domingo, junho 07, 2009

HOSPITAL, III

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CATETERISMO
Sexta-feira de manhã acordei mansamente. Continuava amarrado ao soro e a outros sacos de medicamentos pendentes do suporte, mas tinha permissão para andar, ir à casa de banho, tomar banho, comer na sala. Sabia que os enfermeiros faziam greve e já apontava que o meu cateterismo se efectuaria somente segunda ou terça-feira. Com um fim-de-semana pelo meio, a arrastar-me com o “bobi” atrás.
Saía descontraído de um banho revigorante (na medida do possível), quando duas enfermeiras me abordam a meio do corredor. “Estávamos à sua procura, o seu cateterismo está marcado para agora.” Gelei: “Não é só segunda-feira?” Não, não era, o meu caso foi considerado urgente, por causa de um medicamento qualquer que estava a tomar, que só podia ser administrado durante dois dias e esse prazo acabava nessa altura. Seria perigoso manter-me sem a observação do cateterismo e sem medicação. Pedi um minuto para telefonar à família e regressei. Há momentos que podem ser definitivos.
Tinham-me explicado que esta observação do estado do coração e das veias que a ele conduzem era coisa de pouca importância. Mas há filmes e livros e histórias de todos os dias que falam de pequenas cirurgias sem importância que acabam em tragédia. Nunca fiando. A sala de “pequena intervenção cirúrgica” fica mesmo ali ao pé, no oitavo andar. Foi andar uns passos e penetrar num espaço estranho, que me lembrava um armazém de produtos farmacêuticos, a bordo de uma nave espacial, com uma cama metálica ao centro, dominada por tonalidades verdes.
Segui as orientações: deitei-me, despi-me por completo, cobriram-me o peito com um tecido leve, raparam-se velozmente as virilhas com a segurança de quem já rapou centenas, pintaram-nas em gestualismo puro com betadine, e deixaram-me assim um bom tempo, a congelar. As enfermeiras perceberam que estava a enregelar com o ar condicionado e colocaram-me algo mais quente por cima, “enquanto espera.”
Que esperava eu? Parecia tudo a postos, mas não começavam. Um médico entrou, apresentou-se, disse que desta vez quem fazia o filme eram eles, eu poderia ver nos ecrãs que estavam à minha frente, não havia anestesia geral, apenas local, eu iria assistir a tudo, não custava nada, uma incisão na virilha, na veia, introduzir o cateter, orientá-lo até ao coração, verificar o estado geral, localizar estreitamentos, e depois, se tudo estivesse bem, eram dez minutos, se fosse preciso intervir, poderia ir até às duas horas, mas nas calmas, sem problemas, vamos falando, não dói nada, apenas uma ou outra pequena impressão.
Pois, mas a virilha era minha e a incisão era em mim. Nada de pânico, porém, pensei. Não tinha como fugir, como o faria, hospital fora, nu, com um “bobi” atrás? O melhor seria mesmo confiar. Ainda perguntei como é que se viam as veias no ecrã e como acertavam com as anilhas necessárias nos locais precisos, ao que me foi respondido que eram “quinze anos de prática”. Acreditei, e na verdade tudo correu bem.
A operação começou, a incisão, apesar da anestesia, senti-a, e foi estranho pensar que tinha nessa altura um cateter a percorrer-me as veias e a enviar sinais do meu estado interior. Maravilhas da medicina e da tecnologia moderna que salvam vidas. Sentia os dedos dos médicos massajarem a veia junto à virilha, e via no ecrã que o cateter subia ou descia, numa paisagem cinzenta, aqui mais esbranquiçada, ali mais escura, onde voavam estranhas aranhas tentaculares. Aquilo era o meu coração? A aorta? Nem perguntei, conservando os braços atrás das costas para que o pesado braço de mecânica geringonça pudesse movimentar-se à vontade sobre o meu peito. Não foram dez minutos, foram quase duas horas, três “stents” colocados em duas veias do lado esquerdo. “Ficou por reparar uma, do lado direito, depois logo se verá,” explicaram os médicos. “Você tinha isto muito entupido!”
Eficácia e eficiência, foi o que mais me chamou a atenção. Gestos precisos, e uma longa prática, certamente. Surpreende-me sempre a frieza com que certas profissões são desempenhadas. Não pode ser de outra maneira, eu sei. Mas fico, mesmo assim, surpreendido. Cortar a carne humana, enfiar objectos estranhos nas veias, olhar o interior desta cavidade que nos alimenta de vida e de emoções, e fazê-lo com a calma e a serenidade de quem domina por completo o ofício. O ofício, isso mesmo. É uma profissão como outra qualquer, mas, apesar de tudo, “não é uma profissão como qualquer outra.” Quem a exercer com rigor, deve chegar ao fim do dia exausto. Não se trata de aviar medicamentos ou de servir refeições, por exemplo. Trata-se de ter nas mãos, à sua mercê, a vida de uma pessoa. Um erro pode ser fatal. Um escritor pode dar um erro, apaga e volta atrás. Aqui, um erro, pode ser irremediável. Claro que pensei em tudo isso, enquanto ia observando a azáfama controlada de médicos e enfermeiras que me rodeavam. Até a curiosidade da jovem aluna de medicina que veio assistir à intervenção. Aqui estou eu a oferecer o corpo à ciência – sirvam-se no que eu poder ser útil.
Desfazer a feira foi o mais doloroso. Compressas e desinfectantes, a perna esquerda imobilizada, “não pode mexer esta perna até amanhã, cuidado por causa das hemorragias!”, foi a recomendação. Assim fiz, na medida do possível. Às tantas já não tinha posição possível, doía-me tudo, mas na manhã do dia seguinte estava melhor. Deram-me autorização para levantar novamente, ainda com a perna esquerda acorrentada em compressas. Almocei e jantei na sala de convívio, quatro mesas quadradas reunidas a formarem uma mesa quadrada maior, oito convivas em redor, tabuleiro com sopa e um prato, ora carne ora peixe, invariavelmente deslavado. Água e conversa: as maleitas de cada um vinham ali depor à hora da refeição, lá estavam quatro senhoras e quatro cavalheiros, todos em camisa de dormir e pijama, eles, o João, o Adelino, o Eurico (da Malveira, de rosto vincado, pelas rugas e pelo sol, e pelas agruras da vida, sete operações no activo, contadas a todos, uma delas à coluna, “claro, a acarretar sacos de cem quilos, desde a infância.”). À noite ficámos eu e o João, a ver um pouco de uma tourada transmitida pela televisão. A seguir, mais uma noite mal dormida. De silêncio. De espera. A rotina no domingo, as visitas do nosso contentamento, com os jornais do dia, as novas de quem se quer bem, a mão na mão, os olhares gratificantes que nos dão coragem, e aquelas frases aparentemente sem sentido, que ali fazem todo o sentido. “Amanhã já sais. Força!”
Uma noite a pensar no “amanhã já saio”. E se não sair? Se algo de errado acontecer entretanto? Se as analises, se o electrocardiograma, se a glicemia…? Na manhã seguinte é segunda-feira, as enfermeiras libertam-me de todos os empecilhos, colocam pensos nos múltiplos orifícios desimpedidos, as manchas negras nos braços e na barriga são agora muito visíveis. A médica cardiologista observa-me pela última vez, com últimos exames, e dá ordem de alta, depois de falar com a chefe de serviço. Falta somente preencher o formulário que me irá entregar à saída, com a descrição da doença, exames e prescrição médica. Saio à tarde, e à porta da enfermaria já se encontra, esperando numa maca no corredor, o próximo inquilino da cama nº 1.
Mas antes de sair sou novamente votado à ciência. A chefe de serviço, professora da faculdade de Medicina, entra da enfermaria com uma turma atrás, que divide pelos quatro pacientes. “Não se importam de responder a um questionário? Mas não revelem do que padecem, eles têm de tentar descobrir.” E assim foi. Durante cerca de uma hora perguntas de todo o tipo penetraram no íntimo mais íntimo de cada um. Fui respondendo a tudo o mais correcto que sabia, não fornecendo pistas, nem verdadeiras nem falsas. Os jovens ficavam atrofiados com algumas questões, “Doenças sexualmente transmissíveis?”, “Consome drogas?” (a esta respondi que sim, “todas, de todo o tipo, desde cafeína até charutos.”).
Depois, foi o adeus à cama nº 1, quando a Eduarda apareceu com a mesma roupa com que entrei no hospital, quase uma semana antes (fiz questão de lhe pedir a mesma roupa, com ligeiras alterações óbvias). Desci o elevador 12, percorri os corredores, sai para a rua. A cidade era a mesma que eu deixara e não era a mesma. Acabara uma viagem estranha por um mundo crepuscular que deixara pesadas marcas. Uma viagem que espero sem retorno, mas que, todavia, deixou sinais de perca, de nostalgia, de uma certa saudade dessa cumplicidade de desconhecidos que a ameaça uniu em redor de uma mesa quadrada ou numa enfermaria silenciosa. Afinal razão de ser destes escritos – uma forma de prolongar no exterior uma experiência vivida lá dentro.

(Não poderia terminar sem um agradecimento a todos quantos se cruzaram comigo nesse hospital, desde médicos, em especial Dr. Jacques, Drª Dulce Brito, Drª Doroteia Silva, Dr. Marques da Costa, ainda as enfermeiras Clara, Cristina, Rita e o enfermeiro Marcos, entre muitos outros, bem assim como a todo o pessoal auxiliar. Agradeço a competência e a simpatia, e agradeço sobretudo ter sido tratado como um entre vários. Espero voltar a vê-los, mas noutras situações!).

sexta-feira, junho 05, 2009

GRANDE FOTO

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BARACK OBAMA EM LONDRES, 10 DOWNING STREET

HOSPITAL, II

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SALA DE INSUFICIÊNCIA CARDIACA – CAMA 1
No braço esquerdo, uma pulseira amarela, colocada ainda na triagem, anunciava que o estado era grave, mas não extremamente grave (teria sido então uma pulseira laranja). Não sei bem porquê, a verdade é que nunca entrei em pânico generalizado, ainda que desde há muito tenha horror a hospitais. Não me apanham com facilidade a ver séries como “Serviço de Urgência”, “Anatomia de Grey” ou “Dr. House”. Acho depressivos os ambientes e não sou o que se possa considerar um apreciador de sangue derramado nem de presenciar sofrimentos alheios. Claro que em qualquer filme há sofrimento e drama, mas nos filmes hospitalares parece haver “mais realismo”, mesmo quando não há nenhum.
Passando ao largo: foi ainda de braçadeira amarela que entrei na sala de insuficiência cardíaca, do oitavo andar do Hospital. Tinha “reservada” a cama 1, numa enfermaria com companheiros discretos e simpáticos, cada um com o seu caso às costas, ou ao peito, dado que todos os casos passavam pelo coração. Nos dias que ali estive, Rui, Adelino (de Ponte de Lima) e, posteriormente, João foram os camaradas das farras nocturnas que duravam aí até às 22 horas. Uma loucura!
Nessa primeira noite, comecei a ser medicado e controlado ao milímetro por um estendal de máquinas, tubos e vasos comunicantes que me aparentavam muito a qualquer ser de um filme de terror. Frankenstein, por exemplo. Mas o resultado foi surpreendente. Expliquei à médica que eu normalmente adormecia tarde e acordava tarde, o que ali não iria acontecer, ela aconselhou um tranquilizante para sossegar e a verdade é que a noite se passou bem. Terá sido mesmo a melhor noite da minha permanência. Relembro-a como algo de mágico. Uma enfermaria quase completamente silenciosa, as grandes janelas com os estores a deixarem atravessar uma ligeira luz dourada que vinha do exterior, e que se projectava em serenas barras pelas paredes, e o silêncio, o silêncio, o silêncio. Uma noite sem gemidos ou tosse, sem ressonar ou gritos. Um silêncio reconfortante para quem acabava de atravessar uma zona de penumbra indecifrável e ancorara ali, entre completos desconhecidos, irmanados no mesmo secreto medo do que seria o seu futuro próximo.
Às seis e meia da manhã soou a alvorada. Recolhem-se os recipientes de urina, mede-se a temperatura, a tensão e a glicemia. Tudo mais ou menos controlado, excepto o açúcar, 300 e tal. O primeiro comprimido do dia, em jejum. A seguir vem o iogurte magro, para os diabéticos, mais uma hora e meia de repouso, o pequeno-almoço com leite e café, ou chá, e um pão escuro com manteiga. E comprimidos. Entra o pessoal da limpeza que lava o chão, arruma o quarto e faz as camas. Os “hóspedes” que se podem levantar vão à casa de banho, sozinhos, mas com a companhia do que chamam o seu “bobi”, o suporte de soro que arrastam, presos por tubos às mãos. Não me permitem levantar nesse primeiro dia, mas recuso terminantemente a arrastadeira “para emergências”. Veremos como tudo se passa. Tiram sangue para análises. Com toda esta azáfama são onze horas. Aparece a médica para o electrocardiograma. Os pés e as mãos agrilhoados, a zona do peito juncada de sanguessugas de borracha. Vou-me habituando. É estranho como me vou “habituando” a tudo, às seringas, aos discos, às picadas na barriga, para os diabetes, para o sangue circular, para a tensão. Aos comprimidos, ao pão escuro com manteiga. Ao almoço completamente deslavado e sem graça, que como com apetite, sim com avidez, sem deixar uma colher de sopa ou uma réstia de um peixe sem sabor e uma batatas que outros acusam de estar duras. Não me parece. Apenas descoloridas. Por volta das duas da tarde, começam as visitas. As minhas, as dos meus camaradas de cela. Vemos caras conhecidas, que amamos, que nos visitam para falar um pouco sobre o quotidiano (Oh, como é admirável, ali dentro, o quotidiano de cá de fora!), para se inteirarem do nosso estado de saúde, e de espírito, para nos olharmos apenas, para as pequenas minúcias de estarmos vivos e respirarmos. Como são agradáveis de ouvir, mesmo quando não acreditamos muito no que ouvimos, as frases do costume, “Estás com bom aspecto!”, “O pior já passou!”, “O que é preciso é coragem!”
Às quatro e meia vem o lanche, chá com um pão com manteiga, não inventam muito por aquelas bandas, aceito, tem de ser assim. Como o que me dão. Não penso em cozido à portuguesa ou numa feijoada à brasileira, nem mesmo quando o meu colega, em deambulatório, regressa ao quarto suspirando por uma dessas iguarias ou um bom whisky para “fechar a noite”.
Às sete horas, mais coisa menos coisa, encerra o período de visitas, mas nada é muito rigoroso quanto a horários desses. Há um regulamento “humano” para cumprir, e assim se cumpre, caso não exista por ali nada de muito grave. É o caso. Somos doentes graves, mas não desesperados. Depois regressamos à nossa solidão. Na cama, sem me poder levantar nesse dia, olho em redor. Já tenho comigo jornais e revistas, alguns livros, um pijama de casa (o casaco do pijama que me fora atribuído pelo hospital não conseguia apertar à frente, quatro números abaixo do meu!), uns chinelos, e pouco mais. Mas são elementos essenciais para o meu equilíbrio. Sobretudo ter que ler. Mesmo que não leia, mas é fundamental saber que tenho ali à mão algo que ler. E um caderno para apontar o que houver a apontar. Pouca coisa, até ao dia da saída. Tudo fica registado na memória.
A noite cai, os dias aquecem, quem me visita chega esfalfado com o calor. Vem o jantar, pelas sete e meia, oito horas, igual ao almoço, mais comprimidos, injecções, tirar a febre, a tensão, medir a glicemia, a rotina que se impõe até à exaustão. Os comprimidos antes da ceia, a ceia, leite ou chá e um pacotinho de bolachas “Maria”, o silêncio, mas desta vez não dormirei quase nada e a luz do quarto nunca mais voltará a ser a mesma. Nem o silêncio. Antes do semi-silêncio, a médica cardiologista vem-me dizer mansamente que tenho de fazer um cateterismo. Estamos numa quarta-feira, “a intervenção cirúrgica poderia ser feita no dia seguinte, mas quinta e sexta os técnicos enfermeiros estão de greve, segue-se sábado e domingo, tudo indica que só será na segunda. Depois, na melhor das hipóteses há que recuperar.” Faço contas de cabeça e são cerca de dez dias de internamento. O que será um cateterismo? Nunca tinha ouvido falar ou então fizera por esquecer. O que tinha resultado, até essa noite.
Passo quinta-feira já levantando, para ir tomar banho ou à casa de banho para outras necessidades, já almoço e janto com os companheiros na salinha da TV, com alguma galhofa pelo meio.
Mas o que será um cateterismo? Explicam-me que é um exame de cardiologia, que injecta um cateter numa veia principal que o leva até ao coração onde se diagnosticam, in loco, possíveis problemas cardiovasculares. A intervenção cirúrgica pode demorar 10 minutos, se nada de especial ocorrer, até duas horas se houver que corrigir um estreitamento de uma artéria coronária. Correcção que se faz através da colocação de “stenters” (espécie de anilhas que alargam a zona afectada) ou de “bypasses”. Saber isto, não é uma boa forma de adormecer, mas a noite cai.

terça-feira, junho 02, 2009

HOSPITAL, I

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A CAMINHO DE SO
Ser conduzido por elevadores e corredores olhando o tecto amarelecido de um edifício quase desconhecido até então, que é, simultaneamente, perdição e salvação, desespero e esperança, é uma experiencia radical. Algo que só se vive e se experimenta assim - em situação limite. Ninguém a pode interpretar de fora, ou se está dentro dela, ou não se está.
Acordar com uma dor indefinida no peito, opressiva, que se estende ao braço. Tomar as aspirinas que normalmente controlam idênticas dores de origem diversa, reumatismo, uma pontada, um desvio na coluna, perceber que tudo se mantém, que a dor não se esgota e não se afasta, o telefonema para o INEM, os primeiros cuidados, a máscara de oxigénio, a descida de cadeira de rodas, a sensação de impotência a instalar-se, o medo, sim o medo do que virá depois, do desconhecido, do que se não controla, e atravessar a esplanada do café que se frequenta todos os dias, nessa manhã quente de fim de Maio atulhada de amigos e conhecidos que nos olham estupefactos, sem uma palavra, entrar na ambulância que espera à esquina do prédio, descer avenidas e controlar praças com a sirene a abrir caminho por entre o trânsito opaco, e a perspectiva de vida que é já outra, olha-se o céu, os prédios, vemos as pessoas debruçadas sobre nós, não as olhamos de frente, depois a descida nas urgências do hospital, ao mesmo tempo que vejo a Eduarda descer de um táxi que perseguiu a ambulância, a inscrição, nome, morada, idade, cartão de cidadão existente, a triagem, a febre, a tensão arterial, a diabetes, os sintomas, a passagem pelo médico de serviço na urgência, uma negra que relembra a Queen Latifah (ainda me restam vestígios da realidade para recordar) e a seguir os exames, o sangue para análises, o electrocardiograma, a radiografia, o comprimido debaixo da língua, a espera, a esperança de que não passe tudo de um novo ataque violento de coluna ou reumatismo, as horas que passam, a descida até ao bar para comer qualquer coisa, beber água, fresca, olhar a esplanada em frente, ver o professor Daniel Sampaio, o aceno (mal sabe ele), regressar à sala de espera, a angústia que sobe de tom, finalmente o nosso nome ouvido no altifalante, o regresso ao gabinete nº 2, onde antes me encontrara com a médica de urgência, onde agora se encontra um jovem que olha para mim e para os resultados que lhe aparecem no ecrã do computador, e não tem dúvidas, telefona para alguém, questiona e volta-se para mim, “tem de ficar, há aqui sinal de algo muito suspeito, fica no SO, em observação”.
Curta jornada em direcção a um cubículo que parece uma arrecadação, onde me pedem para despir a roupa civil, que enfiam em sacos de plástico brancos, e me convidam a vestir uma farda que encaixa pela frente e não abotoa atrás. A seguir indicam-me o movimento seguinte: deitar na marquesa que subitamente apareceu, colocam-me um lençol por cima, e inicio a primeira viagem pelos corredores do hospital, rumo ao SO (“Que quer dizer SO, enfermeira Carla?”, “Serviço de Observação”, “Julgava que devia ser SU, Serviço de Urgência”, “Esse também existe.”). Aqui relembro “All That Jazz”.
Mal a marquesa ingressa na zona do SO, a actividade galopa. Ainda me “arrumam” no local predefinido, e já me colocam soro, depois de me abrirem as veias nos dois braços. Repetem-se as análises de sangue, sinto agulhas de vários tipos e espessuras, umas que atravessam veias, outras que procuram tecidos da barriga, algumas que fazem jorrar gotas de sangue na polpa dos dedos. Andava a ler “Sangue Fresco”, onde os novos vampiros se alimentam de sangue artificial. Aqui é o meu sangue que vejo seguir em seringas rumo a análises várias. Os resultados continuam a não ser nem os melhores, nem os mais preocupantes, mas médicos de urgência e enfermeiros (bom casting, merecedor de um “Serviço de Urgência” ou de uma “Anatomia de Grey”!) não param de me vigiar. Uma simpática médica brasileira vai controlando o electrocardiograma que agora é contínuo. Chega uma médica de bata verde que me faz um ecocardiograma. Sinto a gelatina no peito e o aparelho a percorrer as costelas em busca de batimentos. É a cardiologista de serviço, drª Doroteia, e tenho a certeza de ter caído em boas mãos. Contra o que ouço dizer, e contra os meus mais temíveis receios, todos parecem competentes e rigorosos (digo parecem porque não tenho as competências para afirmar a conclusão) e, sobretudo, de uma irradiante simpatia, o que não é factor de somenos para quem de repente se vê isolado e transplantado para um ambiente hostil por sistema – um hospital nunca é um local bem-vindo, por muito que, depois, lhe possamos dever a vida. Mas por muito que se possa agradecer depois, a verdade é que estamos paralisados de pânico no SO. Paralisados de solidão interna. Sinto-me irremediavelmente só.
Há um balcão redondo no centro do SO, rodeado por um corredor amplo. Distribuídos à volta, em nichos que relembram casulos, algumas dezenas de vítimas que esperam o resultado da observação, para saberem qual o seu destino. No interior do balcão a azáfama é intensa, médicos conversam sobre doentes, enquanto controlam pelos ecrãs os dados que continuamente vão chegando. A esta hora Barcelona e Manchester discutem quem é o campeão da Europa. Não vou ver. Não terei alta a tempo, penso, enquanto vejo as equipas entrar em campo, lá ao longe, numa televisão presa da parede, sem som. Pedi ao Frederico para gravar o jogo. Quando o irei ver? Há mesmo uma insidiosa dúvida: será que o verei, apesar de estar gravado? As notícias do jogo não me irão chegar senão noite dentro, mas chega-me a notícia de que os vários exames confirmam “alguma coisa”, um enfarte de miocárdio quase de certeza, e o internamento. Quem mo explica é um médico, que percebi chamar-se Jacques, de curta barba grisalha, que presumo ser chefe de serviço. O casting continua a ser impecável e a simpatia também.
Antes de jantar, com o jogo a decorrer, sou enviado para os serviços de cardiologia, piso 8, cama 1. Vou rodeado de suportes de soro, que prolongam as minhas veias para o céu. No peito vários discos ligados a mais fios. Pelos corredores só vejo tectos e luzes. Uma nova perspectiva de existência. Deixo o SO, mas continuo só.

sábado, maio 23, 2009

quinta-feira, maio 21, 2009

MUSEU DO TEATRO, 25 DE MAIO, 17 H

PRÉMIOS DE TEATRO DE 2008

Atribuição dos Prémios de Teatro relativos ao ano de 2008.
Museu de Teatro, 25 de Maio, pelas 17 horas.
Uma iniciativa do blogue "Guia dos Teatros".

SETUBAL, PRIMA FOLIA, DIA 22 DE MAIO

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segunda-feira, maio 18, 2009

MANOEL DE OLIVEIRA

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...E OS ACTORES

Manoel de Oliveira recebeu há minutos o Globo de Ouro de carreira. E deu lição de cinema. Do seu cinema. Explicou:
Dizem alguns que sou um mau director de actores. Engano. Eu nunca os dirijo. Eu sou dirigido por eles.”
Eu, que trabalho de forma diferente, curvo-me perante a teoria de Oliveira, tão boa como outra qualquer. Saber isso é, no entanto, uma forma de compreender melhor o seu cinema, a sua estética e a sua ética ao filmar.
Coerência e sinceridade, num homem que impõe um notável respeito.
Parabéns, Mestre!

PORTEL, II

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"O CASTELO EM IMAGENS"
Terminou mais um Festival e Concurso Nacional Escolar sobre o tema "O Castelo em Imagens", em Portel. A seguir, aspectos da exposição com cerca de 400 trabalhos enviados de escolas básicas, secundárias ou universitárias de Portugal (e do estrangeiro, onde há escolas portuguesas). Imagens do Júri lusófono reunido (Lauro Moreira, Laura Soveral, Celina Pereira, Jorge Garcia, Patrícia Silva e José Nascimento), e no palco a atribuir os prémios. Celina Pereira com o prémio em primeiro plano. Imagens dos discursos de encerramento, meu e do Presidente da Câmara de Portel, Norberto Patinho. Finalmente, fados de Coimbra, pelo grupo "Verdes Anos", com Norberto Patinho a encerrar num fado de boa inspiração. Terminou em bem, mais esta edição.


As fotos são da Maria Eduarda e minhas.

quarta-feira, maio 13, 2009

FESTIVAL E CONCURSO NACIONAL ESCOLAR

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EM PORTEL "OS CASTELOS EM IMAGENS"


Um concerto extraordinário de uma das bandas musicais portuguesas do momento, "Corvos", abriu oficialmente, na noite do dia 11 de Maio, o VII Festival de Cinema e Vídeo e o VI Concurso Nacional Escolar sobre o tema "O Castelo em Imagens". Sala a transbordar de um público vibrante.
Aqui ficam algumas imagens para recordar. Eu e o Presidente da Câmara de Portel, Norberto Patinho, nos discursos de abertura, e depois imagens do concerto (minhas e da MEC, tiradas na mesma máquina - só sei que não são minhas aquelas em que estou!), finalizando com os "Corvos", reunidos em redor de um outro "Corvo" de ocasião (sentado), todos sob a égide de Edgar Allan Poe.

segunda-feira, maio 11, 2009

CINEMA: SINGULARIDADES

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SINGULARIDADES DE UMA RAPARIGA LOURA
“Singularidades de uma Rapariga Loura” comporta singularidades a que não nos pudemos furtar. È um filme realizado por um cineasta com cem anos, que passou o seu dia de anos em rodagem. Único na História do Cinema? Não sei, nem interessa muito, mas o facto merece ser mencionado. Para lá de tudo o mais, enternece. E não é um filme senil.
Como tem acontecido ao longo da carreira de Manoel de Oliveira, há filmes de que gosto mais e outros de que gosto menos. Mas a todos há que conferir uma dignidade intelectual e artística indiscutíveis. Deste gosto menos. Acho mesmo que comporta erros de base que colocam toda a sua estrutura em causa.
O conto de Eça de Queiroz fala-nos de 1823 (ou 1933), ao que recordo. Reli-o agora depois de ver o filme. A sensação que voltou a aflorar foi a que me dominou ao ver a obra de Oliveira: este, nem de perto nem de longe, consegue aproximar-se de Eça. Primeiro equivoco, actualizar o contexto. Pelo menos da forma por que foi feita essa actualização. Eça dá-nos um retrato de uma sociedade e de um tempo que Oliveira nunca atinge. No filme, a sensação é de algo postiço: personagens de um tempo, diálogos de uma época colocados num contexto completamente diferente. Oliveira respeita os diálogos, respeita as personagens, respeita alguns ambientes, respeita certos adereços, mas não respeita o espírito de Eça querendo ser-lhe o mais fiel possível. Aqueles diálogos são impossíveis hoje, aquele leque chinês também, os saraus culturais também, aquelas personagens têm outra contextura hoje. A condição humana é a mesma? Certo, não poderia estar mais de acordo. Mas o seu comportamento mudou. Os signos por que se expressam também. Não existem aqueles Macário, Luísa, mãe da Luísa, tio de Macário, amigo o chapéu de palha, etc. Actualização ou era total, radical, ou então muito se perde do essencial.
Mas há mais: em Eça há descrições que, por uma questão de economia (financeira, e de meios, expressiva, no dizer do próprio autor), Oliveira simplesmente cortou. A sequência em casa do tabelião da Rua dos Calafates, contém momentos absolutamente indispensáveis para se compreender a crítica social da época, como a descrição da corrida de touros em que morre o conde de Arcos ou o rosnar antimonárquico do Gaudêncio.
Pequenos exemplos:
“Depois, a preciosa D. Jerónima da Piedade e Sande, sentando-se com maneiras comovidas ao cravo, cantou com a sua voz roufenha a antiga ária de Sully:
Oh Ricardo, oh meu rei,
O mundo te abandona.
O que obrigou o terrível Gaudêncio, democrata de 20 e admirador de Robespierre, a rosnar rancorosamente junto de Macário:
— Reis!... víboras!
Depois, o cónego Saavedra cantou uma modinha de Pernambuco muito usada no tempo do senhor D. João VI: lindas moças, lindas moças. E a noite ia assim correndo literária, pachorrenta, erudita, requintada e toda cheia de musas.”

“Estavam, nesta noite, o amigo do chapéu de palha, um velho cavaleiro de Malta, trôpego, estúpido e surdo, um beneficiado da Sé, ilustre pela sua voz de tiple, e as manas Hilárias, a mais velha das quais tendo assistido, como aia de uma senhora da casa da Mina, à tourada de Salvaterra, em que morreu o conde dos Arcos, nunca deixava de narrar os episódios pitorescos daquela tarde: a figura do conde dos Arcos de cara rapada e uma fita de cetim escarlate no rabicho; o soneto que um magro poeta, parasita da casa de Vimioso, recitou quando o conde entrou, fazendo ladear o seu cavalo negro, arreado à espanhola, com um xairel onde as suas armas estavam lavradas em prata: o tombo que nesse momento um frade de S. Francisco deu da trincheira alta, e a hilaridade da corte, que até a sr.ª condessa de Pavolide apertava as mãos nas ilhargas: depois el-rei o sr. D. José I, vestido de veludo escarlate, recamado de ouro, todo encostado ao rebordo do seu palanque, e fazendo girar entre dois dedos a sua caixa de rapé cravejada, e por trás, imóveis, o físico Lourenço e o frade, seu confessor; depois o rico aspecto da praça cheia de gente de Salvaterra, maiorais, mendigos dos arredores, frades, lacaios, e o grito que houve, quando D. José I entrou: - Viva el-rei, nosso senhor! E o povo ajoelhou, e el-rei tinha-se sentado, comendo doces, que um criado trouxe num saco de veludo, atrás dele. Depois a morte do conde dos Arcos, os desmaios, e até el-rei todo debruçado, batendo com a mão no parapeito, gritando na confusão, e o capelão da casa dos Arcos que tinha corrido a buscar a extrema-unção. Ela, Hilária, ficara estarrecida de pavor: sentia os urros dos bois, gritos agudos de mulheres, os ganidos dos flatos, e vira então um velho, todo vestido de veludo preto, com a fina espada na mão, debater-se entre fidalgos e damas que o seguravam, e querer atirar-se à praça, bramindo de raiva! "É o pai do conde!", explicavam em volta. Ela então desmaiara nos braços de um padre da Congregação. Quando veio a si, achou-se junto da praça; a berlinda real estava à porta, com os boleeiros emplumados, os machos cheios de guizos, e os batedores a cavalo, à frente: via-se lá dentro el-rei, escondido ao fundo, pálido, sorvendo febrilmente rapé, todo encolhido com o confessor; e defronte, com uma das mãos apoiada à alta bengala, forte, espadaúdo, o aspecto carregado, o marquês de Pombal falava devagar e intimativamente, gesticulando com a luneta. Mas os batedores picaram, os estalos dos boleeiros retiniram, e a berlinda partiu a galope, enquanto o povo gritava: Viva el-rei!, nosso senhor! - e o sino da capela do paço tocava a finados! Era uma honra que el-rei concedia à casa dos Arcos.”
Esta saborosa descrição irónica, carregada de sinais da época, desaparece e não dá lugar a outras, igualmente significativas, dedicadas à actualidade (que também as há e de que maneira!).
A presença deste tipo de apontamentos em Eça faz a diferença, adensa a anotação social e a sua crítica. Perde-se em Oliveira, que se atém apenas ao esqueleto da história, ou da anedota, melhor dizendo, pois o que fica não passa de uma anedota.

Há outras anotações que se perdem, e com elas a referência a um determinado tempo, e igualmente ao pensamento de Eça. Macário viaja até Cabo Verde, onde enriquece. Eça escreve:

“E ao outro dia Macário partiu.
Conheceu as viagens trabalhosas dos mares inimigos, o enjoo monótono num beliche abafado, os duros sóis das colónias, a brutalidade tirânica dos fazendeiros ricos, o peso dos fardos humilhantes, as dilacerações da ausência, as viagens ao interior das terras negras e a melancolia das caravanas que costeiam por violentas noites, durante dias e dias, os rios tranquilos, de onde se exala a morte.
Voltou.”

Quanto às personagens do filme, debitando tiradas do início do século XIX, nada lhes permite criar densidade. São “actores” (como sempre em Oliveira, o que é um estilo e não se discute enquanto tal), mas são actores sem texto para se imporem, mesmo enquanto tal. Compare-se com “Amor de Perdição” ou “Francisca” e veja-se a diferença.
Depois há situações quase insuportáveis: a visita ao Circulo Eça de Queiroz, com o mordomo cicerone, é uma delas. Mas há mais. Por exemplo, o sarau já aludido, com harpista, recitador e Glória de Matos.
Um desastre?
Em Oliveira é difícil, senão impossível o desastre total, porque ao lado dos desacertos, há um cineasta que se nos impõe. Há sequências que nos relembram a arte do mestre. As cenas de janela são brilhantes. Há uma maravilhosa, em que Oliveira iguala Eça, quando este escreve:

“A rapariga loura reparou naturalmente em Macário, e naturalmente desceu a vidraça, correndo por trás uma cortina de cassa bordada. Estas pequenas cortinas datam de Goethe e têm na vida amorosa um interessante destino: revelam. Levantar-lhe uma ponta e espreitar, franzi-la suavemente, revela um fim; corrê-la, pregar nela uma flor, agitá-la, fazendo sentir que por trás um rosto atento se move e espera - são velhas maneiras com que, na realidade e na arte, começa o romance. A cortina ergueu-se devagarinho e o rosto loiro espreitou.”

Oliveira consegue tudo isso, com o levantar e o baixar dos cortinados, e a bela presença de Catarina Wallenstein. A cortina que desce, sobre uma outra já descida, não oculta, desoculta, “revela”.
As escadas, à entrada para o sarau, dadas numa imagem que se desdobra através dos espelhos, é outro plano de antologia. O início, no interior da carruagem do alfa pendular (ou intercidades) Lisboa-Algarve, que funciona como genérico, é prometedor. A imagem final, já muito comentada, de Luísa prostrada, é excelente. Temos, aqui e ali, Oliveira do melhor. Mas falta-nos Oliveira o tempo todo, o que se lamenta.

Para quem gosta de Manoel de Oliveira, “Singularidades de uma Rapariga Loura” merece a visita e o respeito. E tem uma vantagem: nas obras-primas não se percebe tão bem a arte de quem as concebe. Mas os falhanços, deixando a descoberto a tecitura da narrativa e dos processos, podem ser elementos muito interessantes para se perceber o como e o porquê de alguns processos.

domingo, maio 10, 2009

PARABÉNS AO PORTO

: PORTO CAMPEÃO!


Daqui, deste canto sportinguista, os meus parabéns ao F. C. Porto,
campeão de 2008-2009.
Eu sei que o Sporting por vezes foi prejudicado pelas arbitragens.
Mas também sei que o F. C. Porto foi a melhor equipa, a mais equilibrada, a mais constante.
Merece o campeonato.
Parabéns às amigas e aos amigos portistas.
Para o ano há mais.., ou, como diz o outro, para o ano cá vos espero!

(a fotografia é pequenina porque não convèm exagerar!)

sábado, maio 09, 2009

CICLOS VERGILIANOS

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VERGÍLIO FERREIRA: ESPAÇOS E CIRCUITOS

Nos dias 7 e 8 de Maio, em Gouveia, numa iniciativa conjunta da Câmara Municipal de Gouveia e da Universidade de Évora, decorreram os Ciclos Vergilianos, integrando conferências e debates, concertos e um passeio pelas terras de Vergilio Ferreira. Foi-me socilitado um depoimento de tom memorialista sobre as minhas recordações do escritor de "Manhã Sumersa". Aqui fica o registo:

Há na minha versão cinematográfica de “Manhã Submersa” algumas cenas em que António dos Santos Lopes, o protagonista, sentindo-se encurralado fisicamente nas paredes do seminário, onde se encontra contra a sua vontade, se “ausenta”, através do olhar, para o exterior, em direcção à sua aldeia, à sua serra da Estrela, que aqui prefigura a liberdade e a vida natural. Para Vergílio Ferreira a liberdade é nitidamente um dos seus temas dilectos, ao lado de outros que fazem a essência do homem e da sua misteriosa passagem pela terra: o que somos, por que o somos, somo-lo em finitude, apenas em função de nós próprios ou em direcção a que desconhecido? E a solidão do homem, perante o mistério da vida e da morte.
Para Vergílio Ferreira, a liberdade individual é algo que não se pode restringir, e que, quando é condicionada por um qualquer mecanismo opressor ou censório, se revolta por todos os meios, inclusive pela imaginação que se revela indomável.
A imaginação e a memória interagem agora comigo, da mesma forma por que António dos Santos Lopes se libertava das condições adversas que encontrara no seminário do Fundão: escrevo num computador equipado com Windows Vista, mas a minha imaginação percorre o caminho em direcção à Serra, mais precisamente à cidade de Seia, uma esplanada num primeiro andar do largo central da cidade, cai a tarde num dia de Outono de 1974. Acabara de conhecer pessoalmente Vergílio Ferreira.
Lera as primeiras obras dele era eu ainda adolescente e vivia ocasionalmente em Portalegre. Foi aí que tomei o primeiro contacto com “Manhã Submersa”, publicada em 1953, quando o escritor vivia em Évora, onde era professor. O meu pai, seu colega, professor em Portalegre, onde eu era aluno de José Régio. Por alguma dessas razões, e pelo meu gosto compulsivo de ler, o livro me veio parar às mãos e, ao lê-lo, para sempre fiquei ligado a esta obra. Depois veio “Aparição”, alguns outros pelo caminho, até chegar a 1974, quando Manuel Guimarães, cineasta e padrinho do meu casamento, da parte de minha mulher, me convidou a ir à serra da Estrela, assistir às filmagens da sua versão de “Cântico Final”.
Lembro bem as filmagens de noite, em Melo, e os primeiros contactos com o escritor, nos intervalos das filmagens, a que nesse fim-de-semana tinha ido assistir, com a mulher, a dr. Regina. A conversa foi partida, por entre mudança de interlocutores, ora Ruy de Carvalho, ora Varela Silva, ora a jovem Ana Helena. E sempre Vergílio Ferreira, que assistia, aparentemente distante, mas entusiasmado por ver um romance seu concretizar-se em imagens, ali à sua frente. Com o clarão dos projectores a incendiar a escuridão mágica da serra.
Vergílio Ferreira não era homem para intervir na arte ou no trabalho dos outros, mesmo quando essa arte ou trabalho derivavam de arte ou trabalho seus. Sempre aceitou comigo a total divisão de concepções. Um dia me disse, em fase de preparação de “Manhã Submersa”: “O romance é meu, o filme é seu. Cada um vai valer por si. Se o filme for uma merda (sic), não irá alterar em nada o que o livro valer.” Deu-me todas as indicações solicitadas, foi desenterrar o livrinho das regras do Seminário, para eu citar algumas, mas nunca sequer me sugeriu uma alteração ao guião que eu escrevera, cortando e acrescentando segundo o que eu sentia serem as necessidades de uma nova narrativa. Apenas leu o guião, quando estava terminado, e, como professor atento, corrigiu a lápis alguns erros de ortografia. O romance era dele, o filme era meu.
Queria isto dizer que Vergílio Ferreira nunca impôs qualquer directiva, não que eu a notasse na sua relação com Manuel Guimarães, não que eu a sentisse no nosso profícuo relacionamento. Manuel Guimarães cavaqueava com ele sempre que as filmagens eram interrompidas para preparação de novo plano, ao lado tinha a sua companheira de sempre e anotadora, a Dona Clarice. Eram conversas de circunstância que me permitiram confessar a Vergílio Ferreira a minha particular estima por algumas obras suas, nomeadamente “Manhã Submersa”. Foi por essa altura que me abalancei a sugerir aos dois rodar um documentário sobre o escritor, para anteceder a longa-metragem de Guimarães, quando o “Cântico Final” fosse estreado. E logo ali ficou estabelecido o título: “Prefácio a Vergílio Ferreira”. Uma introdução rápida, de quinze minutos, à sua vida e obra, tentando recuperar um universo e restituí-lo em imagens.
Foi na tarde do dia seguinte que aparece a cena da esplanada em Seia, a conversa a quatro, registada pela câmara fotográfica da Maria Eduarda Colares. Ali está o Vergílio Ferreira, sorridente e descontraído, irónico e sedutor, as bicas e os meus livros do escritor sobre a mesa, certamente idos de Lisboa em busca de uma dedicatória, e uma ou outra vez o perfil furtivo da bela e muito jovem Ana Helena. Foi uma conversa com tema já definido, o “prefácio” que acalentara durante a noite, e que o Guimarães generosamente tornara possível, oferecendo-me uns resto de película, e “emprestando” o Abel Escoto, o seu director de fotografia, nos intervalos das filmagens.
Esse foi o meu primeiro trabalho tendo como base Vergílio Ferreira. Inicialmente rodado em Melo, tem como cenário as paredes graníticas das casas, a paisagem vigorosa e áspera, e os rostos tisnados pelo sol e a chuva e a passagem dos anos. Coloco a câmara numa das extremidades do corredor da casa da família do escritor e espero com respeito e uma ternura muito especial que a mãe se aproxime da objectiva vinda lá do fundo de um contraluz inesquecível. Na sala de jantar, mãe e tia do escritor, olham a câmara, tendo preso por cima das suas cabeças, um velho relógio que assinala anos e anos de memória. Muito tempo depois, Vergílio Ferreira dir-me-á que nunca revê esses planos da mãe sem uma comoção profunda. Eu rejubilo pelo carinho revelado, sabendo eu que aquele homem é-o de poucas palavras e de emoções exasperadamente contidas.
Lera algures numa das suas obras, “Alegria Breve”, onde recordava a sua infância, uma referência a uma rampa. “Entro em casa, demoro-me um instante à janela para a montanha, mas acabo por sair, subindo a rampa que leva ao adro da igreja. A minha biografia começa aqui – na rampa.” “Prefácio a Vergílio Ferreira” começa ali – na rampa. Peço a Vergílio Ferreira para subir a rampa, passo sereno, esforçado, decidido, ritmado, camisa branca aberta e casaco dobrado no braço. Ele sobe a rampa, uma e outra vez, até chegar à “take” considerada ideal e que depois será repetida, uma, duas, três vezes no filme, como refrão de um reinício. O filme não acaba ali, mas volta ao princípio, depois de passar por Évora e as salas de aula, por Lisboa, a casa do escritor, a avenida de Roma, a livraria Barata, o liceu Camões. Vergílio Ferreira dá ali uma aula para a qual eu lhe pedi que abordasse o tema da arte. “Para que serve a arte?”, pergunta-se. E responde: “Esta pergunta está desde logo viciada, porque perguntar para que serve a arte é dar-lhe um carácter utilitário, prático, que naturalmente a arte só genericamente tem. As relações da arte com o real, e sobretudo as relações da arte com um ponto de vista de utilidade, vêm de longo tempo, vêm de há muito tempo.” Malraux disse: “A Arte é a música da história.” Sartre disse: “Não há obra nenhuma de arte, grande, que se possa fundar sobre a injustiça.”
Assim se explica Vergílio Ferreira que, a rematar o filme, concluía: “Há uma voz obscura no homem, mas essa voz é a sua. Há um apelo ao máximo, mas vem do máximo que ele é. Há um limite impossível, mas é do excesso que é o próprio homem.”
O escritor explicava assim a sua querela com os neo-realistas, de quem foi companheiro de estrada no início da carreira, dos quais se afastou, quando escolheu um caminho autónomo, com influencias directas e confessadas de existencialistas, de Malraux, do “nouveau roman”. Por esta altura, em pleno PREC, Vergílio Ferreira era um homem feliz pela liberdade finalmente conquistada, pelas injustiças e violências que começavam a ser corrigidas, mas inquieto quanto ao futuro da democracia. Muitas conversas tivemos sobre este tema, quando a amizade se aprofundou entre nós e a confiança nasceu. Ele, que fora perseguido e censurado pelo Estado Novo, e que se sentira marginalizado pela política cultural de uma certa esquerda instalada nessa altura na oposição e que depois procurou instrumentalizar o poder, após o 25 de Abril, ele sentia-se não só inquieto, como igualmente afastado, olhado como um fardo incómodo. A política activa nunca o fascinou em demasia, mas assinou manifestos, protestou, escreveu, polemizou.
Há quem o veja como homem amargo e de difícil convívio. Nada de mais enganoso para quem bem o conhecia de perto. Era dócil e terno, de olhar macio e voz branda, cigarro acariciado numa das mãos, irónico e mordaz quando a isso o convidava o humor. Toda a sua ficção é filosófica, toda a sua vida um exemplo de um pensamento vivido sem deriva. Um dia, quando nasceu o meu filho Frederico, perguntou-me ao telefone: “como se vai chamar o rapaz?” Frederico, respondi. “Isso é lá nome para se dar a um filho.” Mais tarde o Frederico, quando tinha cerca de 16 anos, adaptou a vídeo o seu conto “A Estrela”, e enviou-lhe o filmezinho em cassete, para ele ver. Respondeu-lhe numa muito simpática mensagem, que se conserva registada em fita magnética. Hoje o Frederico namora com a Cátia Garcia, cantora e actriz, que interpretou no palco do Politeama, “a estrela”, a versão teatral do Filipe La Féria. Na estreia, na primeira fila, a Dr. Regina soluçava enternecida pelo que acabara de ver. Malhas que o império tece, neste mundo que dá voltas sobre si próprio.
Voo em direcção à Serra, numa panorâmica que a memória consente. Alguns anos depois de ter rodado, em Linhares da Beira, “Manhã Submersa”, sou convidado a dirigir o Cine Eco, um festival de “cinema e ambiente” em Seia, que dura há quinze anos. Todos os anos viajo até à serra, e invariavelmente, percorro com amigos e convidados, nacionais e estrangeiros, os caminhos dessa rodagem.
Calcorreamos as ruas graníticas dessa aldeia perdida nos cumes, bebemos um café na tasca onde no inverno impiedoso de 1979 a equipa técnica e os actores se acoitavam da tempestade, do vento, da chuva e da neve que carregavam de lado, e deambulamos entre o castelo e a igreja, entre esses dois símbolos de poder que tanto me atraíram ao escolher esta aldeia como cenário preferencial para o meu filme.
Lembro a Adelaide João a lavar roupa, num fiozinho de água, que escorria, qual regato, entre o castelo e a igreja. Mais tarde confessou-me que chorara de dor com as mãos geladas, e nada me dissera quando eu pedia para repetir o plano. Lembro a Eunice Muñoz, nas austeras vestes de Dona Estefânia, conversando no adro da igreja com um improvisado padre (que o pintor Mário Botas se prestou a interpretar por doença do actor convidado, e que não pode aparecer). Ambos traçavam o futuro do jovem seminarista, sem a este prestarem a mínima atenção.
Desço a Melo, paro defronte da casa da família, olho a rampa (a sua biografia continua a começar ali), e muitas vezes vou até ao cemitério, onde, voltada para a serra, se encontra a sepultura de Vergílio Ferreira. Nova viagem no tempo, e ouço a voz da Dr. Regina, numa manhã maldita, num telefonema sem cor, dizer-me: “O Vergílio morreu.” Soube depois, contado por ela, que morrera durante a noite, e que ela ficara sozinha com ele em casa, vestindo-o, colocando-o na cama, retocando-lhe as feições, em permanente vigília, até o dia nascer, e então telefonar ao filho e aos amigos. A Eduarda escreveu sobre esta mulher tenaz e este amor temperado por anos de diário convívio, um conto, “Retrato de Senhora com Flores ao Fundo”, que eu tentei filmar, sem conseguir apoios para tal. Fica a intenção e agora aqui a revelação. Talvez um dia, quem sabe? Eunice seria a Senhora.
Sinto-me próximo de Vergílio Ferreira nesta serra que o viu nascer e onde jaz. Disse-me numa entrevista: “Na província em que nasci aprendi a sensibilidade que tenho. Mesmo o Alentejo (e vivi lá 14 anos) só afinal o entendi como um eco da Beira. Porque a planície e a montanha falam a mesma voz primordial. Espaços, origens, vento, neve, solidão, e a cor escura das gentes, e a sua presença espectral, e a sua trágica rudeza, e o silencio de tudo, e a própria alegria furtiva quando é a hora das concessões para isso, e o signo de eternidade que a tudo marca, e o halo genesíaco que a tudo envolve – são inexoravelmente os sinais com que me entendi através da terra em que me criei.” Texto lindíssimo de alguém que tinha o dom da palavra exacta, que construía sabiamente a frase antes de a enunciar, entre duas fumaças espaçadas.
Antes de iniciar as filmagens de “Manhã Submersa”, que rodei, em simultâneo, em 35 milímetros para cinema, e em 16 milímetros para televisão, filmei o documentário de quase uma hora, “Vergílio Ferreira numa “Manhã Submersa”, que funcionou como “episódio zero” da série para a RTP. Viajei com o escritor pelas serras, a da Estrela, onde nasceu, a de Sintra, onde tinha uma casa de campo, em Fontanelas. No Fundão visitámos as (quase) ruínas do velho seminário, então ocupado por retornados, que Vergílio Ferreira entrevistou particularmente interessado no destino daquelas gentes que subitamente trocavam de vida e de continente.
Divisão a divisão, foi-me descrevendo o seminário da sua infância e do seu sufoco. Contou-me que durante muitos anos vivia assombrado pela recordação daqueles tempos, até ter escrito o romance, o que lhe trouxe posteriormente uma enorme calma e paz interior. Voltámos a Melo e à casa familiar, à rampa, ao pelourinho da aldeia, onde nos sentámos a conversar enquanto o Vítor Estêvão, director de fotografia, captava a imagem. Subimos a Linhares, onde descobriu um padre que havia sido seu colega no seminário. O restante, digamos que o lado reflexivo sobre a sua evolução literária, a génese de “Manhã Submersa”, romance, o seu posterior interesse por Malraux e pelo existencialismo, e por novas formas de narrativa que o “nouveau roman” abriu, tudo isso fui captar nos jardins da sua casa em Fontanelas. Enquanto a Drª Regina regava as plantas. Ou preparava um chá. Sentados em redor de uma mesa de pedra, sob o frondoso das árvores, o gravador no meio, a câmara de filmar discretamente recuada, Vergílio Ferreira falou. Lição de mestre, que ficou registada para a eternidade.
“Conta Corrente”, “20-0utubro (sábado). No dia 18, quinta, a TV-2 iniciou a emissão de “Manhã Submersa”. Transmitiu a "Introdução" com várias conversas minhas em vários sítios, entre eles o Seminário do Fundão. Emocionou-me particularmente a presença de minha mãe. Em certo plano, ela aparece a percorrer o corredor da casa, num envolvimento de sombras como um espectro. No silêncio absoluto ouvia-se, a aprofundá-lo, as pancadas dos tacões e da bengala no soalho. O seu percurso levava-a para a porta da rua, onde se imobilizou num halo de luz difusa.”
Corte para Lisboa. O café Vavá onde tantas e tantas vezes nos encontrámos. De inicio com o Manuel Guimarães. Depois com a Lídia Jorge. Um dia falámos sobre Agustina, outro dos grandes nomes das letras portuguesas, de que eu gostava (e gosto) muito. Rivalidades e mal entendidos levavam Vergílio Ferreira a não a ter entre as preferidas. Ela correspondia, ao que suponho. Passados meses, de novo numa das mesas do Vavá, depois de uma viagem a Paris que reuniu Agustina e Vergílio, este confessa-me a sua enorme admiração pela escritora. Ambos se tinham tornado grandes amigos.
Ainda Lisboa. Um telefonema ao fim da tarde. “Que fazem vocês? Vamos comer uns bifes de javali num restaurante que conheço?” Era dia 28 de Janeiro, Vergílio Ferreira fazia anos, e lá fomos até às Olaias, onde o escritor conhecia um restaurante especializado em javali. Melhor que o javali, que eu degustava pela primeira vez, era a companhia. A torrente das palavras, moldada em afectos. Um dia disse, e confirmo, que Vergílio Ferreira foi para mim com um segundo pai. O meu faleceu abruptamente em 1977. Vergílio Ferreira não ocupou o lugar, insubstituível, mas atenuou a perca com a sua presença amiga e a sua voz patriarcal.
“Flash back”: Casa de Vergílio Ferreira. Interior. Noite.
Morava muito perto da minha casa, ambas situadas na Avenida EUA.
Sentados frente a frente, falo-lhe na hipótese de interpretar a figura do reitor. A reacção inicial foi chamar-me louco ou algo parecido. Depois sorriu. Um bom professor é um actor, digo eu. E sabe latim. Elogio-lhe o rosto, a postura, o rigor, a austeridade, certamente resquícios do próprio seminário. “Já viu o que era, “ser” agora o reitor que tanto o flagelou em adolescente? Não só o reitor do seminário, mas também o Salazar do País?” Deixou de me chamar louco e continuou a sorrir. Um sorriso de criança que intimamente elabora uma malandrice bem urdida. “Amanhã voltamos a falar disso”, digo eu. No dia seguinte, pela hora do almoço, telefono-lhe excitado, esperando um não rotundo, sai um sim em busca de comprovativo. Claro que reforço o convite. É preciso encomendar um fato de reitor no guarda-roupa Anahory. Com as suas medidas.
Vergílio Ferreira não foi dos primeiros a entrar em cena. As filmagens começaram por Linhares da Serra, exteriores, inverno inclemente, já o disse. Acabadas as filmagens na serra da Estrela, regressámos a Lisboa, para filmagens na Madre de Deus, num edifício da Casa Pia nessa altura desocupado. Improvisado um gabinete do reitor, colocadas as câmaras, instalada a iluminação, espera-se por Vergílio Ferreira para a primeira “take” do dia e para a sua estreia como actor. Devidamente paramentado aparece. Troco com ele frases de ocasião sobre o texto a dizer nessa altura. Um dos alunos do seminário vai ser expulso, e o reitor executa a sentença, perante os pais revoltados com a conduta do filho. Vergílio Ferreira sabe o diálogo, está no entanto inquieto. Coloca-se no local escolhido, em pé, atrás da secretária. “Acção!”: “Entre!” e os pais entram com o aluno e um empregado do seminário. Vergílio Ferreira inicia um diálogo grandiloquente, quase gritado, muito gesticulado. Parece récita de amadores do pior. A equipa técnica rebolava-se de riso e escondia-se por detrás de tudo o que pudesse impedir ser vista. Teme-se o pior. “Corta!” Vergílio Ferreira não está satisfeito, mas está sobretudo inseguro. “Não correu bem, pois não?” “Não, Vergílio, não correu, não é esse o tom.” Falámos cinco minutos, afastados dos demais. “Isto é cinema, não é teatro. O público está muito perto de si, olha-o nos olhos, não precisa de exteriorizar muito, mas pelo contrário de interiorizar. Basta sentir o que se diz, a câmara fará o resto, vai lá buscar a emoção e transmiti-la ao espectador.” “Vamos repetir!” E assim foi. Sai muito bem. Volta a repetir-se o plano, por uma questão de segurança. Vergílio Ferreira protesta: “Não ficou ainda bem desta vez?”. “Sim, mas temos de ter mais do que uma “take” boa, por questão de segurança!”. “Que chatice! Não sabia que isto era tão chato, tanta repetição!” Mas a partir daí foi sempre a somar: encontrado o tom próprio, foi dos mais seguros actores da companhia. Sempre prestável.
Na “Conta Corrente”, no dia 14 de Janeiro de 1980 (domingo): “Vi há dias as filmagens que já fiz para “Manhã Submersa”. Lá estava o Reitor a enredar o miúdo e a recusar o perdão a um outro que não queria ser expulso. O Lauro António e toda a equipa acharam a actuação "brilhante". Nunca ninguém me disse isso em relação a nada que tenha feito. E aí está como o meu destino devia era estar no Parque Mayer.”
Na mesma “Conta Corrente”, agora no dia 3 de Novembro (sábado): “Espantoso. Tenho sido cumprimentadíssimo pela minha actuação na TV, na série da “Manhã Submersa”. Faço o papel de Reitor, tenho sido felicitadíssimo. No restaurante onde hoje fomos, vários olhares fixos em mim a identificarem. Há quarenta anos a escrever livros. Pouca gente deu conta. Mas só com duas intervenções na TV, sou quase tão célebre como um futebolista. Tenho-o pensado: o meu destino estava em Hollywood ou no Parque Mayer. Agora é tarde para emendar o destino. O curioso é que eu não correspondo por dentro a estas homenagens. Quando me dizem de um livro que é "bom", qualquer coisa mexe por dentro, no sítio das vísceras em que está o contentamento. Mas ser "actor" – que blague. Uma brincadeira da responsabilidade do Lauro António, o realizador. Que tenho "boa figura" e "boa voz" e "boa presença". E esta? Mas é desta maneira externa e acidental e lúdica que se faz uma reputação e uma "personalidade". Modo de se ser de fora para os outros e de os outros o serem. O que é de dentro não tem uma pessoa a que se fixe, não tem visibilidade a que nos fixemos.”
Alguma incompreensão de Vergílio Ferreira para com a força das imagens: uma interpretação, em cinema, vale sobretudo pelo que sugere do interior da personagem. A "boa figura", "boa voz" e "boa presença" são igualmente signos que nos permitem chegar à essência, precisamente ao mais profundo de um ser, de uma situação. O “casting” é precisamente isso: escolher a pessoa certa para o papel.
“Travelling” na auto-estrada para o Porto, onde se repõe “Manhã Submersa”, eu e Vergílio Ferreira na sala do cinema, julgo que uma das salas o “Charlot”, em amena cavaqueira sobre o filme, após a projecção. Há quem fale da influência de Buñuel, de Bergman, de não sei quantos mais cineastas. Vergílio Ferreira regista o episódio na sua “Conta Corrente”: 20-Abril (terça). (…) uma ida ao Porto com o Lauro António para uma nova "estreia" do “Manhã Submersa”. Com Lauro António tem acontecido uma coisa que sei por mim e é a atribuição variada de "influências". A esse propósito, teve ele no colóquio, após a exibição do filme, uma observação curiosa: não há mal que nos atribuam muitas influências; mal é quando nos atribuem só uma. Ponho-me a reflectir, acho que tem certa razão. Comigo, aliás, no que se refere a influências, é uma fartura.”
Claro que haverá influências. No mundo nada se cria, tudo se transforma. Uma influência manifesta, pode ser cópia, plágio. Muitas, é a vida, ao longo da qual nos vamos alimentando do que vemos, do que lemos, do que ouvimos, do que nos toca a pele, do que nos molda. Somos o produto de tudo o que fica em nós, quando tudo o mais desaparece. Cada personalidade é o resultado dessa mistura sincrética.
Volto à sua casa em Lisboa. Anos depois da estreia de “Manhã Submersa”, confesso-lhe que gostaria muito de adaptar “Até ao Fim”. Ele acha que eu faria um filme magnífico de “Em Nome da Terra”, livro de que gosto muito, mas não me seduz para cinema. Já experimentei o “beco sem saída” com adolescentes, não me apetece entrar noutro “huit clot”, agora da terceira idade. “Até ao Fim”, sim. Mas há um cineasta alemão que o quer adaptar. Vergílio Ferreira hesita em ceder os direitos, “muito bem pagos”, porque eu punha a hipótese de o adaptar. Liberto-o de qualquer compromisso ou constrangimento. Afinal a minha carreira de cineasta, depois do relativo sucesso de “Manhã Submersa”, tem sido muito difícil. Contaram-me que colegas meus, uma vez reunidos em conciliabo, haviam jurado: “Este gajo nunca mais há-de filmar!”, o que quase se concretizou. Não quero ser empecilho, afinal nem tinha pago nada para reter os direitos. Vergílio Ferreira, que nunca me deixara sequer ler os seus dois primeiros romances, que considera obras de juventude, sem grande préstimo, vai desencantar uma primeira edição de “O Caminho Fica Longe” e escreve com a letra miudinha que o caracterizava, “o imbricado da escrita”, como lhe chamava, uma dedicatória significativa: “Ao Lauro António esta maneira desculpável (?) de se ser infantil, com um abraço amigo do Vergílio Ferreira. Junho de 1982.”
Falando de dedicatórias, uma que me tocar particularmente. Uma primeira edição de “Manhã Submersa”: “Ao Lauro António que fez deste livro uma razão para eu ter algum orgulho nele. Com uma abraço do Vergílio Ferreira. Março de 90.”
Em 1983 realizei para a RTP uma série, “Histórias de Mulheres”, que agrupou quatro histórias, uma delas retirada de um conto de Vergílio Ferreira, “Mãe Genoveva”. Transpus o cenário da Beira para o Alentejo, rodei-o em Terena, uma aldeia perto de Estremoz. O conto de Vergílio Ferreira dava hipótese de fazer uma experiência narrativa que me interessava, dado que se prestava bem ao estilo, rigoroso e conciso, do escritor, e à sua propensão para conter a emoção e evitar todo o sentimentalismo fácil. Procurei, portanto, que tudo o que de dramaticamente importante sucedesse, acontecesse fora do enquadramento. As imagens seriam apenas um reflexo, um indício, do que realmente ocorre. Era uma história de clandestinidade e polícia política, já de si nebulosa, pouco clara. Subversiva, furtiva, oculta. Desenrolando-se pela calada da noite, por entre sombras e vestígios. Penso que se apropriava bem o tom escolhido, que eu julgava inquietante E soturno.
É um filme de que gosto muito, mas difícil para o público, reconheço. Temi pela reacção de Vergílio Ferreira, que quase não acompanhou nem a preparação, nem as filmagem ou a montagem. Apenas viu o filme terminado, já em Lisboa, depois de ter passado pelo festival da Figueira da Foz. Não tínhamos falado muito, anteriormente, sobre este pequeno filme de uma hora, rodado durante uma semana num Alentejo escaldante. Afinal, Vergílio Ferreira foi dos que melhor entenderam esta tentativa, pelo menos tendo em conta as suas considerações expressas numa das páginas do volume IV da sua "Conta-Corrente", referindo-se globalmente à série “Histórias de Mulheres”, e em particular a “Mãe Genoveva”: " São filmes depurados à essência narrativa, despojados de pormenores, lentos, mas sempre na expectativa do que daí acontecerá (...) "Mãe Genoveva" quase não tem falas, só a pureza da sequência de imagens, sem alterar a tonalidade emotiva, mesmo quando seria caso disso. Filme transparente, discreto, quase absoluto. (...) Gostei bastante deles e muito ainda de gostar por essas razões."
Perto do “the end”, apenas mais uma recordação: em 1993, no Porto, na Fundação Eng. António de Almeida, Vergílio Ferreira foi o centro de um “Colóquio Interdisciplinar”, por altura das comemorações dos seus cinquenta anos de vida literária. Lá estiveram, durante três dias, a coincidirem com a data de nascimento do escritor, alguns dos maiores vultos nacionais e estrangeiros, que se tinham dedicado ao estudo da sua obra. Nesse colóquio fui convidado a intervir de duas formas, através de uma comunicação, onde tentava dar uma ideia das relações do escritor com o cinema, e através da exibição de três filmes meus, dois passados numa sala de cinema, à noite, um, “Vergílio Ferreira numa “Manhã Submersa”, a encerrar a sessão do colóquio. O filme passou perante uma sala repleta, e no final assisti a uma das ovações mais calorosas que me foi dado ouvir. Mas o melhor de tudo, não foram sequer as palavras de Óscar Lopes ou Eduardo Lourenço, enaltecendo o significado do filme, mas o abraço estimulante do Vergílio, e as palavras segredadas quase ao ouvido, nesse momento: “Já sabia que este filme era bom, mas só agora percebi quanto ele é importante. Sabe que lhe disse, nesses depoimentos, coisas que nunca antes tinha revelado?”
Não pude deixar de ficar orgulhoso. Como hoje ainda o estou por permitir que alguns dos meus filmes tenham eternizado não só as palavras e as ideias do escritor, como ajudado a imortalizar o rosto e a figura do homem. Quando a saudade aperta, ponho a rodar o dvd, e ouço: “A minha biografia começa aqui – na rampa.” E sei que Vergílio Ferreira continua presente. Como presente e vivo se encontra no túmulo que olha a serra. Ele é um pouco da nossa imortal identidade. Cultural, artística, literária, geográfica, antropológica.
“Fade out” ou “fusão em negro”, enquanto se ouve em off o orador agradecer: “Muito obrigado a todos pela vossa simpática atenção, mas creiam que para mim é sempre um prazer recordar e falar de Vergílio Ferreira. Muito obrigado.”

Lauro António, Gouveia, 7 de Maio de 2009.

quinta-feira, maio 07, 2009

A GRIPE DOS "SUINOS"


Não sou muito dado a teorias de conspiração, a não ser na ficção policial. Mas tal como no caso das bruxas, “que las hay, las hay…”.

Aqui vão duas hipóteses de “teorias de conspiração”, recentemente cegadas via mail. Começa a haver para todos os gostos, mas com idêntica ganância lucrativa como fundo. De verdade?

TEORIA DA CONSPIRAÇÃO 1 (em espanhol)

INFO SOBRE LA SUPUESTA INFLUENZA - LA VERDAD DEL PLANETA

El pasado 2 de abril durante la reunión del grupo de G7 integrado por EU, R. Unido, Canadá, Alemania, Italia y Japón se dieron 2 conclusiones fundamentales.

1- La economía mundial necesitaba un cambio

2- El FMI. Destinaria 500,000 millones de dólares para ayudar a las economías emergentes, (países pobres dispuestos a colaborar) pues bien los dados estaban en el aire.

3- Luego vino la reunión privada del presidente Obama y Felipe Calderón el 16 y 17 de abril.

Sorpresivamente el jueves 23 de abril el presidente de México convoco a una reunión de emergencia con su gabinete, y por la noche el secretario de salud José ángel córdoba Villalobos anunciaba en cadena nacional la aparición del virus de la influenza, y las medidas inmediatas como la suspensión de las clases a todos los niveles en el DF y el estado de México.

El 24 de abril el G7 declara la economía mundial debería ponerse en marcha este año y que se lanzarían todas las acciones necesarias.

Finalmente lunes 27 de abril la empresa farmacéutica Sanofi Aventis anuncia que inyectara 100 millones de euros en una nueva planta de vacunas y donaría 236,000 dosis a México como apoyo al control de la enfermedad.

De todo lo anterior veamos lo siguiente:

1. Desde hace más de 2 años la industria farmacéutica a nivel mundial tenía problemas financieros por la baja en la venta de medicamentos.

2. Si no creas guerras crea enfermedades (la economía mundial debería ponerse en marcha)

3. México perfecto trampolín para lanzar la enfermedad, de aquí saldrían turistas a diferentes partes del mundo, curiosamente los países que reportan enfermos que estuvieron en México, y que están reforzando su cerco sanitario son los países que integran el G7 que raro.

Lo que pasara esta semana que viene. Muy probable la suspensión de actividades en todas las empresas del DF y Estado de México, ya las clases se suspendieron hasta el día 6 de mayo, donde el gobierno hará un análisis de la farsa y vera conveniente el que siga, o la declaración tan estudiada "gracias a las medidas que se tomaron a tiempo y el apoyo de la ciudadanía pudimos controlar la enfermedad"

4. Ponte a pensar de que se está hablando a nivel internacional ahora ¿del virus o de la crisis financiera?. Esto de antemano es un alivio para el banco mundial y las bolsas del mundo.

Distribuye este correo a todos tus contactos no se vale nos quieran ver la cara como lo han hecho en el pasado, (chupacabras, ovnis, leche contaminada etc.)

Y si puedes saca copias para la gente que no tiene internet, esta gente como siempre es la más afectada, mira los noticieros y las ventas de las farmacias se ha incrementado y el costo de los cubrebocas ya llego a 7 pesos imagínate las risas de quien esto orquesto al ver a la gente con cubrebocas.

Si alguien debate que con el paro México perdería mucho pues no, para eso es el fondo que destino el FMI, e imagínate las ganancias de la farmacéutica a nivel mundial, y como lo acaba de anunciar el Secretario de Economía de México por dinero no paramos para combatir la enfermedad, y por último los empresarios considerarían este paro un alivio y muchos vivales como siempre pagaran la mitad a sus empleados.

El presidente anuncio que la enfermedad es curable, y siempre nos manejan cifras a medias ¿donde están los muertos y donde están concentrados los enfermos?,

Yo anexo los siguientes puntos:

1. Si realmente es tan contagioso, ¿cómo y donde están las familias de los muertos?

2. Si la influenza porcina es una mutación del virus original de los cerdos, entonces el brote de la infección debería haber comenzado en el campo y no en la ciudades.

3. ¿Por qué no han mostrado una entrevista con algún enfermo? (he visto que entrevistan a familiares, diciendo que su familiar esta enfermo y que ya está estable gracias a los medicamentos, pero si el familiar ha estado en contacto directo con el virus que lo lógico no es que esté enfermo o en cuarentena?)

4. ¿Por qué no han dicho el nombre del retroviral que esta “curando” a la gente enferma?

P. Lucero

TEORIA DA CONSPIRAÇÃO 2 (em brasileiro)

A VERDADE SOBRE A GRIPE SUÍNA

Estão surgindo indícios de que a gripe suína teve origem em gigantescas fazendas industriais de criação de suínos. Inclua seu nome no abaixo-assinado pedindo que a Organização Mundial da Saúde e a Organização para a Agricultura e Alimentação investiguem e controlem essas ameaças a nossa saúde:
Mobilize-se agora

Ninguém sabe ainda se a gripe suína vai se tornar uma pandemia mundial, mas está ficando cada vez mais claro de onde ela veio: muito provavelmente de uma gigantesca fazenda industrial de criação de suínos mantida por uma corporação multinacional americana em Veracruz, México.

Essas fazendas industriais são repulsivas e perigosas e se multiplicam rapidamente. Milhares de porcos são brutalmente comprimidos para dentro de celeiros imundos e recebem um jato com um coquetel de drogas, pondo em risco sanitário mais do que simplesmente nossa alimentação. Esses animais e suas lagoas de estrume criam as condições ideais para gerar novos e perigosos vírus como o da gripe suína. A Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Organização para a Agricultura e Alimentação (FAO) precisam investigar e criar mecanismos de controle para essas fazendas a fim de proteger a saúde do mundo.

Grandes empresas de agronegócio tentarão obstruir qualquer tentativa de reforma, então precisamos de um protesto em massa que as autoridades de saúde não possam ignorar. Inclua seu nome neste abaixo-assinado pedindo uma investigação e controle de fazendas industriais e divulgue-o entre seus amigos e familiares, que nós o entregaremos aos órgãos da ONU. Se conseguirmos 200.000 assinaturas, entregaremos o abaixo-assinado à OMS, em Genebra, juntamente com um rebanho de porcos de papelão. Para cada 1000 assinaturas, acrescentaremos um porco ao rebanho:

http://www.avaaz.org/po/swine_flu_pandemic

Na semana passada, a gripe era o único assunto: o México tem estado quase em paralisia e em todo o mundo as autoridades suspenderam o tráfego aéreo, baniram as importações de carne de porco e iniciaram drásticas medidas de controle para atenuar a propagação do vírus. Enquanto a ameaça mostra sinais de apaziguamento, a questão se desloca para a origem e o modo de conter outro surto.

A Smithfield Corporation, maior produtor de suínos do mundo, cuja fazenda está sendo apontada como fonte do surto do vírus H1N1, nega qualquer ligação entre seus porcos e a gripe, enquanto grandes empresas de agronegócio em todo o mundo gastam enormes quantias de dinheiro em pesquisas para comprovar que a biossegurança é garantida na produção industrial de suínos. Porém, há anos a OMS tem dito que “uma nova pandemia é inevitável” e os especialistas da Comissão Europeia e da FAO têm alertado que a rápida transformação de pequenas propriedades em locais de produção industrial de porcos aumenta o risco de geração e transmissão de epidemias de doenças. Os Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA alertam que os cientistas ainda não conhecem todos os efeitos que os compostos contagiosos produzidos em fazendas industriais têm sobre a saúde humana.

Há inúmeros estudos sobre as condições atrozes em que vivem os porcos nesses ambientes de produção concentrada e de grande escala, e sobre o devastador impacto econômico da produção excessiva e de grande escala sobre as comunidades de pequenos agricultores. A própria Smithfield já foi multada em $12,6 milhões e atualmente é alvo de uma investigação do governo americano devido a danos tóxicos causados por lagos de excrementos de porcos ao meio ambiente.

Porém, mesmo com todos esses indícios de danos, a combinação do aumento do consumo mundial de carne e de uma indústria poderosa motivada pelo lucro às custas da saúde humana significa que em vez de serem encerradas, as operações nocivas dessas fazendas industriais estão se multiplicando em todo o mundo, subsidiadas por nós mesmos. No rastro dessa ameaça da gripe suína, vamos fazer com que os produtores industriais de suínos assumam sua responsabilidade. Inclua seu nome no abaixo-assinado para pedir investigação e controle:

http://www.avaaz.org/po/swine_flu_pandemic

Se dermos fim a essa crise sanitária mundial com coragem reavaliando nosso padrão de consumo e produção de alimentos e pedindo urgentemente um estudo sobre o impacto de fazendas industriais sobre a saúde humana, poderíamos criar regras severas de controle dessas fazendas que salvarão a população mundial de uma futura pandemia mortal de origem animal.

http://www.avaaz.org/po/swine_flu_pandemic

Com esperança,

Alice, Pascal, Graziela, Paul, Brett, Ben, Ricken, Iain, Paula, Luis, Raj, Margaret, Taren e toda a equipe da Avaaz

Leia mais:

BBC Brasil (28 de abril de 2009) -- "FAO investigará fazendas onde pode ter surgido gripe suína"
http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2009/04/090428_faogripe_ba.shtml

Estadao.com.br (28 de abril de 2009)-- "Gripe suína pode ter surgido em vila mexicana perto de granja"
http://www.estadao.com.br/noticias/vidae,gripe-suina-pode-ter-surgido-em-vila-mexicana-perto-de-granja,361806,0.htm

Blog da Terra (27 de abril de 2009) -- "FAO procura focos de novo vírus em criação de porcos"
http://blogdaterra.com.br/2009/04/27/fao-procura-focos-de-novo-virus-em-criacao-de-porcos/

segunda-feira, maio 04, 2009

CICLOS VERGILIANOS EM GOUVEIA

:

Vergílio Ferreira: Espaços e Circuitos

Programa:
DIA 7 DE MAIO

10hoo Recepção e entrega de documentação
10h30 Abertura oficial do Seminário - Anúncio do Prémio Literário Vergílio Ferreira, Consagração: Prémio promovido pelo município de Gouveia e Universidade de Évora.
11h15 Pausa para café
11h30 Prof. Hélder Godinho: "Os Espaços na Obra de Vergílio Ferreira"
12h30 Debate
13hoo Almoço
14h30 Testemunhos Vergílio Ferreira:
Moderadora: Professora Eunice Cabral
com a presença de: Dr. Alípio de Melo,
Drª Maria Eduarda Colares,
Dr. Liberto Cruz,
Cineasta Lauro António
e Prof. Dra. Cristina Robalo Cordeiro
16hoo Pausa para café
16h15 Prof. Dr. Gavillanes Laso
17h00 Debate
21h30 Concerto no Teatro Cine de Gouveia
pela Orquestra Ligeira de Gouveia

DIA 8 DE MAIO

10h00 Prof. Dra. Fernanda Irene Fonseca
11hoo Debate
11h15 Pausa para café
11h30 Prof. Dra. Rosa Maria Goulart
12h45 Síntese Final
13hoo Almoço
14h30 Partida para Melo com percurso pedestre

INSCRIÇÕES:
Custo de 10 €, grátis para estudantes.
Enviar para:
Ciclos Vergilianos
A/c da Drª Catarina dos Santos
Biblioteca Municipal Vergílio Ferreira
Praça de S. Pedro, nº5
6290-547 GOUVEIA
Informações: 238490230
www.cm-gouveia.pt