terça-feira, dezembro 08, 2020

TELEVISÃO: GAMBITO DE DAMAS

 


GAMBITO DE DAMA


Devo dizer, á abrir, que adoro jogar, das mais simples paciências às máquinas de casino, mas o xadrez nunca me motivou. Quase nada sei desse jogo e uma série de sete episódios, com seis horas e meia de duração sobre uma campeã de xadrez, não me dizia muito. Ouvi e li algumas boas referências e lá me aventurei. O primeiro episódio, com a juventude de Beth Harmon num asilo para órfãs, e com os contactos iniciais da miúda com o jogo que iria dominar como (quase) ninguém, os seus jogos imaginários com as figuras a evoluírem no tecto da camarata, não me deixaram um grande entusiasta. Mas insisti e a partir do segundo episódio tornei-me viciado, tal a forma como a obra se foi adensando e criando um clima absorvente.

Manter uma série sobre xadrez durante sete episódios de quase uma hora cada um, é obra. Os argumentistas e o realizador Scott Frank conseguem-no e a actriz protagonista, Anya Taylor-Joy, aguenta com bravura uma obra em que praticamente está sempre em cena, confrontada com um elenco todo ele eficaz e competente. Uma biografia bem desenvolvida, com nuances mais ou menos esperadas, com altos e baixos, é certo, mas ascendente até ao duelo final com o campeão do mundo da URSS.

Uma mulher num meio que durante muito tempo foi um universo masculino. Uma mulher que começa a defrontar os grandes campeões nacionais e internacionais com uma idade de apenas menina adolescente, mas já senhora de uma fortíssima personalidade para o jogo. Uma excelente série que mostra como a resiliência e a persistência são necessárias em todas as vitórias humanas. Vale a pena ver, na Netflix.

 

GAMBITO DE DAMA

Título original: The Queen's Gambit

Realização: Scott Frank (EUA, 2020); Argumento: Scott Frank, Allan Scott, Walter Tevis; Produção: Mick Aniceto, Laura Delahaye, Blair Fetter, Scott Frank, William Horberg, Allan Scott, Susan Hsu, Marcus Loges, Pia Schlipphak, Uwe Schott;  Música: Carlos Rafael Rivera;  Fotografia (cor): Steven Meizler;  Montagem: Michelle Tesoro;  Casting: Anna-Lena Slater, Tina Gerussi, Ellen Lewis, Olivia Scott-Webb, Kate Sprance; Design de produção: Uli Hanisch ;  Direcção artística: Kai Koch, Brendan Smith, Daniel Chour, Thorsten Klein;  Decoração: Sabine Schaaf, Ingeborg Heinemann;  Guarda-roupa: Gabriele Binder;  Maquilhagem: Daniel Parker, Jenna Smith, SJ Teasdale, Chris Lyons; Direcção de Produção: Timo Dobbert, Em Hipp, Anna Lisa Kunkel, Alisia Manuguerra, Meret Wagner, Marc Grewe; Assistentes de realização: Gabrielle Beaty, Mathias Datow, Carlos Fidel, Hélène Irdor, Tommy Kreiselmaier, Aldric La'auli Porter, Henriette Rodenwald, Clara von Arnim, Nico Markert, Drew McLean; Departamento de arte: Anna Brauwers, Sophia Burkardt, Ron Büttner, Aylin Englisch, Lea Gabler, Karolin Leshel, Wilko Drews, Christian Meinherz, Florian Radloff, Niklas Schmidt, Tobias Schroeter, Raymond Boy, Michael Düwel, etc. ; Som: Patrick Cicero, Leo Marcil, James David Redding III, Gregg Swiatlowski, Nicole Tessier, Wylie Stateman; Efeitos visuais: Holli Alvarado, Clara Hill, Patrick D. Hurd, Sam Kim, John Mangia, Nicole Stone;  Companhias de produção: Flitcraft, Wonderful Films, Netflix; Intérpretes: Anya Taylor-Joy (Beth Harmon), Chloe Pirrie (Alice Harmon), Bill Camp (Mr. Shaibel), Marielle Heller (Alma Wheatley),  Marcin Dorocinski (Vasily Borgov), Thomas Brodie-Sangster (Benny Watts), Moses Ingram,  Harry Melling, Isla Johnston,  Dolores Carbonari,  Janina Elkin, Matthew Dennis, Russell Dennis Lewis,  Patrick Kennedy, etc. Duração: 393 minutos; Distribuição em Portugal: Netflix; Classificação etária: M/ 12 anos; Data de estreia em Portugal: 2020.

domingo, dezembro 06, 2020

CINEMA: UMA VIDA À SUA FRENTE

 


UMA VIDA À SUA FRENTE

Edoardo Ponti (Genebra, 1973), um dos filhos do casal Sofia Loren/Carlo Ponti, convenceu a mãe a regressar ao cinema, aos 86 anos, para interpretar “La vita davanti a sé”, um romance de Roman Gary que já havia sido alvo de uma adaptação ao cinema, em 1977, por Moshé Mizrahi, com Simone Signoret na protagonista. A obra arrebatou o Oscar de Melhor Filme em Língua não Inglesa. Edoardo Ponti já havia trabalhado com a mãe em dois outros trabalhos, “Il Turno do Notte lo Fanno le Stelle” (2012) e “Voce Humana (2014).

O romance de Roman Gary fala de uma judia, Madame Rosa, sobrevivente de Auschwitz, prostitua retirada, que agora se entretém a tomar conta de filhos de outras prostitutas. Simpática, mas isolada nos seus pensamentos, com amigos dispersos pelo bairro que habita, Madame Rosa vê-se confrontada com um miúdo, emigrante árabe, irrequieto e dado à clandestinidade (vende droga para um “barão” do bairro), que lhe é entregue por um velho médico seu amigo. De início as coisas não corem bem, depois começam a conhecer-se melhor. Momo, o miúdo, percebe porque razão Rosa se isola e se refugia no extremo de um longo corredor quase em ruinas e, no final, tornam-se bons amigos. A ideia é estafada, de tão gasta (os opostos que acabam respeitando-se), mas sabe sempre bem, sobretudo em data natalícia.


O filme é escorreito, sem nada que o dignifique de um ponto de vista cinematográfico, mas tem uma interpretação muito boa, com um belíssimo elenco, à frente do qual a veterana Sofia Loren, que sabe sempre bem ver, mesmo com 86 anos, sobretudo com 86 anos, e o bom estado em que se contra. Mas o puto Ibrahima Gueye não lhe fica atrás e dá excelente réplica à magnifica Loren.

Nada de muito especial, não fora a presença dos actores. Mas por isso vale a pena. E a mensagem pacifista, sendo um pouco ingénua, também não calha mal, mesmo tendo em conta o conflito israelo-árabe que nunca mais termina. Nem com os esforços da família Ponti.

UMA VIDA À SUA FRENTE

Título original: La vita davanti a sé

Realização: Edoardo Ponti (Itália, 2020); Argumento: Ugo Chiti, Fabio Natale, Edoardo Ponti, segundo romance de Romain Gary; Produção: Viola Calia, Marco Camilli, Carlo Degli Esposti, Geralyn White Dreyfous, Giacomo Maraghini Garrone, Patrizia Massa, Davide Nardini, David Paradice, Luigi Pinto, Edoardo Ponti, Guendalina Ponti, Susan Rockefeller, Regina K. Scully, Nicola Serra, Esmeralda Swartz, Lynda Weinman, Jamie Wolf; Música: Gabriel Yared; Fotografia (cor): Angus Hudson; Montagem: Jacopo Quadri; Casting: Chiara Polizzi; Design de produção: Maurizio Sabatini; Direcção artística: Maurizio di Clemente; Maquilhagem: Frédérique Foglia; Direcção de Produção: Diego Cavallo, Fabio Marini; Assistentes de realização: Deborha Brandonisio, Irene Campana, Alessandro Trapani, Clara Zuliani; Departamento de arte: Leonardo Cruciano, Antonio Murer, David Orlandelli; Som: Maximiliano Angelieri, Maurizio Argentieri, Andrea Dallimonti, etc. Efeitos especiais: Pasquale Catalano, Paolo Galiano, Fabio Traversari; Efeitos visuais: Mattia Donelli, Valentina Girolami, Alessio Oliverio, Lorenzo Schiattarella; Companhias de produção: Palomar, Netflix; Intérpretes: Sophia Loren (Madame Rosa), Ibrahima Gueye (Momo), Renato Carpentieri (Dr. Coen), Iosif Diego Pirvu (Iosif), Abril Zamora (Lola), Babak Karimi (Hamil), Malich Cissé (Nala), Massimiliano Rossi, Vittoria Loiacono, Cesare Pastanella, Costanta Fana Pirvu, Rav Mario Sonnino, Simone Surico, Nicola Valenzano, Francesco Cassano, etc. Duração: 94 minutos; Distribuição em Portugal: Netflix; Classificação etária: M/ 13 anos; Data de estreia em Portugal: 13 de Novembro de 2020.