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sexta-feira, novembro 12, 2010

"O SENHOR DO ADEUS" ESCREVIA SOBRE CINEMA

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Descobri há pouco que o "Senhor João de Lisboa" escrevia todas as semanas sobre cinema. Eles e uns amigos, Filipe Melo e Tiago Carvalho, iam todos os domingos ao cinema e depois ele escrevia um texto sobre o filme que aparecia no blogue "O Senhor do Adeus" (João Manuel Serra) (ver AQUI).
No blogue pode ler-se a explicação do facto:
"O Senhor do Adeus - Rubrica de Cinema
Todos os Domingos, pelas 20.30, no cinema El Corte Inglês, João Manuel Serra (o famoso "Senhor do Adeus") vai ao cinema com Filipe Melo e com Tiago Carvalho. Este Blog serve para documentar as opiniões e observações de João Serra sobre os filmes e sobre a vida. Os comentários deixados no blog durante a semana serão lidos ao João Serra no Domingo seguinte."

O último texto foi sobre "Social Network" e acabava com votos de Feliz Natal. Aqui fica como homenagem ao "colega", que também gostava muito de cinema.

FILME: Social Network
REALIZADOR: David Fincher
Começo por acenar para os meus simpáticos leitores, que têm lido as minhas críticas - e fico muito feliz por saber que são muitas as pessoas que me dizem que gostam de as ler. Vou falar de um filme que achei interessante porque é sobre o célebre Facebook, que eu até há pouco não sabia que existia. E ainda por cima já existe há muitos anos.
Veio uma pessoa muito simpática no Saldanha dizer-me que eu estava no Facebook. Eu fiquei de boca aberta. Perguntei: o que é isso? Ele respondeu que é uma coisa da internet e que houve muita gente que formou um clube de fãs meu no Facebook. Eu fiquei admirado e satisfeito. Mas sei que qualquer pessoa pode aparecer no Facebook - mas puseram-me lá - eu fiquei contente e fiquei com muita curiosidade para saber como é que era feito.
Achei interessante sobre esse aspecto, saber como foi construído. É um negócio do outro mundo. Esta minha ideia de não ligar à economia é muito portuguesa. Esse lado do filme não me interessou tanto, porque, tal como eu, os portugueses não são pessoas muito inclinadas para a economia e tenho pena que não haja em Portugal cabeças como as desta gente, que têm uma visão para negócios impressionante. O Bill Gates, este Mark não-sei-quê, que fazem biliões! Em Portugal, não há negociantes destes. A nossa economia está de rastos! Só oiço os ministros e os secretários de estado a dizer que é preciso exportar, mas Portugal está muito mal. Precisamos de dinheiro.
Achei o filme muito bom, interessante apesar de ser um bocado monótono nalguns aspectos. Achei bem feito e bem interpretado, e interessou-me o processo de feitura do Facebook. É incrível como um míudo faz um negócio destes. Aconselho que venham todos ver este filme.
Boa noite para todos e até à próxima... e ainda é cedo, mas desejo um feliz Natal a todos e estejam todos muito felizes.

O ADEUS AO SENHOR DO ADEUS

“Senhor João de Lisboa”

Há loucuras mansas que colocam poesia na cidade. São loucuras que não se podem perder, loucuras a que todos devíamos aderir. Loucuras que trazem à Humanidade mais humanidade. Gestos que podem parecer insensatos, sem qualificação possível, “inúteis” para muitos, indispensáveis para outros. Ao Senhor “João de Lisboa” disse-lhe adeus várias vezes ao passar de carro pelo Saldanha. Enfarpelado a rigor, ele dizia adeus, eu dizia-lhe adeus, éramos dois loucos na cidade, quando a cidade tende a tornar-se cada vez mais agressiva e impessoal (apesar de Lisboa continuar a ser uma cidade muito fraterna e acolhedora, é verdade!). Durante muitos anos, um gesto fazia a diferença, e com ele um homem construiu uma vida (a sua vida) e deu um brilho, um sorriso, um alento a quem por ele passava. O adeus do senhor João de Lisboa era uma forma de sentirmos que a cidade estava ali a saudar-nos, que havia alguém que não se esquecia da sua humanidade e a partilhava num gesto fraterno. Loucura? Sim, para quem não compreende que possam existir gestos “inúteis”, que afinal são esses gestos que fazem toda a diferença, que nos ensinam a ser homens entre os homens.
Diz-se por aí que se houver continuadores, já não será a mesma coisa, que se perdeu a espontaneidade do gesto. Acho que não. Acho que gostaria de ver muitos outros “Senhores de Lisboa” a acenar no Saldanha. Não seria copiar um gesto, seria prolongar uma atitude, aprender com o “Senhor João de Lisboa” que estar no meio da rua a acenar aos passantes pode ser algo de reconfortante. Julgo mesmo que o desaparecimento do “Senhor João de Lisboa” deveria dar origem a um movimento de anónimos lisboetas (ou não) que se revezariam no Saldanha a acenar ao próximo, e a recordar-lhes que essa loucura mansa na cidade não pode morrer. Apenas mudar de mão. Por mim, não me importaria de ser um desses que durante um dia prestaria homenagem a esse homem que disse agora adeus à cidade. Passando o testemunho.


As imagens deste último extracto pertencem a um videoclip gravado pelo meu filho Frederico Corado, há uns anos atrás. Bonita homenagem ao senhor "João de Lisboa" que acenava no Saldanha, a forma que ele encontrou "de comunicar com as pessoas".