“Vieira da Silva par Elle Même” esteve em cena no Museu Vieira da Silva em Lisboa. Recolheu boas referências, mas na altura passou-me. Ainda bem que Almada o recuperou depois da sua intérprete (e autora da ideia do texto, encenadora, cenógrafa e figurinista) Maria José Paschoal ter conquistado o Globo de Ouro para Melhor Actriz de Teatro na edição de 2009.
Maria José Paschoal estreou-se como actriz, em 1981, em “Casamento Branco”, de Tadeus Rozewicz, no Teatro Aberto. Entre 1986 e 1993, no Teatro da Graça, participou em peças de autores como Fassbinder, Tennessee Williams, Edward Bond, Edward Albee, Turgueniev, A. Galine, Tchecov e Gorki. Recentemente, no TMA, interpretou o papel de D. Francisca de Aragão em “Que Farei com este Livro?”, de José Saramago, com encenação de Joaquim Benite. Com “Vieira da Silva par Elle Même” assume como mulher de sete ofícios, mas confirma-se sobretudo como excelente actriz.
Apaixonada por Vieira da Silva, concebeu um espectáculo de uma hora que recorre apenas às palavras da pintora Maria Helena Vieira da Silva, expressas em entrevistas concedidas a diversos jornalistas ao longo da sua carreira. São reflexões sobre a vida e a arte, confidências e episódios auto-biográficos que Maria José Paschoal cerze com agilidade e desenvoltura, e vai desenrolando num cenário pobre, com adereços parcos, mas que ilumina com a força do seu talento de actriz. Ficamos facilmente colados às palavras, mas sobretudo fascinados pela sensibilidade e a delicada finura da voz da actriz, a reviver o pulsar de uma existência dedicada à pintura. Esquece-se a grisalha cabeleira, um pouco amadora na sua execução, perante o fulgor das palavras e o (discreto mas seguro) brilho de quem as profere.
Assim se demonstra que, quando o talento existe, a ausência de meios pode ser sentida, mas não é impeditiva de uma boa performance.
DELITO há dez anos
Há 5 horas
2 comentários:
... com licença..., é só para perguntar... então não 'anda à roda' desde Maio?!...
Gostei, um objecto de teatro bastante simples mas bem concebido, sem resvalar para um certo didactismo que podia andar por perto.
Acrescentava à nota que fez relativamente à voz e dicção da actriz (belíssimas, de facto) a subtileza dos gestos - como aquele passar as mãos pela alfazema. Pormenores! Que em teatro são tudo.
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