I.B.S.E.N.
de Miguel Castro
Caldas
“I.B.S.E.N.” traz o nome do
dramaturgo norueguês, mas é um original de Miguel Castro Caldas, que agarra
nalgumas situações de peças do autor e as organiza a seu belo prazer, manipulando
os textos, por vezes com alguma graça e ironia, por vezes desvirtuando-os.
Dizem personagens da peça que Ibsen está velho e os seus textos não são para o
público de hoje. Se esse é o pensamento de Miguel Castro Caldas o melhor seria
deixar Ibsen em repouso. Este aspecto acho-o, portanto, muito controverso, no mínimo.
Mais discutível ainda é a
apoteose final com uma manifestação contra as maiorias, exortando que são as
minorias (“os sábios”, como se diz) quem deve dirigir a sociedade. Ora nós sabemos
que por vezes as maiorias se enganam, mas temos a certeza de que as minorias
erram sempre, para qualquer lado que se voltem. Começa-se logo por duvidar de
quem é sábio. Quem o define? Quem é o sábio? O que defende o que nós queremos? Depois,
os sábios podem ser historiadores e filósofos que proclamam a hegemonia da raça
ariana, um grupo de economistas de superior inteligência que defendem o
neo-liberalismo, ou uns iluminados defensores da ditadura do proletariado,
temos para todos os gostos. Polémico é, portanto, no mínimo, o espectáculo. Que
começa, aliás, com uma orientação curiosa, abordando a vida em família e a
situação da mulher, para depois enveredar por caminhos ínvios.
De resto, os intérpretes são
excelentes, tão bons que nos custa fazer distinções, mas Sara Carinhas é
empolgante, e a encenação de Cristina Carvalhal bem inventiva e saborosa, acompanhada
a rigor pela equipa técnica e artística ao seu serviço. Seria um belo espectáculo
se….
I.B.B.S.M, de Miguel Castro Caldas;
Encenação: Cristina Carvalhal; Cenografia e figurinos: Ana Vaz; Adereços:
Stephane Alberto; Desenho de luz: José Álvaro Correia; Desenho de som: Sérgio
Delgado; Apoio ao movimento: David dos Santos; Fotografia: Susana Paiva; Produção
executiva: Mafalda Gouveia; Interpretação: André Levy, David dos Santos, Inês
Rosado, João Lagarto, Luís Gaspar, Manuela Couto, Sara Carinhas, Sílvia Filipe,
Stephanie Silva, e ainda Berta Bustorff, Carlos Colaço, Carmo Gelpi, Dora
Martinez Pinto, Erica Rodrigues, Irene Sofia Vaz, Maria Angelina Mateus, Maria
Helena Falé, Marisa Costa, Miguel Brinca, Miguel Viegas, Rita Pascácio, Sandra
Cristina Chambel e Xavier Faria Lopes.
Teatro da Trindade, até dia 14 de
Julho. Classificação: M/16 anos.