quinta-feira, dezembro 28, 2006

O NATAL CONTINUA


“Natal devia ser todo o ano”, ou “Natal é quando um homem quer”, afinal são máximas que se podem concretizar, lendo o jornal. Por exemplo, no DN de hoje, 28.12.2006, sob o título “Jovem dá à luz em comboio Lisboa-Porto”, Ilídia Pinto escreve:

“O revisor e os funcionários da carruagem-bar do comboio Intercidades número 521, que faz a ligação entre Lisboa e o Porto, com partida diária de Santa Apolónia às 8.55, viveram ontem momentos únicos de ansiedade, mas também de alegria, quando uma passageira deu à luz uma menina em plena viagem. O parto, que não durou mais de dez minutos, aconteceu à chegada à estação de Vila Nova de Gaia e foi assistido por um enfermeiro de Coruche que viajava no mesmo comboio. Mãe e filha encontram-se bem de saúde.
Mariana, assim será baptizada, nasceu com 3,270 quilogramas, cerca das 12.30, à chegada à estação de Vila Nova de Gaia. Segundo o revisor de serviço ao Comboio Intercidades 521, a jovem mãe, Sandra Rodrigues, dirigiu-se à carruagem-bar "logo que a composição saiu da estação de Espinho, pediu uma água e sentou-se". Dois ou três minutos depois, a senhora começou-se a queixar com dores e foi feito um anúncio pela instalação sonora do comboio questionado se haveria algum médico ou enfermeiro presente, explicou ao DN Jaime Serdoura. E adiantou: "Eram então cerca das 12.15 e estaríamos a passar na Granja ou na Aguda".
À chamada pela instalação sonora respondeu um enfermeiro residente em Coruche - José da Cunha - que se revelou o herói do dia, assegurando todo o processo de nascimento da pequena Mariana. "Foi ele que assistiu a senhora durante o parto. O Instituto Nacional de Emergência Médica foi chamado para que aguardasse a chegada do comboio na estação de Vila Nova de Gaia, mas a menina nasceu precisamente à paragem do comboio na estação. Os paramédicos subiram então já só para verificar o estado de saúde da mãe e da bebé e para as transportarem ao hospital", acrescentou o revisor.
A jovem mãe, de 21 anos, estava grávida de oito meses e meio e viajava sozinha. "Sabemos apenas que este é o seu segundo filho. A identificação da senhora foi, depois, feita pelos serviços hospitalares", referiu, ainda, Jaime Serdoura. Ambas estão internadas no serviço de Obstetrícia do Hospital de Gaia, onde foram visitadas por um agente da CP que transportava, especialmente para a Mariana, um ramo de flores. A CP - Caminhos de Ferro de Portugal tem prevista uma segunda iniciativa de felicitações à menina à sua jovem mãe, mas ainda está a estudar qual a medida mais apropriada.
Certo é que Jaime Serdoura, revisor há 20 anos, nunca mais esquecerá este dia. "Sou pai e avô mas é a primeira vez que ajudo ao nascimento de um bebé num comboio. Fica marcado na história da minha vida. Em dez minutos, fez-se tudo o que se podia e ficamos muitos felizes em saber que estão bem".

Só uma pequena correcção: Natal não é quando um homem quer. Tem de ser também quando a mulher quer. Se calhar, ultrapassa mesmo a vontade de um e outro. Às vezes é quando um homem e uma mulher não esperam. Mas esta carruagem-bar do Intercidade à passagem pela estação de Gaia devia parecer mesmo um presépio. Sem as figuras tradicionais, mas com o mesmo espírito de fraternal entreajuda.

imagem: "Madonna del parto", de Piero della Francesca (1420?-92)

8 comentários:

Anónimo disse...

O NATAU

Até é bonitinho as luzinhas a piscarem, as musiquinhas em tudo quanto é rua. A voz do Sinatra em constante "repeat", o coro dos meninos de não sei onde, a Celine Dion, etc e tal e coisa...

Até é bonitinho a amabilidade dos condutores na estrada, sorrindo ternamente à espera de uma entrada para um Jumbo, Continente ou Centro Comercial. Gosto do rapaz todo janota do CITY BANK a vender um cartão de crédito correndo atrás e procurando em 5 segundos dar a perceber as vantagens em poder gastar dinheiro que não se tem.

Divirto-me com a necessidade impregnada da compra. Esse ofertório obrigatório sob pena de exclusão familiar.

Adoro ficar à espera 10 minutos (ou mais, muito mais), numa fila, porque ao comprar é preciso embrulhar. E se a familia é grande e passa junta a peuga é embrulhada ao par e a cueca individual porque o salário chama-se minimo por alguma razão.

Adoro todas as manifestações de carinho e amizade que se ouve. É o SMS poetico, é o sms humoristico, é o beijinho, o gosto muito de ti. Adoro o amor global do dia 24 para equilibrar o apontar do dedo no resto dos dias.

O Natal é mesmo quando o homem e a mulher quer, o banco deixa, as relações existem, o emprego não acaba e as compras feitas antecipadamente.

O Natal não deveria ser importante. Aponto maior importância aos outros dias, a todos aqueles meses a fio que sem a protecção do natal não torna uma história banal, mais bonita. Ás semanas em que sem a protecção da cor vermelha e verde continuamos a sorrir sem apontar defeitos, às horas em que passamos sem olhar ao espelho, sem entender que somos mesmo todos parecidos.

O Natal é quando o homem e a mulher quer, pois é... Já o cão não tem nenhum destes problemas.

Lauro António disse...

Meu caro Joaquim Pavão. Percebo e assino por baixo. Quase toda a mágoa. Mas, para se ter Natal durante o ano todo, não vale a pena acabar com o que existe durante uma semana, apesar de alguma hipocrísia, do consumismo,e das horas nas filas de espera. Mas apesar de tudo há alguma cumplicidade boa no ar. Alguma alegria, alguma simpatia, algum mistério nos olhos das crianças. O que realmente não se verifica nos cães.
Um grande abraço, e muito boa música em 2007.

Isabel Victor disse...

"(... )apesar de tudo há alguma cumplicidade boa no ar." Em sintonia de pensamento, cito-o, com a esperança de que certos sentimentos, de tantas vezes nomeados, se tornem realidade, ganhem espessura.

O Natal continua, é certo, mas para uma minoria ...

Ontem doeu-me na alma a notícia de mais uma menina morta por maus tratos. Mais uma vez, instituições sociais portuguesas e quem de direito ( que nunca se percebe quem !) enrredaram-se em relatórios, pareceres, processos e despachos com um TRISTE fim ! O "caso já estava assinalado" mas, entretanto, a criança morreu em contraNatal ! Em contraTempo ! "Caso" encerrado !

Saudações e ... valha-nos a força de cada nova vida !

Lauro António disse...

Este mundo tem muito de "Admirável Mundo Novo", mas também de "Mundo Cão". Resultado da "Condição Humana", é certo, mas ao fim de tantos milhares anos já podiamos ser todos um bocadinho mais civilizados, esbater o que há de pior dentro de nós, e deixar crescer o que há de melhor. Resta a esperança de que um dia assim seja.

isabel mendes ferreira disse...

beijo------------------Te.




______________por um post à tua maneira.


Lauro.

Luis Eme disse...

O Natal é uma caixinha de surpresas, não apenas para as crianças, que anseiam ser surpreendidas com o que está para lá dos embrulhos bonitos dos presentes...

Anónimo disse...

Magnífico, Lauro.





Em Famalicão?!... Vamos!!!...

beijo





B. de cigarrilha
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Anónimo disse...

antes disso.

o jantar dos Deuses. em Janeiro.






B.
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