quinta-feira, novembro 02, 2006

CINE ECO 2006: Balanço crítico 3

Uma Maratona de
Bom Cinema e Bom Ambiente
4.
Obras a Concurso
Outras não Premiadas

"O Cerco"

Muitos outros filmes merecem ainda referência: de Espanha, “O Cerco” (El Cerco), de Nacho Martn e Ricardo Iscar (2005), foca a pesca do atum, essa “almadraba atuneira” de que já nos falara (e muito bem), em Portugal, António Campos. Regressa o ritual sangrento, todos os verões. Milhares de atuns migram em grupos para o Mediterrâneo, em direcção ao estreito de Gibraltar. Nesta tradição centenária, barcos de pesca espanhóis esperam a chegada do peixe neste apertado estreito, armados com uma verdadeira parede de redes, para bloquear o seu caminho. É a violência do circo romano. “La Almadraba” é o nome original do ritual mouro, durante o qual facas e arpões são também utilizados.
“Cidade Adormecida” (Ciudad Dormida), de Henrique Rodriguez, é outra abordagem espanhola: num quarto citadino, novo, limpo, mas vazio, os mecanismos parecem funcionar sozinhos e a ausência da vida humana torna-se perturbadora.

"De Puna a Manu, Memória Inca"

“De Puna a Manu, Memória Inca”, de Alfonso Martinez, (Espanha, Peru, 2005), ainda em língua espanhola, mas agora estamos nos picos de Challamba, na montanha de Paucartambo, no Peru. É a Puna. Gente muito especial habita estas terras altas. Os descendentes directos dos incas são os únicos capazes de transmitir para a posteridade o que significa hoje pertencer a uma comunidade que controlou outrora um vasto império. De Puna a Manu, estão compreendidas diferentes áreas de vida e a diversidade biológica e cultural que abrange são reconhecidas mundialmente. As pessoas que permanecem nestes lugares, onde o dia a dia é árduo, não mostram qualquer intenção de imigrar, antes defendem e mantêm os seus hábitos, a sua cultura e as suas famílias.
De França, vimos “O Herdeiros do Guaraná (Les Heritiers du Guarana), de Rémi Denecheau (França, Brasil, 2005), documentando a organização dos Satéré-Mawé e de outros povos da floresta brasileira, para conservar a cultura tradicional do guaraná e toda a cultura, língua e autonomia desses povos, ameaçados pela grande indústria que quer aumentar a produtividade. A todo o custo.

"Teshumara, As Guitarras da Revolta Tuareg"

“Teshumara, As Guitarras da Revolta Tuareg” (Teshumara, Les Guitarrres de la Rébellion Touareg), de Jérémie Reichenbach (France, 2005), viaja até África, observando o aparecimento de uma música muito própria. A ruína económica da companhia tradicional que se seguiu aos sucessivos conflitos, a opressão exercida pelos modelos militares, o exílio, a resistência armada, todas estas mudanças profundas da companhia Tuareg deram origem ao nascimento de um novo movimento cultural, o Teshumara, especialmente representado na música do grupo Tinariwen. Também de França, “Os Tomates Enfurecidos” (Les Tomates Voient Rouge), de Andréa Bergala (França, 2006). Os tomates são o fruto mais popular do mundo. Há milhares de variedades. No entanto, apenas cinco delas são largamente consumidas. Seguindo as redes de comercialização legais ou ilegais, “Os Tomates Enfurecidos” reflecte a estabilização dos gostos e a sua repercussão económica, nestes tempos de globalização da indústria alimentar.

"Terra em Movimento"

“Terra em Movimento” (Terre in Moto), de Michele Citoni, Ângela Landini e Ettore Sinlschlchi (Itália, 2006) recorda outro terramoto, este em Irpinia (ao Sul de Itália). 25 anos depois, os voluntários que ajudaram a população regressam. A terra está muito bonita, mas o acontecimento e as suas consequências deixaram marcas e mudaram profundamente a comunidade.
“Os Caranguejos de Cape May” (Les Limules de Cape May), de Annie Tellier, é um tributo ao ecossistema e à vida selvagem de Cape May (Baia de Delaware), considerado um dos melhores locais para se observar pássaros na América do Norte.
“Conduzido pelo Vento” (Gedreven door Wind), de Janna Dekker (Holanda, 2005) é um retrato em jeito de homenagem a um dos últimos resistentes que acompanharam a vida diária de um velho moinho de vento, numa Holanda de luz de fim de tarde. Com a chegada dos modernos moinhos eólicos, os antigos passam a relíquias e os seus guardiães do vento desaparecem numa aragem.
Janna Dekker, realizadora, é também artista plástica e isso aflora na forma como filma a paisagem. Um belo filme.
Durante o período de pesquisa para um filme sobre os efeitos da mudança do clima ao nível global, a equipa de “Represas de Areia no Kitui” (Kitui Sand Dams), de Eva Zwart e Hans van Westerlaak (Holanda, 2006), contactou com a “Sahelian Solutions Foundations Kenya (SASOL) que desenvolve represas da areia em pequena escala nos rios no Kitui (um distrito do Quénia), no leste do Nairobi. Kitui é um dos distritos menos desenvolvidos do Quénia. A sua população tem que enfrentar secas e a escassez de alimento todos os anos. A SASOL visa ajudar os fazendeiros a minimizar os efeitos das secas. O objectivo é resolver os problemas relacionados com a água e com a agricultura, o principal sector económico no Kenya. A filosofia da SASOL é trabalhar com as comunidades locais e usar o seu conhecimento para a inovação e o desenvolvimento. O projecto da represa da areia no distrito de Kitui mostra que, com a participação forte da comunidade, a adaptação à mudança do clima pode ser bem sucedida. O filme testemunha.
“Gharat”, de Pankas Rishi Kumar (Índia, 2005) é um filme sobre o desenvolvimento sustentável descentralizado. O filme problematiza as questões de maior gravidade que assolam os Himalaias de Garwhal, com a proximidade da construção de grandes barragens como o Tehri Hydro Project.
“Nakkala”, de Peter Ramseier (Suíça, 2005) - Uma aldeia na vasta tundra finlandesa, tornou-se na segunda casa de Hans Ulrich Schwaar, oriundo da região “Emmental” da Suíça. Vive lá com o seu amigo e anfitrião, Lisakki-Matias Syväjärvi. O ritmo da natureza determina a vida do dia-a-dia. Peter Ramseier capturou esta vida e a amizade entre dois homens de diferentes culturas.

"Ovas de Ouro"

“Ovas de Ouro” (Ovas de Oro), de Manuel González Llanos e Anahí Sucarrat Johnsen (Chile, 2005) denuncia o comportamento do império industrial da pesca do salmão que manobra nas costas do Chile. De forma aberta, esta obra tenta informar sobre as consequências que sofrem dia a dia os operários, os pescadores artesanais, as comunidades lituânas, a cultura das vilas e o meio ambiente devido ao desejo de se tornarem o primeiro produtor mundial de salmão.
”Eco Dharma” (Eco Dharma), de Malgorzata Skiba (India, 2005), conta a história de dedicação e sacrifício da comunidade de Bishnoi, a mais antiga que se dedica a práticas ambientalistas na Índia, para quem a preservação da vida animal e da floresta é uma religião. Os Bishnois vivem no Grande Deserto Índio de Rajasthan. As suas aldeias-oásis são fáceis de distinguir porque se encontram cheias de árvores e vida animal. A comunidade é conhecida por sacrificar os próprios bens e sua vida à sua defesa. A fé Bishnoi é construída sobre o ecossistema do deserto, proclamado por um visionário hindu, Guru Jambeshwarji, em 1542 a C, que usava uma poderosa religião para ajudar as massas a viverem uma vida social saudável e amiga do ambiente.
“Nandini”, de Helle Ryslinge (Dinamarca, 2006) oscila entre o realismo e o humor, ao apresentar o quotidiano das vacas na Índia. O que faz uma vaca da cidade na Índia durante todo o dia? Onde vai? Que relação existe entre a religião na Índia e as vacas? “Nandine” dá as respostas a estas e muitas outras perguntas.

(continua com obras lusofonas)

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