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domingo, setembro 16, 2007

UTOPIA E REALIDADE

A minha amiga Ana Paula, do "Música do Acaso", publicou um post sobre "Sonho Versus realidade" , sobre o qual escrevi um comentário que lá deixei, mas o qual gostaria de colocar também aqui, pois julgo tratar-se de um tema de extrema actualidade a merecer reflexão. Também aqui o óptimo me parece inimigo do bom, também aqui a busca do absoluto anula não só a acção, como a progressão.


Cara Ana, não vale a pena ser pessimista. Há que ser realista. O mundo não vai piorando, acredita. Vai, dia a dia, melhorando. Quem estuda História sabe disso. O que acontece, hoje em dia, é que a informação, à escola global, é total e por vezes deliberadamente desmoralizante. Antes não se sabia o que acontecia a 10 quilómetros de nós. Hoje sabe-se tudo, em todo o lado, e o efeito desse conhecimento é deliberadamente amplificado pela comunicação social, para vender, unicamente para vender mais. Quantos biliões de Maddies não desapareceram no mundo desde que este é o que é? Quantos milhões não desapareceram em circunstâncias muito mais horrorosas do que as que aconteceram a esta infeliz Maddie (qualquer que seja o seu caso)? E, no entanto, esta atingiu proporções nunca vistas. Por ser um caso "diferente"? Não. Apenas por haver mais meios para colher e difundir a noticia e vendê-la pelo mundo. O que em si é mau, mas também terá os seus efeitos positivos, de vez em quando.
O importante é não embarcar em histerias que só são contraproducentes e olhar cada facto com a nossa experiência, a nossa sensibilidade, a nossa perspectiva crítica. Cada vez mais temos de ser menos ingénuos, é verdade. Mas o mundo não é um local tão tenebroso assim – Por cada caso Maddie quantos milhões de pessoas não tratam os filhos com cada vez maior atenção, desvelo e amor? Por cada crime, quanta boa acção ignorada, executada apenas porque se é bem constituído moralmente, apenas porque se procura o melhor para a Humanidade? Por cada acidente de carro, acidental ou criminoso, imagina os milhões que, minuto a minuto, se evitam somente porque as pessoas não são assassinos loucos deixados à solta das estradas.
A utopia pode ser muito realista: basta ir-se acrescentando, sempre que possível, um acto digno, um olhar de amor, um gesto, uma frase ao nosso quotidiano. Sem pensar no que se faz, sem olhar às consequências: apenas porque somos assim, e assim gostamos de continuar a ser.
O mundo é “humano”, não é perfeito, nunca o será, mas podemos ir contribuindo para o fazer cada vez mais habitável. Aqui onde vivemos, um país magnifico, de pessoas normalmente boas, belas paisagens, bem estar acima da média mundial, que vai devagarinho melhorando, mas também um pouco por todo o lado. Com acções, com palavras, com o combate diária ao egoísmo, ao fanatismo, ao terrorismo verbal, à continua maledicência. A utopia está ai: ao alcance da nossa mão. Não se faça da utopia algo inalcançável, porque só estaremos a contribuir para o desespero. A utopia ganha-se. É só acreditar e lutar por ela. Não fazer dela algo impossível de realizar, por assim a utopia só serve para nos tornar infelizes ou atar-nos de mãos e pés (se é inalcançável não vale a pena fazer nada!), mas olhá-la como algo que se vai atingido, minuto a minuto. E que, dia a dia, vai transformando o mundo. Beijos.