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terça-feira, novembro 25, 2008

PELAS ALDEIAS HISTÓRICAS

foto MEC
SAINDO DO FUNDÃO, CASTELO NOVO,
PÓVOA DA ATALAIA, MONSANTO,
IDANHA-A-VELHA
E OUTRA VEZ CASTELO NOVO,
EM TERTÚLIA
Sempre na companhia de professores do Agrupamento de Escolas da Serra da Gardunha, de quem éramos convidados, partimos manhã cedo, de autocarro, numa longa viagem por algumas das aldeias históricas da região da Beira Baixa. A primeira paragem foi em Castelo Novo, entrando-se pelo largo da Bicas, subindo até ao castelo, que remota ao século XII, sendo citado pela primeira vez como “Castelo Novo” em 1203, quando a terra foi doada aos Templários. Em 1801, sabe-se que contabilizava quase 3.000 habitantes, hoje terá 300. Mas é rica em historial, ruas estreitas de casas em granito alourado, uma pequena igreja da Misericórdia com imagens para recordar sempre, um lagar de vinho cavado na pedra, chamado lagariça, que dá igualmente o nome a uma moderna casa de artesanato de perder a cabeça. O castelo é majestoso ainda que meio destruído, e, no edifício que outrora fora o dos Paços do Concelho, à noite, decorreu a Tertúlia Poética ou Literária, a que voltaremos.
Descemos depois de Castelo Novo à Póvoa da Atalaia, terra onde nasceu Eugénio de Andrade, a 19 de Janeiro de 1923, e onde, no edifício da Junta de Freguesia, se encontra patente ao público uma exposição sobre o poeta. Fotografias, poemas e prosas organizadas pelo próprio autor, o que confere ao todo um significado muito especial. Antes de um imponente cozido à portuguesa oferecido pelo presidente da junta de freguesia local, nada melhor do que Eugénio de Andrade, de quem se pesquisaram ainda as casas onde viveu (e onde hoje vive uma velha senhora de bengala e roupa negra que não admite, por nada deste mundo, sair daquela casa, para ali se erguer um museu!) e onde nasceu (no maior dos mistérios, sussurra-se entre dentes, “filho bastardo de um senhor muito rico, muito rico”, dito “rei da Orca” ao que percebi).

Seguiu-se Monsanto, o ex-libris das aldeias portuguesas do Estado Novo. Lá está o galo de prata, erguido sobre o campanário de uma torre, a assinalar o troféu da “aldeia mais portuguesa de Portugal”. Os valores deste nacionalismo do SNI nunca me empolgaram, mas a aldeia sim, é impressionante, “não se sabe se é a casa que sai da pedra, se a pedra que sai da casa”, como diz um poeta muito citado. São dezenas e dezenas de casas incrustadas na elevação que brota isolada a caminho já do Alentejo. O castelo lá em cima parece inacessível, as ruelas sobem em ascensão desmedida. Conta-se que ninguém conseguia de lá retirar os resistentes, e que, um dia, durante um cerco de espanhóis (seriam espanhóis?), os portugueses sitiados lançaram encosta a baixo um vitelo recheado de trigo para as tropas envolventes perceberem que viviam na abastança e que não seria à fome que os derrotariam. Se é verdade ou não, não o sei, mas dizem que quem rodeava o castelo se foi embora. Grande parte do castelo também foi pelos ares quando, no século XIX, se deu uma explosão do paiol de munições. O que resta, está lá em cima, bem no alto. Serve para turismo e para celebrar as Festas de Santa Cruz, que popularizaram as bonecas de trapos conhecidas por marafonas.
Ainda hoje é difícil subir ao castelo. Eu que o diga, que tentei encher o peito de ar puro até meia encosta e desisti depois, ficando-me por um chá quente na Pousada explorada por um espanhol de Sevilha.
Mas não deixei de passar na casa e no consultório do médico Fernando Namora que ali escreveu os “Retalhos da (sua) vida de Médico” e a “Nave de Pedra”.

Foto MEC

De regresso a Castelo Novo, tempo houve ainda para uma passagem por Idanha-a-Velha, que se anuncia “um museu a céu aberto” e assim é na verdade. Aldeia parada no tempo, cidade abandonada, uma taberna aberta com quatro convivas a dividir pão, vinho e um prato de carne de porco, frente ao ecrã da televisão, e o senhor Joaquim Pinto, oitenta anos a varrer as ruas, frente ao portão do impressionante edifício da família Marrocos, foram os únicos vestígios de vida. Os trinta convivas que passavam pelas ruas desta Idanha-a-Velha, juncadas de pedras tumulares e outros vestígios arqueológicos, mais se assemelhavam a mortos-vivos de um filme de George Romero.
A discreta iluminação de tom amarelado, numa noite de céu descoberto, mas de intensa escuridão, fornecia ao grupo o sombreado de uma turba a perturbar o silêncio dos antepassados. Retomados ao autocarro e às informações da nossa simpática guia Olga, rapidamente descobrimos que a próxima paragem era “O Lagarto”, restaurante típico de Castelo Novo, onde soube que o Sporting tinha ganho à Naval por 1 a zero, com nove em campo, e onde um retemperador bacalhau com natas nos preparou para a noitada de tertúlia.

Foto MEC

A tertúlia aconteceu a partir das 21, 30 horas, nos já referidos Paços de Concelho, uma sala espaçosa, onde mesas de oito ou dez convivas, reuniam para cima de uma centena de "tertuliadores". Havia os oradores “convidados”, quase todos professores de universidades que tinham a poesia e a palavra escrita como paixão, e que, pela prosa ou pelo verso, encheram de magia a noite fria. Antonieta Garcia, Maria de Lurdes Barata, Alix de Carvalho, José Pires, Amílcar Martins, o brasileiro Luís Octávio Fraz e o músico Miguel Carvalhinho (além de mim próprio) movimentaram-se o melhor que sabiam e podiam para conferir cor e emoção a uma noitada de troca de palavras e de sorrisos. Teve direito a manifesto. Esperemos que tenha também continuação. Sim, eu sei, não se disse nada de fundamental, mas muitas vezes o inútil pode tornar-se no essencial.
Domingo, ao início da tarde, um Intercidades, partindo do Fundão, trazia-me de volta a Lisboa. E aos blogues também.

fotos do autor e três (assinaladas) de MEC (que agradeço).

quinta-feira, novembro 20, 2008

FIM DE SEMANA PELO FUNDÃO

Sábado, dia 22 de Novembro de 2008
em Castelo Novo



Sexta -feira, dia 21 de Novembro de 2008
no Fundão

domingo, junho 29, 2008

TERTÚLIAS DO FADO E DA INQUIETAÇÃO



Ontem, dia 27 de Junho, aconteceu mais um jantar da associação “Tertúlia do Fado e da Inquietação.” Reúnem-se no Centro de Congressos, ali para os lados de Belém, são jantares que oscilam entre os 70 e os 100 convivas, a intenção é confraternizar, ouvir e cantar uns fados, e convidar para cada repasto (cerca de 4 ou 5 por ano) alguém que fale da sua relação com o fado e o mais que adiante acontecer. Ontem o “convidado especial” fui eu, apresentado pela Mary com entusiasmo de amiga. Lá confessei a minha paixão pelo fado que vem desde os tempos de menino (os meus pais eram apreciadores, ouvia-se muito na telefonia, depois em discos de 78 rotações), citei Amália e Hermínia, falei do fado no cinema português e fui obsequiado, no final, com dois fados da minha predilecção cantados por uma médica de bela voz e emotiva postura, Anabela Paixão, que, se não fosse o facto de ser uma ilustre e indispensável pediatra, eu diria que tinha errado a profissão. Depois cantaram-se fados de Coimbra, nas vozes de Pedro Ramalho, Fernando Coelho Rosa, Manuel Relvas, acompanhados à viola e à guitarra por João Gomes e Alexandre Bateiras, e mais uma vez percebi como é bonito ver despretensiosos amadores exercerem uma arte que amam, e exercitarem-na pelo simples prazer de cantar. É o gosto da fama, segredam alguns. Nada disso. Claro que há o prazer de se fazerem ouvir, mas aqueles não precisam de fama para nada, são médicos, engenheiros, bancários, gestores, delegados de propagando médica, e muito mais, têm ou tiveram carreiras que os satisfizeram e encontram-se para cantar pelo prazer de cantar. Outros espontâneos apareceram antes do caldo verde da uma da manhã.
Numa sociedade cada vez menos solidária, egoísta, fechando-se cada um em si e em sua casas, sabe bem descobrir comunidades que procuram a comunicação pela comunicação, o diálogo, que falam e ouvem, que procuram a companhia e ainda se ofertam fados uns aos outros, depois do jantar, na medida das suas possibilidades, com vozes cristalinas ou roufenhas. Inscrevi-me como sócio. Lá estarei em próximas tertúlias, a ouvir "convidados especiais".

sexta-feira, junho 22, 2007

O CAFÉ COMO TERTÚLIA


O café, enquanto local, e não só chávena, e não só bebida, refere duas realidades, ambas de agradável evocação: a bica, que se toma, e a tertúlia de amigos com quem se fala, enquanto se bebe a primeira.
Muitos escritores têm relembrado, em saborosos textos, tertúlias célebres ao longo das décadas. Não vem ao caso historiar, mas Lisboa esteve bem provida destes locais de referência obrigatória, e não há certamente quem ignore o papel do Martinho da Arcada, da Brasileira do Chiado, do Nicola, do Café Gelo, do Monte Carlo, do Ribadouro, de tantos e tantos outros. Escritores e pintores deixaram marca num local, actores e encenadores eram habituais noutros, os cinéfilos reuniam-se sobretudo no antigo VáVá, mesas pegadas com cançonetistas e baladistas dos idos de 60, e, antes do 25 de Abril, políticos e "gente do reviralho", como então eram chamados os opositores ao regime, apareciam um pouco por todo o lado, acumulando funções na maioria dos casos.
Os cafés eram locais de encontro, logo depois do almoço, e antes de se entrar no trabalho, ou a seguir ao jantar, prolongando-se então a cavaqueira pela noite dentro, até que as portas do café fechassem, e muitas vezes até para lá do seu encerramento. Nunca antes das duas ou três da matina. Muitos artigos se escreveram, muitos romances e poemas se pensaram, muitos espectáculos se montaram, muitos filmes se idealizaram, muitos quadros adquiriram ali cores e formas, muitos governos cairam e muitos outros se formaram à mesa de um café de Lisboa, do Porto, de qualquer cidade do interior de Portugal.
Não havia ainda televisão em doses industriais, para agarrar audiências pelos processos mais singulares; não havia as drogas pesadas a influir negativamente nos horários dos donos dos cafés, que se querem ver livres de tão ingratos clientes, e fecham muito mais cedo; não havia a ameaça da violência urbana que apesar de tudo pesa sobre o comportamento de muita gente que prefere a segurança do lar à incerteza das ruas; nem havia, sobretudo, estes mercantis balcões de agora, onde as pessoas tomam apressadamente café, enquanto outras comem sofregamente uma sopa e pastelinhos de bacalhau, bifanas ou mesmo "pratinhos" de feijoada à transmontana, antes de regressarem ao seu balcão no centro comercial, ou ao escritório.
Dos meus tempos de Universidade, relembro cafés inesquecíveis. Desde logo, o bar da Faculdade de Letras, onde se estudava a vida, quando se faltava às aulas, para se discutir um filme, uma peça de teatro ou um livro, onde se tentava mudar o mundo à medida dos nossos sonhos, ou simplesmente se namorava uma colega, quando o tempo não estava de molde a poder-se sair com ela até ao verde do estádio universitário.
Depois, à tarde e à noite, estudavam-se as matérias, em mesas de outros cafés, por apontamentos emprestados por quem assistira ao verbo do Professor. Por mim, que morava então em casa de meus pais, na Av. EUA, os mais utilizados eram o Nova Iorque, hoje transformado em banco, e a Grãfina. Mas muitas noites as passava também entre o Monte Carlo e o Monumental, espreitando actores e actrizes com quem se procurava meter conversa, ou sendo lentamente prefilhado por tertúlias de escritores, jornalistas, pintores e excentricos avulso.
Pouco a pouco, fui subindo avenida acima, até ao VáVá, que então tinha bilhares e cave, e não era ainda metade banco e metade pastelaria. Ali se reunia o grupo de cinéfilos, que observava de longe, e o dos cantores, que ouvia na rádio e muito pouco na tv estatal. Com breves incursões pela Suprema, pela Sul-América e pelo Luanda, adoptei o Vává como segunda casa, ali fiz amizades e vi partir amigos, ali conheci amores e desamores, ali escrevi e li, ali pensei guiões e filmes, dali parti com equipas de filmagem para a serra da Estrela, para Sintra, para o Alentejo, ali filmei mesmo uma sequência de um deles, ali vi rodar alguns outros, ali me despedi do 24 e ali saudei o 25, há quem diga que ele é a minha sala de jantar (quanto muito seria a de almoçar, quando não está em obras), e o meu escritório.
O Vává foi mudando com os anos, deixando sempre saudades do velho Vává, de maples de cabedal castanho encostados às paredes, de luz difusa e discreta, de acolhedor conforto. Ali conheci o Manuel Guimarães, que seria meu padrinho de casamento e padrinho cinematográfico, cedendo-me umas bobines de película virgem do seu derradeiro "Cântico Final" para eu realizar uma das minhas primeiras curtas metragens; ali conheci melhor o Manuel de Azevedo, o Villas-Boas, o Rafael, o Pinto Bandeira, o Manuel Costa e Silva, o Sam, o Pedro Bandeira Freire, o João Maria Tudela, o Fernando Tordo, o Paulo de Carvalho, o Carlos Mendes, o Fernando Silva, o Mário Damas Nunes, a Acácia Thiele, o Camacho Costa; ali continuo a encontrar a Mary, a Isabel Lajinhas, a Manuela Pinheiro, o Fanan, o Mário, o Rangel, e tantos outros, alguns deles agora já acompanhados das respetivas e respectivos, com a prole a gatinhar por entre mesas e cadeiras, ganhando já, se calhar, o mesmo "vício" de ali se encontrarem no futuro; por ali passam também personagens bizonhas de tristes recordações, ali ficam suspensas memórias efémeras ou persistentes, ali se discute o presente do cinema, do xadrês, da televisão e da canção portuguêses, ali se dabate o futuro da TAP, ali se comentam, à segunda-feira, os "roubos" dos árbitros, invariavelmente a prejudicarem o Sporting e a beneficiarem quem se sabe, por lá passa ja feito homem o Frederico, que antigamente vinha do colégio, e aqui tomava a Cola e comia o bolo da praxe,e que agora volta para a sua casa, ali continuo a descer com a Eduarda para tomar o café, antes de ir para o cinema ou de regressar a casa, para um serão televisivo.
Os cafés de Lisboa tendem a desaparecer, e os que restam são já sombras de um passado que procuramos apesar de tudo manter vivo, contra a arremetida das leis inexoráveis do comércio, da cobiça dos bancos, do poder da televisão, da proliferação de bares e discotecas. São alias, os bares e as discotecas que, de certa forma, vieram a ocupar o lugar desempenhado pelos cafés, reunindo tertúlias de amigos, agora ao som da música de momento. Até esta tranferência é significativa da mudança dos tempos. Em lugar do café, bebe-se wishky ou vodka; em vez do esperguiçar do pensamento em redor da bica bem quente, gritam-se frases rápidas por entre dois compassos mais trepidantes. Nem melhor, nem pior.

Restam-nos, igualmente, as tertúlias recuperadas por tanto lado (como sabem também no Vává) e as novas tertúlias inventadas na blogosfera. "Tudo é feito de mudança", como dizia o poeta. "A nostalgia não é deste mundo", como explicava Signoret. E as bicas bem quentes continuam a incendiar a imaginação dos poetas.

MARIA DO CEU GUERRA

dia 27

no VÁVÁ.DIANDO

Não esquecer: a próxima tertúlia é dia 27 de Junho, jantar às 20,00, com Maria do Céu Guerra.

NOTA: Durante os últimos dias foram surgindo aqui textos que previamente deixei prontos para postar, mas eu andei por terras de Vera Cruz, pelo que não respondi a ninguém. A partir de dia 23 voltarei (se os aviões e as greves de controladores nos aeroportos brasileiros o permitiorem). Beijos e abraços, conforme os casos.

sábado, maio 05, 2007

PRÓXIMOS VAVA.DIANDO



ATENÇÂO BLOGUISTAS DA ÁREA

DE LISBOA E ARREDORES

DIA 19.05.07

CONVERSA SOBRE BLOGOSFERA

ALMOÇO

E TARDE DE CAVAQUEIRA

NO VÁVÁ

sexta-feira, maio 04, 2007

IVA DELGADO VAVA.DIANDO

IVA DELGADO FALA
DAS ELEIÇÕES DE 1958
E DE SEU PAI, HUMBERTO DELGADO


Casa cheia para ver e ouvir Iva Delgado,
no Vává, em Lisboa, na noite passada.
Uma comunicadora nata,
numa lição de História ao vivo.
A simpatia e a eficácia
de uma contadora de histórias da História.

sexta-feira, abril 27, 2007

VáVá.diando, com Teolinda Gersão

TEOLINDA GERSÃO


NO VÁVÁ, EM TERTÚLIA


Um dia peguei num livro, um romance com um título que me cativou, “A Casa da Cabeça de Cavalo”, trouxe-o para casa e li-o de um fôlego. Tão impressionado fiquei que, não conhecendo eu pessoalmente a escritora, maneira arranjei para lhe telefonar a dizer o quanto gostara do livro e o muito que desejaria de o fazer também meu, adaptando-o a cinema.
O livro foi para mim a descoberta de uma voz nova no espaço da literatura portuguesa, mais uma vez a voz de uma mulher, mais uma vez uma descoberta inesperada por diversas razões. Já sabia da admiração de Vergílio Ferreira por Teolinda Gersão. Sabida a minha paixão por Vergílio Ferreira, fácil seria supor que Teolinda me deveria prender. Mas sou pessoa de só reagir por experiência própria – a leitura do romance, confirmou completamente as recomendações de Vergílio Ferreira.
A conversa com Teolinda fez crescer ainda mais a minha admiração pela romancista, mas também pela mulher: a voz macia e doce, o olhar terno, a delicadeza dos gestos, e por trás de tudo isso o vislumbre de uma vontade destemida, uma força com algo de telúrico que o sorriso apenas escondia, mas que qualquer bom observador pressente. Se gostara desse romance desde que comecei a sua leitura, gostei da autora desde que a conheci. Creio que passámos a gostar um do outro desde esse dia, e algumas vezes mais nos encontramos ao longo dos anos. Nomeadamente no Famafest, de que foi membro de Júri Internacional já por duas vezes. Encontros, no entanto, demasiados espaçados para colmatarem a alegria de estar com ela, de a ouvir discretamente discorrer sobre a vida, com a mesma discrição que escreve os seus romances e contos.
Um dos aspectos mais interessantes da escrita e do estilo de Teolinda Gersão, será o facto da autora nos habituar a relatos de quotidiano, envolvidos numa delicada sensibilidade, onde as palavras vulgares do dia a dia se bastam, pela mestria com que são usados, para nos descrever emoções e paixões, mesmo em violento e nervoso confronto. Teolinda nunca abandona a suavidade da escrita, mesmo quando por detrás dela perpassam os mais violentos dramas, as tragédias mais extremadas. Esta aparente discrepância entre a tensão interna dos conflitos e das personagens e a “normalidade” das palavras que os descrevem tornam ainda mais grave e insuportáveis certas situações narradas. Neste aspecto, “A Casa da Cabeça de Cavalo” é um exemplo magnífico do que pretendo dizer, ao desenhar a existência de uma família, apalaçada e senhorial, em finais do século XIX, no Norte de Portugal, mas perpassa por toda a sua obra, agora reconfirmado com o excelente volume de contos a que deu o título de “A Mulher que Prendeu a Chuva”, onde me volteia apaixonar por um conto, que não digo qual, pois quando falo de projectos antes destes estarem concretizados, ficam pelo caminho. A ver vamos se com secretismo se concretizam.

quarta-feira, abril 25, 2007

TEOLINDA GERSÃO; HOJE

Hoje, dia 26 de Abril, pelas 20,00 horas

no Café-Restaurante VáVá, em Lisboa,

mais um jantar-tertúlia, desta vez com a presença de

Teolinda Gersão, escritora

(autora do recente "A Mulher que prendeu a Chuva",

e de João Rodrigues, editor (Sudoeste Editora).

TEOLINDA GERSÃO


DADOS BIOGRÁFICOS

Teolinda Gersão nasceu em Coimbra, estudou Germanística e Anglística nas Universidades de Coimbra, Tuebingen e Berlim, foi Leitora de Português na Universidade Técnica de Berlim, docente na Faculdade de Letras de Lisboa e posteriormente professora catedrática da Universidade Nova de Lisboa, onde ensinou Literatura Alemã e Literatura Comparada até 1995.A partir dessa data passou a dedicar-se exclusivamente à literatura.
Além da permanência de três anos na Alemanha viveu dois anos em São Paulo, Brasil, (reflexos dessa estada surgem em alguns textos de Os Guarda-Chuvas Cintilantes,1984), e conheceu Moçambique, cuja capital, então Lourenço Marques, é o lugar onde decorre o romance de 1997 A Árvore das Palavras.
Escritora residente na Universidade de Berkeley em Fevereiro e Março de 2004.

BREVE COMENTÁRIO SOBRE A OBRA:
Os seus livros retratam aspectos da sociedade contemporânea,mesmo quando a acção é transposta para uma época diferente. A problemática das relações humanas,a dificuldade de comunicar, o amor e a morte,opressão e liberdade,identidade,resistência, criatividade,são alguns dos temas focados.Outro aspecto central é a atenção dada ao tempo : quer se trate do tratamento do tempo na própria estrutura narrativa,quer seja o tempo histórico em que a acção decorre : a ditadura de Salazar em Paisagem com Mulher e Mar ao Fundo, os anos vinte em O Cavalo de Sol,o século XIX em A Casa da Cabeça de Cavalo, os anos cinquenta e sessenta em Lourenço Marques em A Árvore das Palavras. Os factos históricos são todavia encarados numa perspectiva que transcende a sua época e os situa em ligação com a actualidade.

LIVROS PUBLICADOS:
O SILÊNCIO (Romance), 1981, 4ª edição 1995
PAISAGEM COM MULHER E MAR AO FUNDO (Romance), 1992,4ª edição 1996.
HISTÓRIA DO HOMEM NA GAIOLA E DO PÁSSARO ENCARNADO (literatura infantil), 1982 (esgotado)
OS GUARDA-CHUVAS CINTILANTES (Diário Ficcional) 1984,2ªedição 1997
O CAVALO DE SOL (Romance),1989 ; edição Dom Quixote-Planeta 2001
A CASA DA CABEÇA DE CAVALO (Romance),1995,2ª edição 1996 ;
edição em Braille,1999
A ÁRVORE DAS PALAVRAS (Romance),1997
edição especial,com 50 ilustrações de Maia, 2000 ; 2ª edição, 2001
edição Dom Quixote- Círculo de Leitores 2001
edição Dom Quixote-Visão 2003
OS TECLADOS (Narrativa),1999 ,2ªedição 2001;edição em Braille,2003
OS ANJOS (Narrativa) , 1ª e 2ª edição 2000
HISTÓRIAS DE VER E ANDAR (contos) ,1ª e 2ª edição 2002
O MENSAGEIRO E OUTRAS HISTÓRIAS COM ANJOS (contos) 2003
Uma versão teatral de OS TECLADOS foi representada no Centro Cultural de Belém em 2001,com encenação de encenação de Jorge Listopad.
Uma versão teatral de OS ANJOS foi representada em 2003 pelo grupo de teatro O Bando,com encenação de João Brites.
Uma versão teatral em língua romena de A CASA DA CABEÇA DE CAVALO vai ser representada em Bucareste em Abril de 2004.
A MULHER QUE PRENDEU A CHUVA (Contos), 2007, Ed. Sudoeste Editora.

PRÉMIOS LITERÁRIOS:
O SILÊNCIO – Prémio de Ficção do Pen Club,1981
O CAVALO DE SOL- Prémio de Ficção do Pen Club,1989
A CASA DA CABEÇA DE CAVALO – Grande Prémio de Romance e Novela da Associação Portuguesa de Escritores,1995.
“shortlisted” para o Prémio Europeu de Romance Aristeion em 1996
OS TECLADOS – Prémio da Crítica da Association Internationale des Critiques Littéraires, 1999.
Prémio Fernando Namora,1999
HISTÓRIAS DE VER E ANDAR – Grande Prémio de Conto Camilo Castelo Branco,2002.