sábado, agosto 23, 2008

OS MEUS HERÓIS DE PEQUIM

Uma alegria "em ouro" para Portugal, onde alguns, que dias antes protestavam contra "os estrangeiros", os "de cor", as "minorias", agora aplaudem a firmeza, a tempera,
a grandeza "dos portugueses".

A demonstração de que não se corre só para a medalha de ouro, a demonstração do brio e da coragem de correr para o "segundo-lugar".

Uma atleta magnífica, que ficou muda com a falta de sorte de um dia aziago, ou se lhe quiserem chamar, com a falta de alguma competência técnica no momento exacto. Mas uma atleta "enorme" que não deixa de merecer a minha maior admiração.

O Marco Fortes foi o único atleta português que foi devolvido à procedência mais cedo, por ter dito que "de manhã gostava de estar na caminha." Foi dos poucos que não "jogou" no choradinho nacional e que usou a ironia, por discutível que fosse. Quem o viu actuar sabe que deu o máximo, mas falhou. Como falharam dezenas de campeões olímpicos, que foram desclassificados. Só quem não passou por situações semelhantes não sabe o que é a pressão destes momentos. Não me sinto "português" a imolar vítimas que caíram em desgraça. Marco Fortes deu, aliás, um "sentimento português" à desumanidade do actual espírito olímpico. Já ninguém compete pelo prazer de competir, mas sim pela glória do ouro. Para mim, muitos heróis chegaram em quarto, em oitavo, em vigésimo, em trigésimo, em último. O desporto não é uma prova de morte, mas de vida. Impõe o sacrifício até ao limite do tolerável. Ninguém deve pedir a morte no estádio em nome do que quer que seja. No estádio, magnifica-se a vida. Dos muitos bons, dos bons, dos assim-assim, dos que gostam de competir pelo prazer, não pela dor.

7 comentários:

Lóri disse...

Estou contigo. Palavras precisas e fotos muito bem escolhidas.

Chateia-me imenso esse desespero pelas medalhas e o consequente desprezo pela falta delas.

Sem querer ser parcial, mas já sendo, isso soa-me a demasiada influência daquele país do Hemisfério Norte, onde o mais importante não é ser "a man" or a "woman", mas "a successful self-made man or woman" e "coûte que coûte".

Mas acho que as pessoas nem se dão conta.

Beijos de trabalho em dia de sábado chuvoso.

Graça disse...

Concordo com tudo o que disse. Uma imagem simples do Portugal que temos.
Bom Domingo.

isabel mendes ferreira disse...

beijo.


Magnificando a vida. que tão bem elevas. aqui.

Maria Eduarda Colares disse...

Fogo! Então não é! Com medalhas ou sem medalhas eles esforçam-se como os maldizentes que esfregam o cu pelas cadeiras dos cafés e esplanadas nunca na vida fizeram por nada! São capazes de fazer melhor? São capazes de ir a Pequim e não olhar para o que se passa à sua volta, só para não "andarem à passear à nossa custa"? Então, façam o favor... daqui a 4 anos é em Londres, e Londres o pessoal já conhece, de ir às compras. Vão lá e tragam o ouro, a prata, o que quiserem... vá, mostrem como é fácil! Ainda se isto fosse só nos JO, mas é em tudo, a começar por aquelas pessoas que desde que, me conheço, comentam sempre diante de uma criancinha em birra perante a total impotência dos pais: "Havia de ser minha, havia..."

Lóri disse...

A MEC foi perfeita também. E, claro, com a precisão e o arroubo de que sobretudo as mulheres são capazes. É isso aí, minha querida tradutora (entre outras tantas coisas!). ALém de que me fez rolar de rir e de satisfação pela objetividade.

Beijinhos do sul,

Maria Eduarda Colares disse...

Obrigada, minha querida Ida, um afago do Brasil sabe sempre bem, até porque por cá o verão tem sido pouco quente.
beijos

Lóri disse...

Vê bem MEC, vocs, na Europa Ocidental a suportar um verão mais ou menos e os pobrezinhos dos Ursos do Alasca a morrerem afogados tentando alcançar águas mais frias. Este mundo não vai bem, e não vai haver eleição presidencial naquele país que dê jeito.

Beijos aos dois.

PS: Aqui o inverno, às vezes, dá as caras, como nesta noite em que o vento me tirou da cama às 3h. Mas em geral, tá melhor do que o teu verão, estou quase certa.