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segunda-feira, julho 09, 2007

VAVADIANDO COM EURICO GONÇALVES

VÁ.VÁ.DIANDO
8 º J A N T A R
D A T E R T Ú L I A

PRÓXIMA QUARTA-FEIRA

11.07’07: 20H
R E S T A U R A N T E - C A F É V Á V Á

CONVIDADO ESPECIAL:
EURICO GONÇALVES
PINTOR, CRÍTICO, SURREALISTA-ZEN

DEPOIS DE RAUL SOLNADO, FERNANDO DACOSTA, NUNO JÚDICE, TEOLINDA GERSÃO, IVA DELGADO, LIDIA JORGE e MARIA DO NA MEHOR TRADIÇÃO DAS TERTÚLIA DO CAFÉ-RESTAURANTE VÁVÁ.

EURICO GONÇALVES, PINTOR, CRÍTICO DE ARTE, ENSAISTA, SURREALISTA ZEN, E TUDO O MAIS, ESTARÁ NO CENTRO DE MAIS UMA TERTÙLIA.

TODOS ESTÃO CONVIDADOS MEDIANTE O PAGAMENTO DE UMA SIMBÓLICA QUANTIA: 12,5 EUROS POR PESSOA. COM DIREITO A SOPA, UM PRATO DO DIA, PEIXE OU CARNE, SOBREMESA, BEBIDA (VINHO É O DA CASA!) E CAFÉ. EXTRAS POR CONTA DO FREGUÊS.

RECUPEREM O BOM GOSTO DE UM SABOROSO JANTAR E DE UMA RECONFORTANTE CONVERSA À RODA DA MESA.
[ LOTAÇÃO LIMITADA A 50 CADEIRAS. ACEITAM-SE INSCRIÇÕES NO BALCÃO DO VÁVÁ. ]

Para informações e marcações de lugares:
LAURO ANTÓNIO / [ Blogue Va.Va.diando (http://vava-diando.blogspot.com/ ] [ mail: laproducine@gmail.com ]

RESTAURANTE - CAFÉ VÁVÁ AV. EUA, Nº 100 - 1700-179 – LISBOA (TELF 21.7966761)

sexta-feira, junho 22, 2007

O CAFÉ COMO TERTÚLIA


O café, enquanto local, e não só chávena, e não só bebida, refere duas realidades, ambas de agradável evocação: a bica, que se toma, e a tertúlia de amigos com quem se fala, enquanto se bebe a primeira.
Muitos escritores têm relembrado, em saborosos textos, tertúlias célebres ao longo das décadas. Não vem ao caso historiar, mas Lisboa esteve bem provida destes locais de referência obrigatória, e não há certamente quem ignore o papel do Martinho da Arcada, da Brasileira do Chiado, do Nicola, do Café Gelo, do Monte Carlo, do Ribadouro, de tantos e tantos outros. Escritores e pintores deixaram marca num local, actores e encenadores eram habituais noutros, os cinéfilos reuniam-se sobretudo no antigo VáVá, mesas pegadas com cançonetistas e baladistas dos idos de 60, e, antes do 25 de Abril, políticos e "gente do reviralho", como então eram chamados os opositores ao regime, apareciam um pouco por todo o lado, acumulando funções na maioria dos casos.
Os cafés eram locais de encontro, logo depois do almoço, e antes de se entrar no trabalho, ou a seguir ao jantar, prolongando-se então a cavaqueira pela noite dentro, até que as portas do café fechassem, e muitas vezes até para lá do seu encerramento. Nunca antes das duas ou três da matina. Muitos artigos se escreveram, muitos romances e poemas se pensaram, muitos espectáculos se montaram, muitos filmes se idealizaram, muitos quadros adquiriram ali cores e formas, muitos governos cairam e muitos outros se formaram à mesa de um café de Lisboa, do Porto, de qualquer cidade do interior de Portugal.
Não havia ainda televisão em doses industriais, para agarrar audiências pelos processos mais singulares; não havia as drogas pesadas a influir negativamente nos horários dos donos dos cafés, que se querem ver livres de tão ingratos clientes, e fecham muito mais cedo; não havia a ameaça da violência urbana que apesar de tudo pesa sobre o comportamento de muita gente que prefere a segurança do lar à incerteza das ruas; nem havia, sobretudo, estes mercantis balcões de agora, onde as pessoas tomam apressadamente café, enquanto outras comem sofregamente uma sopa e pastelinhos de bacalhau, bifanas ou mesmo "pratinhos" de feijoada à transmontana, antes de regressarem ao seu balcão no centro comercial, ou ao escritório.
Dos meus tempos de Universidade, relembro cafés inesquecíveis. Desde logo, o bar da Faculdade de Letras, onde se estudava a vida, quando se faltava às aulas, para se discutir um filme, uma peça de teatro ou um livro, onde se tentava mudar o mundo à medida dos nossos sonhos, ou simplesmente se namorava uma colega, quando o tempo não estava de molde a poder-se sair com ela até ao verde do estádio universitário.
Depois, à tarde e à noite, estudavam-se as matérias, em mesas de outros cafés, por apontamentos emprestados por quem assistira ao verbo do Professor. Por mim, que morava então em casa de meus pais, na Av. EUA, os mais utilizados eram o Nova Iorque, hoje transformado em banco, e a Grãfina. Mas muitas noites as passava também entre o Monte Carlo e o Monumental, espreitando actores e actrizes com quem se procurava meter conversa, ou sendo lentamente prefilhado por tertúlias de escritores, jornalistas, pintores e excentricos avulso.
Pouco a pouco, fui subindo avenida acima, até ao VáVá, que então tinha bilhares e cave, e não era ainda metade banco e metade pastelaria. Ali se reunia o grupo de cinéfilos, que observava de longe, e o dos cantores, que ouvia na rádio e muito pouco na tv estatal. Com breves incursões pela Suprema, pela Sul-América e pelo Luanda, adoptei o Vává como segunda casa, ali fiz amizades e vi partir amigos, ali conheci amores e desamores, ali escrevi e li, ali pensei guiões e filmes, dali parti com equipas de filmagem para a serra da Estrela, para Sintra, para o Alentejo, ali filmei mesmo uma sequência de um deles, ali vi rodar alguns outros, ali me despedi do 24 e ali saudei o 25, há quem diga que ele é a minha sala de jantar (quanto muito seria a de almoçar, quando não está em obras), e o meu escritório.
O Vává foi mudando com os anos, deixando sempre saudades do velho Vává, de maples de cabedal castanho encostados às paredes, de luz difusa e discreta, de acolhedor conforto. Ali conheci o Manuel Guimarães, que seria meu padrinho de casamento e padrinho cinematográfico, cedendo-me umas bobines de película virgem do seu derradeiro "Cântico Final" para eu realizar uma das minhas primeiras curtas metragens; ali conheci melhor o Manuel de Azevedo, o Villas-Boas, o Rafael, o Pinto Bandeira, o Manuel Costa e Silva, o Sam, o Pedro Bandeira Freire, o João Maria Tudela, o Fernando Tordo, o Paulo de Carvalho, o Carlos Mendes, o Fernando Silva, o Mário Damas Nunes, a Acácia Thiele, o Camacho Costa; ali continuo a encontrar a Mary, a Isabel Lajinhas, a Manuela Pinheiro, o Fanan, o Mário, o Rangel, e tantos outros, alguns deles agora já acompanhados das respetivas e respectivos, com a prole a gatinhar por entre mesas e cadeiras, ganhando já, se calhar, o mesmo "vício" de ali se encontrarem no futuro; por ali passam também personagens bizonhas de tristes recordações, ali ficam suspensas memórias efémeras ou persistentes, ali se discute o presente do cinema, do xadrês, da televisão e da canção portuguêses, ali se dabate o futuro da TAP, ali se comentam, à segunda-feira, os "roubos" dos árbitros, invariavelmente a prejudicarem o Sporting e a beneficiarem quem se sabe, por lá passa ja feito homem o Frederico, que antigamente vinha do colégio, e aqui tomava a Cola e comia o bolo da praxe,e que agora volta para a sua casa, ali continuo a descer com a Eduarda para tomar o café, antes de ir para o cinema ou de regressar a casa, para um serão televisivo.
Os cafés de Lisboa tendem a desaparecer, e os que restam são já sombras de um passado que procuramos apesar de tudo manter vivo, contra a arremetida das leis inexoráveis do comércio, da cobiça dos bancos, do poder da televisão, da proliferação de bares e discotecas. São alias, os bares e as discotecas que, de certa forma, vieram a ocupar o lugar desempenhado pelos cafés, reunindo tertúlias de amigos, agora ao som da música de momento. Até esta tranferência é significativa da mudança dos tempos. Em lugar do café, bebe-se wishky ou vodka; em vez do esperguiçar do pensamento em redor da bica bem quente, gritam-se frases rápidas por entre dois compassos mais trepidantes. Nem melhor, nem pior.

Restam-nos, igualmente, as tertúlias recuperadas por tanto lado (como sabem também no Vává) e as novas tertúlias inventadas na blogosfera. "Tudo é feito de mudança", como dizia o poeta. "A nostalgia não é deste mundo", como explicava Signoret. E as bicas bem quentes continuam a incendiar a imaginação dos poetas.

MARIA DO CEU GUERRA

dia 27

no VÁVÁ.DIANDO

Não esquecer: a próxima tertúlia é dia 27 de Junho, jantar às 20,00, com Maria do Céu Guerra.

NOTA: Durante os últimos dias foram surgindo aqui textos que previamente deixei prontos para postar, mas eu andei por terras de Vera Cruz, pelo que não respondi a ninguém. A partir de dia 23 voltarei (se os aviões e as greves de controladores nos aeroportos brasileiros o permitiorem). Beijos e abraços, conforme os casos.

sábado, maio 05, 2007

PRÓXIMOS VAVA.DIANDO



ATENÇÂO BLOGUISTAS DA ÁREA

DE LISBOA E ARREDORES

DIA 19.05.07

CONVERSA SOBRE BLOGOSFERA

ALMOÇO

E TARDE DE CAVAQUEIRA

NO VÁVÁ

sexta-feira, maio 04, 2007

IVA DELGADO VAVA.DIANDO

IVA DELGADO FALA
DAS ELEIÇÕES DE 1958
E DE SEU PAI, HUMBERTO DELGADO


Casa cheia para ver e ouvir Iva Delgado,
no Vává, em Lisboa, na noite passada.
Uma comunicadora nata,
numa lição de História ao vivo.
A simpatia e a eficácia
de uma contadora de histórias da História.

sexta-feira, abril 27, 2007

VáVá.diando, com Teolinda Gersão

TEOLINDA GERSÃO


NO VÁVÁ, EM TERTÚLIA


Um dia peguei num livro, um romance com um título que me cativou, “A Casa da Cabeça de Cavalo”, trouxe-o para casa e li-o de um fôlego. Tão impressionado fiquei que, não conhecendo eu pessoalmente a escritora, maneira arranjei para lhe telefonar a dizer o quanto gostara do livro e o muito que desejaria de o fazer também meu, adaptando-o a cinema.
O livro foi para mim a descoberta de uma voz nova no espaço da literatura portuguesa, mais uma vez a voz de uma mulher, mais uma vez uma descoberta inesperada por diversas razões. Já sabia da admiração de Vergílio Ferreira por Teolinda Gersão. Sabida a minha paixão por Vergílio Ferreira, fácil seria supor que Teolinda me deveria prender. Mas sou pessoa de só reagir por experiência própria – a leitura do romance, confirmou completamente as recomendações de Vergílio Ferreira.
A conversa com Teolinda fez crescer ainda mais a minha admiração pela romancista, mas também pela mulher: a voz macia e doce, o olhar terno, a delicadeza dos gestos, e por trás de tudo isso o vislumbre de uma vontade destemida, uma força com algo de telúrico que o sorriso apenas escondia, mas que qualquer bom observador pressente. Se gostara desse romance desde que comecei a sua leitura, gostei da autora desde que a conheci. Creio que passámos a gostar um do outro desde esse dia, e algumas vezes mais nos encontramos ao longo dos anos. Nomeadamente no Famafest, de que foi membro de Júri Internacional já por duas vezes. Encontros, no entanto, demasiados espaçados para colmatarem a alegria de estar com ela, de a ouvir discretamente discorrer sobre a vida, com a mesma discrição que escreve os seus romances e contos.
Um dos aspectos mais interessantes da escrita e do estilo de Teolinda Gersão, será o facto da autora nos habituar a relatos de quotidiano, envolvidos numa delicada sensibilidade, onde as palavras vulgares do dia a dia se bastam, pela mestria com que são usados, para nos descrever emoções e paixões, mesmo em violento e nervoso confronto. Teolinda nunca abandona a suavidade da escrita, mesmo quando por detrás dela perpassam os mais violentos dramas, as tragédias mais extremadas. Esta aparente discrepância entre a tensão interna dos conflitos e das personagens e a “normalidade” das palavras que os descrevem tornam ainda mais grave e insuportáveis certas situações narradas. Neste aspecto, “A Casa da Cabeça de Cavalo” é um exemplo magnífico do que pretendo dizer, ao desenhar a existência de uma família, apalaçada e senhorial, em finais do século XIX, no Norte de Portugal, mas perpassa por toda a sua obra, agora reconfirmado com o excelente volume de contos a que deu o título de “A Mulher que Prendeu a Chuva”, onde me volteia apaixonar por um conto, que não digo qual, pois quando falo de projectos antes destes estarem concretizados, ficam pelo caminho. A ver vamos se com secretismo se concretizam.

quarta-feira, abril 25, 2007

TEOLINDA GERSÃO; HOJE

Hoje, dia 26 de Abril, pelas 20,00 horas

no Café-Restaurante VáVá, em Lisboa,

mais um jantar-tertúlia, desta vez com a presença de

Teolinda Gersão, escritora

(autora do recente "A Mulher que prendeu a Chuva",

e de João Rodrigues, editor (Sudoeste Editora).

TEOLINDA GERSÃO


DADOS BIOGRÁFICOS

Teolinda Gersão nasceu em Coimbra, estudou Germanística e Anglística nas Universidades de Coimbra, Tuebingen e Berlim, foi Leitora de Português na Universidade Técnica de Berlim, docente na Faculdade de Letras de Lisboa e posteriormente professora catedrática da Universidade Nova de Lisboa, onde ensinou Literatura Alemã e Literatura Comparada até 1995.A partir dessa data passou a dedicar-se exclusivamente à literatura.
Além da permanência de três anos na Alemanha viveu dois anos em São Paulo, Brasil, (reflexos dessa estada surgem em alguns textos de Os Guarda-Chuvas Cintilantes,1984), e conheceu Moçambique, cuja capital, então Lourenço Marques, é o lugar onde decorre o romance de 1997 A Árvore das Palavras.
Escritora residente na Universidade de Berkeley em Fevereiro e Março de 2004.

BREVE COMENTÁRIO SOBRE A OBRA:
Os seus livros retratam aspectos da sociedade contemporânea,mesmo quando a acção é transposta para uma época diferente. A problemática das relações humanas,a dificuldade de comunicar, o amor e a morte,opressão e liberdade,identidade,resistência, criatividade,são alguns dos temas focados.Outro aspecto central é a atenção dada ao tempo : quer se trate do tratamento do tempo na própria estrutura narrativa,quer seja o tempo histórico em que a acção decorre : a ditadura de Salazar em Paisagem com Mulher e Mar ao Fundo, os anos vinte em O Cavalo de Sol,o século XIX em A Casa da Cabeça de Cavalo, os anos cinquenta e sessenta em Lourenço Marques em A Árvore das Palavras. Os factos históricos são todavia encarados numa perspectiva que transcende a sua época e os situa em ligação com a actualidade.

LIVROS PUBLICADOS:
O SILÊNCIO (Romance), 1981, 4ª edição 1995
PAISAGEM COM MULHER E MAR AO FUNDO (Romance), 1992,4ª edição 1996.
HISTÓRIA DO HOMEM NA GAIOLA E DO PÁSSARO ENCARNADO (literatura infantil), 1982 (esgotado)
OS GUARDA-CHUVAS CINTILANTES (Diário Ficcional) 1984,2ªedição 1997
O CAVALO DE SOL (Romance),1989 ; edição Dom Quixote-Planeta 2001
A CASA DA CABEÇA DE CAVALO (Romance),1995,2ª edição 1996 ;
edição em Braille,1999
A ÁRVORE DAS PALAVRAS (Romance),1997
edição especial,com 50 ilustrações de Maia, 2000 ; 2ª edição, 2001
edição Dom Quixote- Círculo de Leitores 2001
edição Dom Quixote-Visão 2003
OS TECLADOS (Narrativa),1999 ,2ªedição 2001;edição em Braille,2003
OS ANJOS (Narrativa) , 1ª e 2ª edição 2000
HISTÓRIAS DE VER E ANDAR (contos) ,1ª e 2ª edição 2002
O MENSAGEIRO E OUTRAS HISTÓRIAS COM ANJOS (contos) 2003
Uma versão teatral de OS TECLADOS foi representada no Centro Cultural de Belém em 2001,com encenação de encenação de Jorge Listopad.
Uma versão teatral de OS ANJOS foi representada em 2003 pelo grupo de teatro O Bando,com encenação de João Brites.
Uma versão teatral em língua romena de A CASA DA CABEÇA DE CAVALO vai ser representada em Bucareste em Abril de 2004.
A MULHER QUE PRENDEU A CHUVA (Contos), 2007, Ed. Sudoeste Editora.

PRÉMIOS LITERÁRIOS:
O SILÊNCIO – Prémio de Ficção do Pen Club,1981
O CAVALO DE SOL- Prémio de Ficção do Pen Club,1989
A CASA DA CABEÇA DE CAVALO – Grande Prémio de Romance e Novela da Associação Portuguesa de Escritores,1995.
“shortlisted” para o Prémio Europeu de Romance Aristeion em 1996
OS TECLADOS – Prémio da Crítica da Association Internationale des Critiques Littéraires, 1999.
Prémio Fernando Namora,1999
HISTÓRIAS DE VER E ANDAR – Grande Prémio de Conto Camilo Castelo Branco,2002.

quarta-feira, abril 11, 2007

POESIA, NUNO JUDICE, HOJE

NUNO JÚDICE

Falar de Nuno Júdice é difícil. Falar de Poetas é sempre difícil. Há elementos factuais que se podem dizer.
Nasceu em 1949, em Mexilhoeira Grande (Algarve). Formou-se em Filologia Românica pela Faculdade de Letras de Lisboa e é Professor Associado da Universidade Nova de Lisboa, onde se doutorou em 1989 com uma tese sobre Literatura Medieval.
Tem publicado estudos sobre teoria da literatura e literatura portuguesa. Publicou antologias, como a da Poesia do Futurismo português, edições críticas como a dos Sonetos de Antero de Quental e tem uma colaboração regular em jornais e revistas com críticas de livros e crónicas.
Colaborou em acções de divulgação cultural, como as "Letras Francesas" (1989), com uma apresentação de autores franceses contemporâneos, e organizou a "Semana Europeia de Poesia" no âmbito de Lisboa Capital Europeia da Cultura (1994).
Foi o comissário para a área da Literatura de "Portugal como país-tema da 49ª Feira do Livro de Frankfurt", em 1997.
O seu primeiro livro de poesia data de 1972. Daí para cá tem publicados mais de quarenta títulos, entre poesia, ficção, teatro, ensaísmo.
Recebeu os mais importantes prémios de poesia portugueses: P.E.N. Clube, em 1985; D. Dinis, da Fundação Casa de Mateus, em 1990; da Associação Portuguesa de Escritores, em 1994, este com o livro "Meditação sobre ruínas".
Em 1999 arrecadou o prémio Bordalo da Casa da Imprensa com o romance «Por todos os séculos».
Em 2001 recebeu o Prémio da Crítica, da Associação Portuguesa dos Críticos Literários.
Em 2002 obteve o prémio Ana Hatherly com o livro «O estado dos campos».
Está representado em numerosas antologias, tendo participado nos mais importantes festivais de poesia, como o de Roterdão e o de Medellin.
Dirigiu a revista "Tabacaria" da Casa Fernando Pessoa até ao número 8, publicado em 1999.
Foi nomeado em 1997 Conselheiro Cultural da Embaixada de Portugal e Director do Instituto Camões, em Paris, cargos que exerceu até Fevereiro de 2004.
É um dos responsáveis pelos Seminários colectivos de tradução de poesia, que se realizam duas vezes por ano no Palácio de Mateus, no Norte de Portugal, e membro permanente do júri do Prémio D. Dinis da Fundação Casa de Mateus.
É autor de uma peça de teatro, «Flores de estufa», representada no Porto e em Lisboa, tendo traduzido as peças «Sertório» (representada pelo Teatro da Cornucópia com encenação de Luís Miguel Cintra), «A Ilusão Cómica», (representada no Teatro nacional S. João com encenação de Nuno Carinhas) e «O Cerco» de Armand Gatti (representado no festival de teatro de Almada com encenação de Michel Simonot).
Em 2007, a Câmara Municipal de Aveiro criou o Prémio de Poesia Nuno Júdice.
Enumerados os elementos biográficos, fica quase tudo por dizer. Fica pelo menos o mais importante. Eu que o julgo um dos maiores poetas portugueses de sempre, um dos mais importantes poetas líricos da nossa História, na linha de um Camões e de um David Mourão Ferreira, e ficam muito poucos por citar da mesma grandeza, acho que o melhor mesmo é ouvir a sua poesia.

Dois exemplos:

ATÉ AO FIM

Mas é assim o poema: construído devagar,
palavra a palavra, e mesmo verso a verso,
até ao fim. O que não sei é
como acabá-lo; ou, até, se
o poema quer acabar. Então, peço-te ajuda:
puxo o teu corpo
para o meio dele, deito-o na cama
da estrofe, dispo-o de frases
e de adjectivos até te ver,
tu,
o mais nu dos pronomes. Ficamos
assim. Para trás, palavras e versos,
e tudo o que
não é preciso dizer:
eu e tu, chamando o amor
para que o poema acabe.

PRINCÍPIOS

Podíamos saber um pouco mais
da morte. Mas não seria isso que nos faria
ter vontade de morrer mais
depressa.

Podíamos saber um pouco mais
da vida. Talvez não precisássemos de viver
tanto, quando só o que é preciso é saber
que temos de viver.

Podíamos saber um pouco mais
do amor. Mas não seria isso que nos faria deixar
de amar ao saber exactamente o que é o amor, ou
amar mais ainda ao descobrir que, mesmo assim, nada
sabemos do amor.

Nuno Júdice, in “Pedro, Lembrando Inês”, ERD. Dom Quixote, 2001

Ouvidos os poemas, julgo que nos aproximámos do essencial do poeta: os mistérios da vida e da morte, a obsessão do amor, que é espírito e carne, a construção do poema. Estes são temas constantes da sua obra, desde os tempos mais formalistas da génese da sua obra até ao momento actual, em que as emoções se articulam harmoniosamente com a construção do poema.
Mas chega de aproximações, quando temos connosco o poeta.

(Hoje, no Vává.diando, pelas 20,00 horas).

quinta-feira, março 29, 2007

VáVá.diando com Dacosta



Fernando Dacosta


e as “Máscaras de Salazar”


Conheci Fernando Dacosta não me lembro já quando. Ambos andámos pelo “Diário de Lisboa", numa época de boas e más recordações. As boas são as que agora interessam, o jornal era um farol de resistência num período de cinzentismo e opressão, ali se tentava escrever aspirando à Liberdade. Ele era jornalista encartado, eu crítico de cinema (ao lado de uma super equipa de críticos de que faziam parte também Mário Castrim, na Televisão, Carlos Porto, no Teatro, Mário Vieira de Carvalho, na Música, por exemplo). Depois coabitámos na Pró-Jornal, ele jornalista em “O Jornal”, eu crítico numa boa época do “Sete”. Um dia, João Soares convidou-nos para, ao lado de outros nomes, integrarmos ambos um Júri para avaliarmos umas duas dezenas de peças de teatro, encenadas por grupos de amadores na região de Lisboa. Excelente iniciativa, noites sucessivas de demanda de teatros, teatrinhos e casas pessoais, onde com amor e por vezes muito talento de fazia teatro. Foi nessas noites de deambulação por bairros de Lisboa que a amizade se estreitou, para se cimentar, mais e mais, há semanas, durante o “Famafest 2007”, de que Fernando Dacosta aceitou fazer parte como presidente do Júri Internacional.
Mas também nos últimos tempos ele tinha sido minha companhia diária, enquanto dele lia “Máscaras de Salazar”, um magnifico trabalho literário, difícil de catalogar num género pré-definido, pois tanto é biografia de Salazar (para o que convoca dados novos e interpretações complexas, afastadas dos maniqueísmos redutores habituais), como auto biografia, sendo sobretudo um retrato panorâmico de uma época de que muito se fala, sem todavia se ter dela conhecimento certo e vivencial. Dacosta mostra que viveu os tempos, conviveu com as personagens, e não se fica pela radiografia facilitista, tirado do lado esquerdo ou do lado direito do enquadramento. Se a imparcialidade não é deste mundo, a sua procura é-o. Dacosta fala de décadas de opressão, de ditadura paternalista, de provincianismo misantropo, de apagada e vil tristeza, de censura e perseguição, mas não deixa de iluminar também alguns aspectos que muitos querem esquecidos. A História só se faz depois de ultrapassados preconceitos. Os fantasmas só se enterram depois de, por alguma forma, terem sido psicanalizados, isto é, assumidos e apagados da memória colectiva enquanto tal: fantasmas, ou seja mitos. Se muitos mais já tivessem realmente “compreendido” Salazar ele não teria sido seguramente o mais votado dos “portugueses maiores”. Lá teria o seu lugar num cantinho da História, dedicado àqueles que, por virtudes que tenham, as defendem com vícios indesculpáveis. Para quem ama a Liberdade e por ela se bateu, a entronização de quem não soube nunca viver com ela é um facto preocupante. Mas mais preocupante ainda é ver uma esquerda histérica a dar mais votos a quem quer ver reduzido ao seu verdadeiro lugar na História, de cada vez que fala ou espuma pela boca.

Dito isto sobre “Máscaras de Salazar”, seu último trabalho e o de maior sucesso de público e de crítica, deve acrescentar-se que Fernando Dacosta não é autor de uma única obra.
Romancista, dramaturgo, jornalista, conferencista, Fernando Dacosta nasceu em Luanda a 12 de Dezembro de 1945 de onde foi, ainda criança, para o Alto Douro. Após frequentar o liceu na cidade de Lamego fixa-se em Lisboa, cursa Letras e inicia-se no jornalismo e na literatura. Foi director dos “Cadernos de Reportagem” e co-editor da “Relógio d´Água”.
A sua primeira peça de teatro, "Um Jipe em Segunda Mão ”, sobre a guerra colonial, vale-lhe o Grande Prémio de Teatro RTP, o Prémio da Associação Portuguesa de Críticos e o Prémio Casa da Imprensa. “A Súplica ” (monólogo de uma mulher em ruptura com a realidade pós 25 de Abril), “Sequestraram o Senhor Presidente” (obra localizada no período revolucionário), “A Nave Adormecida ” (oratória do Portugal colonialista) e “A Frigideira” (inédito), são outros dos seus trabalhos dramatúrgicos.
“Os Retornados Estão a Mudar Portugal”, narrativa da integração dos portugueses regressados de África, obtém o “Prémio Clube Português de Imprensa”. “Moçambique, todo o sofrimento do mundo ”, vence os prémios “Gazeta” e “Fernando Pessoa” de 1991. “O Despertar dos Idosos ” recebe o prémio “Gazeta” de 1994.
Com “O Viúvo”, metáfora sobre a perda do império, conquista o Grande Prémio de Literatura Círculo de Leitores. “Os Infieis”, parábola à volta dos que ousam trair o estabelecido, como os navegadores de quinhentos, e "Máscaras de Salazar", crónica memoralista, são, respectivamente, os seus últimos romances e narrativa.
Apresentou durante 1991 e 1992 uma rubrica sobre livros na RTP-1. Integrou os júris dos principais prémios literários portugueses. Foi agraciado em 2005 pelo Presidente da República com a Comenda da Ordem do Infante D. Henrique.

quinta-feira, fevereiro 22, 2007

HOJE VAVA.DIANDO COM RAUL SOLNADO


RAUL SOLNADO
HOJE JANTAR NO VÁVÁ



Ser actor! Comunicar. Ser humorista! Criticar. Ser pessoa! Amar o próximo, mesmo quando dele se discorda, mesmo quando se critica. Raul Solnado é, possivelmente, o maior actor cómico português vivo. Sublinho o português. É ele quem melhor encarna, ainda hoje, nas suas composições, o que de melhor (e de pior) existe no português típico. O melhor, essa ternura do pobre diabo do desenrascanso crónico, esse amoroso cultivo da banalidade e da vitimização, esse olhar cândido do “arrebenta” que solta a imaginação, quando não pode soltar mais nada. O pior? O mesmo, sem a ternura, sem o amoroso, sem o olhar cândido.
Solnado descobriu o Malmequer lusitano. Cantou-o, imortalizou-o. Todos somos Malmequeres do seu canteiro. Ele é o Malmequer deste jardim à beira mar plantado. Quando se quiser saber o que somos, o que fomos, para onde vamos, basta colocar o disco a girar e recordar Solnado nas suas/nossas representações. Para o melhor e o pior somos aquelas figuras. Para o melhor, fica-nos a certeza de termos sido interpretados pelo génio de um grande actor, e, sobretudo, pela generosidade de um grande homem.



SOBRE TERTÚLIAS

No seu livro “Máscaras de Salazar”, Fernando Dacosta, recordando a vida dos cafés lisboetas durante a época do Estado Novo, conta:
“A ronda dos cafés tornara-se-nos um circuito de aconchego, de revitalização. Montecarlo, Monumental, Grã-fina, Vá-Vá, Mourisca, Smart, Paraíso, Pilar, Coimbra, Paulistana, Alsaciana, Cister, Tentadora, Veneza, Paladium, Nicola, Suíça, Garrett, Brasileira, eram rituais tertúlicos de encontros, de conhecimentos, de convívios, de afirmações, de oposições – prolongados, madrugada fora, pelo Estábulo, pelo Rei Mar, pelo Z, pelo Snob, pelo Botequim. “ (pág. 194).
Tertúlias era isso: um local de encontro onde se cruzavam caminhos e desejos. O Vá-Vá foi um deles, durante muitos anos, e, apesar das transformações, e muito por causa dos seus fiéis clientes, ainda continua a ser uma casa de aconchegos, de afectos, de amores e desamores, de amizades que se prolongam. (...)
Continua Aqui