segunda-feira, abril 09, 2007

BLOGUES - A TRADUÇÃO DA MEMÓRIA


na última noite em que morri. vi a curva da lua
sublinhar uma só palavra. ajoelhei-me à porta da
igreja. encostei a cabeça ao peito. depositei-me
na caixa das esmolas. eis onde repouso.

a essa hora do amor. o sino toca as lamentações.
vêm das campas os gatos mais sombrios. abrem-se
covas a músculo no cemitério. os mortos cantam
sempre a mesma canção. coro inaudível.

dou o braço a comer às múmias. tu queimas a vela
dentro do frasco. o papel evapora-se num anel de
cinza. dançam as tíbias como lume. chiam espadas
de fumo. comem-se os restos mortais. fome santa.

mas isso foi há muito tempo atrás. na véspera da
ira do senhor. a chave rompe o saco lacrimal das
jarras. fere o tímpano dos surdos. arde muda. os
mortos desistem de cantar. os gatos somem-se.

a solidão progride rua acima. detém-se junto ao
altar. mete uma moeda na caixa. acende-se a lua.


um blogue a não perder, assinado pela Alice.
Visitem-no que vale a pena.
A Alice ainda mora ali.
O fundo é cinza, a poesia triste,
mas a sensibilidade existe e mostra-se em tudo.

4 comentários:

Ana Paula Sena disse...

L.A., costumo visitar com prazer o blog da Alice. É, de facto, repleto de delicada sensibilidade. Faço minhas as suas palavras acerca d' "A Tradução da Memória".
A.P.

Anónimo disse...

bom dia, lauro antónio. estou sem palavras. agradeço o post. e a sua intenção. beijinho muito grande.

muito obrigada. bem haja!

Bandida disse...

pois, vale a pena, mesmo L.A.!!!

grande a poesia!


beijo


B.
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Joaquim Amândio Santos disse...

A Alice é uma das almas nunca penadas e sempre dotadas do sumo que exala das musas!
Referência mais do que merecida para uma companheira firme no caminho calcorreado pelo instinto das emoções!