quarta-feira, setembro 29, 2010

CINE ECO 2010

:
SELECÇÃO OFICIAL DO CINE ECO 2010
Foi anunciada a selecção oficial do Cine Eco 2010.
Nas diferentes secções, obras de cerca de 40 países de todo o mundo.

COMPETIÇÃO INTERNACIONAL (54)
POR ORDEM ALFABÉTICA

100.000 Caixões, o Escândalo do Amianto de José Bourgarel (França) 75’
Aldeia Perdida, de Gunnar Raimann (República Checa) 51'
Aldeias sem Caminho, de Javier Estella e Jorge Tsabotzoglu (Espanha) 46’
Aldeias sem Caminhos, de Javier Estell e Jorge Tsabotzoglu (Espanha) 46’
Amigos do Ambiente, 6 capítulos, de João Luís Azevedo e Isidro Gimenez Gomez (Espanha, Portugal) 6’
As Horas do Douro, de António Barreto e Joana Pontes (Portugal) 98’
A Bacia, de David Geiss (Canadá) 8’
Brilhando no Escuro, de David Joseph Ryan (Nova Zelândia) 7’
A Canção de Baran Baran’s Song, de Jafar Nornohammandi (Irão) 17’
Canto da Terra d’ Água, de Francesco Giarrusso e Adriano Smaldone (Portugal) 32’
Caos Climático no Sul, A História das Vítimas, de Geert De Belder (Bélgica) 53’
O Céu está a Arder, de Luciano Capelli (Costa Rica / Itália) 57’
Chaparri, os Sete Ursos da Montanha Sagrada, de Nathalie Granger-Charles-Dominique e André Charles-Dominique (França) 94’
Cientistas Sob Ataque, de Bertram Verhaag (Alemanha) 60’
Efeito Reciclagem, de Sean Walsh (Brasil) 93’
Eles Vêm Buscar o Ouro e Levam Tudo, de Pablo D’Alo Abba e Christian Harbaruk (Argentina, Chile) 81’
Em Direcção à Eternidade, de Michael Madsen (Dinamarca, Finlândia, Suécia, Itália) 75’
Escavando Piedade, de Venu Nair (Índia) 14’
Um Futuro a que Preço?, de David Martin (França) 52’
Um Grau Faz a Diferença, de Eskil Hardt (Dinamarca) 60’
Heavy Metal, de Huanqing Jin (China) 50’
Justino, de Carlos Amaral (Portugal) 8’
Karez no Curdistão, de Joshka Wessels (Holanda) 20’
Lágrimas de Shuangxi, de Fanjiaju e Wangjun (China ) 20’
Um Lugar sem Pessoas, de Andreas Apostolis (Grécia) 55’
Movimento Copenhaga , de Lena Kampf (Alemanha) 67’
Mundo Perdido, de Gyula Nemes (Hungria / Finlândia) 20’
Nimbus, de Huang Hsinyao (Taiwan) 36’
No Meio, de Tamar Shippony (Israel) 2’
Ocidente no Oriente, de Nisvet Hrustic (Bósnia) 23’
Ona, de Paul Camarasa (Espanha) 10’
A Onda que se Levanta, de Shweta Kishore e Yask Desai (Índia) 65’
Onze Graus, de Anna Ewert (Escócia) 17’
Os Cruzados Verdes, de Yow Chong Lee (Malásia) 14’
Pelos Trilhos do Andarilho, de Rodrigo Lacerda (Portugal) 60’
Priolo, de Madalena Boto (Portugal) 10’
Quando os Pólos Derretem – a Expedição à Antárctica de Kai Voigtländer (Alemanha ) 52’ Reciclar, de Branko Istrvancic (Croácia) 15’
Recife Frio, de Kleber Mendonça Filho (Brasil) 24’
Reidy, a Construção da Utopia, de Ana Maria Magalhães (Brasil) 77’
A Ria, a Água e o Homem, de Manuel Matos Barbosa (Portugal) 5’
Sê Água, Meu Amigo, de Antonio Martino (Itália) 15’
Semeador Urbano, de Cardes Amâncio (Brasil) 8’
Seminário sobre Investimento no Terceiro Mundo, de Alan Gorg (EUA) 36’
Sob o Sol Verde, de Chantal Lasbats (França) 52’
Soprado pelo Vento Blown, de Carol Haefliger (Suíça) 27’
Tamboro, de Sérgio Bernardes (Brasil) 100’
Uma Terra, Muitas Vidas, de Francisco Manso (Portugal) 11’
U.S.SO2 Sérvia, de Nebojsa Pjevió (Sérvia) 56
Veneno de Arena, de Igor Parfenov (Ucrânia) 85’
Vida à Venda, de Yorgos Avgeropoulos (Grécia) 61’
Viva a Crise, de Alexei Gubenco (Roménia) 3’
Xingu, A Terra Ameaçada, de Washington Novaes (Brasil) 105’
Yaku Patsa, de Carlo Brescia Seminário (Peru) 34’

COMPETIÇÃO LUSOFONIA (32)

A Água e a Natureza, de Vítor Manuel Martins de Brito (Portugal) 20’
Água Viva, de Marly Mendanha (Brasil) 5’
Africa Minha, Perdidos e Achados “Lagoa da Cufada”, de Aurélio Faria e Jorge Ramalho (Portugal) 16’
Aldeia do Lado, de Sofia Borges (Portugal) 41’
O Ambi e a Valorização dos Resíduos (Portugal) 6’
Arquitectura Contemporânea nos Açores – Três Casas em São Miguel, de Andreia e Sérgio Soares Luís (Portugal) 38’
Arte Xávega, o Chamamento do Mar, de Paulo César Fajardo (Portugal) 26’
Avé Maria ou Mãe dos Sertanejos, de Camilo Cavalcante (Brasil) 12’
Breu, de Jerónimo Rocha (Portugal) 14’
Castelos da Nossa História, de Ana Pinto, Patrícia Santos e Vítor Roque (Portugal) 17’
Coperostra – A Superação de uma Comunidade, de Pedro Barbosa (Brasil) 25’
A Cor do Ouro, de Marly Mendanha (animação) (Brasil) 2’
Diga 33, de Ângelo Lima (Brasil) 18’
Dunas e Falésias – Monumentos Ameaçados, de Pedro Barbosa (Brasil) 25’
Mar Português, de Francisco Manso (Portugal) 52’
Pacto de Autarcas, de Pedro Ferreira (Portugal) 72’
Pantanal no Ar, de Marcelo de Paula (Brasil) 87’
O Paradoxo da Salamandra, de Francisco Manso e François Binggeli (Portugal) 52’
Paraíso, de Humberto Filipe e Pinto Machado (Portugal) 6’
O Pessoal do Pico Toma Conta Disso, de Rodrigo Lacerda e Rita Alcaire (Portugal) 24’
Les Portugaises (Ostras de Portugal), de Rui Filipe Torres (Portugal) 56’
Pouco Barulho, de Alunos da Escola E/B 2-3 do Sardoal (Portugal) 6’
O que aconteceu aos Resíduos nos Açores?, de Fernando Nascimento (Portugal) 16’
Quintã – Memórias, de Ricardo Machado (Portugal) 50’
Senhora do Desterro, um Paraíso Adiado, de F. Cunhal Saraiva (Portugal) 10’
Sonho de Humanidade, de Amarildo Pessoa (Brasil) 14’
Tempo Reflectido, de Mariana Castro e Sílvio Santana (Portugal) 28’
A Terra a Gastar, de Cassia Mary Itamoto e Celina Kurihara (Brasil) 6’
Valorize os Açores, de Media 9 (Portugal) 1’
Vamos, de Paulo Bicudo (Portugal) 18’
Vela ao Crucificado, de Frederico Machado (Brasil) 13’
Verde às Cinzas, de Colectivo de Alunos da Escola E/B 2-3 do Sardoal (Portugal) 5’

OBRAS EXTRA CONCURSO (23)

À Espera da Chuva Waiting for the Rain, de Maciej Gorski, Andrej Bojanczyk (Polónia) 55’
Algures Somewhere, de Caterina Gueli 14’30
Aliens do Amazonas, de Quincy Russell (França) 45’x2
Americano/Sandinista, American/Sandinist, Jason Blalock (USA) 31’
Animais de Berlim Berlin Beasts, de Reinhard Schodler (Alemanha) 52’
Anos Perdidos, a Odisseia das Tartarugas Marinhas, de Jeremy Hogarty (Austrália) 52’
O Apelo da Montanha The Call of the Mountain, de Stelios Apostolopoulos (Grécia) 53’
Ardendo ao Sol Burning in the Sun, de Cambri Matlow e Morgan Robinson (EUA, Mali) 82’
Um Argonauta em Ordu, de Ruyo Arzu Koksal (Turquia) 72’
Desumidificador Dessicator, de Monique Stool e Wijmand Geraerts (Holanda) 12’
Donos da Água Owners of the Water, de Laura R. Graham, David Hernández Palmar e Caimi Waiassé 30’
Donos da Terra Owners of the Land, de Laura Graham, David Hernandez Palmar e Caimi Waiásse (Brasil, Venezuela) 34’
O Erguer do Sol, de Jennifer Redfearn e Tom Metzger (EUA) 38’
Exército Permanente Standing Army, de Thomas Fazi (Itália) 75’
Garbusha, de Blandine Huk e Frédéric Cousseau (França) 10’
Garimpero, de Marc Barrat (França) 90’
O Lago que já Foi The Lake That Was, de Pezhman Mazaheripour (Inglaterra, Irão= 26’
Margan, de Jafar Nornohammandi (Irão ) 20’
Não Vamos Mais Longe We Won’t go Any Further, de Sonia Ringoot (Bélgica) 55’
O Nosso Planeta Fascinante – Patagónia, a Vida no Limite Our Fascinating Planet: Patagónia, Life in the Limit, de Christiane Goetz-Sobel (Alemanha) 44’
Onde o Cheiro do Mar não Chega Donde el Olor del Mar no Llega, de Lilian Rosado González (Espanha) 86’
Paraíso Sujo, de Daniel Schweizer (Suíça) 70’
Plástico e Vidro, de Tessa Joosse (França) 9’
Poeta Salmão, de Sabrina Guitart (França?) 58’
Rosita no se Desplaza, de Alessandro Acito e Leonardo Valderrama (Itália) 62’
A Saga da Floresta Primitiva, de Bozrena e Jan Walentik (Polónia) 52’
Silêncio Silence, de Ava Lanche (Alemanha, Islândia) 3, 13
Sombras sobre a Água Ombre sull’ Acqua, de Paolo Balmas (Itália) 50’
O Tempo dos Rios Il Tempo del Fiume, de Anja Medved e Nadia Veluscerr (Itália) 63’
Tesouros Menosprezados, de Christiane Goetz-Sobel e Juergen Grosse (Alemanha) 28’;
Tukki, a Pegada Ambiental Tukki, la Huella Ambiental, de Guilhermo Garcia-Ramos (Espanha) 49’
Vela Branca no Pripyat, de Uladzimir Kolas (Polónia) 53’
Vida Aquática Waterlife, de Kevin McMahon (Canadá) 109’

MOSTRA DE CINEMA DE GOIÁS (10)

Água Viva, de Marly Mendanha (Brasil) 5’
A Capoeira de Mestre Sabú, de Luís Valentim (Brasil) 20’
A Cor do Ouro, de Marly Mendanha (animação) (Brasil) 2’
Diga 33, de Ângelo Lima (Brasil) 18’
Marimbondo Amarelo, de Amarildo Pessoa (Brasil) 20’
Olhar de João, Mariley Carneiro (Brasil) 21’.
Recordação de um Presídio de Meninos, de Lorival Belém Júnior (Brasil) 28’
Sonho de Humanidade, de Amarildo Pessoa (Brasil) 14’
Vida Seca – Som da Sucata, de Diego Mendonça (Brasil) 13’.
Xingu, A Terra Ameaçada, de Washington Novaes (Brasil) 105’

segunda-feira, setembro 13, 2010

MORREU CLAUDE CHABROL

:
CHABROL FICARÁ PARA SEMPRE
No dia 2 de Junho de 2006, escrevi aqui sobre "A Comédia do Poder". Transcrevo o texto como homenagem a um dos grandes cineastas europeus.

O bom e velho Chabrol continua imparável. Nada o demove há quase 50 anos de fazer o cinema que quer. Há títulos melhores, outros menos bons, mas não filmes maus e sobretudo desinteressantes na carreira deste veterano que se iniciou na “Nouvelle Vague”, em finais da década de 50, e que daí até hoje não pára de nos surpreender com as suas análises ácidas, cínicas e bem-humoradas sobre os bons (raros) e maus (muitos) costumes da burguesia francesa. Chabrol lá continua, “bon vivant”, comendo e bebendo muito bem, fumando e catrapiscando mulheres bonitas, fazendo filmes inteligentes pelo meio e julgando os seus contemporâneos, não por aquilo que muitos julgam, mas por aquilo que ele mais abomina: a hipocrisia, o puritanismo, o falso moralismo.
Neste aspecto, “L’ Ivresse du Pouvoir” (“A Bebedeira do Poder” e não “A Comédia do Poder” como aparece traduzido - por alguma razão Chabrol abandonou este título, que era o que funcionava durante a rodagem) é um manancial de sugestões e só quem não percebe nada de Chabrol pode deixar-se enganar e levar para outros terrenos. “L’ Ivresse du Pouvoir” não é um filme sobre a corrupção do poder, sobre as ligações entre o poder político e o poder económico. Isso seria muito directo e muito fácil para Chabrol, que já tocou no tema vezes sem fim. Agora esse não é o tema, ainda que ele esteja presente como pano de fundo. Mas o tema aqui é a bebedeira de poder de uma juíza de instrução que se julga a mulher mais poderosa de França porque pode mandar prender e torturar psicologicamente à sua frente esses “Presidentes” que não valem nada ao pé da sua intransigência, da sua moral incorrupta, da sua decência imaculada.
Jeanne Charmant-Killman (admirável Isabelle Huppert, que se presta a um jogo de uma frieza e de um rigor de composição sem paralelo) é uma juíza que tem entre mãos uma investigação explosiva que irá mandar para a cadeia um conjunto de administradores e políticos corruptos. Nada de muito especial, pois que eles mesmo admitem que é precisos besuntar as mãos, que as “luvas” fazem parte dos negócios, que as percentagens por baixo da mesa são o que são. De resto, bons jantares, amantes, charutos (que divertido é Chabrol a ostentar charutos, e a mostrar cigarros um pouco por todo o lado, até parecer uma vingança contra o politicamente correcto!), viagens, férias, boa vida, quem a não quer, podendo ter à sua disposição cartões de crédito fornecidos pela empresa?
Não o quer a incorruptível Charmant-Killman (Charmant, não se esqueçam!) que não deixa fumar na sua presença (mas ela fuma), não permite as investidas do marido na cama (está cansada, fica para amanhã), não aceita a sua apetência pelo sobrinho (apesar de passar os dias com os lábios a centímetros dos dele – Chabrol é terrível!), não confia em ninguém, a não ser no seu fiel colaborador de longa data (verão com que resultados!), não recebe uma caixa de vinhos como oferta, apesar de não desdenhar de um aperitivo durante a noite, movimenta-se com discrição, trabalha até altas horas da noite, enfim, um verdadeiro exemplo para todos, mas que Chabrol acha que ultrapassa todas as marcas de humanidade. Afinal a Charmant juíza Killman irá cruzar-se no hospital com o marido que se tentou suicidar e o desgraçado do “Presidente” que sofre de uma depressão profunda. E tudo para quê? Em nome de quê? Com que resultados? Assim volta tudo ao princípio e a juíza encolhe os ombros e confessa que se está nas tintas para tudo. Afinal o seu poder não é real, é virtual, é o poder que os outros lhe entregam, lhe permitem usar e ostentar, mas que só usa e ostenta enquanto outros o permitirem. Este é um jogo viciado por muitos lados e o encontro final de Charmant-Killman e do “Presidente” Michel Humeau, mais não é do que o cruzar de duas vítimas de um mesmo processo. Com a agravante de, como diz Chabrol, “Jeanne nos aparecer progressivamente como uma espécie de Robespierre de saias, à medida que vamos tendo cada vez mais compaixão por Humeau…”
Resumindo: Chabrol pode compreender alguns delitos, mas não compreende os que se querem sobre humanos de pés de barro. Charmant-Killman só começa a ser simpática quando desce do pódio onde ela própria se colocara e começa a perceber o desastre da sua vida pessoal. Quando descobre que a felicidade pode ser Félix, sem outras ambições que um bom poker. Quando descobre que o Sibeau afinal era tão ambicioso como ela, ainda que em campos opostos. Quando percebe afinal a fragilidade do ser humano.
Excelente fotografia de Eduardo Serra, que combate todos os rodriguinhos e nos oferece um quotidiano sem magia, magnificas sequências (como o plano sequência inicial, com a saída de Michel Humeau do escritório, acompanhado pela câmara à mão até ser detido pela polícia fora do edifício), notáveis actores (além da já referida Isabelle Huppert, há ainda a referir François Berléand, Patrick Bruel, Jean-François Balmer ou Thomas Chabrol) fazem de “A Comédia do Poder” uma triste comédia a não perder, assinada por um dos maiores cineastas europeus vivos.

A COMÉDIA DO PODER (L’Ivresse du Pouvoir), de Claude Chabrol (França, 2006), com Isabelle Huppert, François Berléand, Patrick Bruel, Jean-François Balmer, etc. 110 min, M/ 12 anos.

MANHÃ SUBMERSA: 30 ANOS DEPOIS

:

domingo, setembro 12, 2010

MANHÃ SUBMERSA: 30 ANOS DEPOIS

:
30 ANOS DE "MANHÃ SUBMERSA"
50 ANOS DE CARREIRA DE LAURO ANTÓNIO
OUTUBRO NO TEATRO DA TRINDADE (LISBOA)
:
A "Manhã Submersa" estreou em Outubro de 1980. Faz em Outubro deste ano 30 anos. O Teatro da Trindade lembrou-se da efeméride e resolveu assinalá-la, bem assim como os 50 anos de carreira do seu autor (comecei a escrever, e a receber pelo que escrevia, pouquinho é certo, em 1960, tinha então 18 anos), A 12 de Outubro principiam as comemorações, exibição de filme e inauguração de exposição, e início de uma retrospectiva. Tudo para se ir vendo no FB que o Comissário da Exposição lhe dedicou AQUI.

terça-feira, setembro 07, 2010

NORUEGA 1, PORTUGAL 0

:
ACABEM COM ESTA
VERGONHOSA PALHAÇADA
É altura de alguém, com um mínimo de juízo,
por um ponto final nesta vergonhosa palhaçada que se estende desde
o apuramento para o Campeonato de Mundo:
Carlos Queiroz fora da Selecção, JÁ.

Sim, em dois jogos, já "enfardamos" 5! Já chega de piloto automático..

sábado, setembro 04, 2010

PORTO. 1 e 2.Setembro.2010

:
ABERTURA DO WORKSHOP
SOBRE DAVID W. GRIFFITH
E O NASCIMENTO DA LINGUAGEM CINEMATOGRÁFICA

Na Biblioteca Almeida Garrett, 120 espectadores para ver "O Nascimento de Uma Nação", 70 para ver "Intolerância", obras mudas de 1915 e 1916.
Não há público em Portugal para ver cinema? Ou não haverá vondade de propiciar ao público oportunidades para ver?

sábado, agosto 28, 2010

AVEIRO, 27.8.2010

:
EXPOSIÇÃO LAURO CORADO
AVEIRO: GALERIA DA CAPITANIA
Fotografias MEC e LA

PORTO, 26.8.2010

:

INVICTA FILMES:
TERMINA CICLO ORSON WELLES

Na Biblioteca Almeida Garrett, encerramento do ciclo dedicado a Orson Welles, integrado na iniciativa Invicta Filmes.
Anuncia-se igualmente um novo ciclo dedicado a David W. Griffith (início a 1 de Setembro, com "Nascimento de Uma Nação").
Contra todas as espectatiovas, durante o mês de Agosto, casas cheias, com cerca de 200 espectadores cada sessão. Um verdadeiro êxito, a demonstrar que as pessoas gostam do que é bom, quando lho proporcionam.

quarta-feira, agosto 25, 2010

MORREU MARIA DULCE

:
Foto e autógrafo de Maria Dulce - Portalegre, 1957.
MARIA DULCE

Morreu Maria Dulce. Morreu só, numa casa onde habitava ocasionalmente, em Bucelas. Só. A notícia era lacónica, como a sua despedida: “A atriz Maria Dulce, 73 anos, morreu hoje na sua casa em Bucelas (Loures), disse à Lusa fonte do Dramax -- Centro de Artes de Oeiras Box. A atriz estava ensaiar a peça "Sabina Freire", de Manuel Teixeira Gomes, encenada por Celso Cleto, com estreia prevista para 5 de Outubro no auditório Eunice Munoz, em Oeiras. "A atriz apareceu morta hoje em casa, em Bucelas. O corpo seguiu para o Instituto Medicina Legal", disse a mesma fonte. "Estamos também à procura de familiares da Maria Dulce, pois ela vivia sozinha e não temos quaisquer contactos", disse.” (Este texto foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico, acrescenta a nota colhida no Sapo, via Lusa).
Maria Dulce, capa da revista "Plateia".
Aqui há dois ou três anos, Luciano Reis (honra lhe seja feita!) escreveu uma curta biografia sobre a actriz, que foi publicada com o título “Maria Dulce a Verdade a que tem Direito”. Luciano Reis soube que eu tinha uma particular estima pela actriz e pediu-me um prefácio, que escrevi com todo o gosto. Rezava assim:

PARA A MARIA DULCE COM AMOR

Durante alguns anos da minha adolescência vivi em Portalegre. Meu pai era professor e fora colocado nessa bela cidade do Alto Alentejo para se efectivar. Em finais dos anos 50, não sei precisar o ano, mas recordo que era um puto de 13 ou 14 anos que já tinha escolhido as paixões que me iriam acompanhar ao longo da vida. Uma delas era o cinema, outra a escrita, a leitura, os jornais, outra o SCP, outra as mulheres. Entre estas últimas, que na altura não eram ainda mulheres mas meninas mais ou menos da minha idade, encontrava-se a Maria Dulce, a Maria de Noronha, do “Frei Luís de Sousa”, filme de 1950. Devo ter visto o filme no ecrã do Teatro Portalegrense ou no cinema ao ar livre da Cine Parque, uma esplanada que funcionava durante o Verão.
Ainda me lembro hoje como era bonita a gaiata loura de catorze anos, com os cabelos encaracolados, que tinha pouco mais anos idade que eu, e cintilava brilhantemente nesse filme de António Lopes Ribeiro. Não sei mesmo o que mais me impressionou na altura – se o dramático “Ninguém!” do Romeiro, se a presença da bela Maria Dulce. Já se sabe que todos os putos têm sonhos, um dos meus sonhos era a Maria Dulce. Linda de morrer (ou não estivesse no “Frei Luís de Sousa”!) e, ainda por cima, actriz, e de cinema. Era tudo o que eu podia desejar. Em sonhos… para quem vivia em Portalegre, nos anos 50. Sabem o que era isso? Perdido junto à fronteira com a Espanha, a muitas horas de Lisboa, longe de tudo... ainda sem televisão. Só revistas de cinema, jornais diários, jornais regionais, um ou outro filme português no cinema da terra.
Existia, todavia, uma prática saudável. Rara, mas mesmo assim salutar: de tempos a tempos aparecia em digressão pela província uma companhia teatral, normalmente uma revista ou comédia de sucesso garantido, uma vez por outra algo de mais substancial. Havia também a Companhia de Teatro Itinerante Rafael de Oliveira, e outros espectáculos musicais.
Pois não querem então lá ver que um dia apareceu anunciada a presença de Maria Dulce em Portalegre! Integrada em que projecto (como hoje se diz), já não me lembro. Mas não devia ser grande coisa, uma revista montada para consumo na província ou um “sarau para trabalhadores”, daqueles que a FNAT promovia para “Alegria no Trabalho”. Mas eu queria lá saber da qualidade do “projecto”. O que me interessava era a Maria Dulce em Portalegre, e esse episódio não o esqueci mais. Por varias razões: por ver a Maria Dulce, “ao vivo e a cores”, diriam os putos de hoje; porque era teatro, ou algo semelhante, e tudo o que mexesse num palco, valia a pena, mas sobretudo por um acontecimento que ocorreu e que me marcou profundamente.
Passo a contar, para ficar registado para a História: anunciado o espectáculo para a noite do dia tal, calculei que a Maria Dulce e todo o elenco chegariam de véspera e ficariam instalados na Pensão Vinte e Um, a única então existente em Portalegre, onde todas as noites se podia ver a jantar o poeta José Régio, amigo da minha família, o que me fazia um frequentador assíduo da pensão. Consegui saber com facilidade quando chegava a comitiva, quantos dias iam ficar, introduzindo-me assim no segredo dos deuses.
Mal a Maria Dulce pôs o pé em Portalegre, já estava eu no seu encalço. Chegámos portanto à fala, à porta da Pensão Vinte e Um. Como já por essa altura escrevia umas “notícias” sobre espectáculos para os jornais da terra, pedi-lhe descaradamente uma borla para o espectáculo da noite. Eu e uns colegas de liceu que me acompanhavam. A Maria Dulce, com uma simpatia que rondava a sedução (mas o que não rondaria a sedução nela?), disse-me que deixaria bilhetes para nós na porta do Teatro, à hora do espectáculo. Assim foi. Às 21 horas, lá estava eu e os amigos a recolher a oferta: uma magnífica frisa para os atrevidos putos do liceu de Portalegre.
Nessa noite, cada palavra de Maria Dulce fazia aumentar a minha paixão. Que perdura até hoje, apesar dela não saber. Desencontros da vida.
Ao longo da tempos fui acompanhando a sua carreira, sempre com um interesse particular (um amor de adolescência não se esquece!). Uma ou outra vez tropecei em filmes medíocres (ela não voltou a ter muita sorte com os filmes, mas naquele tempo, quem tinha?), mas nunca por culpa dela, que tentava defender personagens banais em argumentos sem garra e realizações sem nada que as recomendassem. Em Espanha foi vedeta, mas também aí os filmes do período franquista não eram particularmente brilhantes. No teatro, porém, construiu uma carreira sólida, onde brilhou o seu enorme talento e dedicação à arte, sempre que havia oportunidade para o conseguir (Portugal é, todavia, madrasto para os seus artistas, já se sabe). Na revista obteve êxitos inesquecíveis. Na televisão, sobretudo ultimamente em séries e telenovelas, foi mantendo um registo de qualidade e de exigência para consigo própria e para com o seu público. Hoje é uma das presenças mais respeitadas e queridas do nosso espectáculo.
Já não tem os caracóis louros. Pois não. Vamos obviamente envelhecendo. “Os cabelos branqueando”, como dizia um nosso comum amigo, José Viana. Mas há dias, numa aula de História do Cinema Português, projectei o “Frei Luís de Sousa” e tudo voltou ao que era: eu adolescente, ela adolescente, a frisa no Teatro Portalegrense, Portalegre, à porta da Pensão Central, o autocarro com a companhia, pronto para regressar a Lisboa, eu a despedir-me de Maria Dulce, com o coração destroçado. Coisas de miúdos.
Um beijo para ti, Maria Dulce, do teu Lauro António.

Há coisa de ano e meio, recebi um telefonema de Maria Dulce. Estava sem trabalho, morava em Mora, no Alentejo, sozinha, tinha uma pensão miserável, passava por dificuldades, ia neste ano de 2010 comemorar 60 anos de carreira (tinha-se estreado ao treze, em “Frei Luís de Sousa”) e perguntava-me, a medo, se eu quereria integrar um projecto que ela tinha. Queria comemorar os seus 60 anos de carreira, havia um grupo de admiradores que propunha uma festa de homenagem, e ela, que tinha assistido a um festa idêntica, realizada em Oeiras por mim, em relação a José Viana, dizia-me que só aceitava que fosse eu a organizar os festejos. Uma festa, e se possível um vídeo sobre a sua vida e obra. Se eu aceitava? Claro que aceitava. E logo nessa altura a convidei a integrar o Júri de um festival que se realizaria em Maio, em Portel. Até uns dias antes do certame, contei com ela, teríamos alguns dias para falar do projecto. Mas, na altura do festival, ela fora convidada por Celso Cleto (honra lhe seja feita!) para integrar o elenco da peça "Hedda Gabler", de Henrik Ibsen, produzida pelo Dramax, com a qual se apresentou em vários palcos nacionais e no Círculo de Bellas Artes, em Madrid. Não pôde estar no Festival, mas combinámos para mais tarde continuar a nossa conversa. Depois ela andou em tournée, durante vários meses, e eu fui parar ao hospital durante uma semana que deixou algum rasto. Voltámos a falar e a adiar o encontro, ela tinha um outro projecto, andava um pouco mais animada.
Hoje telefonaram-me a dar conta da triste notícia.
Lamento, Maria Dulce, que os tempos tenham sido de novo madrastos para projectos conjuntos. Mas acredita que teria tido o maior prazer em organizar a tal festa de homenagem e dirigir o documentário sobre a tua vida e obra. Bem os merecias. Bem os mereces. Beleza e talento não te faltaram. Apenas alguma sorte, neste tão triste final de vida.
E continuo a despedir-me, como o fiz no prefácio ao livro: “Um beijo para ti, Maria Dulce, do teu Lauro António”. As paixões da meninice nunca se esquecem.

Em "Frei Luis de Sousa", de António Lopes Ribeiro

Maria Dulce com Laura Alves, Vasco Morgado, Henrique Mendes, etc.

NA TELEVISÃO
(2005) "Dei - te Quase Tudo" - Firmina Águas
(2004) "Baía das Mulheres" - Piedade Barão
(2001) "Anjo Selvagem" - Madre superiora
(2000) "Alves dos Reis" - Isaura
(1999) "A Lenda da Garça" - Benvinda Matos
(1998) "Os Lobos" - Laurinda
(1993) "A Banqueira do Povo" - Empregada dos Gonçalves

NO CINEMA
Como Actriz
Frei Luís de Sousa (1950), de António Lopes Ribeiro
O Homem do Dia (1958), de Henrique Campos
A Luz Vem do Alto (1959), de Henrique Campos
Encontro com a Vida (1960), de Arthur Duarte
Amor de Perdição (1979), de Manoel de Oliveira

Como Produtora
A Luz Vem do Alto (1959), de Henrique Campos

domingo, agosto 22, 2010

LAURO CORADO - EXPOSIÇÃO EM AVEIRO

:

Autoretrato, Madrid, 1947
EXPOSIÇÃO DE PINTURA DE LAURO CORADO
NA GALERIA DA CAPITANIA

Ria de Aveiro
A Câmara Municipal de Aveiro informa que, entre os dias 21 de Agosto e 12 de Setembro, estará patente ao público a exposição de pintura a óleo de Lauro Corado, na Galeria da Capitania (sede da Assembleia Municipal de Aveiro).
Esta exposição é composta por obras do pintor que constituem o acervo municipal e pode ser visitada, gratuitamente, de terça a sexta-feira das 14.00 às 18.00 horas, aos sábados das 15.00 às 19.00 horas e das 21.00 às 23.30 horas, e aos domingos entre as 15.00 e as 19.00 horas.

Biografia de Lauro Corado

Lauro da Silva Corado - Professor e artista plástico, nasceu em Aveiro em 1908 e morreu em Lisboa a 1 de Setembro de 1977. Estudou na sua cidade natal (Escola Industrial de Fernando Caldeira) e depois na Escola Superior de Belas Artes do Porto onde concluiu o Curso Superior de Pintura. Foi discípulo de António Carneiro e de Joaquim Lopes. Fez concurso de provas públicas para professor de Pintura da Escola Superior de Belas Artes, tendo ficado aprovado em «mérito absoluto» (1933).
Nesse ano partiu para Itália, França e Espanha como bolseiro do Instituto para a Alta Cultura, regressando em 1945 a Espanha patrocinado pelo mesmo Instituto.
Como professor começa a leccionar na Escola Industrial e Comercial Infante D. Henrique (Porto), e, a partir de 1941, na Escola Industrial e Comercial Dr. Azevedo Neves (Viseu). Em 1942 transfere-se para a Escola António Arroio. Em 1949 faz Exame de Estado para professor efectivo do Ensino Técnico, instalando-se no ano seguinte em Portalegre, onde lecciona até 1958 na Escola Industrial e Comercial local. Aí conviveu com José Régio, colaborou em A Rabeca e expôs diversas vezes: 1955, Escola da Corredoura; 1958, Salão Nobre do Governo Civil.
De regresso a Lisboa, em 1958, é colocado na Escola Técnica Elementar Nuno Gonçalves e depois na Escola de Artes Decorativas António Arroio, onde se encontrava à data da sua morte.
A sua primeira exposição individual efectuou-se na Associação Comercial de Aveiro, a que se seguiu uma segunda no Salão Silva Porto (Porto). Concorreu a inúmeras exposições individuais e colectivas no país e no estrangeiro, obtendo 1.ª e 2ª medalhas da S.N.B.A. de Lisboa, os 1.º e 2.º prémios e Medalha de Ouro da Câmara Municipal de Lisboa, o prémio José Malhoa e o 1.º prémio da Exposição Antoniana do Estoril. Encontra-se representado em museus e colecções particulares de Portalegre, Espanha, Brasil, Canadá, EUA e Alemanha.
Retrato do filho Lauro António, 1949

Infelizmente não pude estar presente nesta exposição da obra de meu Pai, pois fui apenas informado, por mão amiga, que me endereçou este comunicado de imprensa dirigido à comunicação social pela CMA. Lamento que a Câmara Municipal de Aveiro não tenha informado os filhos do pintor desta sua iniciativa.

sábado, agosto 14, 2010

FADO, NO CASINO DO ESTORIL

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Fado - História de um Povo
Pela primeira vez no Casino Estoril como encenador de um espectáculo, Filipe La Féria assina “Fado - História de um Povo”, que procura traçar uma história do fado, desde as suas origens até à actualidade. Um espectáculo de casino tem as suas especificidades próprias e não se deve pensar ir encontrar aqui uma história erudita do fado, nem sequer um musical, na linha de “Amália”. O fado é aqui cruzado com o musical, é certo, mas igualmente com o circo, o bailado, a revista, o vídeo, as novas tecnologias, mas sobretudo também com o “music hall”. O resultado é certamente do agrado do público que vai ao Casino do Estoril, mas deixa um travo de alguma decepção em quem gosta de fado e de musicais, pois ao que se assiste é a um espectáculo híbrido. Não se ouve uma história do fado, através do fado (ainda que surjam muitos dos mais célebres fados de sempre, mas poucos para os incondicionais da canção nacional), nem se assiste a um musical estruturado enquanto tal.
Feita esta primeira ressalva, que tem a ver com a própria concepção do espectáculo, que enveredou deliberadamente por esta estrutura um pouco fragmentada em “números” que se sucedem, organizada em termos quase puramente espectaculares que procuram seduzir o espectador precisamente por este lado ligeiro e festivo, o que fica então?
Claro que desde logo o gosto e o saber de La Féria, que arranca momentos muito bons, como a entrada, com o aparecimento da caravela, e a evocação de que o fado nasceu no mar alto, na voz de um marinheiro. Depois de uma recordação da Severa e dos trágicos amores com o Conde de Vimioso, dado a touros e cavalos (o que permite um efeito de grande espectáculo, com um cavalo a descer do tecto do Casino), temos um dos momentos altos, possivelmente o mais conseguido, o enterro da Severa. Depois passamos pelo fado de Coimbra, cantado numa lua de belo efeito, e acompanhado por dois pífios bailarinos que evoluem no espaço, passamos pelas hortas onde o fado vadio se cantava aos domingos, passamos por Calafate e Setúbal, por Maria Cesária, pelos cafés de camareiras e pelas casas de prostituição em finais do século XIX, onde se ouvia o fado, que também era aristocrata, na corte de D. Carlos.
Depois, assiste-se à implantação da República, outro bom momento, com quase todo o elenco no palco, e à entrada na I Guerra Mundial. E vem Salazar e as marchas Populares, o Estado Novo e o aproveitamento dos 3 fs. Surgem gigantes como Alfredo Marceneiro e Hermínia Silva, e o fado vadio pelas tabernas da noite, nas ruelas de Lisboa. Durante a II Guerra Mundial, a capital recebe refugiados e influências, cita-se o Tango, e homenageia-se Fernando Maurício. Mostra-se como fado e folclore cruzaram tendências, e ainda antes de 25 de Abril não se esquece Carlos Ramos. Depois, de Maria Teresa de Noronha, “a aristocrata do Norte”, às aristocracias do fado de Lisboa, chega-se a Fernando Farinha, José Carlos Ary dos Santos, Carlos do Carmo, para se culminar em Amália. Pena não se sublinhar a verdadeira actualidade do fado, povoado por dezenas e dezenas de vozes novas e raras, que redescobrem os tons e as tonalidades desta canção que nos embala a todos e nos faz sentir a estranha sensação de comprovarmos a existência de uma voz portuguesa, uma toada, um canto, uma emoção.
Acrobatas a descerem do céu ou touros a dançar em pontas, demónios e anjos (demasiados anjos, é verdade, um momento, o primeiro, chegava para o efeito e não o banalizava), marchas e folclore, entre tudo isto oscila “Fado - História de um Povo”, entre o muito bom e o não muito conseguido, tal como as vozes que enfermam da mesma ambiguidade, ou são de fado ou de musical, e nem sempre cooperam harmoniosamente.
Com música de fados célebres, em novos arranjos, e partituras originais de Filipe La Féria, Paulo Valentim e Artur Guimarães, o espectáculo abre com a ressonância vocal de Alexandra (que tão bem fora “Amália”, no musical), e é continuado, com oscilações diversas, por Henrique Feist, Liana, Gonçalo Salgueiro, Paula Sá, Inês Santos, Luís Matos, Elsa Casanova, Luís Caeiro, Flávio Gil ou Jorge Silva, num elenco de várias dezenas de intervenientes.
O Casino tem um espectáculo à altura das suas credenciais? Claro que tem. Dado o intercâmbio que existe entre vários casinos internacionais, acho mesmo que é chegada a altura de casino do Estoril começar a exportar os seus shows e este, aprimorado aqui e ali, é um bom estandarte da canção nacional. Mas eu, como amante de fado, gostaria de algo mais castiço e mais genuíno, mais fado-fado. Outras oportunidades virão, espero.

CINEMA: WERNER HERZOG 1

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MEU FILHO, OLHA O QUE FIZESTE!

Mark Yavorsky foi um excelente aluno, um bom basquetebolista na Universidade de San Diego, um promissor estudante de arte dramática na UCSD, um actor com futuro no Old Globe Theatre, e houve professores que asseguraram que escrevia brilhantemente e se expressava de forma poética muito acima da média. Chegou a ensaiar Ésquilo, o trágico grego, tendo-lhe sido atribuído o papel central de Orestes, em “A Trilogia de Orestes” ou “Oresteia” (458 A.C.), composta por “Agamemnon”, “Coéfora” e “Euménides”.
Esta tragédia baseia-se na mitologia grega e parte da lenda de uma maldição familiar: Agamemnon mata a filha Efigénia em sacrifício aos deuses, e a mulher, Clitemnestra, como represália e de colaboração com o amante, Egisto, assassina o marido, quando ele volta, triunfante, da guerra de Tróia. Na segunda parte da trilogia, Orestes, filho de Agamemnon e de Clitemnestra, vinga a morte do pai, assassinando por sua vez a mãe, sendo por isso “enlouquecido pelas Fúrias”. Na terceira parte, “Euménides”, Orestes é julgado pelo seu acto e absolvido pela acção de Atena, a deusa da sabedoria e da razão, que procura assim pôr fim a esta interminável espiral de vingança.
Mark Yavorsky, porém, duas semanas antes da estreia da peça, no Old Globe Theatre, abandona o papel e precipita-se num processo psicótico extremo. No dia 10 de Junho de 1979, Mark Yavorsky, então com 34 anos, atravessa com a mãe (Mary Wathan, 65 anos) a rua onde se encontra a casa onde ambos habitavam, em Point Loma, Pacific Beach, San Diego, e vai tomar um café com duas vizinhas que moram em frente. Não aceita a chávena que lhe põem na frente, e volta a casa para buscar a sua chávena de estimação.
Regressa, toma o café, vai ao carro estacionado em frente, buscar uma espada antiga e desfere três golpes mortais na mãe. Preso, julgado, condenado, é considerado inimputável, e passa vários anos no Patton State Hospital em San Bernardino County. Libertado sob vigilância anos mais tarde, tem um percurso caótico de internado e fugitivo, até que morre em 2003.
Trinta anos depois da tragédia, o argumentista Herbert Golder descobre esta perturbante história de loucura, que mescla realidade e ficção, tragédia e lenda, escreve-a para cinema e passa-a ao seu amigo Werner Herzog, que encontra nela todos os ingredientes, temas e obsessões da sua carreira. Michael Shannon, que se tornara notado como um actor brilhante em “Revolutionary Road”, é convidado para interpretar o papel de Mark Yavorsky, agora sob o nome de Brad McCullum, acompanhado por um elenco de actores de culto (Willem Dafoe, Chloë Sevigny, Brad Dourif, Loretta Devine, Michael Peña ou Udo Kier). David Lynch produz (os bons espíritos encontram-se!) e o filme chama-se, muito apropriadamente, tendo em conta a sua influência da tragédia grega, “My Son, My Son, What Have Ye Done”.
O filme de Herzog é, como sempre neste realizador, uma obra estranha, consumida por uma obsessão patológica, por um anti-herói que cruza religiosidade e paranóia, que entrelaça ficção e realidade, e onde, como o cartaz anuncia, “não interessa tanto saber quem, mas como”, ou seja, não importa muito conhecer a personagem, descobrir o criminoso, mas sobretudo perceber o porquê dos actos. Isto é: um estudo das condicionantes que levam personalidades especiais a praticarem certos actos. Neste particular, o filme constrói-se a diversos níveis, o que aponta para variadas razões que, interligadas, explicam (ou ajudam a explicar) o “porque fizeste isto!”
A investigação policial não deixa desde logo qualquer dúvida sobre o que mobiliza o realizador. Desde o princípio se sabe quem é o criminoso e qual o crime. A vítima jaz, facilmente identificada, no chão de uma casa, a arma está a seu lado, houve testemunhas que contam o ocorrido, e o criminoso está entrincheirado na casa ao lado. Não há dúvidas sobre os factos. Há perplexidades sobre o porquê.
Brad McCullum vive só com a mãe, o pai morreu quando ele era muito criança, praticamente nunca o conheceu. A mãe é possessiva e dominadora, mas o filho coopera, aceita. Uma matriarca insuportável. Que o filho segue religiosamente. Ela controla cada um dos seus passos. Sabemo-lo pelo relato de duas pessoas que são chamadas ao local do crime pelo próprio Brad McCullum: a namorada e o encenador de teatro que o dirigiu no papel de Orestes. Duas personagens essenciais, obviamente, pelo seu relacionamento íntimo com o acusado pelo matricídio. A namorada Ingrid porque, de alguma forma, representa para a mãe o perigo de Brad McCullum se emancipar e se furtar ao seu domínio. Lee Meyers por uma razão algo diversa, dado que acabou por assumir esse papel transgressor de violento libertador: foi ele quem afinal acabou por “ensiná-lo”, armar-lhe o braço, encenando-lhe a morte da mãe em palco. Ambos vão intercalando “flashbacks” que des-obscurecem, desocultam momentos de uma relação funesta.
Mas há, como referimos, várias camadas de ficção que se sobrepõem: a realidade do dia a dia opressivo da existência de Brad e da mãe, o texto da tragédia de Ésquilo, a investigação levada a cabo pelo detective Hank Havenhurst, os depoimentos de Ingrid e Lee Meyers, os testemunhos das vizinhas que presenciaram o crime, e outros aspectos ainda, não factuais, mas obviamente importantes, como o cenário onde decorre a acção, desde a pacata rua de uma pacífica cidade costeira, até à delirante decoração da casa de Brad, assombrada por imagens de flamingos e um “kitsch” surrealizante. Há ainda a impetuosa representação de Michael Shannon, que intercala momentos de aparente lucidez com outros de total insanidade, o “flashback” que recorda a viagem de Brad McCullum ao Peru, onde, depois de “ter ouvido vozes”, se recusa a integrar uma expedição suicida que irá tentar dominar o rio Urubamba, no Peru (local onde Herzog já havia rodado, em 1972, "Fitzcarraldo”). Depois há as fascinantes e intrigantes imagens que se assemelham as fotografias, estáticas, com os intervenientes olhando directamente a câmara, e também as referências obsidiantes ao universo muito pessoal de Herzog, os animais, os vidros, os anões, as personagens obsessivas, os heróis que transpõem obstáculos que parecem exceder todas as suas possibilidades, o gosto por ambientes exóticos, expressionistas, o deslumbramento pela América Latina, a súbita deriva por uma feira rural na Mongólia (ou noutro local muito semelhante), tudo isto induzindo uma atmosfera de estranheza e trágico onirismo.
Não são tanto os factos que interessam, mas o clima. Aqui a arte de Herzog é completa. O seu domínio perfeito. A angústia desenrola-se, a cada plano. A fronteira entre a “normalidade” e a insanidade estreita-se. O que pode a fragilidade da condição humana contra o destino traçado pelas “fúrias”? Em plena presença da tragédia humana, grega ou americana, Herzog movimenta-se sem artifícios, logrando um fortíssimo documento de insuspeitada ressonância social.

MEU FILHO, OLHA O QUE FIZESTE!
Título original: My Son, My Son, What Have Ye Done
Realização: Werner Herzog (EUA, Alemanha, 2009); Argumento: Herbert Golder, Werner Herzog; Produção: David Lynch, Jimmy Balodimas, Eric Bassett, Bingo Gubelmann, Benji Kohn, Giulia Marletta, Ken Meyer, Julius Morck, Stian Morck, Chris Papavasiliou, Jeff Rice, Ali Rounaghi, Jack Sojka, Rick Spalla, Austin Stark, Omar Veytia; Música: Ernst Reijseger; Fotografia (cor): Peter Zeitlinger; Montagem: Joe Bini, Omar Daher; Casting: Jenny Jue, Johanna Ray; Direcção artística: Danny Caldwell; Guarda-roupa: Mikel Padilla; Maquilhagem: James Lacey; Design de produção: Jack Sojka, Christopher Francis Woods; Assistentes de realização: Ian Calip, John T. Churchill, Anneke Scott, Frank Tignini; Departamento de arte: Tyson Estes, Tim Ott; Som: Ronald Eng; Efeitos visuais: Jason Michael Zimmerman; Companhias de produção: Defilm, Industrial Entertainment, Paper Street Films; Intérpretes: Michael Shannon (Brad McCullum), Willem Dafoe (Detective Hank Havenhurst), Chloë Sevigny (Ingrid), Brad Dourif (Tio Ted), Loretta Devine (Miss Roberts), Michael Peña (Detective Vargas), Udo Kier (Lee Meyers), Grace Zabriskie (Mrs. McCullum), Irma P. Hall (Mrs. Roberts), James C. Burns (comandante Brown dos Swat), Gabriel Pimentel, Candice Coke, Jenn Liu, Braden Lynch, Noel Arthur, Brian Sounalath, Julius Morck, James Lacey, Stefan Cap, Stephen Tompkins, Frank C. Wells, Reed Willard, etc. Duração: 91 minutos; Distribuição em Portugal: Prisvídeo - Edições Videográficas / Vitória Filmes; Classificação etária: M/ 16 anos; Estreia em Portugal: 8 de Julho de 2010.

terça-feira, agosto 10, 2010

O FUTEBOL DE REGRESSO

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VEM AÍ A LIGA!!!
Sexta-feira começa a doer. O Braga recebe o Portimonense. Depois o Paços de Ferreira apadrinha a estreia do “novo” Sporting e a Naval a do Porto. O Benfica, aparentemente mais calmo, recebe a Académica, e ainda há Marítimo - V.Setúbal, Rio Ave – Nacional, Olhanense - V.Guimarães e, finalmente, o regressado Beira-Mar (o clube da terra do meu pai, que para ele desenhou uma das suas primeiras camisolas) tenta fazê-lo em beleza frente ao Leiria.
Acompanhei mais ou menos a pré época dos ditos “grandes” e julgo o Benfica mais fraco, o Porto mais forte, o Sporting mais equilibrado, o Braga na surpreendente continuidade da época anterior.
Por miúdos: gostei do Benfica-Porto, foi quase sempre um bom jogo de futebol, em que o Porto jogou à bola e ganhou muitíssimo bem (poderia e deveria ter acrescentado mais um ou dois golos ao score) e o Benfica também praticou karaté, perante a complacência de um árbitro que criou uma nova forma de dirigir um encontro, à lambada. Inacreditável a forma como alguns jogadores do Benfica distribuíram sarrafada, impunemente. Parece que os campeões não sabem perder, mas vão ter de se habituar, sobretudo com aquela pérola de guarda-redes que foram desencantar a Espanha.
Os jogos de preparação são o que são e contam pouco. Os a sério já dão indicações mais precisas e, neste aspecto, o Braga frente ao Celtic demonstrou querer e personalidade, além de bom futebol, o Marítimo destroçou uns galeses sem classe, e o Sporting passou, sem brilhantismo, diante de uns dinamarqueses de quinta categoria. Gostei de alguns momentos dos jogos de preparação, mas como disse esses jogos contam muito pouco, pelas suas próprias características. A verdade é que, quando chamado a dois jogos a doer, se viu muita inquietação, muito jogo tremido, muitos passes transviados, muita bola para o lado e para trás, muito pouca pontaria. Há reforços que são verdadeiros reforços, há o adeus a outros, há os “suspeitos do costume”, como, por exemplo, o Pongole, que se arrisca a ser o Roberto do Sporting. Espero ardentemente que o “novo” Sporting apareça em Paços de Ferreira, se mantenha em Alvalade frente ao Marítimo, e ultrapasse os dinamarqueses do Brondy. Se ganhar estes desafios, com maior ou menor dificuldade, aí sim, acredito que algo mudou e se lançou na Liga e na Europa. Se não, vai ser a modorra a que tristemente nos habituámos na temporada passada. Espero que não.

POSTERS: TOY STORY 3

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Uma boa colecção de posters para um excelente filme de animação. O terceiro da série.
Em 3D como se vê.

CINEMA: TOY STORY 3

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TOY STORY 3
Depois de “Toy Story”, 1 e 2, o terceiro episódio da série parece que a dá por terminada. De modo feliz, pois não desmerece em nada dos anteriores, se não for mesmo superior a ambos. Os brinquedos fazem parte do imaginário colectivo de públicos de todas as idades, desde os que os têm agora, aos que já os tiveram na infância e certamente deles se recordam com nostálgico agradecimento pelos belos momentos de diversão que proporcionaram. Depois, há brinquedos para todos os gostos e alguns desgostos. Aqui se relembra "Quebra-Nozes", que adultos e crianças gostam de ver e rever. “Toy Story 3” é o "Quebra-Nozes" da actualidade, em 3D e tudo. Mudam as tecnologias, mas não muda a condição humana, nem as emoções.
Andy era um miudinho que tinha brinquedos que se animavam. Andy cresceu, vai para a faculdade, alguns brinquedos continuam miraculosamente imaculados, uns vão para um saco preto que se pensa arrumar no sótão, e o fiel Woody, o "cow-boy", será levado pelo dono. Mas Andy põe e os argumentistas da Pixar dispõem: o cow boy vai para junto dos restantes brinquedos e o saco é trocado e ruma a um infantário, onde, ao lado de criancinhas saídas de um filme de terror e possuídas pelo demónio da Tasmânia, se encontram muitos outros brinquedos traumatizados por vidas desgraçadas que resolvem, em uníssono, não dar tréguas aos recém chegados. Claro que o filme adquire uma tonalidade de terror psicológico, que fará certamente as delícias do seu público-alvo. Quem, em criança, não chorou como uma Madalena com “Bambi”, quem não sofreu baba e ranho com “Branca de Neve” e a feiticeira, quem não sucumbiu à tristeza de “ET”? E cá estamos todos, mais ou menos traumatizados, mas sobretudo com as monstruosidades do dia a dia no telejornal, e não tanto pela fantasia da ficção cinematográfica ou literária (lembram-se de Hans Christian Andersen ou dos Irmãos Grimm?).
Pois bem, os brinquedos de Andy sofrem a bom sofrer, e nós com eles, até à grande evasão final, a que só falta Steve McQueen ou Pele. Altura para alguns se assoarem e outros assobiarem em francês na plateia, enquanto limpam os óculos de 3D. O final será happy, claro, mas a felicidade vem sobretudo do facto de ser ter assistido a um excelente filme de animação, de técnica impecável, com boas ideias de argumento e de realização, e sem cair na pecha muito vulgar de tratar as crianças como atrasadinhos mentais. A dobragem é magnífica, a portuguesa também, e o resultado final não será o melhor filme de 2010, mas sim uma das melhores animações dos últimos anos.
De resto há momentos de antologia, como a passagem de modelos de Ken, frente a Barbie, ou o destempero do espacial Buzz Lightyear que, descontrolado, entra numa de mexicano imparável. Também gosto da boneca zarolha, que só por si merecia um título à parte, mas para “adultos de sólida formação moral”. Ela e o urso maléfico fariam um casal de “freaks” de “cult movie”. Mas também há delicadas criaturas, como essa ternurenta Jessie, que nos faz desfazer de um afecto bem divertido.

TOY STORY 3
Título original: Toy Story 3
Realização: Lee Unkrich (EUA, 2010); Argumento: John Lasseter, Andrew Stanton, Lee Unkrich, Michael Arndt; Produção: Darla K. Anderson, John Lasseter; Música: Randy Newman; Montagem: Ken Schretzmann; Departamento de arte: Marty Baumann, Mark Cordell Holmes, Bud Luckey, Juliet Pokorny, Belinda van Valkenburg, etc. Som: Tom Myers; Animação: Andrew Cadelago, Tom Gately, David Park, James Reinhart Robertson, Christian Roman, Max Sachar, Michael Stocker, etc. Casting: Holly Dorff, Mickie McGowan; Companhias de produção: Pixar Animation Studios, Walt Disney Pictures; Intérpretes (vozes originais): Tom Hanks (Woody), Tim Allen (Buzz Lightyear), Joan Cusack (Jessie), Ned Beatty (Lotso), Don Rickles (Mr. Potato Head), Michael Keaton (Ken), Wallace Shawn (Rex), John Ratzenberger, Estelle Harris, John Morris, Jodi Benson, Emily Hahn, Laurie Metcalf, Blake Clark, Teddy Newton, Bud Luckey, Beatrice Miller, Javier Fernandez Pena, Timothy Dalton, Lori Alan, Charlie Bright, Kristen Schaal, Whoopi Goldberg, etc. Duração: 103 minutos; Distribuição em Portugal: Zon Lusomundo Audiovisuais; Classificação etária: M/ 6 anos; Estreia em Portugal: 29 de Julho de 2010.

segunda-feira, agosto 09, 2010

CINEMA VISTO EM DVD

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GREEN ZONE, COMBATE PELA VERDADE
“Green Zone” prolonga a trajectória de Paul Greengrass e fá-lo de forma muito inteligente, sem perder o brilho de um filme de acção bem conduzido. Inglês que apareceu na longa-metragem em inícios da década de 90, Greengrass começou a dar que falar, sobretudo, a partir de 2002, com “Domingo Sangrento” (Bloody Sunday), a que se seguiram três obras que o impuseram internacionalmente. “Voo 93” (2006), sobre o célebre voo do United 93, um dos aviões sequestrados no fatídico 11 de Setembro de 2001, que se despenhou junto de Shanksville, na Pensilvânia, depois de abortadas as intenções dos terroristas pelo corajoso empenhamento dos passageiros, e “Supremacia” (The Bourne Supremacy, 2004) e “Ultimato” (The Bourne Ultimatum, 2007), ambos incluídos na trilogia de Jason Bourne, partindo de romances de espionagem de Robert Ludlum. Encontra-se nesta altura em fase de pré-produção o seu próximo trabalho, “They Marched Into Sunlight”, cuja estreia está prevista para 2013. O argumento parte de um premiado romance de David Maraniss, que descreve a batalha de Ong Thanh, ocorrida em 17 de Outubro de 1967, durante a Guerra do Vietname, na qual os soldados do 2º Batalhão da 28ª Infantaria dos EUA foram emboscados e dizimados pelo exército vietcongue.
Como se pode ver, Paul Greengrass tem uma carreira particularmente coerente, desenvolvendo um tipo de projectos que conciliam o cinema político, de discussão de ideias e de factos directamente relacionados com a realidade política, e um cinema espectáculo, de acção envolvente e de garantido “suspense”. Os resultados até agora têm sido bastante positivos, agradando ao grande público e não criando bolsas de resistência entre as plateias mais exigentes, que se sentem estimuladas por este cinema simultaneamente popular e de inteligente debate.
“Green Zone” é isso mesmo. Continuação de “Voo 93”, agora em território do Iraque invadido por Bush depois de 11 de Setembro, e das intrigas de espionagem internacional de Jason Bourne (até o protagonista é o mesmo, Matt Damon).
Iniciada a invasão do Iraque para deposição do regime de Saddam Hussein, sob o pretexto de que este detinha no seu território “armas de destruição maciça”, as forças armadas norte-americanas percorrem o Iraque em busca das tão apregoadas armas, nada encontrando. Há mesmo uma unidade especial, destacada com esse fim, de que faz parte o sargento Roy Miller (Matt Damon), que, depois de, por diversas vezes, pôr em risco os efectivos da sua unidade, sem qualquer utilidade prática, resolve investigar por conta própria o que realmente se passou e que terá levado a esta situação absolutamente traumatizante para a consciência colectiva de um povo e criminosa para a população do Iraque e para as próprias tropas dos EUA.
De indício em indício, Roy Miller descobre que o Pentágono sempre esteve particularmente interessado em invadir o Iraque e depor o ditador, e tinha encontrado um pretexto no 11 de Setembro. Um político mais arrivista e um “yes man” de Bush, Clark Poundstone (Greg Kinnear), fará parte do jogo sujo inicial, encontrando-se com o general Al Rawi, um oficial iraquiano do governo de Hussein (precisamente “a terceira carta” do baralho que então circulava), a quem terá perguntado sobre a existência de armas de destruição em massa. Este terá negado essa realidade, mas o que se propagou pela imprensa norte-americana e internacional foi precisamente o contrário. Isto é, a versão enganosa e manipulada, que lançava a ameaça de armas nucleares e bacteriológicas. Uma jornalista, Lawrie Dayne (Amy Ryan), que teve acesso às engendradas e infundadas informações fornecidas por Poundstone, resolve publicá-las sem anteriormente se ter certificado da sua veracidade e intoxica assim a opinião pública. Esta jornalista, que, apesar de tudo, começa a ter problemas de consciência e se preocupa em repor a verdade, não andará muito longe do retrato de uma outra jornalista, esta não de ficção, mas bem real, e premiada com o Pulitzer pelo seu trabalho sujo, Judith Miller, do “New York Times”. Jornalista que enfrentou vários casos “estranhos” e foi acusada de ser veículo privilegiado da direita dita falcão e do grupo de George W. Bush, Condoleezza Rice, Dick Cheney, Colin Powell e Donald Rumsfeld.
Mas o filme vai mais longe e mostra também como os EUA tentam colocar no poder no Iraque um homem da sua confiança, mas de total desconfiança dos iraquianos, desenvolvendo discretas aproximações a este tema, bem assim como à presença do petróleo no Iraque, na verdade a grande causa da guerra. Esta referência quase não é dita, mas fica explícita quando, no final do filme, Roy Miller, regressando a casa, passa por refinarias que vai deixando para trás, e que afinal terão sido a grande razão para mais esta aventura norte-americana. Muito curiosa é ainda a introdução de um iraquiano que coopera com americanos, não como traidor ao seu povo, mas como alguém que luta por um ideal de libertação do seu país. Curiosamente, quase no final do filme, ele dirá: “Não são os americanos que vêm ao nosso país dizer o que nós, iraquianos, devemos fazer.”
Partindo de uma obra de Rajiv Chandrasekaran (“Imperial Life in the Emerald City: Inside Iraq’s Green Zone”), o argumento de Brian Helgeland (que escreveu igualmente o recente “Robin Hood”, 2010, mas já nos dera inúmeros trabalhos muito interessantes, entre os quais justo será destacar “Homem em Fúria”, 2004, “Mystic River”, 2003, “Teoria da Conspiração”, 1997, ou “Los Angeles Confidencial”, 1997), é bastante bem desenvolvido, nunca deixando de ter em conta que é um filme de acção e “suspense”, que tem de prender os espectadores ao seu desenrolar, mas jamais permitindo igualmente que o lado espectacular ponha em causa a sua credibilidade política e as ideias que defende e procura expor, debater e tornar perceptíveis. Matt Damon é muito bom, na sua sobriedade e vigor contido, e Brendan Gleeson, no papel de um tradicional e desconfiado agente da CIA, que trabalha segundo uma linha de eficácia que o leva a aceitar colaborar com um antigo coronel de Saddam Hussein, mas não aceita os métodos dos tecnocratas que não olham a meios para conseguirem os fins, é igualmente excelente. O próprio Greg Kinnear, no odioso Clark Poundstone, nos surpreende pela pouca visibilidade que tem tido nos últimos anos, ele que é um actor de tão bons recursos. Excelente é também Khalid Abdalla, um estropiado Freddy, que simboliza todo um povo.
Barry Ackroyd, que já havia assinado a fotografia de “Estrado de Guerra”, de Kathryn Bigelow, volta a arrancar uma imagem densa e suja, excelente retrato de uma guerra de mentiras e ciladas, que a obscuridade e as sombras fomentam. A utilização da câmara à mão, de que Greengrass tanto gosta, permite um estilo livre e espontâneo que se acerca da acção que entontece sem, todavia, funcionar como um factor narcotizante para o público. Outro aspecto a referir é a plausibilidade dos cenários naturais que tudo leva a crer serem filmados nos locais assinalados e, no entanto, o foram em Marrocos, em Espanha ou Inglaterra.

GREEN ZONE, COMBATE PELA VERDADE
Título original: Green Zone
Realização: Paul Greengrass (EUA, França, Inglaterra, Espanha, 2010); Argumento: Brian Helgeland, segundo obra de Rajiv Chandrasekaran ("Imperial Life in the Emerald City: Inside Iraq's Green Zone"); Produção: Mairi Bett, Tim Bevan, Michael Bronner, Jo Burn, Liza Chasin, Eric Fellner, Paul Greengrass, Debra Hayward, Lloyd Levin, Alvaro Ron, Christopher Rouse, Kate Solomon, Tadeo Villalba hijo; Música: John Powell; Fotografia (cor): Barry Ackroyd; Montagem: Christopher Rouse; Casting: Daniel Hubbard, John Hubbard, Amanda Mackey Johnson, Cathy Sandrich; Design de produção: Dominic Watkins; Decoração: Lee Sandales; Guarda-roupa: Sammy Sheldon; Maquilhagem: Francesco Alberico, Helen Barrett, Zineb Bendoula, Tricia Cameron, Julie Dartnell, Kay Georgiou, Loulia Sheppard, Direcção de Produção: Yousaf Bokhari, David Campbell-Bell, Sasha Harris, Mark Mostyn, Nerea Orce, Michael Solinger, Michelle Wright; Assistentes de realização: Chris Forster, Carlos Gil, Robert Grayson, Amine Louadni, Mounir Saguia, etc. Departamento de arte: Mark Bartholomew, Laura Dishington, Sarah Robinson, Mark Swain; Som: James Boyle, Xavier Horan, Eddy Joseph, Oliver Tarney, Mark Taylor, etc. Efeitos especiais: Michael Dawson, Paul Anthony Dimmer, Jess Lewington, Joss Williams; Efeitos visuais: Mikael Brosset, Peter Chiang, Antonella Ferrari, Federico Frassinelli, Peter Olliff, Rob Shears; Companhias de produção: Universal Pictures, Studio Canal, Relativity Media, Working Title Films, Antena 3 Films; Intérpretes: Matt Damon (Miller), Greg Kinnear (Clark Poundstone), Brendan Gleeson (Martin Brown), Amy Ryan (Lawrie Dayne), Khalid Abdalla (Freddy), Yigal Naor (General Al Rawi), Said Faraj, Faycal Attougui, Aymen Hamdouchi, Nicoye Banks, Jerry Della Salla, Sean Huze, Michael J. Dwyer, Edouard H.R. Gluck, Brian Siefkes, Adam Wendling, Abdul Henderson, Paul Karsko, Robert Miller, Eugene Cherry, Alexander Drum, Brian VanRiper, Matthew Knott, Nathan Lewis, John Roberson, Troy Brown, Raad Rawi, Bijan Daneshmand, Bryan Reents, Michael Judge, Michael O'Neill, Patrick St. Esprit, Allen Vaught, Paul Rieckhoff, Martin McDougall, Antoni Corone, Timothy Ahern, Ben Sliney, Whitley Bruner, Intishal Al Timimi, Driss Roukhe, Mohamed Kafi, George W. Bush (imagem de arquivo), etc. Duração: 115 min minutos; Distribuição em Portugal: Zon Lusomundo; Classificação etária: M/ 12 anos; Estreia em Portugal: 8 de Abril de 2010; Locais de filmagem: Academia San Javier, Fuente Álamo, Los Alcázares, Murcia, (exteriores de Iraque), Albacete, Castilla-La Mancha; Ciudad de la Luz, Alicante, Comunidad Valenciana, todos em Espanha; Freemason's Hall, Great Queen Street, Covent Garden, Londres, Longcross Studios, Chobham Lane, Longcross, Surrey, Sandown Park Racecourse, Esher, Surrey, Longcross, Surrey, Updown Court, Windlesham, Surrey, Millenium Mills, London Docklands, Renaissance London Heathrow Hotel, Hounslow, todos em Inglaterra; Kenitra, Rabat, Sale, todos Marrocos.