segunda-feira, abril 09, 2007

BLOGUES - A TRADUÇÃO DA MEMÓRIA


na última noite em que morri. vi a curva da lua
sublinhar uma só palavra. ajoelhei-me à porta da
igreja. encostei a cabeça ao peito. depositei-me
na caixa das esmolas. eis onde repouso.

a essa hora do amor. o sino toca as lamentações.
vêm das campas os gatos mais sombrios. abrem-se
covas a músculo no cemitério. os mortos cantam
sempre a mesma canção. coro inaudível.

dou o braço a comer às múmias. tu queimas a vela
dentro do frasco. o papel evapora-se num anel de
cinza. dançam as tíbias como lume. chiam espadas
de fumo. comem-se os restos mortais. fome santa.

mas isso foi há muito tempo atrás. na véspera da
ira do senhor. a chave rompe o saco lacrimal das
jarras. fere o tímpano dos surdos. arde muda. os
mortos desistem de cantar. os gatos somem-se.

a solidão progride rua acima. detém-se junto ao
altar. mete uma moeda na caixa. acende-se a lua.


um blogue a não perder, assinado pela Alice.
Visitem-no que vale a pena.
A Alice ainda mora ali.
O fundo é cinza, a poesia triste,
mas a sensibilidade existe e mostra-se em tudo.

TESTE DOS MUPPETS

You Are Rowlf the Dog

Mellow and serious, you enjoy time alone cultivating your talents.
You're a cool dog, and you always present a relaxed vibe.
A talented pianist, you can play almost anything - especially songs by Beethoven.
"My bark is worse than my bite, and my piano playing beats 'em both."
Juro que não sabia nada do teste da M.

domingo, abril 08, 2007

ALGUÉM EXPLICA ESTE NOVO CONTO DO VIGÁRIO?

Recebido na minha caixa de emails, hoje, dia 8 de Abril:
(será que posso votar no Brasil?
Note-se que não tenho dupla nacionalidade!)

Brasília, 07 de Abril de 2007

Informamos que seu titulo eleitoral teve um Cancelamento provisório.
O motivo do cancelamento foi uma irregularidade
em seu Cadastro de Pessoa Física (CPF)
a qual motivou o cancelamento do mesmo,
e também de seu título eleitoral.
Para saber mais detalhes sobre esta irregularidade,
e quais providências tomar, leia o regulamento clicando no link abaixo.
Após clicar no link, será exibida uma janela,
onde a opção "Abrir" deve ser clicada.

CLIQUE AQUI PARA ABRIR O REGULAMENTO
ou se não conseguir Clique Aqui

Todos os direitos reservados ao Tribunal Superior Eleitoral
Já agora informe-se o remetente: cancelado@tse.com.br

LIVROS - O Homem da Carbonária

O HOMEM DA CARBONÁRIA

O romance histórico está na moda. Existe mesmo uma receita: crime em cenário histórico igual a (quase certo) “best seller”. Nos escaparates das livrarias pululam os volumes de biografias, de situações, de épocas, de mitos, de enigmas históricos e outras coisas que tais. Estrangeiros e portugueses. Muitos são bem escritos e valem mesmo a pena, outros não serão muito bem escritos, mas ainda valem a pena como recolha e divulgação históricas, a maioria não vale nem uma coisa nem outra. A grande parte desta escrita a metro obedece a uma fórmula, aprendida seguramente nesses milhares de “work shops” de “escrita criativa” que se apregoam um pouco por todo o lado, ministrados a maioria das vezes por quem não sabe sequer escrever, quanto mais criar, mas que julga saber, por que “leu nos manuais” da indústria livreira, que a intriga deve ter “plots” e ganchos, e outros disparates que tais, como se a escrita (ou qualquer outra forma de criação artística) pudesse estar espartilhada por prescrições. O resultado é, na sua generalidade, penoso.
Mas de vez em quando surge uma surpresa, como é o caso deste “O Homem da Carbonária”, escrito por Carlos Ademar, que durante anos exerceu a investigação criminal, na Policia Judiciaria, se formou depois em História e se virou para a escrita. O seu primeiro romance não o li, chamava-se “O Caso da Rua Direita”, mas este “O Homem da Carbonária” em boa hora não me escapou. Não vou dizer que “descobri” uma obra-prima da literatura portuguesa contemporânea, mas basta-me a satisfação de surpreender quatrocentas páginas escorreitas, bem escritas, historicamente muito bem documentadas, aliciantes como leitura, acompanhando um caso curioso policial.
Estamos em Lisboa, no ano de 1926. No Jardim da Estrela aparece assassinado um tal Peres, chefe da segurança do Presidente do Conselho. Tanto o político como o seu devotado guarda-costas pertenceram a uma sociedade secreta que teve um papel essencial no derrube da Monarquia e na implantação da República: a Carbonária. Com base neste crime, Carlos Ademar lança na investigação o inspector Afonso Pratas que, não só segue as pistas dos suspeitos, como nos vai desvendando a vida politica do País nesses anos de fim da Primeira Republica e de advento da ditadura do Estado Novo, descobrindo os republicanos e as facções, de Afonso Costa a Bernardino Machado, os membros da Carbonária e os da Maçonaria, os Integralistas e os Sidonistas, apologistas da ditadura, os católicos e os agnósticos, os democratas e os camisas negras de Rolão Preto. Para lá deste esboço histórico com H grande, há a história com h pequeno, a saborosa pintura da vida quotidiana nesta Lisboa dos loucos anos 20.
Por vezes há uma excessiva exposição histórica, bem vinda como informação, mas às vezes fazendo emperrar um pouco a escrita. De um modo geral, porém, parece-me um bom livro e julgo poder assegurar a Carlos Ademar um futuro auspicioso neste campo que já se percebeu ser o de sua eleição. Mesmo literariamente, o livro é bom, e com uma excelente solução, simbólica. O epílogo é inesperado. A ditadura de 1928 consolidava-se no poder e a democracia morre mesmo ali. Deixo aqui a sugestão: leiam.
Nota: vasculhando a Internet sobre a Carbonário, fui encontrar um curioso site de que deixo duas referências:

http://triplov.com/carbonaria/carbonaria_portuguesa/bomba/bomba_01.htm

http://triplov.com/carbonaria/carbonaria_portuguesa/aquilino_ribeiro/index.htm

sábado, abril 07, 2007

MÚSICA: ELINA GARANCA


Olhem para esta mulher.
Chama-se Elina Garanca.
O nome, confesso-o, não me diz nada.
Se além de bonita, como se vê aqui,
ainda cantar divinalmente,
será que é deste mundo?
É isso mesmo que vou tentar saber na próxima terça-feira,
na Gulbenkian, durante um concerto em que a Diva vai cantar.
Esta foi uma escolha não de olhos fechados, mas de ouvidos tapados.
Nada sei da senhora em questão.
Mas vi um MUPI com um retrato dela.
Vou em busca da voz, depois de ter visto o rosto.
Qual o resultado?
Depois direi, se sobreviver.
Pedi à Eduarda ingressos como prenda de Pácoa.
Ela acedeu, mas fiz recomendação:
Filas da frente: se a voz não valer, sempre se vê.
Entretanto, aqui ficam alguns elementos
(ver Serviço de Música da Fundação Caloute Gulbenkian).
O programa co concerto:

Terça, 10 Abr 2007, 19:00 - Grande Auditório

ELINA GARANCA (meio-soprano)
Johannes Brahms
Meine Liebe ist grün, op.63 nº 5
Liebe und Frühling, op.3 nº 3
Es träumte mir, op.57 nº 3
Mainacht, op.43 nº 2
Von ewiger Liebe, op.43 nº 1

Robert Schumann
Frauenliebe und - leben, op.42

Gioacchino Rossini
La regata veneziana

J. Vitols
Mirdzas dziesma, op.31 nº 6
Aizver actinas
Man prata stav vel klusa nakts, op.31 nº 7

A. Kalnins
List Klusi

Manuel de Falla
Siete canciones populares españolas
("A jovem meio-soprano letã Elina Garanca é a última revelação sensacional do panorama lírico internacional. O domínio absoluto da voz, ágil, poderosa e de timbre aveludado, assim como o rigor e o empenhamento com que trabalha as dificuldades técnicas das partituras que aborda, têm proporcionado a sua ascensão vertiginosa, permitindo pressagiar que se poderá vir a tornar num dos nomes incontornáveis do canto no século XXI. O seu percurso tem sido extraordinário desde que, em 2003, assumiu o seu primeiro papel de projecção internacional.Foi no Festival de Salzburgo, sob a batuta de Nikolaus Harnoncourt. De seguida, o desempenho de diferentes personagens nos palcos de Viena e de Paris consolidaram o sucesso inicial, sucesso esse que também se vê reflectido nos seus registos discográficos. Passando pela Ondine e pela Virgin Classics (etiqueta onde participou numa premiada versão de Bajazet sob a direcção de Fábio Biondi), assinou em 2005 um contrato exclusivo com a Deutsche Grammophon. O seu último trabalho, Aria Cantilena, lançado em Janeiro deste ano, fornece um completo retrato da cantora, que ilustra a variedade de registos que a sua voz lhe permite. Foi um êxito de vendas, tendo-se colocado rapidamente nos primeiros lugares dos rankings austríacos e alemães.Elina Garanca apresentar-se-á em Lisboa juntamente com Charles Spencer, um dos pianistas acompanhadores mais solicitados da actualidade, cujo nome se liga directamente a alguns dos mais importantes cantores das últimas décadas, entre os quais se encontra Christa Ludwig, entre outros.");
A jovem meio-soprano letã
Elina Garanca é a última revelação sensacional do panorama lírico internacional. O domínio absoluto da voz, ágil, poderosa e de timbre aveludado, assim como o rigor e o empenhamento com que trabalha as dificuldades técnicas das partituras que aborda, têm proporcionado a sua ascensão vertiginosa, permitindo pressagiar que se poderá vir a tornar num dos nomes incontornáveis do canto no século XXI. O seu percurso tem sido extraordinário desde que, em 2003, assumiu o seu primeiro papel de projecção internacional.Foi no Festival de Salzburgo, sob a batuta de Nikolaus Harnoncourt. De seguida, o desempenho de diferentes personagens nos palcos de Viena e de Paris consolidaram o sucesso inicial, sucesso esse que também se vê reflectido nos seus registos discográficos. Passando pela Ondine e pela Virgin Classics (etiqueta onde participou numa premiada versão de Bajazet sob a direcção de Fábio Biondi), assinou em 2005 um contrato exclusivo com a Deutsche Grammophon. O seu último trabalho, Aria Cantilena, lançado em Janeiro deste ano, fornece um completo retrato da cantora, que ilustra a variedade de registos que a sua voz lhe permite. Foi um êxito de vendas, tendo-se colocado rapidamente nos primeiros lugares dos rankings austríacos e alemães.

Elina Garanca apresentar-se-á em Lisboa juntamente com Charles Spencer, um dos pianistas acompanhadores mais solicitados da actualidade, cujo nome se liga directamente a alguns dos mais importantes cantores das últimas décadas, entre os quais se encontra Christa Ludwig, entre outros.

Sobre Elina Garanca

Meio-Soprano
show_web_site("");
Elina Garanca tem vindo a afirma-se como uma nova estrela no universo musical internacional, através das suas actuações nos teatros de ópera e com orquestras sinfónicas de todo o mundo, recebendo os elogios da critica pela beleza da sua voz, inteligente musicalidade e presença em palco.Elina Garanca iniciou a presente temporada na Ópera de Paris, onde cantou o papel de Sesto em La clemenza di Tito. Regressou em seguida a Viena para representações de Dorabella (Così fan tutte) e Octavian (O Cavaleiro da Rosa) na Ópera Estadual de Viena. Votará a interpretar Sesto na sua estreia na Ópera Estadual de Berlim, terminando a temporada nova estreia na Royal Opera House - Covent Garden, como Dorabella. Outros destaques da presente temporada, nos domínios do concerto e do recital incluem: uma digressão europeia com a Orquestra do Concertgebouw de Amesterdão, sob a direcção de
Mariss Jansons, um recital de estreia no Musikverein e uma digressão por sete cidades da Alemanha com a Orquestra Sinfónica de Munique.As apresentações de Elina Garanca na Ópera Estadual de Viena incluíram Charlotte, numa nova produção de Werther, Dorabella, Octavian, Cherubino (As bodas de Figaro), sob a direcção de Riccardo Muti, Rosina (O barbeiro de Sevilha), e Sra. Page, numa nova produção de Falstaff. As suas primeiras representações de Sesto foram realizadas no Theater an der Wien. Interpretou o papel de Dorabella no Festival de Viena e no Festival de Salzburgo, numa nova produção de Così fan tutte liderada por Philippe Jordan. Paris teve a oportunidade de aplaudir pela primeira vez quando se estreou no papel principal de La cenerentola no Théâtre des Champs Élysées, tendo regressado para cantar o papel de Dorabella numa produção de Patrice Chereau de Così fan tutte, que tinha já estreado no Festival de Aix-en-Provence. Entre outros sucessos recentes, destaque para o papel de Adalgisa, partilhando o palco com Edita Gruberova (Norma), numa versão de concerto apresentada em Baden-Baden. Actua também regularmente na Finlândia, incluindo representações de Rosina e Giovanna Seymour (Anna Bolena), com a Ópera Nacional Finlandesa, e Maddalena (Rigoletto), no Festival de Savonlinna. Interpretou o papel de Rosina na sua Letónia natal, para além de Giovanna Seumour em digressão à Roménia e à Grécia, com a Ópera Nacional da Letónia.Convidada frequente de importantes orquestras mundiais, Elina Garanca colaborou com a Filarmónica de Viena em interpretações de Sieben frühe Lieder de Alban Berg, com a Orquestra da Rádio da Baviera no Requiem de Dvorák e, mais recentemente, na Missa Solemnis de Beethoven, com a Orquestra Nacional de França, sob a direcção de Kurt Masur. Em 2006 regressou ao Festival de Salzburgo para concertos de música sacra de Mozart, sob a direcção de Riccardo Muti. Na Finlândia actuou como solista no Stabat Mater de Rossini e num concerto de árias de Mozart, ambos com a Filarmónica de Helsínquia. Apresentou-se também com a Orquestra da RAI de Turim e com a Orquestra Nacional Belga. Além disso, interpreta um variado repertório de recital, tendo-se apresentado no Festival de Helsínquia e no Festival de Turku.Elina Garanca iniciou a sua carreira profissional como artista residente do Südthüringischer Staatstheater, em Meningen, onde interpretou vários papéis principais. Mais tarde, como artista residente da Ópera de Frankfurt, interpretou Rosina, Dorabella e Hänsel.Em Outubro de 2006, durante uma gala na Semper Opera de Dresden, Elina Garanca foi distinguida com o Foundation Europäischer Kulturpreis. A gala incluiu uma actuação da cantora e foi difundida pela televisão alemã.O primeiro disco a solo de Elina Garanca incluiu um programa de árias de ópera e foi lançado pela Ondine em 2001. Em 2004 gravou Bajazet de Vivaldi, para a Virgin Classics, e em 2005 uma colecção de árias de Mozart, para a mesma editora. Ainda em 2005, gravou O barbeiro de Sevilha de Rossini, para a Sony. O seu desempenho como Charlotte, em Werther de Massenet, na Ópera Estadual de Viena, foi lançada em DVD pela TDK. A mesma etiqueta lançou, também em DVD, a produção de 2003 do Festival de Salzburgo de La clemenza di Tito, com Elina Garanca no papel de Annio, sob a direcção de Nikolaus Harnoncourt. Em Setembro de 2005, a cantora assinou um contrato de exclusividade com a Deutsche Grammophon. Participou na compilação «The Mozart Álbum», lançado em Agosto de 2006 para comemorar os 250 anos do nascimento do compositor. Recentemente foi lançado o seu último disco, intitulado «Aria Cantilena».Elina Garanca nasceu no seio de uma família de músicos, em Riga, na Letónia. Em 1996 ingressou na Academia de Música da Letónia e, desde 1998, estuda com Irina Gavrilovici em Viena e com Virginia Zeani nos Estados Unidos da América. Ganhou o Concurso de Canto Mirjam Helin em 1999, e foi finalista na edição de 2001 do concurso BBC Cardiff Singer of the World.

sexta-feira, abril 06, 2007

PÁSCOA FELIZ


PÁSCOA FELIZ
E agora,
algo de completamente diferente,
ainda que nos mantenhamos
nos caminhos da arte.
Uma "Pietá", de Miguel Angelo.
De novo a emoção ao mais alto grau,
de novo o amor,
de novo a arte como redenção.

"Tu que tiras os pecados dos homens..."

PORTAS E JANELAS... FECHADAS

agradeço à Claudia Sousa Dias a descoberta

GATOS FEDORENTOS: O CARTAZ

agradeço à Manuela Garcia o mail.

RODIN E KILKE.UM ENCONTRO

RODIN E RILKE: ENCONTRO

Na última edição do Famafest, Festival dedicado a Cinenma e Literatura, uma das obras que surgiu a concurso chamava-se “Rilke e Rodin, Um Encontro” (Rilke et Rodin, Une Rencontre), filme francês de Bernard Malaterre, uma ficção com Jacques Bondoux, Cyril Descours, Birgit Ludwig, Catherine Chauviere, etc, teledramático de 55 minutos, com uma curiosa sinopse. “Tudo começou com um encontro entre duas pessoas. Em 1902, Rainer Maria Rilke, um jovem desconhecido, ansioso e frágil, viaja até Paris para escrever uma monografia sobre Auguste Rodin que, por essa altura, era já um “velho” poderoso, famoso e fascinante. Este encontro levou a um relacionamento entre dois homens que iria variar entre a emoção e a violência. Rodin fez de Rilke o seu secretário pessoal, mas também um pouco o seu “brinquedo”, e Rilke aceitou a situação em parte por causa do fascínio intelectual e físico do “mestre” ou, como alguns disseram na época e ainda hoje confirmam, para mais facilmente “fazer um nome” para si mesmo junto da intelectualidade parisiense da época.
O filme era interessante e documentava um período da vida de Rodin e Rilke importante para ambos. Acabadinho de sair de Famalicão, cai-me nas mãos um livrinho da “Relógio de Água”, “Momentos de Paixão”, que testemunha igualmente essa época, mas através de textos de Rainer Maria Rilke e desenhos de Auguste Rodin.
Um encontro de génios, que aqui deixo num texto (de Rilke) e dois desenhos (de Rodin). O amor e a mulher, a voluptuosidade e o desejo, em ambos, ainda que por caminhos aparentemente muito diversos.


UM TEXTO DE RILKE

A voluptuosidade física é uma experiência dos sentidos, tal como o puro olhar ou a pura sensação com que um fruto se der­rete na língua — é uma grande e infindável experiência que nos é proporcionada, um conhecimento do mundo, a plenitude e o esplendor de toda a sabedoria. Não é nessa experiência que está o mal; o mal está em quase todas estas experiências serem mal usadas e desperdiçadas e adoptadas nas fases aborrecidas da vida como excitantes e distracções em vez de concentração numa caminhada para o cume. As pessoas também transformaram a comida noutra coisa: miséria de um lado e desperdício do outro turvaram a clareza dessa necessidade, e do mesmo modo ficaram turvas todas as necessidades vitais através das quais a vida se renova. Mas o indivíduo pode torná-las claras para si e vivê-las com clareza (e se não o indivíduo, que é demasiado dependente, pelo menos o solitário). Ele consegue reconhecer que toda a beleza dos animais e das plantas é uma forma silenciosa e dura­doura de amor e desejo, e consegue ver o animal do mesmo modo que vê a planta, unindo-se e reproduzindo-se de forma paciente c dócil e não por prazer físico, não por sofrimento físico, submetendo-se a uma necessidade que é maior que o pra­zer c o sofrimento e mais poderosa que a vontade e a resistência. Oh, se o ser humano fosse capaz de reconhecer este segredo, que preenche toda a Terra até às mais pequenas coisas, de uma forma mais humilde e séria, em vez de o encarar com ligeireza! Se tivesse um profundo respeito em relação à sua fecundidade, que é apenas uma, seja ela espiritual ou física; pois também a criação espiritual deriva da física, forma com ela um só ser e é apenas como que uma mais misteriosa, encantada e eterna repetição do prazer físico. «A ideia de ser criador, de conceber, de dar forma» não é nada sem a sua grande e permanente confirmação e reali­zação no mundo, nada sem a mil vezes concedida concordância dos objectos e dos animais — e o seu gozo só é tão indescriti-velmente belo e rico porque está cheio de recordações herdadas da concepção e do nascimento de milhões de seres. Num único pensamento criador revivem milhares de noites de amor esque­cidas que o tornam grande e sublime. E aqueles que se juntam e entrelaçam durante a noite, numa voluptuosidade embaladora, realizam uma obra séria e acumulam doçuras, profundidade e energia para o canto de um qualquer futuro poeta que se irá erguer para descrever indescritíveis venturas. E invocam o futuro; e mesmo que eles estejam errados e se abracem às cegas, o futuro vem, sim — uma nova pessoa se ergue e, sobre os ali­cerces do acaso que aqui parece consumar-se, desperta a lei pela qual um germe forte e resistente faz o seu caminho até ao óvulo que se abre ao seu encontro. Não se deixe enganar pelas aparên­cias; nas profundezas tudo se torna lei. E aqueles que vivem mal este mistério, que se enganam (e são bastantes), apenas o perdem para si próprios; mas transmitem-no como uma carta fechada, sem o saberem. E não se desoriente com a multiplicidade dos nomes e a complexidade dos casos. Talvez tudo isto seja regido por uma vasta maternidade, como uma saudade comum. A beleza de uma virgem — um ser que (como tão bem diz) «ainda nada deu», está na maternidade que se insinua e prepara, se deseja e receia. E a beleza daquela que já se tornou mãe reside na mater­nidade que serve, e que na velhice constituirá uma grande recor­dação. E também no homem há, segundo me parece, materni­dade — física e espiritual; criar é para ele também uma forma de dar à luz, e dar a luz é conceber a partir da mais íntima plenitude. E talvez os sexos sejam mais parecidos do que se pensa e a grande renovação do mundo venha talvez a consistir no facto de o homem e a mulher, libertos de todos os equívocos e repulsas, não se encararem como contrários mas como irmãos e como vizinhos e se juntarem como seres humanos para, apenas e só, suportarem de forma séria e paciente, juntos, o difícil peso da sexualidade que lhes foi atribuído.

Rainer Maria Rilke, in "Cartas a um Jovem Poeta" (16 de Julho de 1903)

quinta-feira, abril 05, 2007

CINEMA - A Maldição da Flor Dourada


A MALDIÇÃO
DA FLOR DOURADA

China, século X, em plena dinastia Hou Tang. Deve dizer-se que houve duas épocas nesta dinastia Tang, ou duas dinastias Tang nesta longa época: uma primeira que vai de 618 a 907, conhecida apenas por Tang, e que ficou célebre por ser um período de estabilidade política e social, onde a arte e a cultura floresceram na paz e na prosperidade do império. Posteriormente, a segunda época Tang, corresponde então à já mencionada dinastia Hou Tang, que contrasta com a primeira em inúmeros aspectos. Entre 923 e 936 imperaram a corrupção, as lutas pelo poder, o caos político, militar e social. Intrigas palacianas e lutas entre clãs levaram à fragmentação do império. Chefes militares comandaram regiões, criando pequenos impérios que se guerreavam entre si, tornando o território facilmente vulnerável a ataques vindos do exterior, quer dos Mongóis ao Norte, quer dos Turcos a Oeste, por exemplo. Esta época de treze anos ficou conhecida pelo “período das cinco dinastias e dos dez reinos”, a que pertencem as cinco dinastias do Norte e os dez reinos do Sul.
A história que “A Maldição da Flor Dourada” conta não corresponde a nenhuma verdade histórica factual. Aquele Imperador, aquela Imperatriz, aqueles três filhos do Imperador não existiram de verdade. São fruto da imaginação de um dramaturgo, Yu Cao, que, em 1930, escreveu uma peça de teatro agora adaptada a cinema por Zhang Yimou (já havia sido adaptada anteriormente ao cinema, em Hong Kong, por dias vezes). Mas se essas personagens não existiram na realidade poderiam muito bem ter existido. Assim, num peça de teatro ou num filme, funcionam como um símbolo, não só dessa época, mas de todas as épocas onde as lutas pelo poder pintam os tronos de sangue. Poderíamos falar obviamente de Shakespeare, de “Hamlet” a “O Rei Lear”, passando por “Macbeth” e algumas outras obras suas, mas poderíamos também falar da China moderna, de China de Mao Tse Tung ou da actual China de um comunismo convertido ao capitalismo naquilo que lhe interessa, e respeitador do chamado “materialismo dialéctico” naquilo que lhes agrada.
Pela evocação do nome de William Shakespeare se pode pressentir que “A Maldição da Flor Amarela” seja uma tragédia política como algumas outras que tiveram o grande dramaturgo inglês como influência manifesta. Neste aspecto justo é recordar um outro cineasta oriental, o japonês Akira Kurosawa, que adaptou ao cinema “Macbeth” (que deu origem a um magnifico “Trono de Sangue”) e “O Rei Lear” (transformado no fulgurante “Ran, os Senhores da Guerra”). Não é, portanto, original este interesse do Oriente pela arte do dramaturgo britânico, nem será seguramente a última vez que tal acontece. Para o confirmar, dias depois da estreia de “A Maldição da Flor Dourada”, lança-se igualmente em salas portuguesas “Inimigos do Império” (Ye yan), de um outro cineasta chinês, Feng Xiaogang, desta feita tendo como base “Hamlet”, vertido para cenários do “Oriente vermelho.”.
No caso do filme de Zhang Yimou, tudo aponta para o Imperador que protagoniza a obra ser um mero capitão que usurpa título e território, casando pela segunda vez com uma Imperatriz, esta sim de origem imperial, que ele vai lentamente envenenando com um raro fungo negro persa, que, tomado em doses certas e sistemáticas, conduz à loucura. Mas não será ele o único a conspirar e a desejar a morte de familiares para se manter mais firmemente no trono. Por estas bandas, como por muitas outras, toda a gente conspira. A Imperatriz espera pela Festa dos Crisântemos para atirar contra o Imperador um exército de soldados com flores amarelas bordadas no peito, mas os três filhos, cada um por seu lado, têm também palavras a dizer, ou a engolir depois de fustigados até à morte por exércitos ou cintos metálicos que funcionam como chibatas fatais.

Um trono é o símbolo de um poder porque todos suspiram e que ninguém parece dispensar. É verdade que o Imperador é muito directo quando explica a sua visão do mundo aos filhos: “Nunca tentes tomar pela força o que eu não te quiser oferecer.” Esta verdade serve para os filhos, como para todo o cidadão do império. Ou seja: eu mando, posso e quero, vocês obedecem, e pela revolta não conquistarão o que eu não vos quiser dar. Nada mais simples do que a ditadura completa de alguém que, por deter o poder, não o quer ver fugir das suas mãos. Os tiranos são assim, quaisquer que sejam as razões ou as justificações para assim agirem.
O que o filme de Zhang Yimou demonstra é que nem laços de família impedem a barbárie. A sede de poder é mais forte que qualquer outro sentimento. Tudo isto decorre num cenário quase único (o palácio do Imperador), com raras fugas para o exterior, num tempo único, nas vésperas e no dia da Festa dos Crisântemos, também chamada festa de Chong Yang, uma festividade que é celebrada desde há muito na China e que ainda o é, nos nossos dias. Estamos no domínio da pura tragédia. Uma tragédia que tem uma simbologia muito precisa no interior de uma certa mitologia chinesa.
No dossier de imprensa do filme, explica-se o que, para nós, ocidentais, pode não ter um significado evidente: “o “Festival do Duplo Novo”, que aparece associado aos crisântemos, ocorre no nono dia do nono mês do calendário lunar (9 de Setembro). Na Antiguidade e na tradição do yin e do yang, o novo pertence ao yang, que simboliza a fortuna, a felicidade e a claridade. O nono dia do nono mês e pois composto por dois “novos”, o dia yang do mês yang. Em chinês, o “novo” é homófono de eternidade. Estes “novos”, duplamente yang, têm igualmente uma conotação de energia positiva e masculinidade. A festa de Chong Yang é celebrada festejando-a com a família, honrando os antepassados e os idosos. O costume manda subir a uma montanha, ou a um terraço elevado – como aquele que se vê em “A Maldição da Flor Amarela” -, para apreciar a natureza e escapar da influência dos espíritos maus. Vive associada aos crisântemos, ao vinho e aos bolos confeccionados com esta flor. Em medicina, o crisântemo é receitado para eliminar toxinas e para afastar o mal. Toda esta simbologia do Chong Yang deriva de uma lenda que afirma que os habitantes de uma aldeia, na época de Han do Este (25-220), viram um homem sábio descer da montanha para os alertar para uma catástrofe que se avizinhava. Para se salvarem teriam de deixar a aldeia, subir uma montanha e beber vinho de crisântemo, o que eles fizeram. Quando regressaram à aldeia, esta tinha sido incendiada e saqueada, os animais mortos, mas os seus habitantes haviam sido salvos pelas palavras do sábio.”
Voltando ao filme, o Imperador regressa ao seu palácio, a tempo de celebrar em família a festa de Chong Yang. Milhares de crisântemos de um belo amarelo dourado tinham sido dispostos nos jardins do palácio. Obviamente que numa família onde reina a maior das deslealdades e onde todos os seus membros conspiram uns contra os outros, difícil se torna interpretar este facto senão como uma forma de atingir objectivos inconfessáveis. Na verdade, a Imperatriz e um dos filhos do Imperador, Wang, o primogénito, gerado de um anterior casamento, mantêm uma relação (quase) incestuosa. Mas Wang, apesar disso, sente uma atracção irresistível por Chan, a filha do médico. A Imperatriz vai sendo envenenada pelo Imperador, com a cumplicidade do médico e da filha do médico da corte, enquanto, por seu turno, prepara uma revolta contra o marido, procurando auxílio junto de algum dos filhos. Particularmente de Jay, o filho do meio, que se preocupa seriamente com a saúde da mãe e com os maus presságios dos crisântemos. Cada um dos filhos tem as suas próprias ideias de usufruir do poder e finalidades. Até o mais jovem se revelará, no final, de forma surpreendente.
Depois de umas horas passadas no interior do palácio, por entre conspirações várias e inconfessáveis desejos, com a preparação dos festejos a ser regulada por um grupo de servos que percorre os corredores cantando uma ladainha sobre as horas, o seu significado e as emoções que se devem sentir nesses momentos, chega a altura de explodir essa violência armazenada ao longo dos anos. O médico e a sua família, que são enviados para longe do palácio imperial, são os primeiros a sucumbir a um exército de soldados de negro que salta do espaço e se abate sobre um pequeno palácio perdido na montanha.
Quando a festa dos crisântemos arranca, ao bater da meia-noite, os segredos guardados por todos até aí revelam-se, da mesma forma que as tropas escondidas aparecem das sombras da noite. De surpresa em surpresa, trocam-se as voltas ao destino que se mostra madrasto para os milhares que regam com o seu sangue o campo de crisântemos: o amarelo dourado da festa tinge-se de vermelho-morte. A hipocrísia de quem fica com o poder não se detém perante o horror. Retirados os cadáveres, limpos os campos, recolocadas as flores, segue a festa, com alguém de novo a reafirmar a máxima por que se regem os tiranos: “Nunca tentes tomar pela força o que eu não te quiser oferecer.” A calma parece voltar a reinar na China milenar, mas um gesto da Imperatriz reafirma a vontade de não ceder, de se revoltar, de não aceitar pacificamente esse envenenamento lento e progressivo, silencioso, que conduz à loucura. Há quem queira ver na história uma metáfora aos tempos de Mao Tse Tung (ou Mao Zedong, se preferirem) e do “bando dos quatro”, mas parece-nos muito mais evidente uma referência crítica à China actual. Esta é a produção chinesa mais cara de sempre e a que maior bilheteira recolheu no seu pais de origem. Indicada para os Oscars, não venceria o de melhor filme em língua não inglesa, mas avaliza uma carreira internacional de muito mérito.

Há quem prefira a este melodrama histórico que tem por centro a febre do poder, a aventura galante de “O Segredo dos Punhais Voadores” (um dos mais belos filmes que vimos nos últimos anos!). Mas devemos sublinhar que, enquanto “O Segredo dos Punhais Voadores” se colocava ao nível de umas aventuras de Robin dos Bosques ou de uma intriga de Walter Scott, esta “A Maldição da Flor Dourada” se aparenta mais às tragédias de Shakespeare e às versões de Orson Welles ou Kurosawa. Vamos mais longe: passa por aqui a maldição de um “Ivan, o Terrível”, de Eiseinstein, ou a apaixonada frieza crítica de um Luchino Visconti. Colocamos assim este filme ao nível de uma das obras-primas destes anos mais chegados, quer pela gravidade do testemunho (que vem da China, mas é preocupação planetária) quer pela sumptuosidade da sua encenação, o fulgor da realização, o esplendoroso colorido de uma fotografia que não deixa de surpreender, ou a fabulosa interpretação de um elenco inatacável, mas onde sobressai a lindíssima e talentosa Gong Li, de regresso ao convívio de Zhang Yimou, depois de ter sido durante muitos anos sua companheira, na vida e na tela (“Milho Vermelho” e “Esposas e Concubinas”, entre outros), a que se seguiu um período de separação sintomática que a trouxe para Ocidente (apareceu em “Miame Vice” e “Memórias de uma Geisha”).
Zhang Yimou, por seu turno, não se afasta do caminho que traçou e que faz dele um nome maior da cinematografia mundial.
Ao lado de Chen Kaige, com quem criou a “Quinta Geração” do cinema chinês, que colocou a cinematografia daquele país no mapa, em plena década de 80, Zhang Yimou criou uma filmografia impressionante, alternando obras sobre a China Moderna com outras que abordam temas históricos, na linha do popular “wushia” ou filme de sabre, que Hong Kong celebrizou. Nestas o seu olhar não se afasta da China actual. Mas em lugar de a abordar directamente, perspectiva-a em termos simbólicos e de metáfora.
Um filme admirável, de uma beleza rara, de cortar a respiração, de suspender o olhar. Não percam este desafio.

NUNO JÚDICE, NO JANTAR VAVADIANDO DE 11 DE ABRIL

terça-feira, abril 03, 2007

CINEMA - TRÊS FILMES SOBRE A ALEMANHA DO PÓS GUERRA / RDA



AS VIDAS DOS OUTROS


“Das Leben der Anderen”, filme de estreia de Florian Henckel-Donnersmarck na longa-metragem de ficção, é não só uma verdadeira revelação, como um dos mais notáveis retratos de uma sociedade dominada por um regime totalitário, e continuamente vigiada por uma polícia política. Fala-nos da RDA em meados da década de 80, sob a batuta ditatorial de Erich Honecker. Um estado policiado, onde a Stasi ocupava destacado lugar, servida por uma rede de mais de 200.000 informadores que vigiavam toda a população e se vigiavam entre si, numa paranóica actividade de espionagem que facilmente redundava na esquizofrenia e, não raro, em algo muito mais grave ainda, do assassinato ao suicídio.
Gerd Wiesler (Ulrich Mühe), que tem como nome de código a sigla HGW XX/7, inspector da Stasi, polícia política da RDA, é encarregado de acompanhar as actividades diárias dos considerados inimigos do partido comunista, então o poder. Ele é também professor de uma escola da polícia, onde ensina as técnicas mais sofisticadas para extorquir confissões, e que vão desde a tortura do sono até outras mais psicológicas. Mas esse desmedido interesse pela “vida dos outros” tem por base a hipotética actividade clandestina para derrubar o regime, mas igualmente ouvir e denunciar quem proteste contra a falta de liberdade e outras “características” destes regimes ditatoriais. Acontece que, apoiando-se nesta polícia todos os abusos eram possíveis. Por exemplo: o ministro Bruno Hempf vive obcecado pelos encantos de Christa-Maria Sieland (Martina Gedeck), uma das actrizes de maior prestigio nos palcos de Berlim. Acontece que a referida senhora vive com Georg Dreyman (Sebastian Koch), um escritor acima de toda a suspeita, que todavia se dá com alguns dissidentes, nomeadamente um encenador, que é o seu preferido, mas que caiu em desgraça. Nada há de concreto para suspeitar de Georg Dreyman, mas daria muito jeito ao ministro Bruno Hempf descobrir algo que pusesse fora de campo esse empecilho no seu caminho para Christa-Maria Sieland. Uma conversa entre o ministro e os serviços secretos é o bastante para eles montarem uma operação destinada a descobrir o vestígio de uma suspeita por onde possam avançar. É o que fazem: colocam a casa do escritor sob escuta, quarto a quarto, olhos e ouvidos bem atentos a todas as deslocações, todas as conversas, todas as recepções e algo há-de aparecer. Se não aparecer, forja-se. O escritor será detido, a actriz ficará fragilizada, as investidas do ministro poderão ter êxito, mesmo que Christa-Maria Sieland seja obrigada a prostituir-se para continuar a sua carreira de actriz, mesmo que tenha de denunciar quem ama para se manter viva, ainda que por muito pouco tempo. As teias do horror estenderam-se sobre aquele casal, como se estendiam sobre tudo e todos neste regime de pesadelo (em tantos e tantos aspectos uma cópia do que acontecia em Portugal com a PIDE).
Acontece que o filme de Florian Henckel-Donnersmarck não só descreve minuciosamente o que acontecia a Leste, com os seus serviços secretos, e os tortuosos mecanismos da repressão policial, como vai mais longe e nos oferece o retrato admirável de um homem que evolui da condição de carrasco para a de vítima, mercê de uma progressiva consciencialização. Gerd Wiesler é inicialmente apresentado como um executante sem consciência, a não ser a do “dever cumprido” em nome de princípios que o ultrapassam e que nem sequer questiona, e que depois, à medida que acompanha directamente o caso de Georg Dreyman e de Christa-Maria Sieland percebe até que ponto pode descer a indignidade dos torcionários e acaba por assumir uma posição que lhe vai custar o emprego e algo mais. Um artigo publicado anonimamente por Georg Dreyman numa revista da RFA será o pretexto encontrado para despoletar a perseguição e a crise que levarão Gerd Wiesler a tomar partido.
Vencedor do Óscar para Melhor Filme em língua não inglesa, “As Vidas dos Outros” é um tremendo retrato de uma sociedade enclausurada sob escuta e que diariamente coloca à beira da maior das indignidades todos os seus cidadãos, carrascos e vítimas indefesas da prepotência sem limites. Para nos restituir este monstruoso painel do quotidiano desrespeito dos mais ínfimos direitos humanos, o realizador consegue uma claustrofóbica ambiência que nos é dada por pequenos apontamentos onde o medo torna irrespirável a vida e atira para o suicídio percentagens infames de cidadãos que não conseguem ultrapassar esse horror. Excelentes actores dão plausibilidade e consistência psicológica a este filme que ficará seguramente como um marco na história do cinema alemão da década. Um período que nos tem dado obras muito interessantes sobre o século XX na Alemanha e nas duas Alemanhas do pós guerra, como "Good Bye, Lenin!", "Der Untergang" ou "Sophie Scholl", não esquecendo “Les Trois Vies de Rita Vogt”, de Volker Schlöndorff, onde se fazem igualmente alusões a esta época.
Florian Maria Georg Christian Graf Henckel von Donnersmarck, nascido em Colónia a 2 de Maio de 1973, estreou-se na longa-metragem com este filme que lhe trouxe o reconhecimento público e varias dezenas de prémios internacionais. Estudou Filosofia na Universidade de Oxford, e Cinema, na Hochschule für Fernsehen und Film, de Munique. Inicialmente rodou curtas-metragens e episódios para séries de televisão (Mitternacht (1997), Das Datum (1998), Dobermann (1999), Der Templer (2002) e episódios da série "Petits Mythes Urbains" (2003). Saiu da escola em 2001, sem terminar o curso, para começar a elaborar o projecto de “Das on Leben der Anderen”, filme que lhe valeu o diploma de realizador, como prémio.

CINEMA - TRÊS FILMES SOBRE A ALEMANHA DO PÓS GUERRA / RDA



O BOM ALEMÃO

“The Good German”, uma realização de Stephen Soderbergh, parte de um romance de Joseph Kanon (2001), inicia-se como uma espécie de “remake” de “The Third Man”, de Carol Reed (1949) e termina à maneira de “Casablanca”, de Michael Curtis (1942). Esta afirmação não tem nada de pejorativo, é intencional no próprio filme, baseia-se em deliberadas decisões dos seus autores: eles querem realizar um filme como já não se faz, um filme de espionagem negro, à boa maneira dos filmes rodados nos anos 40 e 50, e que tiveram a “guerra-fria” como base de apoio. Para isso Stephen Soderbergh não foi de meias medidas. Recusou quase tudo o que as novas técnicas lhe poderiam oferecer e quis filmar como se filmava nos anos 40-50, sem “zooms”, sem iluminação sofisticada, sem outras possibilidades de captação de som do que as que existiam na época. Misturou as suas imagens com as actualidades da época, arrancou dos arquivos planos impressionantes das ruínas de Berlim, nos meses que se seguiram à rendição de Hitler, quando a 2ª Guerra Mundial estava prestes a acabar, já não se combatia na Europa, e apenas os japoneses ainda davam luta no Pacifico. O resultado neste aspecto é brilhante, mas incita a levantar uma questão: por quê esta necessidade de recuar no tempo e rodar um filme como se rodava em 1945? Estes critérios só têm razão de ser, se existirem fortes motivos que os justifiquem.
A ideia parece-me óbvia e resultar, de alguma forma, ainda que não totalmente: construir um filme cuja aparência seja a de uma obra da década de 40, contemporânea dos factos descritos, mas narrada e perspectivada de uma óptica actual. Um filme rodado em 45, mas “montado” em 2006. Imagens de 45 “vistas” pelos olhos de um espectador de 2006. Donde uma narrativa que não pretende ser “transparente”, como o seria em 45, mas conflituosa, intercortada por hiatos de ligação, criando tensão entre planos e sequências, motivando uma dificuldade de leitura e percepção que os anos de distância permitem acumular sobre estes factos. Afinal nada foi simples de leitura nos acontecimentos relatados. Os puzzles políticos foram muito complexos, de difícil compreensão a um olhar que não interrogasse a realidade de várias formas e com uma visão crítica atenta. Discutia-se o futuro do mundo e nós, hoje em dia, já sabemos como foram os 60 anos seguintes desse futuro do mundo. Nada pacíficos, nada auspiciosos como pareciam nesse fim de pesadelo pós 2ª Guerra Mundial. Na altura, a paz era a esperança e tudo o que fosse um sinal de fim de tortura era bem visto. Mas a tortura continuou sobre outros aspectos. Da guerra-quente, passou-se à guerra-fria, mas o sangue continuou a derramar-se. As ideologias mudaram, mas as desilusões persistiram. A ditaduras e os campos de concentração também. Com outros nomes apenas.
Estamos, portanto, em 1945, em Berlim, numa altura em que, perto, em Potsdam, Churchill, Truman e Estaline reuniam e dividiam o mundo. Dividiam a Europa, dividiam a Alemanha, dividiam Berlim. Uns queriam abertamente território. Outros pretendiam zonas de influência e “cabeças”, inteligência, que lhe trouxessem poder, domínio, por outras formas. Depois de destruído o Nazismo, americanos e soviéticos anteviam os anos que viriam a seguir. De cada lado se contavam as armas. O filme aborda esta época, onde a terra queimada começava a ser arada com intenções muito determinadas e colheitas previstas “à la longue”. Mas a semente tinha de ser lançada quanto antes.
É neste contexto que surge, em Berlim, Jake Geismar (George Clooney), um jornalista, correspondente do exército americano e do jornal “New Republic”, que procura fazer a cobertura da reunião para o público americano, mas tenta igualmente localizar uma velha conhecida, uma secretária sua de uma anterior permanência em Berlim, por quem se apaixonara e cujo paradeiro perdera. Um soldado americano, Tully (Tobey Maguire), é designado para o conduzir nas suas deslocações pela Alemanha. Mal sabe Geismar que é esse mesmo Tully quem agora vive com Lena, cujo marido foi dado como morto, mas que americanos e soviéticos perseguem denodadamente, deixando atrás de si um rasto de morte.
É evidente que Geismar inicia o inquérito privado contra o parecer de todos que o querem calmo e discreto. Mas ele descobre que está a ser utilizado como isco, resolve ajudar Lena, que entretanto localiza, mas esta afasta-o, mente sobre o paradeiro do marido, faz aparente jogo duplo. Os americanos não ajudam Geismar, os soviéticos jogam também ao gato e ao rato, e as mortes vão continuando. Quem serve quem? Quem procura quem e por quê? Quem é quem e quem não é ninguém? Quem assume a identidade própria, num cenário de escombros, sombras e penumbras? Tully aparece morto na margem de um rio. Quem é o marido de Lena e que representa para todos que o procuram localizar ou o escondem? São vários os puzzles, inúmeras as questões, um repórter de guerra e um amante desesperado não conseguem avaliar bem os limites da trama. O que descobrirá o cidadão comum, neste emaranhado de mistérios e enigmas que vão decidindo o futuro do mundo na sombra e no silêncio da noite berlinense?
O filme é a preto e branco e não mostra qualquer sinal de esperança. Não há “happy end”, não há luzes ao fundo do túnel, nem amores futuros, não há “amanhãs radiosos” nem gritos de liberdade e prosperidade para encobrir os maus presságios. Há apenas a divisão do mundo em nome de interesses e ideologias contraditórias. Com a divisão do mundo continua-se a acreditar pouco, muito pouco na dignidade do homem e na salvaguarda dos valores. De um tal exercício não se poderia esperar outra coisa senão o que veio a seguir. Entre outras barbaridades, a RDA.
Steven Soderbergh nasceu a 14 de Janeiro de 1963, em Atlanta, Georgia, EUA. Como realizador torna-se conhecido internacionalmente com “Sex, Lies, and Videotape” (1989), a que se seguem muitas outras obras, onde alterna obras de circuito de grande público com outras experimentais e decididamente autorais: “Kafka” (1991), “King of the Hill” (1993), “Underneath” (1995), "Fallen Angels" (2 episódios, 1993-1995), “Gray's Anatomy” (1996), “Schizopolis” (1996), “Out of Sight” (1998), “The Limey” (1999), “Erin Brockovich” (2000), “Traffic” (2000), “Ocean's Eleven” (2001), “Full Frontal” (2002), “Solaris” (2002), “Eros” (2004) (episódio "Equilibrium"), “Ocean's Twelve” (2004), “Bubble” (2005) e “The Good German (2006), Prepara “Ocean's Thirteen (2007), “Guerrilla” e “The Argentine” (2008).
Como produtor são de referir vários trabalhos que o colocam à margem da grande indústria, privilegiando o cinema de autor: “Syriana”, “The Big Empty”, “Good Night, and Good Luck” (2005), “Confessions of a Dangerous Mind”, “Naqoyqatsi”, “Far from Heaven”, “Welcome to Collinwood”, “Insomnia” (2002), “Tribute, Who Is Bernard Tapie?” (2001), “Pleasantville” (1998), “The Daytrippers” (1996) ou “Suture” (1993).

Ver todo o artigo no número de Abril da revista "História"

segunda-feira, abril 02, 2007

sexta-feira, março 30, 2007

UMA TARDE EM AVEIRO

Hoje fui a Aveiro.
Tratar de questões relacionadas com a memória de meu pai, Lauro Corado.
Na Câmara Municipal, reunião com a Cultura para concretizar, ou não, a ideia de uma Casa Museu Lauro Corado. Há uns anos, a família vendeu alguns quadros de meu pai à CMA e ofertou outros tantos com a intenção de concretizar uma Casa Museu ou uma galeria no Museu da Cidade. Ficou escrito no contrato de venda e doação. Mais ficou registado que a CMA se encarregaria de organizar uma exposição para mostrar as obras adquiridas, da edição de um livro-catálogo e da produção de um vídeo. Tudo sobre Lauro Corado. A exposição e o livro já foram concretizados. Depois veio o Euro, o estádio, e ficámos por aí.
Agora que morreu minha mãe, não gostava de ver tudo disperso. Uma Casa Museu era uma excelente oportunidade de reunir o essencial de uma obra. De criar um espaço aberto a exposições temporárias, aos jovens, a sessões de cinema, a uma biblioteca e Dvdteca, a tanta actividade possível. A ideia está entregue. Já sei que a CMA não tem para já verbas. Terá vontade de concretizar esta homenagem a um filho ilustre da terra?
Veremos.
À saída da CMA, na fachada do belo Teatro Aveirense, um cartaz enorme, assinala os 125 anos do Teatro e apresenta o retrato de alguns aveirenses ilustres, de Homem Cristo a Vasco Branco, passando por Lauro Corado. Fiquei orgulhoso de ver a fotografia de meu pai. Mais orgulhoso ainda quando me contaram que, numa eleição promovida por um jornal da Terra, sobre quem eram os “Maiores Aveirenses de Sempre”, apareceu já votado Lauro Corado.
Pelo TA, muita proposta teatral e musical. Nesta noite, apresentava-se a CNB com Programa Primavera.
Na galeria da CMA vi uma curiosa exposição de fotografia: “Corpos”, com trabalhos de Ana Henriques, Andreas Soares, Catarina Patrício e Marisa Nunes, todas nascidas entre 1973 e 1980. O corpo, nu ou vestido, mas o corpo como objecto de reflexão estética, como elemento em transformação, como invólucro de emoções. Gostei.
No edifício da Antiga Capitania, “Mostra #2”, conviver com a Arte Contemporânea em Aveiro, através de obras do acervo de arte contemporânea cedidas pelo Instituto das Artes/Ministério da Cultura à cidade de Aveiro. Cerca de três dezenas de obras expostas, com meia dúzia delas interessantes (Júlio Resende, Menez, Paulo Ossião, Cândido Costa Pinto, António Sena… e várias fotografias de autores desconhecidos). No resto, coisas assim-assim e muitos mamarrachos.
Fala-se de um projecto de uma Avenida de Arte Contemporânea, mas pouco se fica a saber do que tudo isto é, quer dizer, ou para onde vai. Uma folha (pouco) explicativa, colada em mesas, e nenhum material informativo.
Subi ao Fórum e fui à excelente Bertrand, onde me abasteci de livros para um mês. Passei pelos cinemas e, de novo na rua, descobri que a livraria “Navio de Espelhos” estava fechada. Era um espaço alternativo muito curioso. Tudo leva a crer (a porta fechada, e as indicações dadas) que faliu. Pena.
Alternativo é o “Mercado Negro” que atravessei em noite de apresentação de “Peças Soltas”, de Cláudia Stattmiller, teatro/perfomance. Muitas meias presas em estendais davam o mote. Notei que a livraria também desapareceu. A loja de CDs também não a vi.
Mas descobri uma lojinha de artesanato, "Gatafunhos", onde comprei um presépio para a minha colecção. O dono parece um verdadeiro entusiasta de arte popular, e a loja é um reflexo disso. Gostei.
Passeio junto à ria e fui jantar sopa de peixe e robalo grelhado no “Mercado do Peixe”, com vista de lusco-fusco sobre um cais que meu pai pintou por diversas vezes. Enquanto esperava pelo jantar, folheei o jornal da terra onde Girão Pereira considera abandonar o CDS/PP.
Findo o repasto (belo termo!), vagueei nostálgico pelas ruas. Gosto de Aveiro. Ligam-me a esta terra tantas recordações! Por detrás do Fórum, num local indicado numa tabuleta como “Cemitério”, está uma campa que não esqueço. Mortos queridos que, apesar das aparências, nunca se enterram.

quinta-feira, março 29, 2007

VáVá.diando com Dacosta



Fernando Dacosta


e as “Máscaras de Salazar”


Conheci Fernando Dacosta não me lembro já quando. Ambos andámos pelo “Diário de Lisboa", numa época de boas e más recordações. As boas são as que agora interessam, o jornal era um farol de resistência num período de cinzentismo e opressão, ali se tentava escrever aspirando à Liberdade. Ele era jornalista encartado, eu crítico de cinema (ao lado de uma super equipa de críticos de que faziam parte também Mário Castrim, na Televisão, Carlos Porto, no Teatro, Mário Vieira de Carvalho, na Música, por exemplo). Depois coabitámos na Pró-Jornal, ele jornalista em “O Jornal”, eu crítico numa boa época do “Sete”. Um dia, João Soares convidou-nos para, ao lado de outros nomes, integrarmos ambos um Júri para avaliarmos umas duas dezenas de peças de teatro, encenadas por grupos de amadores na região de Lisboa. Excelente iniciativa, noites sucessivas de demanda de teatros, teatrinhos e casas pessoais, onde com amor e por vezes muito talento de fazia teatro. Foi nessas noites de deambulação por bairros de Lisboa que a amizade se estreitou, para se cimentar, mais e mais, há semanas, durante o “Famafest 2007”, de que Fernando Dacosta aceitou fazer parte como presidente do Júri Internacional.
Mas também nos últimos tempos ele tinha sido minha companhia diária, enquanto dele lia “Máscaras de Salazar”, um magnifico trabalho literário, difícil de catalogar num género pré-definido, pois tanto é biografia de Salazar (para o que convoca dados novos e interpretações complexas, afastadas dos maniqueísmos redutores habituais), como auto biografia, sendo sobretudo um retrato panorâmico de uma época de que muito se fala, sem todavia se ter dela conhecimento certo e vivencial. Dacosta mostra que viveu os tempos, conviveu com as personagens, e não se fica pela radiografia facilitista, tirado do lado esquerdo ou do lado direito do enquadramento. Se a imparcialidade não é deste mundo, a sua procura é-o. Dacosta fala de décadas de opressão, de ditadura paternalista, de provincianismo misantropo, de apagada e vil tristeza, de censura e perseguição, mas não deixa de iluminar também alguns aspectos que muitos querem esquecidos. A História só se faz depois de ultrapassados preconceitos. Os fantasmas só se enterram depois de, por alguma forma, terem sido psicanalizados, isto é, assumidos e apagados da memória colectiva enquanto tal: fantasmas, ou seja mitos. Se muitos mais já tivessem realmente “compreendido” Salazar ele não teria sido seguramente o mais votado dos “portugueses maiores”. Lá teria o seu lugar num cantinho da História, dedicado àqueles que, por virtudes que tenham, as defendem com vícios indesculpáveis. Para quem ama a Liberdade e por ela se bateu, a entronização de quem não soube nunca viver com ela é um facto preocupante. Mas mais preocupante ainda é ver uma esquerda histérica a dar mais votos a quem quer ver reduzido ao seu verdadeiro lugar na História, de cada vez que fala ou espuma pela boca.

Dito isto sobre “Máscaras de Salazar”, seu último trabalho e o de maior sucesso de público e de crítica, deve acrescentar-se que Fernando Dacosta não é autor de uma única obra.
Romancista, dramaturgo, jornalista, conferencista, Fernando Dacosta nasceu em Luanda a 12 de Dezembro de 1945 de onde foi, ainda criança, para o Alto Douro. Após frequentar o liceu na cidade de Lamego fixa-se em Lisboa, cursa Letras e inicia-se no jornalismo e na literatura. Foi director dos “Cadernos de Reportagem” e co-editor da “Relógio d´Água”.
A sua primeira peça de teatro, "Um Jipe em Segunda Mão ”, sobre a guerra colonial, vale-lhe o Grande Prémio de Teatro RTP, o Prémio da Associação Portuguesa de Críticos e o Prémio Casa da Imprensa. “A Súplica ” (monólogo de uma mulher em ruptura com a realidade pós 25 de Abril), “Sequestraram o Senhor Presidente” (obra localizada no período revolucionário), “A Nave Adormecida ” (oratória do Portugal colonialista) e “A Frigideira” (inédito), são outros dos seus trabalhos dramatúrgicos.
“Os Retornados Estão a Mudar Portugal”, narrativa da integração dos portugueses regressados de África, obtém o “Prémio Clube Português de Imprensa”. “Moçambique, todo o sofrimento do mundo ”, vence os prémios “Gazeta” e “Fernando Pessoa” de 1991. “O Despertar dos Idosos ” recebe o prémio “Gazeta” de 1994.
Com “O Viúvo”, metáfora sobre a perda do império, conquista o Grande Prémio de Literatura Círculo de Leitores. “Os Infieis”, parábola à volta dos que ousam trair o estabelecido, como os navegadores de quinhentos, e "Máscaras de Salazar", crónica memoralista, são, respectivamente, os seus últimos romances e narrativa.
Apresentou durante 1991 e 1992 uma rubrica sobre livros na RTP-1. Integrou os júris dos principais prémios literários portugueses. Foi agraciado em 2005 pelo Presidente da República com a Comenda da Ordem do Infante D. Henrique.

TRAVIATA - Excerto

terça-feira, março 27, 2007

ENCONTRO DE BLOGUES - NOMEAÇÕES


NOMEAÇÕES DE BLOGUES
No blogue "Kontrastes 20", surgiu um post que transcrevemos com a devida vénia:

336] Cineblogger
Março 14th, 2007

Na próxima sexta-feira, em Famalicão, arranca uma nova fase da vida da blogosfera portuguesa. Mais um salto qualitativo para a afirmação da importância dos blogues no contexto das novas tecnologias de informação e comunicação — NTIC’s –, e neste preciso caso, dos blogues temáticos. Os blogues cinéfilos começam a ganhar o seu espaço na blogosfera e são uma mais valia para os conteúdos do ciberespaço.

O Famafest, organizado por Lauro António, servirá também para escolher os melhores blogues de cinema e cultura. Entre os nomeados estão:

Melhores Blogues de Cinema: O Acossado; Ainda não começámos a pensar; Amarcord; As Aranhas; Brain-mixer; Cineásia; Cineblog; De que raio é que ele está a falar?:; Estado Civil; Fila do meio; Filmes de Culto; Grindhouse; Hollywood; Imagens Perdidas; Last Picture Show; Mise en Abyme; Mulholand Drive; Obscuridades da 7ª Arte; Pasmos Filtrados; Plano 9; Play It Againt; Royale With Cheese; Viver contra o tempo; Wasted Blues e Zona Negra. [os blogues que não possuem link deve-se ao facto de não ter encontrado os mesmos].

Melhores Blogues de Cultura: A a Z; Um Amor atrevido; Amor e ócio; Arrastão; A Arte da fuga; Aspirina b; Bandida; Big Blog is watching You; Blasfémias; Cidadesurpreendente; Contraculturalmente; Da literatura; Divas e Contrabaixos; Erotismo na cidade; Espaço de Crítica Artística; Fadista Valéria Mendez; Foram-se os anéis; Grande Loja do Queijo Limiano; Guilhermina suggia; Hoje há conquilhas; Indústrias Culturais; O Insurgente; Indústrias Culturais; O Intruso; Kontratempos; Lápis Exilis; Luminescências; O Melhor Anjo; Mouco; Miniscente; Miss Pearls; A Origem das Espécies; Passado/Presente; Passengers; Piano; Portugal dos Pequeninos; Raim; Republica e Laicidade; Saudades do futuro; Sem Pénis nem Inveja; A Senhora Sócrates; O Sentido das Palavras e Volto Num Segundo. [os blogues que não possuem link deve-se ao facto de não ter encontrado os mesmos].

Depois deste tempo perdido a procurar na imensa blogosfera os links dos ditos blogues, sinto-me no direito de opinar sobre as nomeações. No que concerne aos cineblogues ressalta logo que alguns dos nomeados não são, na realidade, blogues sobre muitas coisas menos cinema. No que concerne aos blogues culturais o que me apraz dizer é que, tentando atrair bloggers famosos, deu-se uso ao sentido lato do conceito “cultura”, albergando toda a produção humana. Neste sentido, tudo o que se produz num blogue é cultura. É por isso que muitos dos nomeados verdadeiramente ali estão. Porque se entendeu que a publicação de fotos de actores e locais de interesse turístico é postagem cultural. Para mim, tratou-se pois, de uma estratégia de marketing, chamando a atenção da blogosfera erudita para o evento, englobando-os assim nos elegíveis. A salientar fica a ideia muito mais do que o rigor.


Lido o "post", há a referir o seguinte: os blogues nomeados foram-no por votação de autores de blogues que os escolheram. A organização limitou-se a convidar todos os blogues a votarem. Quem achou por bem associar-se a esta iniciativa, votou em quem escolheu. A lista dos nomeados reflecte apenas essa votação. Não houve estratégia de marketing, nem sequer estratégia. Se a blogosfera dita erudita foi citada, foi-o por vontade de quem voto (yum voto por blogue, em cada categoria). Os conceitos de blogues de cinema e de cultura também foram de escolha dos eleitores. Até porque nos pareceu, a nós, abusivo e de mau gosto dizer quem é ou não autor de blogue de cultura ou de cinema. Se blogues houve que não foram nomeados, a quem não os nomeou caberá a "culpa".

Aproveito para agradecer as palavras iniciais de João Ferreira Dias, esperando que sobre as restantes fique esclarecido o equívoco. Também eu acho que houve muitos blogues esquecidos e outros sobrevalorizados, mas a votação não era só minha. Eu só tinha que respeitar a votação. O que fiz.

FAMAFEST 2007

FAMAFEST 2007
OS PRÉMIOS
ACTA DO JÚRI INTERNACIONAL

Aos 24 dias de mês de Março, em Vila Nova de Famalicão, reuniu o Júri Internacional do Famafest constituído por Fernando DaCosta, escritor, que presidiu, Rita Ribeiro, actriz, Lisa França, professora universitária e realizadora (Brasil), Rosa Coutinho Cabral, realizadora, Alain Marie, realizador (França), Patrícia Enis, realizadora (Argentina), Carlos Teófilo, director de festival, e Analisa Capriuollo, produtora (Itália) e decidiu atribuir os seguintes prémios:

Menções Honrosas:
"Marinheiros e Músicos”, de Steven Lippmann (EUA), pela respiração estética;
“Ehni”, de Jean-Luc Bouvret (França), pela vitalidade criativa;
“Penumbra”, de Gwynne MacElueen (Irlanda), pela reinvenção dossentimentos;
"O jardim que se afastou a flutuar”, de Ruth Walk (Israel), pelo assumir daLiteratura com sentido para a vida;
“Roxana", de Moze Mossanen (Canadá), pela beleza e ritmo.

Prémio Especial do Júri - Memória Histórica
"Meu Pai Humberto Delgado", de Francisco Manso (Portugal)

Prémio Ficção Jovem
"Conoclasta", de Mariko Saga (Polónia)

Prémio Melhor Documentário
"Só queria viver", de Mimmo Calopresti (Itália/Suíça)

Premio Ficção/Adaptação de Obra Literária
"Debaixo do Sol" de Baran Von Odar (Alemanha)

Grande Prémio de Lusofonia:
"O Escritor Prodigioso”, de Joana Pontes (Portugal)

Grande Prémio do Famafest 2007
"As Borboletas estão um Passo Atrás", de Mohammad Ibrahim Moaiery (Irão).

Por mais nada haver a tratar foi encerrada a reunião da qual se lavrou a presente acta que, depois de aprovada por unanimidade, vai assinada por todos os presentes
Vila Nova de Famalicão vinte e quatro de dois mil e sete.

ACTA DO JÚRI DA JUVENTUDE

O Júri da Juventude do FAMAFEST 2007 - IX Festival Internacional de Cinema e Vídeo de Vila Nova de Famalicão, constituído por Ana Cristina Leite Martins, Ana Rita Moura Silva, Bernardo Alberto de Macedo Miranda, Daniela Filipa Azevedo Silva, Joana Marina Silva Ferreira, Joana Sofia Ribeiro, João Paulo Carvalho Machado, Liliana Patrícia Araújo Pontes, Lisandra Oliveira, Patrícia Daniela da Silva Gomes e Rita Pires de Almeida, reunido no Café Concerto, da Casa das Artes, no dia 24 de Março de 2007, deliberou entregar os seguintes prémios:
Menção Honrosa:
"O PORTUGAL DE MIGUEL ESTEVES CARDOSO", realizado por Fernando Ávila (Portugal), pela forma directa do discurso narrativo e audiovisual e pela visão particular do país;
Menção Honrosa:
"PEQUENOS TORMENTOS DA VIDA", realizado por Gustavo Spolidoro (Brasil), pela evidência do papel da literatura na educação das crianças e da escola como meio privilegiado para vincular o gosto da relação entre o leitor e a literatura;
Prémio Especial da Juventude – Ficção:
"O SONHO DO LOBO", realizado por Maria-Anna Rimpfl (Alemanha);
Prémio Especial da Juventude – Documentário:
"ENSAIO SOBRE O TEATRO", realizado por Rui Simões (Portugal);
Prémio Especial da Juventude – Animação:
"O LOUCO, O CORAÇÃO E O OLHO", realizado por Annette Jung e Gregor Dashuber (Alemanha);
Grande Prémio da Juventude:
"SÓ QUERIA VIVER", realizado por Mimmo Calopresti (Itália), pela força narrativa e documental e pela importância histórica dos vista apresentados.