A HISTERIA ANTI SÓCRATES
Não compreendo, e repugna-me, esta histeria instalada
contra José Sócrates. Por uma razão simples. É que não encontro razão nenhuma em
particular para assim se proceder.
Vejamos. Que eu saiba, José Sócrates tem sido
acusado de dois tipos de pecados:
1º Andar metido em negócios pessoais pouco claros,
de que foi acusado e de que nunca nada se provou de concreto, em nenhum dos
casos. Ora eu acho que vivemos ainda em democracia, num estado de direito, onde
qualquer individuo é considerado inocente até ser julgado e condenado como
culpado. Julgamentos sumários em praça pública ou assassinatos políticos, para
mim não contam e acho-os ignóbeis. Não o fiz com Sá Carneiro, na histeria Snu, não
o fiz com Santana Lopes, quando imperava a boatice, não o farei com José
Sócrates. Ponto final, paragrafo, até me provarem o contrário.
2º Ter permitido, enquanto primeiro-ministro, vários
erros de governação que nos conduziram onde hoje os encontramos: num profundo buraco
negro. Ora não tenho dúvidas de que José Sócrates pode, e deve, ser acusado de
alguns erros de governação. O maior de todos, talvez, ter-se demitido. Acontece
que nunca vi em Portugal nenhum político não se enganar, até chegarmos ao
vergonhoso estado em que hoje nos encontramos, em que os ditos governantes não acertam
uma. Mais: quem acabou com a agricultura e as pescas e iniciou as faraónicas
obras de cimento e betão? Cavaco Silva! Quem iniciou a delapidação generalizada
dos avultados dinheiros vindos da CE? Bom, não preciso de ir mais longe. José
Sócrates é tanto réu como tantos outros, com a agravante de muito do que ele disse
se ter confirmado posteriormente. Na verdade, a crise não era só portuguesa,
mas internacional; na verdade, a dívida não era para se pagar como está a
acontecer, mas para se negociar, etc, etc. E nos primeiros quatro anos do seu
mandato, sem crise, as contas portuguesas equilibraram-se como raras vezes
tinha acontecido. Depois sim, foi o descalabro. Mas não foi o descalabro só
português, foi europeu, foi internacional.
Posto isto, em democracia qualquer um pode falar e
expor as suas razões. Tenho visto e ouvido cada alimária a dizer disparates
tamanhos que não será certamente o programa de José Sócrates na RTP a incomodar-me.
Terá mesmo uma virtude, que só quem tem medo do que pode aí vir não quererá
aceitar: ouvir o que o homem tem para nos dizer. Será que estávamos onde hoje
estamos se o PEC IV tem sido implementado? Teríamos a tróica entre nós?
Assim sendo, deixem falar o homem, que os tempos da
ditadura do silêncio já passaram. Eu sei que nos pretendem impor uma outra
ditadura, mas ainda há quem não a aceite.