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sexta-feira, julho 13, 2018

LIVROS DE CINEMA: OS CINCO MAGNIFICOS


    
   
   LIVROS DE CINEMA: OS CINCO MAGNIFICOS

Não é segredo para ninguém que sou um leitor compulsivo. Leio um pouco de tudo, do romance (nacional e estrangeiro) ao ensaio, da poesia à biografia, do policial à literatura sobre cinema. Sou um homem de paixões, entre as quais se encontram o cinema e a literatura (há outras, um dia falarei delas, enfim se tiver tempo, arte e engenho). Escrever é outra das minhas actividades preferidas, sobretudo escrever sobre o que gosto (às vezes sobre o que desgosto). Por isso não será de estranhar estes textos largamente desenvolvidos em que abuso da atenção e da paciência do leitor, mas, que querem?, paixões são assim: absorventes.
Tenho, por isso uma biblioteca imensa que, por já não caber em casa resolvi oferecer ao município de Setúbal, depois de ter tentado fazer a mesma oferta a Oeiras, sem resultados práticos. Grande parte desta biblioteca, que já estimaram em 80.000 volumes, é relativa a obras sobre cinema. Dos mais de 30.000 livros de cinema que conservo (é verdade: acusam-me de conservar tudo, defeito de quem tem uma formação em História), muitos são simplesmente de consulta, outros são raridades históricas, outras inutilidades de que não sou capaz de prescindir, e uma centenas de obras indispensáveis. Há livros de crítica de mestre André Bazin, de François Truffaut (sobre Hitchcock), de Lindsay Anderson (sobre John Ford), autobiografias de John Huston, de Luis Buñuel, de Roman Polanski, ensaios de Karel Reiz (sobre montagem), de Eisenstein e Pudovkin (sobre a época de ouro do cinema soviético), de Peter Bogdanovich (sobre Ford), de Marcel Martin (A Linguagem Cinematográfica), que tive o privilégio de traduzir para português, conjuntamente com o saudoso Vasco Granja, entre tantos e tantos outros.
Em português também há alguma coisa a sublinhar, apesar de imperar ultimamente um intelectualismo farfalhudo de quem se dá ares de grande importância. Esquecem-se que o mais importante (e difícil) é abordar temas complexos de forma acessível. Esquecem-se, ou nunca souberam, concretizar a ideia. Mas há volumes muito interessantes. António de Macedo foi autor de uma monumental “A Evolução Estética do Cinema” que ficou para a História. E os Dicionários do Jorge Leitão Ramos, e a grande história do cinema português de Leonor Areal. E existem muitas traduções magnificas a não perder.
O que voltou a acontecer agora. Surgiu uma obra de grande envergadura e de uma importância significativa: “Os Cinco Magníficos” (Five Came Back), de Mark Harris. Quem são os cinco magníficos? John Ford, George Stevens, John Huston, William Wyler e Frank Capra, na medida em que estes foram os cineastas essenciais para o percurso histórico que o livro aborda.
A América de Roosevelt defronta em dilema interno profundo no final da década de 30 do século passado e início da seguinte se agudizou: entrar ou não entrar na II Guerra Mundial, ser isolacionista ou participativo. Para mostrar que os EUA devem intervir na Europa para defender a democracia e a liberdade, a presidência Roosevelt solicitou a colaboração de Hollywood, chamando para as fileiras das forças armadas, alguns realizadores e técnicos para conceberem um conjunto de filmes para explicar essencialmente “Why We Fight” (nome da principal série dedicada a mostrar aos americanos porque devem lutar contra a ameaça das tropas do Eixo). A situação não era muito agradável para os que defendiam a intenção, até ao momento do ataque de Pearl Harbor. A partir daí os americanos perceberam que tanto Hitler como Mussolini ou o Imperador Hiroito podiam invadir a terra americano.
John Ford, George Stevens, John Huston, William Wyler e Frank Capra eram, na altura, os mais importantes e bem-sucedidos realizadores de Hollywood. Todos saídos de grandes êxitos e com carreiras promissoras e aceitaram deixar os ordenados de luxo, para integrarem a vida militar, com viagem aos cenários de guerra, onde arriscaram as vidas, e quase nada ganhando economicamente.
“Os Cinco Magníficos” é um estudo e uma análise da sociedade e da política norte americana desses anos, da sua articulação com a propagando militar oficial (segundo a hierarquia militar) e com o cinema de Hollywood alistado numa acção patriótica. Confrontos, dúvidas, esperanças, desilusões, coragem e lições de sobrevivência, de tudo um pouco se pode perceber um pouco, através de uma linguagem acessível, onde a complexidade das questões não interfere com a acessibilidade da mensagem.
A obra já foi adaptada, em 2017, para uma série documental de 3 episódios, produzida pela Netflix, narrado por Meryl Streep com testemunhos de Francis Ford Coppola, Guillermo del Toro, Paul Greengrass, Lawrence Kasdan e Steven Spielberg.
Os Cinco Magnificos, de Mark Harris / Edições 70.

quarta-feira, novembro 10, 2010

MAIS LEITURAS

  
 
II. Diversas




Leituras muito diversificadas nestes últimos meses, apesar do já atrás referido predomínio republicano que as comemorações impuseram (e a febre editorial acompanhou). Como estávamos no campo da História Política, não quero deixar de recomendar um ensaio brilhante (mais um que devia ser obrigatório nas escolas, sobretudo se se quer educar para a cidadania): “À Porta Fechada” (Estaline, os Nazis e o Ocidente), de Laurence Rees (ed. D. Quixote) é um relato estarrecedor sobre os tempos da II Guerra Mundial e a divisão do mundo que lhe é posterior. Extremamente bem documentado, com referências indiscutíveis a factos que nos obrigam a corar de vergonha pela desumanidade de quem os projectou e concretizou friamente, este volume não deixa ninguém indiferente (ou deixará?). Tudo se passou há setenta anos, mais coisa menos coisa, no coração da Europa. Como é possível?


Ainda História e ainda biografia, uma fabulosa “Clarice Lispector, uma Vida”, de Benjamin Moser (ed. Civilização). Como admirador incondicional da escritora, ucraniana de nascimento e brasileira pela palavra, esta aventura de uma existência amargurada é uma narração invulgarmente brilhante do percurso de uma personalidade que se afirmou como um dos nomes maiores da literatura mundial do século XX. Combinando a biografia com a análise literária da obra de Clarice Lispector, este é outro texto indispensável.
Benjamin Moser, nascido em 1976, nos EUA, vive na Holanda. Apaixonou-se por Clarice Lispector quando a descobriu ao estudar português (também aprendeu chinês e fala uma quantidade de línguas que nos faz inveja). Escreve bem, com inteligência e clareza, e a sua obra é magnífica.


Brilhante ainda é a selecção de textos de George Steiner, aparecidos no “The New Yorker”, e recolhidos num volume há pouco traduzido para português pela Gradiva. Esta antologia, organizada por Robert Boyers, é exemplificativa do pensamento de Steiner, um dos mais sedutores pensadores da actualidade, que aqui escreve, com desenvoltura e profundidade, sobre literatura, política, história, questões sociais, etc. A leitura é fulgurante e acompanha-se com o fascínio de quem assiste a um lúcido e penetrante exercício de inteligência e perspicácia.


Passando para um campo completamente diferente, cito três romances que me deixaram absolutamente subjugado. “O Seminarista”, do brasileiro Ruben Fonseca (ed. Sextante), começa assim: “Sou conhecido como o Especialista, contratado para serviços específicos. O Despachante diz quem é o freguês, me dá as coordenadas e eu faço o serviço.”
O “Especialista” andou num seminário, e agora é matador profissional. Cita amiudadas vezes clássicos em latim, e o seu ofício é para se executar com brio. Apenas isso. Sem remorso, nem prazer. A escrita é nervosa, muito dialogada, carregada de um humor negro que desarma. “O Seminarista” demonstra a maestria literária de quem redige esta sombria novela que nos restitui um retrato sórdido de uma certa sociedade. Ou da sociedade actual. Ou somente da condição humana?


Brilhante é “Milagrário Pessoal”, de José Eduardo Agualusa (ed. D. Quixote). “As Mulheres de Meu Pai” e “Barroco Tropical” já me tinham deixado rendido à escrita deste invulgar autor da lusofonia. “Milagrário Pessoal” confirma tudo o que vinha de trás e abre caminhos para o futuro. Ao ler Agualusa o que primeiro sinto é o prazer e o orgulho de pertencer a esta lusofonia que permite tal engenho, que viaja de Portugal para o Brasil ou para África, falando a mesma língua, passando por terras e gente que por acaso conheço algumas, e cujas recordações sinto tão vivas e fortes nesta poética digressão em busca de novos vocábulos da língua portuguesa. Um velho anarquista angolano e uma jovem linguista portuguesa vivem paixões e desvendam milagres linguísticos. “Os milagres acontecem a cada segundo. Os melhores costumam ser discretos. Os maiores são secretos.” Absolutamente a não perder.


Descobri há poucos anos Sandor Márai, húngaro que se exilou nos EUA e se suicidou em finais dos anos 80, ignorado do grande público, depois ter sido proscrito e censurado na sua terra natal, pela ditadura comunista que assim procurava calar um dos mais importantes escritores do século XX da Europa Central. Descobri-o com “A Herança de Eszter”, apaixonei-me com “As Velas Ardem até ao Fim”, fiquei empolgado com “A Mulher Certa”, depois continuei com “Os Rebeldes”, e agora manteve-se todo o encanto com “Divórcio em Buda”, uma sensível e discreta descrição da vida quotidiana em Budapeste, decorrem os anos 30 do século passado, e o protagonista, um recto e respeitável juiz de contenciosos familiares, se sente dividido entre passado e presente, entre a Peste da margem esquerda do Danúbio e a Buda que se abre ao futuro na outra margem. Entre a aristocracia em decadência e a burguesia em ascensão, entre duas guerras, entre a tradição e a modernidade, entre o amor e a morte. Excelente no seu desenho miniaturista, atento ao pormenor e ao mais secreto. (ed. D. Quixote).


Já aqui falei da releitura de “Mistérios de Lisboa”, de Camilo Castelo Branco (é sempre saudável regressar aos clássicos!). A nova edição da “Relógio d’Água” é boa e vem enriquecida com um magnífico prefácio de Raoul Ruiz. Vale a pena.


O “policial” é um género que não perco de vista. Não considero um “policial” literatura menor, muito pelo contrário. Alguns dos maiores passaram por lá e presentemente parece que não há romance que não tenho um crime pelo meio. Mas o “policial” assumidamente “policial”, que descende de Poe e Conan Doyle, por vezes revela-nos autores muito interessantes. Quando descubro um bom romance que traz uma autoria que até aí desconhecia, é um prazer enorme devorar toda a restante obra. Foi o que aconteceu com Donna Leon, americana por nascimento (Montclair, New Jersey, 28 de Setembro de 1942), mas que vive em Itália há mais de 20 anos, e que escreveu já uma série de policiais que têm como protagonista o inspector Guido Brunetti e a cidade de Veneza como cenário privilegiado. Os romances são muito interessantes, “familiares”, Brunetti sonha com os cozinhados da mulher, apoquenta-se com o que possa acontecer aos filhos, não suporta o superior hierárquico, vive obcecado pela honradez, numa sociedade de corruptos que praticam crimes mesquinhos, e nem sempre os culpados acabam punidos. A sensação é que “não vale sequer a pena”.

Dela li “Morte no Teatro La Fenice”, “Assassínio na Academia”, “Morte num Pais Estranho” (todos ed. Planeta) e ainda “Acqua Alta” e “Amigos Influentes” (ed. Presença). Todos a valerem a pena. Quanto mais se penetra na intimidade deste universo, mais vontade temos de o acompanhar. Soube que há uma série televisiva, alemã, que já conta com 17 telefilmes, desde 2000 até 2010. Chama-se "Donna Leon" (2000), começou por ser realizada por Christian von Castelberg (2 episódios, em 2000) e tem sido continuada por Sigi Rothemund (15 episódios, entre 2002 e 2010). Os romances são muito mediterrânicos, vêm na tradição de um George Simenon ou de uma Agatha Christie, mais dedutivos que truculentos, não sei se um olhar alemão capta o espírito, mas estou curioso.

Muito diferente é o estilo de Craig Russell, mais vigoroso e impetuoso. Escocês, foi polícia e publicitário antes de se dedicar à escrita, criando um detective afeito à investigação de crimes de uma violência invulgar. O cenário é sempre a nocturna cidade alemã de Hamburgo, povoada por “serial killers” e neo-nazis, cruzados com o submundo da droga e da prostituição. “Águia de Sangue”, “Irmão Grimm” e “Eterno” são os volumes traduzidos para português e editados pela Betrand. Lêem-se de um fôlego e são exemplarmente conduzidos em termos de “suspense”, o que levou o “The Times” a considerar o autor “o mestre do thriller”. Já existe igualmente um teledramático retirado de uma obra sua, “Wolfsfährte”, com direcção de Urs Egger (2010). As referências não são as melhores, infelizmente, pois creio que cada um destes romances daria um excelente “thriller” cinematográfico. Os ingredientes estão todos lá. A saga Jason Bourne seria um bom exemplo.

















segunda-feira, novembro 08, 2010

LEITURAS

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I. Leituras Republicanas

Muitas leituras nos últimos tempos, povoando de sobrecarregadas montanhas de volumes o espaço vulgarmente designado por “livros de cabeceira”. A “cabeceira” é coisa que já não existe, e os livros mal deixam espaço para alcançar a cama. Por outro lado, já nem sei há quanto tempo não dou conta aqui do que vou lendo. Acho, no entanto, que vale a pena referir aqui algumas leituras, ainda que de forma necessariamente sucinta.

Andei numa de descobrir a “República”, passados 100 anos, sem que depois de tantas leituras tenha ficado mais entusiasmado com a nossa “primeira” República. Creio cada vez mais que foi ela que abriu caminho à ditadura de Salazar, o que não se pode dizer que tenha sido fraca herança. Esperemos que a nossa actual República se porte melhor (mas cuidado!, os tempos são outros e as ditaduras não são as mesmas!).
Gostei de ler obras de várias orientações e com diversas perspectivas. Nunca se fica com uma imagem completa quando se lêem ou se ouvem apenas as razões de um dos lados. Assim, muito boa e bem documentada é a “História da Primeira República Portuguesa”, com coordenação de Fernando Rosas e Maria Fernanda Rollo (de que existem duas edições, ambas da “Tinta da China”). Trabalho que reúne especialistas vários, abordando aspectos diferentes, sempre numa visão republicana e de esquerda actual.

Apreciei bastante “o relato do 5 de Outubro visto pelos monárquicos em 1910”, “Diário dos Vencidos”, de Joaquim Leitão, escritor e jornalista que, com elegância de estilo e um notável e vigoroso sentido da reportagem, foi recolhendo testemunhos que reuniu em livro. (ed. Alétheia)
Curioso, mas deixando algumas dúvidas no espírito, é “O Relato Secreto da Implantação da República feita pelos Maçons e Carbonários”, com organização e prefácio de Costa Pimentel (de quem já havia lido um muito discutível livro em que se procurava demonstrar que Salazar era maçon). Apresenta documentos importantes, mas as conclusões são, no mínimo, incertas. (Ed. Guerra e Paz).

Fernando Catroga editou (na”Casa das Letras”) um texto importante, “O Republicanismo em Portugal, da formação ao 5 de Outubro de 1910”, dando particular atenção a alguns temas essenciais na formação do pensamento republicano, como liberdade, livre pensamento, maçonaria, igreja, mulher, moral, poder, ciência, educação e patriotismo. Proveitosa leitura.
“Como se faz um Povo”, com coordenação de José Neves, acompanhou a exposição “Povo”, reunindo testemunhos diversificados sobre o que é ser “povo”, e sobretudo o que é ser “povo” em Portugal. Para se perceber a identidade que somos ou julgamos ser. (ed. “Tinta da China”).

Muito interessante ainda é “A Crise da República e a Ditadura Militar”, de Luís Bigotte Chorão (Ed. Sextante), que devia ser de leitura obrigatória para quem tanto fala da actual crise. A História não se repete, porque as circunstâncias históricas e a ambiência social se modificam, mas, mas… há tantos aspectos semelhantes!
Depois é sempre um prazer ler o catastrofista Vasco Pulido Valente, que mostra uma inteligência e desapego ao politicamente correcto que deslumbra. Ele arrasa “A Velha Republica” em 130 páginas que não deixam pedra sobre pedra. A acutilância crítica do seu pensamento é fascinante. E perturbadora.
Obra de consulta indispensável é “Lisboa Revolucionária (1908-1975)”, de Fernando Rosas, muito ilustrada e inspiradora, igualmente em duas edições da “Tinta da China”, e vou esquecendo pelo meio algumas outras por onde passei apenas os olhos. Além de alguns excelentes catálogos de várias exposições que se puderam visitar em Lisboa e no Porto.

Mas ficaria mal não referir “Afonso Costa”, de Filipe Ribeiro de Meneses, o historiador português que dá aulas na Universidade Nacional da Irlanda, e que abanou os alicerces da historiografia portuguesa contemporânea com uma monumental biografia de Salazar. O livro sobre Afonso Costa é um volume muito mais pequeno, mas creio ser obra particularmente pertinente para se compreender o homem e o seu tempo. Afonso Costa é uma personalidade particularmente polémica que desperta ódios e paixões invulgares, ainda hoje, tantos anos depois da sua morte. Creio que o olhar de Filipe Ribeiro de Meneses não deixará ninguém indiferente e impõe-se pela seriedade da pesquisa.

Aproveito a deixa para referir igualmente o seu retrato de “Salazar”, cerca de oitocentas páginas de análise e revelações de aspectos da personalidade e da obra do ditador que governou com mão pesada Portugal durante mais de 40 anos. A obra é escrita de forma clara e elegante, que se acompanha com prazer, ostenta o olhar de um historiador de formação anglo-saxónica, que se documenta de forma exaustiva, afastado das paixões políticas que fervilham ainda cá por dentro, e mostra a qualidade do trabalho de alguém que consegue analisar melhor ao longe defeitos e virtudes de um homem que marcou para sempre a história do nosso país em pleno século XX. Há quem diga que é a biografia definitiva. Não sei se será, mas de certeza que passará a ser obra de referência primordial.
(as leituras continuam)

domingo, janeiro 18, 2009

LETRAS NOS PASSEIOS DE LONDRES

Descobri o video no blogue do Frederico
(onde há sempre coisas interessantes para ver).
Vejam também:

sexta-feira, setembro 05, 2008

LIVROS

Algumas (novas) leituras de férias
Nos últimos tempos a minha atenção em relações a livros anda como sempre dispersa. Li um excelente Ivo Andric (nascido em Travnik, 9 de Outubro de 1892; falecido em Belgrado, 13 de Março de 1975), “O Pátio Maldito” (e tenho na mesinha de cabeceira, entre duzentos outros volumes, “A Ponte Sobre o Drina” para atacar). É um Nobel (1961), nascido na Bósnia, romancista e poeta, com apetências políticas que se notam bem em quem o lê. “O Pátio Maldito” fala-nos de uma prisão na Istambul Otomana que tem uma péssima reputação, só comparável à sua realidade. Ali vai parar Frei Petar, um franciscano bósnio, preso por engano e que, de certa forma, é um alter ego do escritor. O que se descobre neste universo concentracionário onde sobrevivem, lado a lado, inocentes e assassinos do pior jaez, violadores, criminosos, conspiradores, adversários políticos e servidores de religiões caídas em desgraça, é de molde a dar uma ideia do que pensa Ivo Andric da condição humana, da possível ou improvável harmonia entre os homens, e da própria região dos Balcãs que tem servido de berço a tanto conflito. Diz Andric: “Se quiseres saber o que vale um Estado e o seu governo, e qual é o seu futuro, é só ver quantos homens honestos e inocentes há nas prisões desse país e quantos criminosos e delinquentes em liberdade”. A escrita de Andric é de uma soberba clareza e de intensidade invulgar. Edição Cavalo de Ferro.

Heinrich Himmler, o comandante das SS, da Gestapo e principal organizador do Holocausto, um dos baluartes do Nacional-Socialismo, pode considerar-se um dos maiores “monstros” que a Humanidade produziu. É verdade, mas quem se ficar por aí fica-se por uma semi-verdade. Esse tal Heinrich Himmler, que mandava “limpar” o “lixo polaco” (mas só os que não podiam trabalhar nas fábricas militares para glória do III Reich, desses era aproveitada a sua força de trabalho, e só depois seriam “limpos”), esse mesmo Heinrich Himmler tinha irmãos, Gebhard e Ernest, tinha mulher e amante, tinha pais e demais família, não descurava os deveres familiares, era amigo dos seus (raros) amigos, de uma lealdade férrea ao seu Fuher, e teve uma sobrinha-neta de nome Katrin Himmler (nascida em 1967), que resolveu investigar a vida da sua família, e escrever um livro sobre “Os Irmãos Himmler”. Quem aprecia livros de terror não deve perder, como também quem gosta de História. Quem se deleita com histórias de grandes famílias com moralidade final a condizer também não dará por mal empregue o seu tempo. Na verdade, a leitura desta obra é terrível: verificar que um homem, mesmo uma família, que acariciava os caracóis nas cabeças dos seus filhos e se sentava com eles à mesa na noite de Natal, que dava grandes passeios pelas montanhas aos domingos, era o mesmo que mandava gazear milhões de seres iguais a ele em campos de extermínio, é algo que ultrapassa o terror gótico. É muito edificativo ler um livro onde um homem igual a qualquer um de nós (enfim, com uma “pancada a mais”, é certo, mas quantos de nós não poderemos ter essa pancada?) se pode transformar num monstro. Os monstros não existem enquanto tal. Não nascem “monstros”. Fabricam-se em laboratórios sociais. Uma mezinha daqui, uma ideiazinha malsã dali, uma frustraçãozinha mais, um pozinho que anda no ar, e um homem vulgar passa a génio do crime.
Diz Katrin: “Sabia sobre Heinrich Himmler, o meu tio. Sabia sobre “o grande assassino do século”, responsável pela exterminação dos judeus na Europa e assassino de milhões de outras pessoas. Identifico-me com as vítimas e sinto vergonha do meu apelido e, de certa forma, uma inexplicável culpa. Mas sempre evitei olhar para a história da minha própria família.” Até ao dia em que resolveu investigar e publicar o que descobriu. Honra lhe seja feita. Com uma família daquelas, haver uma descendente com esta coragem é de sublinhar. Como de sublinhar é a má tradução e a péssima revisão da Edição Caleidoscópio. Era bom que a revissem numa segunda edição (a haver!).
Nunca fui um entusiasta de Yukio Mishima. Não me inspirava nenhuma confiança aquele japonês que se matou num harakiri em honra do seu Imperador, e que tinha um exército particular. Havia o belíssimo filme de Paul Schrader (“Mishima: A Life in Four Chapters”), mas nem esse me convencia muito. Há dias, a Eduarda começou a traduzir uma correspondência entre Mishima e um outro génio da literatura nipónica, Yasunary Kawabata, e deu-nos aos dois um “coup de foudre”. Desatámos a ler Mishima e Kawabata e empolgámo-nos. Eu continuo com reservas quanto ao militarismo e ao lado auto-destrutivo de Mishima, mas “Confissões de uma Máscara” é uma obra-prima (Edições Assírio & Alvim). Por isso comprei, de livraria em livraria, tudo o que havia para ler de Mishima em português e mandei vir mesmo da Amazon uma biografia, um ensaio de Marguerite Yourcenar, e não fiquei por Mishima, alonguei-me por Kawabata, deliciei-me com a elegância da escrita e a sensibilidade de “Terra de Neve” (Edições Dom Quixote) e o atordoante “A Casa das Belas Adormecidas” (Edições Assírio & Alvim). Enfim, refastelado com muita e muito boa literatura.
Como os génios andam por aí à solta, mais do que se julga, em conversa com o entusiástico embaixador brasileiro Lauro Moreira, veio à baila o duplo centenário de Machado de Assis que eu já não lia há muito (desde os meus tempos de universidade). A conversa foi de tal forma empolgante que o apetite foi instantâneo. Regressado a casa, rebusquei uma lindíssima edição antiga de “Quincas Borba” e não a larguei até agora. É uma escrita tremendamente inventiva, irónica, moderna na sua construção. Uma volta pelas livrarias trouxe-me mais algumas relíquias para saborear durante as noites (por isso há pouca produção por estes lados – desculpem os leitores, mas entre ler génios e escrever para o blogue, ainda por cima com o trabalho que tenho entre mãos, não há que hesitar). Mas sobre Mishima e Assis, voltaremos a falar, certamente.

segunda-feira, fevereiro 18, 2008

LIVROS: GORE VIDAL


GORE VIDAL:“NAVEGAÇÃO PONTO POR PONTO”

Gosto de ler biografias, mas prefiro-lhes ainda os livros de memórias. Por quê? A biografia contada pelo próprio é duplamente interessante. Porque, além de ser uma biografia, ou se aproximar disso, relatando aspectos relevantes de uma vida, momentos críticos, situações que merecem, ser recordadas, é ainda particularmente interessante porque revela o que o autor pensa de si próprio e o que quer que os outros pensem dele. Nada numa "memória" é simples, linear, directo. Por que se escolhe para falar de um episódio e se esquece outro?, por que se recorda uma frase e se abafa outra?, porque se relata uma atitude tomada e se não fala de outra? Tudo tem a sua razão de ser. As memórias são selectivas, por muito imparciais que os seus “donos” procurem, honesta e deliberadamente, ser. As "memórias" remetem sempre para uma "pose". É essa pose que me interessa mais. É a faceta mais reveladora de uma personalidade. A pose no retrato. A pose na escrita. A forma como queremos que os outros nos vejam e nos julguem. Muito interessante. Um dia, se tiver tempo, hei-de escrever um livro de "memórias".
Mas por agora refiro-me a um que acabei de ler, “Navegação Ponto por Ponto”, de Gore Vidal. Excelente escritor, excelente memorialista, cheio de um charme muito especial que muitas vezes só os gays sabem ter. Porque são um pouco mais exuberantes, porque tem normalmente uma língua viperina e uma "maldade" crítica sui generis. Estas memórias são para saborear ponto por ponto, sobretudo para quem gosta de cinema, teatro, literatura ou política norte americana.

Gore Vidal teve uma vida agitada e nesta obra aborda os mais variados temas e analisa com um olhar crítico, por vezes fatal, personalidades as mais diversas, desde Jacqueline Kennedy, Tennessee Williams, Eleonor Roosevelt, Orson Welles, Johnny Carson, Greta Garbo, Federico Fellini, Rudolf Nureyev, até Elia Kazan ou Francis Ford Coppola. Homossexual assumido, enfrenta a perca de um amigo (Howard Auster, o seu companheiro de sempre, o homem com quem viveu mais de cinquenta anos) com delicadeza, pudor e subtileza. Com uma escrita elegante, mas nunca de elogio fácil, oferece-nos um retrato brilhante de uma certa época e de uma certa sociedade norte-americana, envolta em humor, ironia e um toque pessoal inimitável. Um belíssimo livro de memórias.
Eduardo Pitta, numa resenha aparecida no “Público”, afirmou certeiramente: “Abarcando os mais de quarenta anos que o escritor viveu em Itália, país onde se fixou em 1963, o frequente recurso ao flashback ilumina algumas zonas de sombra. Num ápice, somos transportados da Roma do imediato pós-guerra para a descoberta precoce do cinema. É hilariante a passagem em que Vidal descreve o dia de 1929 (aos 4 anos, portanto) em que, sentado ao lado dos pais num cinema de St Louis, responde em voz alta à pergunta que uma actriz faz no ecrã... O ritmo mnemónico não poupa nada nem ninguém: o arrivismo da mãe, a zanga com Jackie Kennedy, os engates de rua (onde cabe a explicação do motivo que levou Paul Bowles a fugir para Marrocos), o rapto e assassínio de Aldo Moro em 1978 (mero pretexto para falar das Brigadas Vermelhas), a dor sentida pela morte de amigos muito queridos (entre outros: Susan Sontag, Saul Bellow e Barbara Epstein), o desprezo pela Junta que governa a América - Vidal refere sempre como Junta a tríade formada por Bush, Cheney e Rumsfeld -, as guerras monitorizadas pela CNN a partir dos anos 1990, e assim sucessivamente.”

domingo, fevereiro 17, 2008

LIVROS: ESTE PAÍS NÃO É PARA VELHOS


ESTE PAÍS NÃO É PARA VELHOS,
de Cormac McCarthy

“Concordei com ele quando disse que não havia muita coisa boa para dizer sobre a velhice e ele disse que tinha descoberto uma e eu perguntei o que era. E ele disse: É que não dura muito.” - Cormac McCarthy

Não conhecia nada de Cormac McCarthy (Charles Joseph McCarthy, Jr), até me alertarem para a qualidade de “A Estrada”, e para uma frase sensacionalista do Newsweek: “A cada livro, Cormac McCarthy vai alargando o território da ficção norte-americana.” Talvez por isso recebeu o Prémio Pulitzer em 2007. Já tinha sido “National Book Award for Fiction”, em 1992, por “All the Pretty Horses”. Não era de esperar pouco da sua leitura. E não foi.
Cormac McCarthy nasceu em Providence, Rhode Island, em 23 de Julho de 1933. Estudou na Knoxville Catholic High School, e depois na University of Tennessee, Knoxville, que deixou para ingressar na Força Aérea. Vive presentemente em Santa Fé, perto da fronteira sul dos Estados Unidos, com a terceira mulher e um filho. Foi casado com Lee Holleman (1961, de quem se divorciou em 1961, com um filho, Cullen), com Anne DeLisle (1966, novo divórcio), finalmente com Jennifer Winkley (um novo filho, John).
O seu romance preferido é “Moby Dick”, de Herman Melville. É autor de nove romances (The Orchard Keeper (1965), Outer Dark (1968), Child of God (1974), Suttree (1979), Blood Meridian (1985), All the Pretty Horses (1992), The Crossing (1994), Cities of the Plain (1998) e No Country for Old Men (2005)), dos quais a Relógio D’Água publicou “O Filho de Deus”, “O Guarda do Pomar”, “Meridiano de Sangue” e “Este País não é para Velhos”, este último adaptado ao cinema pelos irmãos Cohen e, nesta altura, à espera da consagração dos Oscars, ao que consta.
No cinema a sua contribuição foi até agora diminuta. Escreveu alguns episódios de uma série, "Visions" (1976), viu adaptado em 2000 “All the Pretty Horses” (Espírito Selvagem), por Billy Bob Thornton (com Matt Damon, Henry Thomas, Penélope Cruz, J.D. Young, Laura Poe, Sam Shepard, etc.), até chegar ao ano de 2007 e ao sucesso de “No Country for Old Men”. Agora tem em produção, duas outras adaptações, “The Road”, numa realização de John Hillcoat, e um elenco onde surgem Charlize Theron, Viggo Mortensen, Guy Pearce e Kodi Smit-McPhee (2008) e “Blood Meridian”, a ser dirigido por Ridley Scott (2009).
Li agora “Este País não é para Velhos”, numa cuidada tradução de Paulo Faria para a Relógio d’Água. Excelente realmente. Um magnifico retrato de um western actual, de uma América de fronteira, não tanto a fronteira dos colonos, mas a fronteira intima entre o Bem e o Mal, entre a generosidade e a ganância, entre a luz e as trevas, entre a (pequena cidade) e o deserto, entre a areia e a água do rio, entre uma certa ingenuidade pacóvia e a maldade mais completa que se torna ininteligível, à força de ser tão abstracta, tão desregrada, tão sem sentido para lá do sentido único do seu exercício quase gratuito.
Um homem que passa pelos arredores de uma cidadezinha americana do Rio Grande do Sul, por entre o deserto e o campo, encontra um carros abandonados, mortos vários, um moribundo que rapidamente passa a cadáver, quantidade de heroína em barda, 2 milhões de dólares numa mala, que resolve tornar sua. Essa mala desencadeia perseguições variadas, entre elas a de um “serial killer” que mata sem emoção. O humano transformado num autómato do Mal, um num “profeta da destruição”, como o xerife da localidade sugere, quando afirma: “Dizem que os olhos são as janelas da alma. Eu cá por mim não sei de que é que os olhos são as janelas e se calhar até prefiro não saber. Mas há uma outra maneira de ver o mundo e outros olhos para o ver e é por esse caminho que nós vamos. Eu próprio o trilhei e conduziu-me a um lugar na minha vida que nunca imaginei chegar a conhecer. Algures por aí anda um profeta da destruição, um profeta genuíno, de carne e osso, e eu não o quero enfrentar.” Um profeta que é melhor não enfrentar. Algo que completamente desumano, uma máquina, um robot, alguém para quem se olha e não se reconhece nele feições de gente. Esta é a América de uma violência traumatizante, desconhecida, perturbante, que é atravessada neste romance nervoso, agressivo, provocador, estimulante que nos recoloca na melhor tradição da literatura norte-americana. Hemingway, sim, pela secura dos diálogos, pela poesia dos cenários, Falkneur, sem dúvida, um pouco da violência ingénua de uns “Ratos e Homens”, mas reciclada para novos continentes de um total desencanto. Depois há quem fale de actuais, como Don Delillo, Philip Roth ou Thomas Pynchon, é possível, sobretudo no retrato de uma sociedade doente, dada num registo sincopado, que mostra as aparências e deixa as chagas soterradas, à espera que o leitor as descubra por si só. Terríveis os tempos que geram obras como estas, de um cinzento pesado, de um ar poluído pelo desespero, de uma humanidade desgarrada e à deriva.
Há personagens absolutamente inesquecíveis, como o assassino Anton Chigurh, ou o julgado esperto Llewelyn Moss, ou o desalentado xerife Ed Tom Bell, que conheceu a II Guerra Mundial, e que tem uma ideia do Vietname e dos EUA muito bem condensada nesra frase: “As pessoas dizem que foi o Vietname que pôs este país de rastos. Mas eu nunca acreditei nisso. O país já estava em muito mau estado. O Vietname foi só a cereja em cima do bolo. (…) Não sei o que vai acontecer quando vier a próxima. Não sei mesmo.” Ora a verdade é que a próxima já chegou e o que os escritores (e cineastas) norte-americanos reflectem é esse “não sei mesmo.” A América na encruzilhada, mas mais do que isso, nós todos na mesma encruzilhada.
Magnífico livro. Fico à espera de um igualmente magnífico filme. Seguramente.

sexta-feira, janeiro 25, 2008

CINEMA: EXPIAÇÃO

EXPIAÇÃO

Muitas qualidades reunidas numa mesma obra fazem um grande filme? Nem sempre. Mas devo confessar também, e desde já, que gostei bastante de “Expiação” (Atonement), não tanto, porém, para o classificar como obra-prima, e para me derreter em elogios (derreto-me com a Keira e com a Vanessa, por motivos diversos, mas ambos igualmente justificados).
Depois de ter realizado, há dois anos atrás, um meritório “Orgulho e Preconceito”, segundo Jane Austen, Joe Wright regressa a um tema semelhante, por igual via, uma adaptação literária de um romance de envergadura. Agora em vez de Jane Austen, Ian McEwan, outro inglês que curiosamente abre esta sua obra com uma citação de Austen. Coerência, portanto, num autor.
Note-se: “autor”, não duvido. Há preocupações constantes que tendem à obsessão de fantasmas privados – mansões antigas exalando felicidade que encerram nos seus sótãos preconceitos, personagens leves como a aragem que as percorre que se precipitam em vendavais de paixões que as conduzem à tragédia; segredos que se expiam e atormentam vidas com memórias dolorosas, mulheres delicadas que sofrem perante a discreta ferocidade de uma sociedade que o homem controla e domina, do alto da sua superioridade senhorial e machista… Depois há uma equipa que funciona coesa (actores e técnicos que passam de filme para filme). Temos portanto o produto típico de um autor absorvido pela fina análise de figuras e situações emblemáticas de uma sociedade circunspectamente conservadora, que irradia uma falsa imagem de harmonia e felicidade, quando no seu seio germina uma violência tensa e um dormente cansaço, o que provoca o plausível aborrecimento dos gémeos que fogem da pasmaceira, o que leva Briony Tallis (Saoirse Ronan), uma miúda de treze anos, a “inventar” peças de teatro que tenta encenar para agitar o marasmo, o que conduz à perversão do que se vê e à invenção de situações “explosivas”, o que precipita esperados acontecimentos dramáticos que depois se calam para não ofuscarem a rigidez moral do ambiente. Com uma única excepção: o filho do empregado da casa, que se prepara para estudar medicina, protegido pelos patrões, mas que apesar de tudo nunca inspira a confiança suficiente para não ser logo acusado e mandado para a prisão na primeira crise que atravessa ocasionalmente.
Briony Tallis, de imaginação florescente, vê através de uma janela da mansão, a irmã mais velha, Cecília (Keira Knightley), despir-se e mergulhar nas águas de um lago, perante o olhar obviamente aturdido e fascinado de Robbie Turner (James McAvoy), que mais tarde não resiste e lhe envia uma carta, interceptada por Briony, onde lhe confessa o seu amor (e mais do que isso o prazer que sente a beijar algumas zonas proibidas da bela inglesa, tudo isto numa linguagem que não fica a dever nada ao vernáculo do célebre amante de Lady Charteley). Acontece que a miúda Briony vive ela também apaixonada pelo garboso futuro médico, que um dia a salva de morrer afogada, e não aceita muito bem esta aproximação, tanto mais que no mesmo dia descobre o casal na biblioteca, bem encaixados em prateleiras de escura e antiga madeira, não propriamente escolhendo o livro para ler ao serão. Quando surge a ocasião para a vingança, não perdoa e acusa Robbie de uma violação que presencia de raspão, mas cuja certeza afiança.
Veja-se como Ian McEwan inicia a sua obra com a descrição da escrita da peça por Briony: “A peça - para a qual Briony tinha desenhado os cartazes, os programas e os bilhetes, construído a bilheteira com um biombo voltado de lado e debruado uma caixa com papel crepe vermelho para recolher donativos - tinha sido escrita por ela num assomo de criatividade que tinha durado dois dias e que a levara a perder um pequeno-almoço e um almoço. Depois de concluídos todos os preparativos, já não tinha mais nada a fazer a não ser rever o manuscrito e esperar pela chegada dos primos que vinham do norte. Só teriam tempo para um dia de ensaios antes de o irmão chegar. A peça, com passagens sinistras e outras desesperadamente tristes, era uma história de amor, cuja mensagem, transmitida num prólogo em verso, era a de que o amor que não estivesse assente numa base de bom-senso estaria condenado. A paixão louca da heroína, Arabella, por um maléfico conde estrangeiro é punida pelo infortúnio de ela contrair cólera durante uma ida impetuosa até uma vila à beira-mar com o namorado. Abandonada por ele, e por quase toda a gente, presa à cama numas águas-furtadas, descobre em si própria um inesperado sentido de humor. A sorte dá-lhe uma segunda oportunidade, sob a forma de um médico pobre que, na verdade, é um príncipe disfarçado que escolheu trabalhar no seio dos mais necessitados. Arabella é curada por ele e, desta vez, faz uma escolha sensata, sendo recompensada pela reconciliação com a família e pelo casamento com o príncipe-médico “num dia de Primavera com muito sol e algum vento” (1).

Mais adiante: “ Ela era uma daquelas crianças possuídas pelo desejo de ter um mundo exemplar. Enquanto o quarto da sua irmã mais velha era um antro de livros espalhados, roupas em desalinho, cinzeiros cheios, com a cama por fazer, o de Briony era um santuário do demónio do controlo: na quinta de brincar montada num parapeito fundo havia os animais do costume, mas estavam todos voltados para o mesmo lado — para o seu dono — como se estivessem prestes a entoar uma canção. Até as galinhas estavam impecavelmente colocadas dentro da cerca. Aliás, o quarto de Briony era o único do andar de cima que estava arrumado. As bonecas, de costas muito direitas, nas múltiplas divisões da sua casinha de brincar, pareciam ter recebido ordens estritas de não tocarem nas paredes; as muitas figuras minúsculas de cowboys, mergulhadores, ratos humanóides, dispostas sobre o seu toucador, faziam lembrar, pela forma como estavam alinhadas e pela distância que as separava, um exército de cidadãos à espera de ordens.
O gosto pelas miniaturas era um dos aspectos de um espírito em ordem; um outro era a paixão pelos segredos: num armário envernizado, que muito estimava, havia uma gaveta secreta que se abria carregando no veio de um entalhe inteligentemente torneado. Era aí que guardava um diário fechado com uma mola e um caderno escrito num código que ela inventara.” (1).
Coisa de miúdos, é certo, mas de miúdos frustrados por educações penosas, mentes retorcidas desde criança. Diga-se que a educação terá particular relevância na definição destes caracteres, mas há predisposição nata para assim se percorrer os corredores da casa, em passo estugado, decidido, curvando nos cantos a noventa graus, progredindo em linha recta até ao objectivo final. Quem assim anda, não pode sofrer desvios ditados pelo destino ou o acaso, sabe o que quer e não gosta de ser contrariado. Quando o é, alguém sofre as consequências. Robbie passa rapidamente de objecto de desejo a desejo de vingança. Lola Quincey (Juno Temple) é surpreendida a ser violada por um vulto, na noite da busca dos gémeos Pierrot (Felix von Simson) e Jackson (Charlie von Simson), e a casta e puritana Briony não duvida um segundo de quem é o violador de que apenas descortinou a silhueta. E impunemente atira para o opróbrio e o calabouço aquele que anteriormente era o encanto dos seus pensamentos. Quando há que encontrar um “culpado” ele terá de ser de outra classe social, tanto mais que o afastamento de Robbie afasta igualmente uma ligação inter-classicista de todo em todo indesejável.

A história começa em 1935, passam-se anos e vem a II Guerra Mundial, a câmara de filmar troca a frívola graciosidade da paisagem da província inglesa pela dantesca visão das praias de Dunquerque, mesmo as belas irmãs enterram as mãos no sangue macerado dos combatentes feridos ou agonizantes que lhes chegam às camas dos hospitais onde são enfermeiras. Quem parte para a frente da batalha não é o proprietário da fábrica de chocolates que prospera com a guerra e por isso é honrado, mas os filhos bastardos da nação. Alguns não voltam, e na Londres de fim de mundo, com os túneis dos metros bombardeados pelos nazis e os ali refugiados a morrer às centenas, afogados nas águas que irrompem em sobressalto, à matéria suficiente para no futuro escritores inspirados inventarem histórias onde a procura da verdade nem sempre coincide com a verdade que se procura. Quando Briony, em 1994, convictamente arrependida do mal que causou e depois de longos anos de expiação, dá uma entrevista à TV (o entrevistador é Anthony Minghella, realizador inglês, amigo de Joe Wright, autor de “Cold Mountain”, que mantém com “Expiação” curiosas afinidades), por altura do lançamento do seu novo romance, inteiramente autobiográfico, onde ela resolve não abdicar sequer de utilizar os nomes próprios e as situações reais, acaba, todavia, por resvalar para a sua proverbial fantasia, que aqui não se revela para não retirar suspense ao que então se divulga. Mas não abdica de impor uma realidade literária, sua, recriada, perante a crueza da realidade real.
“Ao longo destes cinquenta e nove anos (o tempo que medeia entre 1935 e 1994), o problema tem sido este: como é que uma escritora pode fazer a sua expiação se, com o poder absoluto de decidir o final, ela é em certa medida Deus? Não há ninguém, nenhuma entidade, nenhum ser superior a quem ela possa apelar, com quem possa reconciliar-se ou que possa perdoá-la. Não há nada para além dela. Foi ela que marcou os limites e os termos, com a sua imaginação. Não há expiação para Deus, nem para os escritores, mesmo que sejam ateus. É uma tarefa impossível, e a questão é precisamente essa. O que conta é a tentativa.” (1)
Como se vê, “Expiação” é realmente um filme muito interessante, muito curioso ainda ao nível da narrativa (boa e eficaz a adaptação do dramaturgo Christopher Hampton (português, nascido nos Açores, descobri agora), que parte do belíssimo romance de Ian McEwan, e o transfere sem alterar o espírito para o cinema. Consegue proezas dignas de registo, como, logo de início, a forma como nos dá duas versões de um mesmo acontecimento, quando visto, ao longe, através do vidro de uma janela, e quando presenciado e vivido por um dos protagonistas da cena. O processo repete-se com avanços e retrocessos na narrativa, mas talvez já sem a mesma justificação interior, ainda que com resultados interessantes. Reflexão pois sobre a criação artística (ou literária), sobre a procura da verdade, sobre a imposição ou não dessa verdade como prisma de criação.
Falemos ainda do excepcional desta obra: a partitura musical, da responsabilidade do italiano Dario Marianelli, e que mistura, ao longo de quase todo o filme, o matraquear da máquina de escrever com as notas musicais e outros ruídos, para criar um clima absolutamente absorvente e inquietante. Irreal. Boa a fotografia do irlandês Seamus McGarvey que mistura tons quentes e frios, e os altera a seu belo prazer. Veja-se como o verde pode ser, em cenas sucessivas, abrasador como o vermelho mais intenso (o assombroso vestido de Keira Knightley) ou frio e dolorosamente macerado (plano de Briony, aos treze anos a deitar-se num quarto forrado a verde). A realização é sensível, sensual e sumptuosa por vezes, mas deixa uma sensação de “um pouco mais de sol, e seria brasa.” Será que chega para atingir o Óscar de melhor filme do ano? Curioso não estar nomeado para o de melhor realização.

EXPIAÇÃO
Título original: Atonement
Realização: Joe Wright (Inglaterra, França, 2007); Argumento: Christopher Hampton, segundo romance de Ian McEwan; Música: Dario Marianelli; Fotografia (cor): Seamus McGarvey; Montagem: Paul Tothill; Casting: Jina Jay; Design de produção: Sarah Greenwood; Direcção artística: Ian Bailie, Nick Gottschalk, Niall Moroney; Decoração: Katie Spencer; Guarda-roupa: Jacqueline Durran; Maquilhagem: Sarah Jane Cosgrove, Ivana Primorac, Andy Seston, Matthew Smith, Elizabeth Yianni-Georgiou; Direcção de produção: Erica Bensly, Simon Fraser, Deborah Harding; Assistentes de realização: Tom Brewster, David Daniels, William Dodds, Stewart Hamilton, Candy Marlowe, Thomas Q. Napper, Josh Robertson, Michael Stevenson; Departamento de arte: Tim Browning, Laurent Ferrie, Oliver Goodier, Sarah Miller, Adrian Platt, Sarah Stuart, Tom Whitehead, Tracey Wilson; Som: Catherine Hodgson, Becki Ponting, Chris Sturmer; Efeitos especiais: Mark Holt; Efeitos visuais: John Moffatt; Produção: Tim Bevan, Liza Chasin, Richard Eyre, Eric Fellner, Robert Fox, Jane Frazer, Debra Hayward, Ian McEwan, Paul Webster; Companhias de produção: Working Title Films, Relativity Media, Studio Canal.
Intérpretes: Saoirse Ronan (Briony Tallis, 13 anos), Ailidh Mackay, Brenda Blethyn (Grace Turner), Julia West (Betty), James McAvoy (Robbie Turner), Harriet Walter (Emily Tallis), Keira Knightley (Cecilia Tallis), Juno Temple (Lola Quincey), Felix von Simson (Pierrot Quincey), Charlie von Simson (Jackson Quincey), Alfie Allen (Danny Hardman), Patrick Kennedy (Leon Tallis), Benedict Cumberbatch (Paul Marshall), Peter Wight, Leander Deeny, Peter O'Connor, Daniel Mays, Nonso Anozie, Michel Vuillermoz, Nick Bagnall, Charlie Banks, Jamie Beamish, Madeline Crowe, Scarlett Dalton, Michelle Duncan, Matthew Forest, Romola Garai (Briony, 18 anos), Vivienne Gibbs, Olivia Grant, Ben Harcourt, Jack Harcourt, Paul Harper, Mark Holgate, Ryan Kiggell, Katy Lawrence, Neil Maskell, Gina McKee, Anthony Minghella (entrevistador), Jade Moulla, John Normington, Georgia Oakley, Alice Orr-Ewing, Catherine Philps, Jay Quinn, Vanessa Redgrave (Briony Tallis, velha), Bryony Reiss, Jérémie Renier, Kelly Scott, Billy Seymour, Sarah Shaul, Anna Singleton, Richard Stacey, Emily Thomson, Tilly Vosburgh, Ben Webb, etc.
Duração: 130 minutos; Distribuição em Portugal: Lusomundo; Classificação etária: M/12 anos; Locais de Filmagem: Aldwych Underground Station, Aldwych, Holborn, Londres, Inglaterra, Data de estreia: 17 de Janeiro de 2008 (Portugal);

Nomeações para “Expiação” (7): Filme; Actriz Secundária (Saoirse Ronan); Argumento adaptado (Christopher Hampton); Direcção Artística (Ian Bailie); Fotografia (Seamus McGarvey); Guarda-Roupa (Jacqueline Durran); Música (Dario Marianelli).
Muitas hipóteses em música, fotografia e argumento adaptado.

(1) “Expiação”, de Ian McEwan, tradução de Maria do Carmo Figueira, Gradiva, 2002

quinta-feira, janeiro 24, 2008

LIVROS: SÁNDOR MÁRAI, V

AINDA SOBRE SÁNDOR MÁRAI,
“A MULHER CERTA”,
AS DUAS ALEXANDRAS
E O “PÚBLICO”
Já por duas vezes aqui escrevi sobre “A Mulher Certa”, e por quatro sobre Sándor Márai. Serve a presente quinta vez para referir uma excelente aproximação da obra de Márai, aparecida no último “Ípsilon”, suplemento semanal (sai à sexta feira), do jornal “Público”, onde Alexandra Lucas Coelho fala de Sándor Márai e do seu “Inventário de um Mundo”, três páginas que recolhem muita informação sobre o autor húngaro e muitos testemunhos de tradutores da obra deste escritor que “foi famoso, foi esquecido e voltou a ser famoso.” Texto bom de ler, é verdade. Mas, faltava qualquer coisa. Fui descobri-la meia dúzia de páginas à frente, no mesmo suplemento, numa “Viagem de Bolso”, da mesma Alexandra, intitulada “San Diego, 21 de Fevereiro de 1989”. Este sim, um texto assumidamente pessoal, apaixonado e apaixonante, digno do melhor desta Alexandra que conheço desde adolescente, e que sempre me seduziu pela sua inteligência e sensibilidade. Ambas visíveis nesta coluna confessional, onde a jornalista deixa entrever a admiração pelo escritor, pelo seu exílio na América, pelo desgosto profundo (causado pela perca de L., que poderá ter sido a “sua mulher certa”, e do filho adoptivo de ambos, mortos quase em simultâneo), e, finalmente, pelo programado suicídio do escritor que compra uma arma e aprende tiro num treino policial, antes de desferir um golpe certeiro na cabeça. Texto esplêndido, sobre um livro magnífico e um escritor que merece rara estima. Vale a pena ler. (dia 18 de Janeiro de 2007, data do jornal).
Curiosamente, esta Alexandra é amiga, foi colega de estudos, é camarada de profissão e de jornal de uma outra Alexandra (esta Prado Coelho), a quem ofereci no Natal um dos seis exemplares de “A Mulher Certa” que comprei pretendendo difundir o mesmo prazer que eu sentira ao lê-lo, agora estendendo-o a familiares e amigas nessa quadra. O Natal é isto.
Estas Alexandras nunca me enganaram. O “Público” tem coisas de que gosto menos, é certo, mas muitas de que gosto muito. As Alexandras estão neste último caso. Ambas com Márai nos olhos.

domingo, janeiro 20, 2008

LIVROS: A MULHER CERTA

A MULHER CERTA

Há dias disse-vos aqui que andava a ler “A Mulher Certa”, de Sándor Márai Depois de ter lido de Márai “As Velas Ardem até ao fim” (excelente) e “A Herança de Eszter” (bastante bom), “A Mulher Certa” impõe-o como um dos grandes escritores do século passado. Um crime, o silêncio a que foi votado durante todos estes anos.
Quem foi Sándor Márai? Nasceu em 1900, em Kassa, uma pequena cidade húngara que hoje pertence à Eslováquia. Passou um período de exílio voluntário na Alemanha e na França durante o regime de Horthy nos anos 20, até que abandonou definitivamente o seu país em 1948 com a chegada do regime comunista, tendo emigrado para os Estados Unidos. A subsequente proibição da sua obra na Hungria fez cair no esquecimento quem nesse momento era considerado um dos escritores mais importantes da literatura centro-europeia. Foi preciso esperar várias décadas, até à queda do regime comunista, para que este extraordinário escritor fosse redescoberto no seu país e no mundo inteiro. Sándor Márai suicidou-se em 1989, em San Diego, na Califórnia, EUA.
Em 1941, Márai publicou “Az Igazi” (A Mulher Certa), um romance composto por dois longos monólogos. Para a edição alemã de 1949 (“Wandlungen der Ehe”), o autor adicionou uma terceira parte, escrita durante o seu exílio em Itália. Em 1980 rescreveu esta terceira parte, à qual adicionou um epílogo, dando-a à estampa com o título “Judit... és az utóhang” (Judit... e um epílogo). A presente edição lançada em Portugal reúne as quatro partes que constituem este “work in progress”.
Este é um daqueles romances que se lê de um fôlego e se vai deixando de lado para durar. Percebem? Queremos ler rapidamente até ao fim, mas não queremos que acabe. Queremos estar envoltos naquelas palavras, dialogar co aquelas personagens, conhecer a cidade, os locais, mas não queremos que tal acabe já. Quanto mais lemos, mais lamentamos as poucas páginas que faltam. São raros livros assim.
Sandor Marai é escritor elegante de palavra, subtil na anotação, lança-se na psicologia das personagens com agilidade e sabedoria, cruza o romance histórico e a meditação filosófica, oferece-nos uma Budapeste que se entranha, fala-nos da guerra e da política, do horror e do amor, e, no final, suicida-se no exílio. Não há salvação? Será mesmo este um pessimista desesperado? Pelas páginas de “A Mulher Certa” perpassa um pouco (ou muito) da condição humana, mas a forma como Sandor Marai escreve, por si só, é motivo suficiente para acreditar. Se não for em nada mais, na arte da utilização da palavra.
Numa cafetaria de Budapeste, uma mulher, nova, bonita, desejável, relata a uma amiga como descobriu que o marido a traía com a recordação de alguém que ficara para trás na sua vida. Conta como o tentou reconquistar em vão e como tudo se precipitou para o divórcio. Na mesma cidade, o marido dialoga, mais tarde, com um amigo, e explica como o seu casamento, que tinha tudo para ser feliz, ruiu e ele se deixou levar por uma paixão antiga. Funesta. No terceiro monólogo, numa pequena pensão romana, entra a segunda mulher desse homem a confessar a um amante como foi a sua vida com o marido. Desde ressentimento e vingança, passando por uma luta de classes que se insinua nas relações amorosas, até chegar à história íntima de Budapeste esventrada por várias guerras, há de tudo, com ferocidade e raiva. Finalmente, anos depois, num bar de uma cidade americana, fala-se de jazz e de um exilado húngaro. Marika, Péter e Judit descrevem com realismo e uma desencantada tristeza a falência das suas relações. Não há mulher certa, como não há amor que resista, como não há felicidade possível. Uma obra de uma terrível solidão, de total desencontro com a vida, mas onde, apesar de tudo, se respira.
No Natal, ofereci este livro, que foi dos que mais me tocou nos últimos tempos, a várias familiares e amigas (calhou serem só mulheres, é certo!). Veremos a reacção das que leram.

APRESENTAÇÃO DE LIVRO EM BRAGA


O Instituto Confúcio da Universidade do Minho
Apresenta o livro (e ciclo)

ZHANG YIMOU
de Lauro António
5 dias, 5 filmes - ciclo de cinema de Zhang Yi MouCPII - U.Minho - Braga,entre segunda-feira, 21-01-2008 e sexta-feira, 25-01-20085 dias, 5 filmes - ciclo de cinema de Zhang Yi Mou 21 a 25 de Janeiro 2008, 18h00, Anfiteatro B1, Complexo Pedagógico II, Campus de Gualtar
Decorre no próximo dia 21 de Janeiro, pelas 17h30, no Anfiteatro B1 do Campus de Gualtar, em Braga, o lançamento de uma monografia sobre o cineasta chinês Zhang Yimou, da autoria do cineasta português Lauro António. O lançamento desta obra conta com o apoio do Instituto Confúcio da Universidade do Minho e marca o início de um ciclo de cinema do mesmo cineasta chinês, com uma apresentação sobre a obra lançada, a obra de Zhang Yimou e as películas a apresentar durante o referido ciclo.
Durante a sessão será serviço chá chinês ''O Segredo da Flor''.

Nascido em Xi?an, China, em 1951, Zhang Yimou é um dos melhores realizadores chineses da 5ª Geração, respeitado e reconhecido um pouco por todo o mundo.
Tendo alcançado o sucesso da crítica cinematográfica e comercial muito cedo, Zhang Yimou é hoje em dia um dos realizadores mais influentes no mundo do cinema, contando já com inúmeras nomeações e prémios para filmes como ''Ju Dou'', ''Esposas e Concubinas'', ''Herói'', ''Nem um menos'', ''Casa dos Punhais Voadores'', entre outros.
Um dos fins estatutários do Instituto Confúcio da Universidade do Minho é a promoção de actividades culturais relacionadas com a China que elevem o interesse público pela sua história e cultura, designadamente ao nível da literatura, história, arte, filosofia, sociedade e economia, e ciência e tecnologia, através de actividades que podem incluir cursos intensivos, conferências, seminários, exposições e ciclos de cinema.
Esta iniciativa resulta não apenas do interesse cultural em si do(s) evento(s), mas também da auto-exigência de promover e aproveitar todas as oportunidades de cooperação entre discentes e docentes da Licenciatura de Estudos Orientais, e entre os mesmos e o Instituto Confúcio. A proposta de organização deste ciclo de cinema partiu de uma aluna da Licenciatura em Estudos Orientais, tendo o Instituto decidido agarrar a ideia com ambas as mãos, agendando e cabimentando a iniciativa para o Plano e Orçamento de 2008.

Filmes do Ciclo de Cinema
(todas as sessões têm início pelas 18h e decorrem no Anfiteatro B1, Campus de Gualtar)

- Herói, 21 de Janeiro, 2.ª feira;
- O segredo dos punhais voadores, 22 de Janeiro, 3.ª feira;
- Nem um menos, 23 de Janeiro, 4.ª feira;
- Caminho Solitário, 24 de Janeiro, 5.ª feira;
- A Maldição da Flor Dourada, 25 de Janeiro, 6.ª feira.


(Notas fornecidas pelo Instituto Confucio)