Departamento de arte: Robert Blasi, Sabine Engelberg, David R. Evans, Michael Fissneider, Stephanie Rass, Steve Summersgill; Som: Harry Cohen, Ann Scibelli; Efeitos especiais: Gerd Feuchter, Uli Nefzer; Efeitos visuais: John Dykstra, Rodney Montague, Viktor Muller; Agradecimentos especiais a Enzo G. Castellari, John Milius, Tom Tykwer; Companhias de produção: Universal Pictures, The Weinstein Company, A Band Apart, Zehnte Babelsberg Film, Visiona Romântica; Intérpretes: Brad Pitt (Lt. Aldo Raine), Mélanie Laurent (Shosanna Dreyfus), Christoph Waltz (Col. Hans Landa), Eli Roth (Sgt. Donny Donowitz), Michael Fassbender (Lt. Archie Hicox), Diane Kruger (Bridget von Hammersmark), Daniel Brühl (Pvt Fredrick Zoller), Til Schweiger (Sgt. Hugo Stiglitz), Gedeon Burkhard (Cpl. Wilhelm Wicki), Jacky Ido (Marcel), B.J. Novak (Pfc. Smithson Utivich), Omar Doom (Pfc. Omar Ulmer), August Diehl (Major Dieter Hellstrom), Denis Menochet (Perrier LaPadite), Sylvester Groth (Joseph Goebbels), Martin Wuttke (Adolf Hitler), Mike Myers (General Ed Fenech), Julie Dreyfus (Francesca Mondino), Richard Sammel, Alexander Fehling, Rod Taylor (Winston Churchill), Soenke Möhring, Samm Levine, Paul Rust, Michael Bacall, Arndt Schwering-Sohnrey, Petra Hartung, Volker Michalowski, Ken Duken, Christian Berkel, Anne-Sophie Franck, Léa Seydoux, Tina Rodriguez, Lena Friedrich, Ludger Pistor, Jana Pallaske, Wolfgang Lindner, Michael Kranz, Rainer Bock, André Penvern, Sebastian Hülk, Buddy Joe Hooker, Carlos Fidel, Christian Brückner, Hilmar Eichhorn, Patrick Elias, Eva Löbau, Salvadore Brandt, Jasper Linnewedel, Wilfried Hochholdinger, Olivier Girard, Michael Scheel, Leo Plank, Andreas Tietz, Bo Svenson, Enzo G. Castellari, Anastasia Schifler, Michael August, Noemi Besedes, Alex Boden, Bela B. Felsenheimer, Guido Föhrweißer, Jake Garber, Samuel L. Jackson (Narrador), Gregory Nicotero, Aleksandrs Petukhovs, Vitus Wieser, etc. Duração: 153 minutos; Distribuição em Portugal: Zon Lusomundo; Classificação etária: M/ 16 anos; Locais de filmagem: Babelsberg, Potsdam, Krampnitz, Nauen, Rüdersdorf (Brandenburg), Bad Schandau, Görlitz, Sebnitz, Elbe Sandstone Mountains, (Saxónia), Berlin (todos na Alemanha), Paris (França); Estreia em Portugal: 27 de Agosto 2009.

Os filmes de Quentin Tarantino: “Cães Danados” (Reservoir Dogs, 1992), “Pulp Fiction” (1994), “4 Quartos” (Four Rooms) (um episódio, 1995), “Jackie Brown” (1997), “Kill Bill - A Vingança Kill Bill: Vol. 1” (2003), “Kill Bill 2 Kill Bill: Vol. 2” (2004), “Sin City - A Cidade do Pecado” (Sin City, 2005), “Grindhouse” (2007), “À Prova de Morte” (Death Proof, 2007) “Sacanas Sem Lei” (Inglourious Basterds, 2009).

SEIS GLORIOSOS PATIFES
Título original: Quel maledetto treno blindato
Realização: Enzo G. Castellari (Itália, 1978); Argumento: Sandro Continenza, Sergio Grieco, Franco Marotta, Romano Migliorini, Laura Toscano; Produção: Roberto Sbarigia; Música: Francesco De Masi; Fotografia (cor): Giovanni Bergamini; Montagem: Gianfranco Amicucci; Direcção artística: Pier Luigi Basile, Aurelio Crugnola; Guarda-roupa: Ugo Pericoli; Maquilhagem: Giancarlo De Leonardis, Maggi, Giovanni Morosi; Direcção de Produção: Ennio Di Meo , Pino Mangogna; Assistente de realização: Mario Maffei; Departamento de arte: Enrico Sanchini; Som: Nick Alexander, Domenico Dubbini, Mario Ottavi; Efeitos especiais: Gino De Rossi; Companhias de produção: Films Concorde; Intérpretes: Bo Svenson (tenente Jaeger), Peter Hooten (Tony), Fred Williamson (Fred), Michael Pergolani (Nick Colasanti), Jackie Basehart: Burl), Michel Constantin (Veronique), Debra Berger (Nicole), Raimund Harmstorf (Adolf), Ian Bannen (coronel Buckner), Flavio Andreini, Peter Boom, Vito Fornari, Manfred Freyberger, Joshua Sinclair, Mike Morris, Donald O'Brien, Gerard Schwarz, Bryan Rostron, Massimo Vanni, Bill Vanders, Mauro Vestri, Nick Alexander, Enzo G. Castellari, Larry Dolgin, Rocco Lerro, Edward Mannix, Pietro Plinio Quinzi, Franco Ukmar, etc. Duração: 99 minutos; Classificação etária: M/ 12 anos.