quinta-feira, dezembro 17, 2015

RECORDANDO "A GUERRA DAS ESTRELAS" EM 1977


A GUERRA DAS ESTRELAS

Agora que se anuncia a estreia de mais um episódio da saga "A Guerra das Estrelas", recorde-se o que escrevi, em 1977, na estreia, e depois 1981, na reposição, quando era crítico no "Diário de Noticias". 


GEORGE LUCAS: A GUERRA DAS ESTRELAS

Possivelmente os mesmos que, em 1963, torceram o nariz aquando da estreia de “2001” (nessa altura a ficção científica não era um valor cultural solidariamente implantado), olham agora de soslaio esta “A Guerra das Estrelas”. E para diminuir o filme de George Lucas estabelecem comparações, servindo-se já do “2001”. Como se fosse possível atacar “Fanfan la Tulipe”, em nome de “O Mundo e Seus Pés”.
“A Guerra das Estrelas” pretende ser uma maravilhosa aventura no espaço. E consegue-o. De que maneira! Uma galáxia dominada por um despótico tirano assiste à insurreição. A revolta é o tema do filme de George Lucas, que se inscreve na melhor tradição do cinema de aventuras norte-americano, de Errol Flynn a “O Comboio Apitou Três Vezes”.
As trucagens são brilhantes, mas o menos importante nesta obra-prima da aventura, da audácia, do arrojo, do humor. Mesmo num plano filosófico, o filme se revela de grande riqueza e complexidade, permitindo-se inovações de certa monta, como por exemplo o lugar ocupado pelo Homem neste universo povoado por seres das mais diversas configurações e origens. Temos assim, finalmente, o Homem a viver com outros seres, sentindo-se um entre vários habitantes do espaço. O que até agora o cinema não nos tinha dado com a clareza e exemplaridade deste “Star War”.
Ao lado do Homem, androides que relembram Bucha e Estica e “saloons” espaciais onde o “Muppet Show” marca “rendez vous”. A banda sonora recorda os “cartoons” do «Buq's Bunny» e o Cavalo de Troia recolhe “robots” usados para revenda. Peter Cushing e Alec Guiness defrontam-se ainda nesta luta pelo poder e pela liberdade com espadas de raio Laser, enquanto a “princesa” e Luke tentam a destruição da estação de guerra. Emocionante.
(D. N.) - 1977


A GUERRA DAS ESTRELAS DE GEORGE LUCAS (REVISÃO)

A década de 70, quando a aventura épica e generosa que fizera a lenda do cinema americano, parecia desaparecer, sob uma onda de violência descompassada, de mercenarismo e hipocrisia, eis que George Lucas descobre que afinal os heróis resistem nas suas brancas indumentárias e Tom Mix, o cavaleiro íntegro, poderia continua a sua gesta, agora nas estrelas.
“Star Wars”, com a data de 1977, é isso mesmo, um regresso à idade da inocência do cinema americano, repescando aqui e ali influências de uma adolescência dourada passada no interior de salas escuras, povoadas pelo ruído das lanças dos torneios do príncipe Valente, os saltos de Tarzan, as naves espaciais de Buck Rodgers e Flash Gordon em “serials” de dezenas de parte, ou as cavalgadas de Gary Cooper ou John Wayne nas pradarias do Oeste. Entre dezenas de outras referências possíveis, crescem as personagens desta “A Guerra das Estrelas”, onde os bons são mesmo bons e os maus intrinsecamente mau. Não há complexidades psicológicas nesta obra de uma linearidade gratificante, porque inteiramente assumida enquanto tal e por isso mesmo defendida. Luke Skywalker, a quem os tiranos mataram os pais, vive uma aventura que comporta apenas as cores puras da armadura de um cavaleiro da corte do rei Artur, aqui em busca da suprema “força”. A princesa Leia Organa apenas se distingue das virginais damas medievais, por quem se terçavam lanças em mortais duelos de honra desagravada, por uma ou outra réplica mais ousada, um outro gesto mais intempestivo. Mas Darth Vader é obviamente a personificação do Mal, simbolicamente assinalado por uma máscara e uma silhueta que impedem toda a identificação com o espectador.
A única figura de contornos mais imprecisos será o oportunista Hans Solo, que, todavia, deixa falar o coração no momento derradeiro e regressa à luta e ao campo da honra em defesa dos fracos e dos oprimidos. Desesperando de qualquer retribuição monetária ou honraria. Ben Kenobi, por seu turno, é o ideal arquétipo que se persegue, a fonte de inspiração que se tenta continuar, depois de se ter provado merecê-la. Do burlesco, uma dupla de “robots”, C3PO e R2D2, prolongam desajustamento Bucha e Estica e o seu discreto humor, invadido pela ternura. Chewbacca, “esse enorme tapete rolante mal cheiroso”, como lhe chamava a princesa, introduziu-nos no entanto num universo onde tudo é possível de acontecer, onde os humanos perderam o centro do mundo, sendo uns entre vários, princípio de cooperação cósmica cuja lição é depois continuada, por exemplo nos “Encontros Imediatos”, de Spielberg.
Aventura pela aventura, A Guerra das Estrelas é a afirmação lúcida de uma arte que se alimenta do movimento, da acção, do ritmo e de uma imaginação feérica de contos de fadas, onde, para valorizar devidamente o Bem, são imprescindíveis os muito maus. Há um maniqueísmo que nunca se procura encobrir sob falsas roupagens de intelectualismo ou filosofice. A pretensão está ausente desta movimentada aventura que restitui ao espectador um prazer quase perdido: num sofisticado reino interplanetário, povoado por robots e seres estranhos (de antologia a sequência do “saloon” onde, lado a lado, coexistindo sem qualquer estranheza, se descobrem as figuras mais inconcebíveis, os heróis do “western” voltam a cavalgar, por sua dama e por el-rei. Ao público resta embarcar nesta nave espacial de direcção à distância, e percorrer nela o quarto de brinquedos mágicos de um feiticeiro chamado George Lucas.
(D. N.) - 1981 


segunda-feira, outubro 12, 2015

Figueira da Foz, 1976


CHANTAL AKERMAN

1976. Figueira da Foz. Era eu crítico regular do “Diário de Lisboa” e na Figueira existia um festival de cinema que era absolutamente indispensável. Na altura os jornais davam muito mais atenção à cultura. Caiam na Figueira críticos de todos os diários e semanários que reportavam o que viam. Eu escrevia uma crónica mais ou menos diária. Depois reuni em livro os balanços dos primeiros dez anos desse festival. Chamava-se “Figueira da Foz: Dez Anos de Cinema em Festival”. O livro saiu em 1982, numa edição do Secretariado Executivo das Comemorações do Primeiro Centenário da Elevação da Figueira da Foz a Cidade. Numa das páginas de balanço ao festival de 1976 dava conta de um filme que abalou a calma revolucionária do certame. Um filme invulgar, cujas imagens nunca mais esqueci. Depois vi alguns outros filmes da mesma realizadora. Quase todos muito interessantes, originais, provocadores. Ela esteve pessoalmente na Figueira da Foz, era uma presença discreta, mas igualmente sedutora. Lembro-me da sua figurinha discreta sentada numa mesa de uma explana frente ao Casino, onde decorria o festival. Fiz-lhe uma entrevista que, infelizmente, não localizo. Chamava-se Chantal Akerman, vinha da Bélgica, “avec la mer du Nord pour dernier terrain vague (…) avec infiniment de brumes à venir, avec le vent d'ouest écoutez le tenir, le plat pays qui est le mien”, como cantava Brel.
Morreu agora, em Paris, a 4 de Outubro, com 65 anos, ao que se supõe suicidou-se. É mais uma recordação que fica neste desvario de vazios que se amontoam à minha volta, à volta de todos nós.


Em 1976 escrevi assim, e não me arrependo:
“Igualmente presente na Figueira, Chantal Akerman, belga, 26 anos de idade, vinha falar de “Jeanne Dielman, 23 Quais du Commerce, 1080, Bruxelles”, obra rodada quando ainda só contava 24 anos e que é já hoje uma etapa importante na história do cinema.
“Jeanne Dielman” é uma proposta extremamente sugestiva: acompanhar o dia a dia desinteressante e repetitivo de uma dona de casa, viúva, com um filho. Vive de expedientes, prostituição possivelmente. Recebe em sua casa cavalheiros de quem guarda algumas notas. Momentos de tédio que se sucedem à repetição dos gestos, na cozinha, no quarto, na sala, na rua, no café ou no drugstore. Jeanne Dielman é uma mulher entre muitas. A prostituição de que vive serve somente para enunciar uma outra prostituição mais vasta, na qual a condição de mulher se inscreve exemplarmente.

Massacrantemente lento, cerca de duzentos minutos de minucioso retrato a que já se chamou, com razão, ultra-realismo, “Jeanne Dielman” é uma provocação fascinante. Em lugar de elidir momentos considerados desnecessários para a progressão dramática tradicional, Akerman opta pelo tempo real de duração das cenas. Diríamos mesmo que por vezes distende esse tempo de duração, Delphine Seyrig, que sustenta todo o peso desta obra, enquadrada de princípio a fim do filme, movimenta-se por entre electrodomésticos, com a familiaridade do quotidiano, transparecendo de toda esta encenação da vida real uma densidade dramática que chega a ser insuportável e é sempre desconfortante. Razão de ser do sucesso do filme, muito embora a polémica fosse o prato forte do debate que se seguiu à projecção”.

quarta-feira, setembro 02, 2015

ROSSELLINI NA RTP-2



JÁ VI ESTE FILME

RTP2 - Todos os sábados

Ciclos de cinema comentados por alguns dos melhores cinéfilos portugueses
Programa semanal onde dois convidados comentam, individualmente, filmes inseridos em ciclos de cinema mensais. A apresentação e breve comentário são feitos pelo primeiro convidado. Após a exibição do filme o segundo convidado partilha a sua opinião, fazendo uma última análise.

ROMA, CIDADE ABERTA
Sábado, dia 5 de Setembro de 2015
O realizador português Lauro António apresenta e faz o comentário do filme Roma, Cidade Aberta inserido no ciclo Rossellini a exibir durante o mês de Setembro de 2015. No final, a realizadora Susana Nobre faz a sua análise pessoal do filme.

Próximos filmes do ciclo:
PAISA (LIBERTAÇÃO) - 12 de Setembro
STROMBOLI -19 de Setembro

VIAGGIO A ITÁLIA -26 de Setembro

quarta-feira, julho 08, 2015

MARIA BARROSO



MARIA BARROSO
Maria Barroso foi uma mulher extraordinária. Para lá de toda a sua actividade social, pedagógica, política, foi uma actriz admirável. Tive o privilégio de a ouvir recitar poemas era ainda muito jovem e ela ainda estava no D. Maria II, de onde seria afastada por questões políticas, depois vi-a nalguns trabalhos no teatro, e também no cinema, sobretudo em “Mudar de Vida”, de Paulo Rocha, e “Benilde”, “Amor de Perdição” e “O Sapato de Cetim”, todos de Oliveira. A última vez que a vi em palco, foi num espectáculo memorável, durante um festival de Teatro de Almada, numa encenação de Joaquim Benite, ao lado de Eunice Muñoz e Carmen Dolores. Um experiencia única. Acabado o espectáculo, falei com o Benite, a Carmen, a Eunice e a Maria Barroso e pedi-lhes autorização para apresentar uma proposta à RTP para eu filmar aquele momento que eu calculava que não se iria repetir mais. Todos concordaram, escrevi uma proposta à RTP, houve ainda quem me dissesse pessoalmente que seria uma óptima ideia para apresentar no dia mundial da poesia. E depois, até hoje. Curiosamente, na noite em que falei com as actrizes, uma delas, já não recordo qual, disse-me, pesarosa. “Você pode propor, mas eles não vão aceitar. Isto não lhes interessa.” Não lhes interessou, é verdade, mas perdemos, todos nós, um registo de três das nossas melhores actrizes de sempre a dizerem poesia numa sóbria mas inesquecível encenação de Benite. Malhas que o império tece.
Maria Barroso era uma mulher de uma beleza límpida, de uma grande inteligência, de uma invulgar sensibilidade e de uma generosidade a toda a prova. Sempre que a convidei para uma qualquer minha actividade, ela nunca se recusou. Apareceu sempre. Com aquele sorriso bonito, o olhar brilhante, o gesto solidário. Nos anos 80, organizei um Festival de Cinema em Portalegre e passei um ciclo sobre José Régio, que foi meu professor quando andei no liceu da terra. No dia da passagem de “Benilde, ou a Virgem Mãe”, convidei Maria Barroso para aparecer. Lá esteve, no velho Cine Teatro Crisfal. Foi a primeira vez que a homenageei publicamente. Anos depois, no Porto, durante um Festival de Vídeo Escolar que dirigi no IPP, onde era professor, convidei-a para uma mesa redonda para discutir questões pedagógicas, e a Maria Barroso não só apareceu como foi dos oradores ouvidos com maior atenção e mais aplaudidos (e havia muitos e dos melhores do país). Ouvi-la era um prazer.
Anos depois, dirigi em Famalicão um festival sobre Cinema e Literatura, o Famafest. Na sua edição de 2006, ao lado de Graça Lobo, Teolinda Gersão e Manuel de Oliveira, Maria Barroso foi uma das homenageadas, recebendo a “Pena de Camilo”. Mais uma vez não se fez rogada e subiu de Lisboa ao Norte para aceitar de novo o abraço comovido deste admirador de sempre. Maria Barroso ostentava uma doçura de porte e uma nobreza de caracter que não se esquecem.
O meu filho Frederico nunca foi um bom aluno no sentido tradicional do termo. Adorava algumas disciplinas e detestava outras. Passou por um colégio onde chegou a ser maltratado por isso. Tirámo-lo de lá e, por indicação de alguns amigos, inscrevemo-lo no Colégio Moderno. Continuou a não ser bom aluno no “sentido tradicional do termo”. Ele gostava de cinema, teatro, ler o que não lhe mandavam e detestava ginástica. Chumbou um ano a ginástica e o professor, anos mais tarde, encontrou-me e veio-me explicar: “Eu não podia fazer outra coisa. Ele era um moço excelente, mas nem sequer se equipava”. No Colégio Moderno teve várias negativas, mas nas festas de fim do ano recebeu uma medalha pelas suas actividades extracurriculares. E foi sempre incentivado a estudar as cadeiras no “sentido tradicional do termo”, mas igualmente sempre apadrinhado pela Maria Barroso e a Isabel Soares nas suas ânsias de criatividade no campo do teatro e do cinema. Hoje é um bom profissional nessas áreas. Se não fosse a sensibilidade da direcção do Colégio Moderno (e a dos pais também, sejamos justos) poderia ter sido um revoltado desintegrado da sociedade.
Devo também isso a Maria Barroso. Devo ainda uma referência numa entrevista que nunca esquecei, sublinhando a minha actividade e as escolhas como programador de cinema da TVI. 
Maria Barroso estará sempre no meu coração, e no de milhares de portugueses. Foi um exemplo, e não é a simples paragem de um coração que a fará deixar de estar junto de nós. Ela continuará sempre aqui, como exemplo, sobretudo numa época em que os exemplos vão rareando.
(as fotos são do Famafest 2006)






sábado, maio 30, 2015

"A NOITE DAS MIL ESTRELAS" NO CASINO DO ESTORIL



A NOITE DAS MIL ESTRELAS



Devo dizer que gosto muito da Costa do Sol, com particular destaque para Oeiras, Estoril e Cascais. Recordei recentemente uma série de reportagens que publiquei no extinto jornal “República”, corria o ano de 1966, e que percorria a rota “Do Cais do Sodré a Cascais”, com subtítulo “Em Comboio eléctrico – primeira etapa de férias”, reportagem que foi premiada com o primeiro prémio no concurso promovido pela Junta de Turismo da Costa do Sol, “O Melhor Artigo sobre a Costa do Sol” (reportagem republicada  em “Cascais e seus Lugares”, Cascais, 1968). Teria muitas histórias para contar do tanto que por ali tenho vivido, desde as férias passadas com a família em Cascais, à minha estreita relação com o TEC desde a sua fundação, não esquecendo, infelizmente!, as últimas férias de meu pai, num hotel do Estoril, até às masterclasses que agora mantenho em Oeiras. Depois, devo confessar que gosto bastante de arriscar uns escudos ou uns euros nas máquinas do Casino, prazer que tenho abandonado pois os tempos não estão para esses apetites, e fui frequentador assíduo de concertos grandiosos, de espectáculos feéricos, com que Assis Ferreira dinamizou o novo Casino, sobretudo a partir de umas Galas orientadas pelo João Maria Tudela e que ajudaram a mudar a cara do velho para o novo. O “velho” era aquele Casino onde uma vez fui impedido de entrar porque não levava gravata e que justificou uma crónica no “Diário de Lisboa”, onde então escrevia. O “novo” é aquele espaço multicolor, explodindo em néones e jackpots (estes muito raros, infelizmente), com um salão preto e prata por onde passaram algumas das maiores vozes do mundo e também do maior silêncio mímico.
Há dias estreou um novo espectáculo neste espaço, “A Noite das Mil Estrelas”, da autoria de Filipe La Féria, que o escreveu e encenou, tendo por base uma viagem pelos momentos mais emblemáticos da história do Casino Estoril, desde os anos trinta à actualidade, fazendo, ainda, o enquadramento com a História de Portugal do séc. XX aos nossos dias. É um espectáculo ligeiro, um daqueles espectáculos para Casino. É conveniente não esquecer isto. Muita luz, cor, movimento, ritmo, mulheres bonitas, lantejoulas e plumas, entremeados com números de actores e cantores. O que me pareceu mais bem conseguido foram algumas evocações “históricas”, desde a fundação do casino, à praia do Tamariz, passando pela presença de personalidades como os reis de Espanha (Juan Carlos) e de Itália (Humberto), Grace Kelly, Ian Fleming, Margaret de Inglaterra, Soraya do Irão, Jorge Amado ou Salvador Dali. Mais desequilibradas são as recordações de algumas das muitas estrelas que deram luz a esta noite: Amália, Carlos do Carmo, Gloria Swanson, Tony Bennett, Elis Regina, Charles Aznavour, Júlio Iglésias, Liza Minnelli, The Platters, Stevie Wonder, Woody Allen, Ray Charles, entre muitos outros. Sem esquecer aquele memorável "Só Nós Três". 


Mas, globalmente, esta “A Noite das Mil Estrelas” é um grande espectáculo de music-hall, com um belíssimo guarda-roupa de Costa Reis, bem ritmado e animado, com o talento (e a loucura, pois então! de La Féria a dar boa conta de si. Não sei como aparece “O Rei Leão” nesta fantasia, mas trata-se de um número imperdível. Entre os intérpretes contam-se Alexandra, Rui Andrade, Gonçalo Salgueiro, Pedro Bargado, Vanessa, David Ripado, Dora, Cláudia Soares, João Frizza e Catarina Mouro. Obviamente que há um vistoso corpo de bailarinos, acrobatas e uma orquestra ao vivo. Tudo boas razões para optar por uma noite relaxante e fresca, a partir das 21h30, com o musical “A Noite das Mil Estrelas”, em exibição de quinta-feira a domingo (às 17h00), no Salão Preto e Prata do Casino do Estoril. M/12 anos. 

sexta-feira, maio 08, 2015

TEATRO: HÉCUBA


“HÉCUBA”

“Hécuba” é uma tragédia grega, escrita por Eurípides no ano de 424 a.C.. Passa-se depois de terminada a Guerra de Tróia, antes dos gregos deixarem a cidade, e tem como protagonista Hécuba, uma mulher que foi rainha e é agora escrava, que foi mãe de dois filhos e agora os chora, transformando-se “de um ser bom e humano numa “cadela vingadora de olhos de fogo” (citando o programa do espectáculo e a própria peça). 
A tragédia que agora se estreou no São Luiz, numa produção conjunta da Escola de Mulheres e do próprio São Luiz, é apresentada como “o sofrimento desmedido”, e que outra coisa se pode dizer de uma mulher que perde o país, o marido e dois filhos. A encenação de Fernanda Lapa toma esta base grega para nos falar do “sofrimento desmedido” de todas as mulheres em todas as guerras. Sem local definido, sem tempo anunciado. "Consideramos este espectáculo um libelo contra a guerra e dedicamo-lo a todas as mulheres que por esse mundo fora vivem, por esse motivo, um sofrimento desmedido", diz a encenadora. E continua: "A violência gera violência e o sofrimento em excesso a degradação. Ontem como hoje", escreve Fernanda Lapa.
Digamos que o resultado desta incursão pela tragédia grega é brilhante e asseguro que será, desde já, um dos grandes espectáculos de 2015 em Portugal. O trabalho da encenação é invulgarmente bem conseguido, moldando os corpos e as vozes do elenco, obedecendo a marcações imaginativas e surpreendentes, tudo isto num espaço extremamente austero, mas absolutamente espantoso em termos de eficácia espectacular, um cenário com a assinatura de António Lagarto, que ainda concebe um guarda-roupa admirável. Lagarto é sempre uma garantia e volta a demonstrá-lo. De resto, o elenco chega igualmente a ser notável, com presenças poderosas de Carla Calvão, Margarida Cardeal, Filomena Cautela, Fernanda Lapa, Luís Gaspar, entre outras e outros.
Escusado será aconselhar o público a entrar antes do espectáculo começar (porque também não pode entrar depois deste ter início), mas seria imperdoável perder o prólogo, com o fantasma de Polidoro a lançar luz sobre o flashback que se sucede.


Hécuba, de  Eurípedes; Tradução: José Luís Coelho, Maria do Céu Fialho e Fernanda Lapa; Dramaturgia e encenação: Fernanda Lapa; Espaço cénico e figurinos: António Lagarto; Coreografia e assistência de encenação: Marta Lapa; Desenho de luz: José Nuno Lima; Sonoplastia: Pedro Costa e Sérgio Henriques; Direcção de produção: Ruy Malheiro; Intérpretes: Hécuba: Carla Galvão, Cassandra: Margarida Cardeal, Polixena: Filomena Cautela, Serva: Nuna Livhaber, Clitemnestra: Fernanda Lapa, Coro: Fernanda Lapa, Filomena Cautela, Inês Santos Cruz, Margarida Cardeal, Sandra de Sousa, Nuna Livhaber, Expectro de Polidoro: Vasco Batista, Ulisses: Luís Gaspar, Polimestor: Luís Gaspar, Taltíbio: Vasco Batista, Agamémnon: Afonso Molinar; Co-produção: Escola de Mulheres e São Luiz Teatro Municipal; de 7 a 17 de Maio no São Luiz. 

sexta-feira, abril 24, 2015

TEATRO: DOCE PÁSSARO DA JUVENTUDE


DOCE PÁSSARO DA JUVENTUDE

“Sweet Bird of Youth” é mais uma peça de Tennessee Williams a ser apresentada pelos Artistas Unidos, com encenação de Jorge Silva Melo, depois de no ano passado terem levado à cena “Gata em Telhado de Zinco Quente”. Deve dizer-se que se trata de um excelente espectáculo, com eficaz e justa encenação, belos cenários, e magnífica interpretação de Maria João Luís e Rúben Gomes, à frente de um consistente e homogéneo elenco. A peça, tal como quase todas a deste dramaturgo norte-americano, teve uma versão cinematográfica muito boa, com a assinatura de Richard Brooks, e interpretação a cargo de Geraldine Page e Paul Newman e, se esse trabalho era inesquecível, deve dizer-se que Maria João Luís e Rúben Gomes não os fazem esquecer, mas também não os fazem recordar.
O próprio Jorge Silva Melo evoca de forma muito sucinta o entrecho da peça: “Uma actriz enfrenta o desastre de uma vida, longe dos doces anos da sua juventude. Um rapaz, Chance Wayne, de regresso à terra de onde partiu há anos à conquista do mundo. É Páscoa, mas não haverá ressurreição. Todos procuram voltar a um passado que imaginaram feliz. Enquanto decorre uma sórdida manobra política”.
Passa por aqui um clima de decadência e de desesperada solidão que recorda obviamente “Sunset Boulevard”, tendo como pano de fundo questões políticas e sociais relevantes. A encenação de Jorge Silva Melo é sóbria mas suficientemente clara para por a descoberto toda esta teia de relações viciadas e o trabalho dos actores faz o resto, conferindo densidade e dramatismo às personagens. Um belíssimo espectáculo.

DOCE PÁSSARO DA JUVENTUDE

Texto (Sweet Bird of Youth) de Tennessee Williams; Tradução: José Agostinho Baptista; Encenação: Jorge Silva Melo; Assistência: Leonor Carpinteiro e Nuno Gonçalo Rodrigues; Cenografia e figurinos: Rita Lopes Alves; Som: André Pires; Luz: Pedro Domingos; Produção executiva: João Meireles; Interpretação: Maria João Luís, Rúben Gomes, Américo Silva, Catarina Wallenstein, Isabel Muñoz Cardoso, Mauro Hermínio, Nuno Pardal, Pedro Carraca, Pedro Gabriel Marques, Rui Rebelo,  Simon Frankel, Tiago Matias, Vânia Rodrigues, Eugeniu Ilco, Alexandra Pato, André Loubet, Francisco Lobo Faria, João Estima, Mia Tomé, Tiago Filipe e a participação de João Vaz; Uma produção: Artistas Unidos, Teatro Nacional de São João e São Luiz Teatro Municipal; últimos dias: Sexta e Sábado às 21h00; Domingo às 17h30; Sala Principal; M/14 anos; €12 A €15 (com descontos €5 a 10,50); Duração: 2h. 


terça-feira, abril 21, 2015

MARIANO GAGO


MARIANO GAGO
José Mariano Rebelo Pires Gago 
(Lisboa, 16 de Maio de 1948 — Lisboa, 17 de Abril de 2015)


Conhecia-o desde os tempos da universidade, eu quase a sair de Letras, ele a entrar no Técnico, em faculdades diferentes portanto.  Fui acompanhando-o com interesse ao longo da sua carreira. Cruzei-me com ele quando teve a amabilidade de ir prestigiar com a sua presença amiga o Cine Eco. Falámos como dois velhos amigos, que eramos, sem nos encontramos muito, é verdade. Mas ele gostava de cinema. No governo, e fora dele, teve uma actividade notável impulsionando a ciência no nosso país, como nenhum outro o fez. Quando se diz que os políticos são todos “isto e aquilo”, eu insurjo-me sempre. Nem todos o são. Há alguns bons políticos que não se servem e servem sobretudo a coisa pública.  Mariano Gago era um deles. Um exemplo para todos nós. Um perda, portanto. Enorme. 

TEATRO: ESCÂNDALO NAS NOTICIAS DA NOITE


ESCÂNDALO NAS NOTÍCIAS DA NOITE


“Escândalo nas Notícias da Noite” parte de uma peça teatral americana, de 1928, assinada pela dupla Charles MacArthur e Ben Hecht, que tem tido uma carreira brilhante no teatro, no cinema e na televisão (ver texto abaixo). Agora Frederico Corado adaptou-a à actualidade e a Portugal, mantendo toda a estrutura, sobretudo da sua última versão cinematográfica, “Linhas Cruzadas”. Um canal de televisão português debate-se com alguns problemas, sobretudo ditados pelo auto afastamento da sua repórter principal, ex-mulher do director da estação, e que se prepara para partir em viagem de núpcias para Angola com um milionário empresário de artigos de desporto. Mas a jornalista sente o apelo da notícia quando descobre que um preso condenado a pesada pena, e que ela julga inocente (e depois vem mesmo a saber estar inocente), precisa dela e de tornar visível perante a opinião pública a manobra política e judicial de que está a ser vítima. Às autoridades interessa sobretudo solucionar um caso rapidamente, sem olhar a outros interesses. Assim, ela adia a viagem para a paradisíaca ilha do Mussulo e atira-se de cabeça à tarefa de resgatar a verdade. O que pressupõe muitas peripécias, algumas divertidas, outras dramáticas, mas sempre críticas para com alguns poderes instituídos.
A produção é da equipa “Área de Serviço”, com adaptação da peça, encenação e cenários de Frederico Corado (que também interpreta um dos principais papéis), grupo que já encenou anteriormente as peças “Um Marido Ideal”, “O Crime de Aldeia Velha”, “As Alegres Comadres de Windsor”, “Nápoles Milionária”, “Pânico”, “Trisavó de Pistola à Cinta”, “O Inspector Geral”, “Oito Mulheres” e “O Dinheiro Não é Tudo na Vida”.
A encenação, movimentada e cheia de bons achados de humor, funciona num cenário relativamente simples, com adereços que apenas indicam e sugerem. O ritmo conseguido surpreende, tratando-se de uma companhia comunitária, logo de actores amadores (que, de peça para peça apuram qualidades e limam deficiências). Há mesmo alguns actores com capacidades que merecem ser dilatadas noutros trabalhos. Mas, fundamentalmente, há que sublinhar o esforço desta iniciativa muito bem orientada para textos de qualidade inequívoca, fomentando o gosto pelo teatro, quer praticando-o no palco, quer assistindo a ele na plateia do Centro Cultural do Cartaxo. O espectáculo tem novas representações a 24 e 25 de Abril, às 21 horas.

Escândalo nas Notícias da Noite / um espectáculo de Frederico Corado, no Centro Cultural do Cartaxo /24 e 25 de Abril às 21.30h
Texto e Encenação: Frederico Corado | Concepção e Execução Cenográfica: Frederico Corado e Mário Júlio | Produção CCC: Marco Guerra e Carlos Ouro | Produção Área de Serviço: Frederico Corado, Florbela Silva e Vânia Calado com a assistência de Pedro Ouro, Carolina Viana, Rita Correia Alves | Grafismo: Cátia Garcia | Assistente de Encenação: Florbela Silva, Cláudia Antunes, Maria Ramalho, Pedro Ouro, Rita Correia Alves | Desenho de Luz: Ricardo Campos | Assistência Técnica: Miguel Sena | Direcção de Cena: Mário Júlio| Contra-Regra: Amélia Martins | Fotografia: Vitor Neno | Montagem: Mário Júlio e Vitor Lima| Uma Produção da Área de Serviço com o Centro Cultural do Cartaxo; Intérpretes: Vânia Parente Calado, Frederico Corado, Carlos Ramos, Vasco Casimiro, João Nunes, Mário Júlio, Ana Ribeiro, Virgínia Teófilo, Helena Montez, Mónica Coelho, João Paulo, Carolina Viana, Ana Patrícia Jorge, Mauro Cebolo, Susana Condinho, Pedro Ouro, Pedro Lino, Luis Rosa Mendes, Paulo Cabral, Rosário Narciso, Amélia Martins, Rita Oliveira, Ana Catarina Casimiro, Daniel Mateus, Pedro Magalhães, Aureliana Campanacho, Jeanine Steuve, Catarina Carmo, Maria José Cerqueira, Andréa Silva, João Pedro Sousa, Joana Pinheiro, Beatriz Pinho, José Miguel Ribeiro, Inês Nunes, André Vieira, Joana Condinho Pais, Miguel Carias, etc.Centro Cultural do Cartaxo / Rua 5 de Outubro | 2070-059 Cartaxo, Portugal /Teatro . M6 /Bilhetes: 5€



2. “A PRIMEIRA PÁGINA” (THE FRONT PAGE) NO CINEMA
No conturbado e agitado período de final dos anos 20, a América inteira pode dizer-se que se transforma num vulcão em permanente ebulição. Estava-se no pós-guerra, os soldados do Tio Sam tinham, pela primeira vez, experimentado os amargos e os sucessos de um gigantesco conflito militar que se desenrola a muitos quilómetros da sua Pátria, numa Europa simultaneamente distante e aliciante, local de origem da maior parte dos ancestrais dos jovens combatentes, mas terra de outros costumes e outro ritmo de vida. Nos EUA germinava o Crash que iria rebentar em 1929 e progredir assustadoramente pela Grande Depressão dos anos 30. A instabilidade que parecia apostar fortíssimo em tal época era bem demonstrativa de que as armas não se haviam calado de vez, mas antes se encontravam em repouso quase forçado, à espera de que novo holocausto se viesse a verificar, sem grandes alternativas nem esperanças fundadas.
Nessa altura, um jovem jornalista de Chicago, de parceria com outro colega também pouco acomodatício, deu à estampa uma obra que intitulou “The Front Page”. Estava-se em 1928, o autor principal chamava-se Charles MacArthur e o seu comparsa Ben Hecht. De ambos ainda surgiriam “Twentieth Century” (1932) e “Ladies and Gentlemen” (1939). No entanto, a primeira das obras seria aquela que daria notoriedade a MacArthur que, casado com a actriz Helen Hayes, se dedicaria também a escrever para o cinema. Esta peça teria uma encenação portuguesa no Teatro "A Barraca", em 1994, com encenação de Helder Costa, com interpretação de Maria do Céu Guerra, Francisco Nicholson e João d'Ávila, entre outros. 
“The Front Page” foi objecto de várias adaptações cinematográficas, a primeira das quais realizada por Lewis Milestone, logo em 1931. Entre os actores, Adolphe Menjou, Pat O'Brien e Mary Brian. Mas em 1940, Howard Hawks voltaria ao tema, realizando “O Grande Escândalo” (His Girl Friend) com um elenco de nomes sonantes à frente do qual se encontravam Rosalind Russel, Cary Grant e Ralph Bellamy. Posteriormente outra gente retomaria o tema. Foram algumas as versões de TV, logo na década de 40: Ed Sobol dirigiu uma em 1945, com Vinton Hayworth, Matt Crowley e Howard Smith; o produtor Joel O’Brien lançou outra, em Inglaterra, em 1948, com Basil Appleby, Harold Ayer e Michael Balfour; entre 1949 e 1950 apareceu uma mini série, com direcção de Franklin Heller, e interpretação de John Daly, Mark Roberts e Richard Boone; finalmente em 1970, nova incursão televisiva, desta feira assinada por Alan Handley, com Robert Ryan, George Grizzard e Helen Hayes (como já vimos a mulher de MacArthur).
Os tempos mudaram, a imprensa escrita cedeu o seu lugar prioritário à televisão, por isso se compreende que, em 1988, “The Front Page” se passe a chamar “Linhas Trocadas” (Switching Channels), numa versão cinematográfica de Ted Kotcheff, com um novo elenco de luxo, Kathleen Turner, Burt Reynolds e Christopher Reeve.



Desconhecendo a obra de 1931 e as adaptações televisivas, vamos recuperar algumas curtas impressões críticas das restantes, escritas na época em que inicialmente as vi.
Começando pelo filme de Howard Hawks:
Numa redacção de um jornal reúne-se um grupo heterogéneo, constituído pelo próprio director do jornal, um cronista de casos de polícia e de tribunais, uma prostituta e um condenado à morte que se havia conseguido evadir da prisão em que se encontrava aguardando a execução. Com eles e outros comparsas menores se constrói uma história em que o dramático alterna com o burlesco, daí resultando uma comédia brilhante e de tal modo atractiva que, como se disse já, motivou por várias vezes o interesse dos realizadores e produtores e a consequente atenção das câmaras.
Há que referir que esta versão tem uma realização realmente brilhante de Howard Hawks e, reforçando o afirmado, de entre os intérpretes salienta-se o talento de comediante de Rosaline Russel, que aqui regista uma das suas mais significativas actuações perante as objectivas. Alguns saudosistas relembram, a propósito de “O Grande Escândalo”, “The Front Page”, de 1931, rodado num único cenário, em que o realizador Lewis Milestone utilizou com toda a propriedade os travelling que tinham sido relativamente descurados com o advento do sonoro. Voltando a “His Girl Friend” um outro termo de comparação é possível de estabelecer com a obra precedente: enquanto Milestone realizara uma fita com 101 minutos de duração, Hawks reduz o tempo de projecção para 92 minutos. E por isso que esta velha glória do cinema debruçado sobre a informação é considerada por muitos como tendo um ritmo mais dinâmico do que a primeira versão d “The Front Page”. Dir-se-ia, antes, que são duas concepções diferentes, com quase dez anos a separá-las. Vale, porém, a pena recordar-se um e outro destes filmes que ficaram na História da Sétima Arte.



Depois de Lewis Milestone e de Howard Hawks, “The Front Page” é já uma obra teatral consagrada, esta que Billy Wilder retoma para a marcar com o seu espírito sarcástico, o seu humor corrosivo, o rigor do seu trabalho de encenação, e a magnifica direcção de actores, onde sobressaem Jack Lemmon, Walter Matthau e Carol Burnet.
Com um condenado à morte à espera da hora final, é nos bastidores de certa imprensa sensacionalista, que manipula pessoas e acontecimentos, que se irá centrar a análise de Wilder. O prestígio político, os interesses criados, o lucro fácil, são algumas das peças de uma engrenagem desmontada pelo cineasta que, desde início, se coloca do lado do condenado à morte e de uma prostituta que o procura ajudar, tendo em seu redor uma matilha que os tenta devorar com intuitos diversos, mas sempre com igual barbaridade, em nome de um qualquer lucro.



“Linhas Trocadas”, de Ted Kotcheff, versão mais recente (1987), actualizada, da peça teatral de Hecht e MacArthur, acusa alguma banalização de processos, tendentes a um riso burlesco e algo inconsequente, que lhe retira um pouco da sua força, agressividade e poder corrosivo.
Christy Collerau (a belíssirna Kathleen Turner) é uma jornalista, vedeta de uma cadeia de televisão norte americana, onde trabalha também o seu ex-marido, John Sullivan (um turbulento Burt Reynolds). Em férias, conhece um empresário aprumadinho, Blaine Brighaam (Christopher Reeves, aqui atraiçoando a sua predilecção por papeis de jornalista), com quem resolve casar-se e abandonar a TV. Mas John Sullivan joga o mais sujo que sabe para não perder nem a colaboradora nem a mulher e oferece-lhe uma reportagem irrecusável: entrevistar Ike Roscoe, um condenado à morte na cadeira eléctrica, que tudo aponta estar inocente. Christy não é capaz de renunciar a este desafio. Mas Roscoe consegue fugir, Christy e Sullivan conseguem escondê-lo, mas o filme não consegue comparar-se aos outros extraídos da mesma base, muito embora atinja momentos hilariantes, sobretudo nas perseguições derradeiras e na descrição tumultuosa do ambiente dos estúdios de televisão.
Uma comédia divertida, mas um filme relativamente falhado nos seus propósitos, enquanto obra cinematográfica.

O GRANDE ESCÂNDALO (His Girl Friday) - R: Howard Hawks (EUA, 1939); A: Charles Lederer, segundo «The Front Page», peça de Charles MaeArthur e Ben Heeht; F (preto e branco): Joseph Walker; M: Morris Stoloff; I: Rossalind Russell, Cary Grant, Ralph Bellamy, Gene Loekhart, Porter Hall, Ernest Truex, etc.; D: 92 m; CI: xxxxx (M/12 anos).
PRIMEIRA PÁGINA (Front Page) - R: BiIly Wilder (EUA, 1974); A: BiIly Wilder e I.A.L.Diamond, segundo peça teatral de Ben Heeht e Charles MaeArthur; F (cor): Jordan S. Cronenweth; M: BilIy May; Mont: Ralph E.Winters; Dir.art.: Henry Bumstead; P: Paul Monash/ MA C/ Universal; I: Jack Lemmon, Walter Matthau, Carol Burnett, Susan Sarandon, Vineent Gardenia, David Wayne, Allen Garfield, Austin Pendleton, Charles Durning, Herbert Edelman, etc.; D: 105 m; CI: xxxx (M/12 anos).

LINHAS TROCADAS (Switching Channels) - R: Ted Kotcheff (EUA, 1987); A: Jonathan Reynolds, segundo «The Front Page», peça teatral de Ben Hecht e Charles MacArthur; F (cor): François Protat; M: Michel Legrand; Mont: Thom Noble; Dir. Art.: Charles Dunlop; P: Martin Ransohoff; I: Kathleen Turner, Burt Reynolds, Christopher Reeves, Ned Beatty, Henry Gibson,etc. D: 110 m; CL: xxx (M/12 anos). 

sexta-feira, abril 03, 2015

Prémios Sophia 2015



PRÉMIOS SOPHIA DO CINEMA PORTUGUÊS 2015

Ontem, 2 de Abril de 2015, no CCB, ficámos a conhecer os vencedores dos Prémio Sophia 2015. Os triunfadores da noite foram "Os Gatos não têm Vertigens" (9 Sophias) e "Os Maias" (7 Sophias). Aqui ficam os prémios por categorias:

Filme: Os Gatos não têm Vertigens, de António-Pedro Vasconcelos (MGN Filmes)
Documentário: E Agora? Lembra-me, de Joaquim Pinto (C.R.I.M. Produções)
Realizador: António-Pedro Vasconcelos, Os Gatos não têm Vertigens
Actor Principal: João Jesus, Os Gatos não têm Vertigens
Actriz Principal: Maria do Céu Guerra, Os Gatos não têm Vertigens
Actor Secundário: João Perry, Os Maias - Cenas da Vida Romântica
Actriz Secundária: Maria João Pinho, Os Maias - Cenas da Vida Romântica
Argumento Original: Tiago Santos, Os Gatos não têm Vertigens
Montagem: Pedro Ribeiro, Os Gatos não têm Vertigens
Fotografia: João Ribeiro, Os Maias - Cenas da Vida Romântica
Música Original: Luís Cília, Os Gatos não têm Vertigens
Canção Original: “Clandestinos do Amor”, de Ana Moura, Os Gatos não têm Vertigens
Som: Vasco Pedroso, Branko Neskov e Elsa Ferreira, Os Gatos não têm Vertigens
Direcção Artística: Silvia Grabowski, Os Maias - Cenas da Vida Romântica
Guarda-Roupa: Sílvia Grabowski, Os Maias - Cenas da Vida Romântica
Maquilhagem e Cabelos: Sano de Perpessac, Os Maias - Cenas da Vida Romântica
Caracterização / Efeitos Especiais: Sano de Perpessac, Os Maias - Cenas da Vida Romântica
Curta-Metragem de Ficção: Encontradouro, de Afonso Pimentel
Curta-Metragem Documentário: O Meu Outro País, de Solveig Nordlund
Curta-Metragem de Animação: Fuligem, de David Doutel e Vasco Sá
Sophia Estudante: Bestas, de Rui Neto e Joana Nicolau

Sophia Carreira: Eunice Muñoz e Luís Miguel Cintra

terça-feira, março 24, 2015

CLÁUDIO MARZO (1941-2015)


(2

segunda-feira, março 23, 2015

TEATRO: PIRANDELO


PIRANDELLO

Afirma a companhia “mala voadora”: “Pirandello” não é um espectáculo de Pirandello. Quer isto dizer: não é uma encenação de uma peça de teatro escrita por Pirandello. E, apesar de o seu nome dar título ao espectáculo, também não se trata de uma biografia do italiano Luigi Pirandello que nasceu em 1867 e morreu em 1936, autor multifacetado e distinguido com o Prémio Nobel da Literatura em 1934. Mas é a história de uma vida que vamos contar – a de um homem inventado por Pirandello no livro “Ele Foi Mattia Pascal”, ou “O Falecido Mattia Pascal”. Na verdade, não é bem essa história, mas uma parecida... Na verdade, a história que a mala voadora vai contar é a de Albano Jerónimo. O Falecido Albano Jerónimo”.
Aparentemente está tudo dito quanto ao texto que se apresenta como “Pirandello”. Tanto podia chamar-se “Pirandello” como “Shakespeare”, “Gil Vicente” ou “José Saramago”. Agarra-se numa obra de um autor, reduz-se a uma anedota, pega-se nessa anedota e constrói-se com ela um espectáculo essencialmente divertido, inventivo, graficamente de boa qualidade, muito bem interpretado e ponto.
Ainda o texto da “mala voadora”: “Pirandello”, um elogio da ficção, é um laboratório de meta-teatralidade em torno de um texto não-dramático do dramaturgo mais meta-teatral do século XX. Sobrepõe-se, ao abismo ficcional que caracteriza o romance, uma meta-teatralidade que não é aquela que Pirandello usa nos seus próprios textos dramáticos, mas uma outra, inventada a partir da narrativa não-dramática”. Com este texto fica-se a perceber o que foi pretendido. Apesar de um certo pretensiosismo de linguagem. Ou seja, o que se tenta é reduzir a narrativa dramática a uma não narrativa não dramática.
Uma visão moderna, sim, moderna, inscrevendo-se numa linha que tem vindo a vingar junto de certos grupos teatrais mais recentes, a estética de “mala voadora” é de uma grande coerência. Quem procura mais do que “espectáculo” não encontra. O vaudeville de Georges Feydeau é muito mais consistente. Aqui, o que funciona é a aparência. Os cenários de José Capela parecem construções de legos, passados pela imaginação de Robert Wilson, são muito bonitos e funcionam muito bem. Guarda-roupa a condizer. Tecnicamente há que dizer que tudo rola eficazmente, luz, som, etc. A interpretação é muito boa, quase não apetecendo sublinhar ninguém, ainda que Albano Jerónimo e Custódia Gallego o possam merecer, mas a verdade é que Anabela Almeida, David Cabecinha, David Pereira Bastos, Marco Paiva, Maria Ana Filipe, Mónica Garnel, Tânia Alves e Joana Costa Santos vão muito bem no registo escolhido. A encenação de Jorge Andrade é realmente muito imaginativa, cheia de achados de linguagem e de situações, o que transforma “Pirandello” num passatempo que se vê bem e se desfruta como uma taça de champanhe. A metáfora, porém, não funciona com todos. Eu, por exemplo, não gosto de champanhe, o que não quer dizer que não tenha gostado de ver o espectáculo. Mas chamar-lhe “Pirandello”, custa um bocado…

PIRANDELO

a partir de “Ele Foi Mattia Pascal”, de Luigi Pirandello; dramaturgia Jorge Andrade com David Cabecinha, Fernando Villas-Boas; direcção Jorge Andrade; cenografia José Capela com edição de imagem de António MV e José Carlos Duarte; figurinos José Capela; desenho de luz João d’Almeida; banda sonora Rui Lima e Sérgio Martins com a participação de alunos da Escola de Música do Conservatório Nacional; cabelos Carla Henriques; interpretação: Albano Jerónimo, Anabela Almeida, Custódia Gallego, David Cabecinha, David Pereira Bastos, Marco Paiva, Maria Ana Filipe, Mónica Garnel, Tânia Alves e Joana Costa Santos; produção mala voadora Manuel Poças e Joana Costa Santos; assessoria gestão/programação mala voadora: Vânia Rodrigues; coprodução TNDM II, Mala Voadora; M/12 anos; duração: 90 minutos; de 12 de Março a 4 de Abril de 2015.

segunda-feira, março 09, 2015

PRÉMIOS SOPHIA DO CINEMA PORTUGUÊS 2015



PRÉMIOS SOPHIA DO CINEMA PORTUGUÊS 2015

NOMEADOS

Melhor Curta-Metragem Documentário

À Beira Da Europa de Bernardo Cabral
Le Boudin de Salomé Lamas
Luz Clara de Miguel Lima e Vasco Vieira
O Meu Outro País De Solveig Nordlund  
Melhor Curta-Metragem de Animação
20 Desenhos e Um Abraço de José Miguel Ribeiro
O Canto dos 4 Caminhos de Nuno Amorim
Foi o Fio de Patrícia Figueiredo
Fuligem de David Doutel e Vasco Sá 
Melhor Curta-Metragem de Ficção:
Cinema de Rodrigo Areias
Coro dos Amantes de Tiago Guedes; 
Encontradouro de Afonso Pimentel; 
Miami De Simão Cayatte; 
Os Sonâmbulos de Patrick Mendes; 
Melhor Documentário em Longa - Metragem:
Guerra ou Paz de Rui Simões – Real Ficção; 
Fado Camané de Bruno de Almeida - BA Filmes; 
E Agora? Lembra-me de Joaquim Pinto – C.R.I.M. Produções; 
Alentejo Alentejo de Sérgio Tréfaut – Faux;   
Melhor Canção Original:
Fora da Lei" versão rock, interpretado pelos Criança Queimada – Nirvana; 
“Unforgettable”, letra e interpretação de Daniela Galbin – Pecado Fatal;
“Clandestinos do Amor” de Ana Moura – Os Gatos não têm Vertigens;
“Seta” de André Sardet e Mayra Andrade – Sei Lá;  
Melhor Banda Sonora Original:
Nuno Maló - Doce Amargo Amor; 
Filipe Coutinho – Pecado Fatal; 
Luís Cília – Os Gatos não têm Vertigens; 
José M. Afonso – Sei Lá;  
Melhor Som:
Hugo Leitão e Branko Neskov – O Grande Kilapy; 
Vasco Pedroso, Branko Neskov e Elsa Ferreira – Os Gatos não têm Vertigens; 
Pedro Melo e Branko Neskov – Getúlio; 
Jorge Saldanha – Os Maias;  
Melhor Montagem:
Rodrigo Pereira, Rui Alexandre Santos – A Vida Invisível; 
Pedro Ribeiro – Os Gatos não têm Vertigens; 
Pedro Ribeiro – Sei Lá; 
João Braz – Os Maias;  
Melhor Maquilhagem e Cabelos:
Sano de Perpessac – O Grande Kilapy; 
Susana Correia e Fátima Vieira – Os Gatos não têm Vertigens; 
Iris Peleira, Mário Leal – Variações de Casanova; 
Sano de Perpessac – Os Maias;  
Melhor Guarda-Roupa:
Teresa Campos – O Grande Kilapy; 
Os Burgueses – Os Gatos não têm Vertigens; 
Lucha d’Orey – Variações de Casanova; 
Silvia Grabowski  – Os Maias;  
Melhor Caracterização / Efeitos especiais:
Sano de Perpessac - O Grande Kilapy; 
Sandra Pinto – Eclipse em Portugal; 
Iris Peleira – Cadências Obstinadas; 
Sano de Perpessac – Os Maias;  
Melhor Direcção Artística:  
João Torres – O Grande Kilapy; 
João Torres – Os Gatos não têm Vertigens; 
Isabel Branco – Variações de Casanova; 
Silvia Grabowski – Os Maias;  
Melhor Direcção de Fotografia:
Leonardo Simões – A Vida Invisível; 
José António Loureiro – Os Gatos não têm Vertigens; 
André Szankowski – Cadências Obstinadas; 
João Ribeiro – Os Maias;  
Melhor Argumento Original:
Luís Alvarães e Luís Carlos Patraquim - O Grande Kilapy; 
Vítor Gonçalves, Jorge Braz, Mónica Santana Baptista - A Vida Invisível;
Tiago Santos – Os Gatos não têm Vertigens; 
Frederico Pombares, Henrique Dias e Roberto Pereira – Virados do Avesso;  
Melhor Atriz Secundária:
Fernanda Serrano – Os Gatos não têm Vertigens; 
Maria João Pinho – Os Maias; 
São José Correia - O Grande Kilapy; 
Silvia Rizzo - O Grande Kilapy;  
Melhor Ator Secundário:
João Perry – Os Maias; 
Manuel Wiborg - O Grande Kilapy; 
Nicolau Breyner – Os Gatos não têm Vertigens; 
Pedro Inês – Os Maias;  
Melhor Realizador:
Zézé Gamboa - O Grande Kilapy; 
Vítor Gonçalves – A Vida Invisível; 
António-Pedro Vasconcelos – Os Gatos não têm Vertigens; 
João Botelho – Os Maias;  
Melhor Atriz Principal:
Leonor Seixas – Sei Lá; 
Maria do Céu Guerra – Os Gatos não têm Vertigens; 
Maria João Pinho – A Vida Invisível; 
Sara Barros Leitão – Pecado Fatal;  
Melhor Ator Principal:
Filipe Duarte – A Vida Invisível;   
Graciano Dias – Os Maias
João Jesus – Os Gatos não têm Vertigens
João Lagarto – O Grande Kilapy 
Melhor Filme
A Vida Invisível – Rosa Filmes
O Grande Kilapy – David&Golias
Os Gatos não têm Vertigens – MGN Filmes
Os Maias - Cenas da Vida Romântica – Ar de Filmes