sexta-feira, novembro 28, 2008

MISHIMA E KAWABATA, CORRESPONDÊNCIA


“COM OS MEUS RESPEITOSOS CUMPRIMENTOS…”
Correspondência entre Yukio Mishima e Yasunari Kawabata
No dia 25 de Novembro de 2008, no pequeno auditório do CCB, decorreu, em sessão única, para raros eleitos, um espectáculo invulgar. Uma leitura encenada de alguma da correspondência que, ao longo de décadas (de 1945 a 1970), se estabeleceu entre Yukio Mishima e Yasunari Kawabata, indiscutivelmente dois dos maiores escritores japoneses do século XX. Yasunari Kawabata (1899-1972), único Nobel japonês, de que conheço apenas “Terra de Neve”, “Chá e Amor”, “A Dançarina de Izu” e “A Casa das Belas Adormecidas”, é um escritor de palavra fina e delicada, um observador atento da psicologia humana, que retrata de forma miniaturista, discreta, secreta, intimista. Era muito admirado por Yukio Mishima (1925-1970), defensor das tradições e da obediência ao Imperador, um autor de escrita delicada é certo, mas abrasante, sensual e voluptuosa, arrogante e ostensiva, impositiva mesmo. Dele retenho livros admiráveis como “Confissões de uma Máscara” ou “O Marinheiro que Perdeu as Graças do Mar”, “Morte no Verão” ou “O Tumulto das Ondas”, “O Templo da Aurora ou “A Ruína do Anjo”. Ambos mantiveram correspondência regular onde demonstravam mutuamente enorme respeito e estima. Uma troca de cartas que reflecte não só pontos de vista políticos, sociais, literários, humanos, como sobretudo um enorme afecto pessoal. Num palco despojado, numa encenação minimalista que conferia sobretudo importância à palavra, Luís Madureira e José Manuel Mendes encheram o espaço com a recatada magia de um texto delicadamente trabalhado sem afecção, que se ouvia com prazer e se entendia por vezes com paixão. A descoberta da relação de amizade e assombro que existiu entre dois escritores e dois homens com tanto de diferente entre si. A leitura foi encenada por António Mega Ferreira, um dos especialistas em Mishima em Portugal. Muito pouco público para uma hora de bailado de palavras. A repor?
(A tradução das cartas era da Maria Eduarda e soou lindamente. Parabéns!)

1 comentário:

Maria Eduarda Colares disse...

Obrigada pelos parabéns. Foi um enorme prazer traduzi-las e um prazer ainda maior ouvi-las ditas de forma admirável. Um espectáculo delicado, sensível, de uma beleza surpreendente na sua enorme simplicidade e elegância. Há momentos que valem bem a pena.