sábado, setembro 28, 2013

PORTUGAL SUBMERSO

FERNANDO DACOSTA
Portugal submerso

Um dos grandes cineastas portugueses, que tem suspensa a sua carreira como a maior parte dos nossos melhores realizadores, foi esta semana alvo de uma assinalável homenagem em Setúbal. Promovida por João Pereira Bastos, director do (magnífico) Fórum Luísa Todi, naquela cidade, ele, Lauro António, viu juntarem-se à sua volta diversos nomes de projecção intelectual que lhe manifestaram, em noite de invulgar vibração, um pouco do reconhecimento que lhe é devido.
Para lá do cinema, ou seja, para lá dos inesquecíveis filmes seus - "Manhã Submersa" é-nos uma referência -, Lauro António destacou-se como crítico, dramaturgo, ensaísta, conferencista, escritor, produtor, professor, marcando como poucos várias áreas culturais e convivenciais do país.
Os seus "Vavadiando", no café Vává de Lisboa, são pérolas nas tertúlias que (ainda) restam, como o são os ciclos de divulgação cinematográfica e os festivais temáticos que desenvolve em incansável e preciosa acção cultural por quase toda a comunidade - sem que a SEC o tenha alguma vez percebido.
A literatura e o teatro têm-lhe sido, depois do cinema, motores de actuação, pelo que escritores, encenadores, actores, realizadores, jornalistas, críticos estiveram presentes na confraternização agora aberta, a que se associaram músicos, fadistas, técnicos, fotógrafos, etc.
Se a cultura serve, como dizia Jorge de Sena, para mostrar aos outros e a nós próprios que somos melhores do que os outros e nós próprios julgamos  ser, então todos estamos em dívida para com Lauro António - é que ele acredita, e faz-nos acreditar (pela cultura, pelo convivia, pelo afecto) que podemos ser melhores do que aquilo que somos.


                                In Jornal “I”, quinta-feira, 26 de Setembro de 2013




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