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quarta-feira, junho 05, 2013

CINEMA: NOME DE CÓDIGO:PAULETTE



NOME DE CÓDIGO: PAULETTE


Setembro de 1974. Estávamos em plena euforia revolucionária. Eu dirigia a programação do Estúdio Apolo 70. Pouco tempo antes, tinha ido a Paris escolher alguns filmes para estrear na sala que era explorada comercialmente por Filmes Lusomundo. Entre os vários títulos visionados e comprados estavam “Chove sobre Santiago”, “Angela” e “La Fiancée du Pirate”. Era este último, uma realização de Nelly Kaplan, que se estreava em Lisboa, precisamente no dia 12 de Setembro. Um filme “insolente e feroz”, como muita crítica o classificou nessa altura, e que tinha como figura central uma jovem actriz que por essa época fazia furor no cinema francês, sobretudo nos primeiros filmes de Claude Chabrol (“Um Vinho Difícil”, “Pedido de Divórcio”, “As Boas Mulheres”…): Bernardette Lafont.

 
Nascida a 26 de Outubro de 1938, em Nîmes, França, Bernardette lançara-se no cinema com uns radiosos 20 anos e quando protagonizou “A Noiva do Pirata” rondava os trinta e aprimorara a arte da rebeldia e o talento da fotogenia. Ela era um espanto a revolucionar a pequena aldeia de Tellier, onde resolvera instalar a prostituição por conta própria e com ela fazer rebentar os maus costumes de uma sociedade puritana e hipócrita que lhe matara o único ser que ela amava, um bode que lhe fazia companhia, após a morte da mãe.
Depois disso, Bernardette Laffont não parou de trabalhar, vai agora com 74 anos e quase duas centenas de filmes no activo. Um dos últimos uma comédia divertida, “Paulette” (em português “Nome de Código: Paulette”), dirigida por um recém-chegado ao cinema, depois de carreira feita em séries de televisão, Jérôme Enrico. Foi o filme que abriu a 13ª Festa do Cinema Francês, no cinema São Jorge, em Lisboa, jogando com um bom acolhimento da crítica internacional e uma excepcional recepção de público que, só em França, na estreia, fez mais de 500 mil espectadores. Números importantes, dada a crise que se vive um pouco por todo o lado e dado ainda o facto de ser um filme francês, uma produção relativamente barata, que fez frente aos grandes blockbusters americanos.

 
E, apesar de não ser um filme excepcional cinematograficamente falando, “Nome de Código: Paulette” diverte, faz pensar qb nalguns problemas da nossa sociedade actual, mostra um realizador eficaz e sóbrio, que conta uma história com desenvoltura e cria mesmo um certo clima e mostra uma Bernardette Lafont com 73 anos, ainda insolente, ainda fotogénica, e sempre iconoclasta.
Paulette é uma viúva que habita numa problemática zona suburbana de Paris, sobrevive com reforma mínima, vasculha os caixotes do lixo para arranjar um ramo de flores ou um candeeiro abandonado, janta com o retrato do seu falecido marido do outro lado da mesa, gosta do seu copo de vinho, ainda desperta os apetites do seu vizinho do lado, mas vê os seus móveis saírem pela porta fora à ordem do juiz. Revoltada, e num momento de sorte, percebe como se vende droga no bairro, haxixe, para ser mais preciso, e resolve ir oferecer os seus préstimos ao chefe do gang para integrar o negócio. Depois descobre que bolinhos com droga dentro são ainda mais apelativos e cria uma indústria caseira.


Sobre o que vem a seguir mais não digo, para não tirar o efeito de surpresa, mas nenhuma surpresa constituirá a exibição desse talento nato que é o de Bernardette Lafont. Ela consegue ser horrenda no seu racismo mais primário (diz ao neto: “Não me chames avó, porque és preto!”) e simultaneamente enternecedora na forma como se transforma numa empreendedora de sucesso. Um bom exemplo para os governantes que querem eficiência a toda a prova e não olham a meios para conseguir resultados. Pelo paradoxo, “Paulette” critica a teoria, expondo a prática. Para fugir à pobreza e manter um certo nível de vida, nada melhor do que socorrer-se da economia paralela e enveredar pelo crime. A receita está dada. Por Bernardette Lafont e as suas três amigas, interpretadas por Carmen Maura, Dominique Lavanant e Françoise Bertin, com saborosas participações.  

 
NOME DE CÓDIGO: PAULETTE
Titulo original: Paulette
Realização: Jérôme Enrico (França, 2012); Argumento: Laurie Aubanel, Jérôme Enrico, Bianca Olsen, Cyril Rambour; Produção: Alain Goldman; Montagem: Antoine Vareille; Casting: Coralie Amedeo; Maquilhagem: Frédéric Zaid; Direcção de produção: Sylvain Bouladoux, Abraham Goldblat, Cathy Lemeslif; Assistentes de realização: César Chabrol, Julie-Anne Simon; Departamento de arte: Julien Rondeau; Som: Jean-Luc Rault-Cheynet; Efeitos visuais: Thomas Duval; Companhias de produção: Légende Films, Gaumont, France 2 Cinéma, Canal+, Ciné+; Intérpretes: Bernadette Lafont (Paulette), Carmen Maura (Maria), Dominique Lavanant (Lucienne), Françoise Bertin (Renée), André Penvern (Walter), Ismaël Dramé (Léo), Jean-Baptiste Anoumon (Ousmane), Axelle Laffont (Agnès), Paco Boublard (Vito), Mahamadou Coulibaly (Idriss), Kamel Laadaili, Aymen Saïdi, Soufiane Guerrab, Samir Trabelsi, Alexandre Aubry, Pascal N'Zonzi, Lionnel Astier, Mathias Melloul, Miglen Mirtchev, Philippe du Janerand, Schemci Lauth, Marc Samuel, Brigitte Boucher, etc. Duração: 87 minutos; Classificação etária: M/12anso; Distribuição em Portugal: Zon Audiovisuais; Data de estreia em Portugal: 18 de Abril de 2013.

     homenagem a Bernardette Lafont.

sábado, setembro 27, 2008

PAUL NEWMAN


PAUL NEWMAN SEMPRE !
(25.jan.1925 - 26.set.2008)


















Em 1974, o “estúdio Apolo 70” (sala de cinema hoje encerrada, mas que se situava no Centro Comercial do mesmo nome, em Lisboa, frente ao Campo Pequeno,), cuja programação foi, desde a sua inauguração até quase ao seu encerramento, dirigida por mim, ensaiava uma colecção de "Monografias" de cinema, a primeira das quais (saber-se-ia depois que primeira e única) dedicada ao cinema norte-americano da época, com o título "USA", e o propósito de chamar a atenção para alguns (então) jovens realizadores cujas obras iniciais me tinham impressionado vivamente e a quem augurava bom futuro. Paul Newman era na altura um actor já consagrado mas um realizador com apenas três filmes, todos eles a mereceram os maiores encómios. Os outros para quem o livrinho apontava talento não se esquivaram a esse desígnio: George Roy Hill, George Lucas ou Peter Bogdanovich não se fizeram rogados e assinaram obras que ficaram na história do cinema.
Nesse livrinho, de que recupero a memória (ano feliz o de 1974, por tantas e tantas razões, e também por essa que todos lembram), escrevi uma introdução à análise da obra de Paul Newman como realizador, onde dizia:
“Um dos mais brilhantes discípulos do “Actor’s Studio”, comparável somente a um Marlon Brando, Paul Newman é um actor de composição nervosa, apaixonada (quase sempre atlética, fazendo valer a sua natureza particularmente dotada para os papéis de acção), de recortes subtis e uma grande mobilidade de tom.
Inteligente e exigente para com o seu próprio trabalho, Paul Newman escolhe com algum rigor os filmes em que aceita intervir como intérprete, podendo ver-se na sua já longa filmografia os nomes seguros de cineastas como Robert Wise, Arthur Penn, Richard Brooks, Leo McCarey, Otto Preminger, Robert Rossen, Martin Ritt (de quem parece ser o actor predilecto, dado que para ele trabalhou já por seis vezes), Alfred Hitchcock, Stuart Rosenberg, John Huston ou George Roy Hill. São de referir as intervenções inesquecíveis em “Vício de Matar” (no papel de Billy, the Kid, numa interpretação de raiz psicanalítica da lendária figura do gunfighter), “Gata em Telhado de Zinco Quente” e “Corações na Penumbra” (primeiros contactos cinematográficos de Newman com o universo de Tennesse Willams, dramaturgo que muito o viria a influenciar como autor), “A Vida é Um Jogo” (possivelmente um doa seus melhores trabalhos, na figura de um jogador de bilhar), “O Presidiário”, “Dois Homens um Destino”, “O Juiz Roy Bean” e “O Misterioso Mackintosh” (ambos de John Huston) ou no recente “The Sting”.”
Nesse mesmo livrinho resumia a já vasta carreira de Paul Newman:
Nasceu a 26 de Janeiro de 1925 em Cleveland, Ohio, E.TJ.A.. Filho de Theresa Newman e de Arthur S. Newman, Paul começou a representar com doze anos, sendo membro do grupo infantil “The Cleveland Players”. Prosseguiu a sua carreira na “Shaker Heights High Scliool” e, mais tarde, no “Kenyon College”, onde se inscreveu para a formatura em Ciências Económicas.
Alguns meses depois, por ocasião da entrada dos E.U.A. na Segunda Grande Guerra, interrompeu os estudos e alistou-se na Marinha. Tendo servido durante três anos, na zona do Pacífico, foi desmobilizado em 1946. Regressou ao “Kenyon Coliege” e mudou o curso dos seus estudos. Interessa-se agora pela literatura e pelas artes dramáticas, com a vaga intenção de se tornar professor. Entre 1951 e 1952 estuda na “Yale Schooll of Drama”.
Passado tempo actuou na Broadway, com Ralph Meeker e Janice Rule, interpretando o papel de Alan Seymour na peça “Picnic” (1953), que esteve cerca de catorze meses no cartaz. Apôs uma única audição, foi admitido no “Actor's Studio”, de Lee Strasberg, onde principiou a estudar com actores como Eli Wallach, Rod Steiger, Geraldine Page e Julie Harris.
Ainda durante as representações de “Picnic”, a Warner Bros fecha com ele um contrato de longa durarão. No seu primeiro filme, “The Sllver Chalice” (1954), Paul Newman desempenhou o papel de um escravo grego. Esse trabalho desagradou-lhe enormemente pelo que, ainda antes do termo das filmagens, valeu-se do poder do opção que lhe era conferido pelo contrato para trabalhar numa outra peça a exibir na Broadway, “Ths Desperate Hours”, um grande sucesso, tanto sob o ponto de vista comercial corno artístico.
Paul Newman era casado, desde 1958, com Joanne Woodward. De colaboração com Barbra Streisand, Sidney Poittier, Steve McQueen e Dustin Hoffman foi um dos associados da jovem produtora “FirsT Artists Produtions Company, Lda”.
De 1974 para cá interpretou outras dezenas de obras. Como realizador, os seus filmes mais conhecidos foram “Raquel, Raquel” (1968), “Os Indomáveis”, “A Influência dos Raios Gamas sobre o Comportamento das Margaridas” ou “The Glass Menagerie”.