terça-feira, fevereiro 22, 2011

CINEMA: BUDAPESTE

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BUDAPESTE

Walter Carvalho é, sem sombra de dúvida, um dos mais prestigiados directores de fotografia do Brasil, sendo sua a imagem de mais de setenta obras como “Central do Brasil”, “Santiago”, “Lavoura Arcaica”, “Carandiru”, “Filme de Amor” e tantas outras, numa longa filmografia que se estende desde início dos anos 70 do século passado. Como realizador, a sua experiência é muito menor e, tendo em conta “Budapeste”, muito menos lograda igualmente.
A adaptação do romance de Chico Buarque da Holanda, já de si difícil empreendimento, não foi conseguida, desde o trabalho de transposição, a cargo de Rita Buzzar, passando pela própria realização, culminando na deficiente direcção de actores. O resultado é a todos os níveis decepcionante, ressalvando-se, no entanto, a fotografia de Lula Carvalho, filho de Walter, e que segue as pisadas do pai, aproveitando bastante bem sobretudo a fotogenia de Budapeste. Há bons momentos, como a cena da estátua de Lenine, Danúbio abaixo, uma passagem num restaurante, com néones reflectidos nos vidros, alguns interiores vistos do exterior, mas tudo reunido é pouco para fazer um filme.
Este centra-se na personagem de um escritor fantasma, José Costa, depois Kósta Zsoze, um homem que se encontra dividido sempre entre dois mundos, o que ao longo da obra se vai expressando por diversas vias: ele oscila entre o escritor que é e o escritor que assume; entre duas línguas, o português e o húngaro; entre dois países, o Brasil e a Hungria; entre duas cidades, o Rio e Budapeste; no interior da mesma cidade entre duas margens de um rio, Buda e Peste, separadas pelo Danúbio; entre duas mulheres, Vanda e Krista, e duas crianças; entre dois nomes, Costa e Kósta…
Num bom jargão marxista dos anos 60, Costa é uma personagem alienada, que procura a sua definição. O filme acompanha uma aventura interior, que o actor Leonardo Medeiros nunca consegue exprimir, e enreda-se em sequências mais ou menos eróticas, de exploração de corpos femininos, que nunca resultam. Os actores nunca convencem, e nem a saborosa participação de Paulo José salva o empreendimento.
Questão que nos interessa de sobremaneira: co-produção portuguesa porquê? Eis o caso mais curioso. O ICAM e a RTP entram neste projecto a que jeito? Por Nicolau Breyner interpretar (bem) uma cena de 2 minutos, onde se faz passar por francês a discursar frente à estátua do escritor desconhecido, em Budapeste? Por Ivo Canelas interpretar (bem) 2 cenas em que é um editor brasileiro, no Rio de Janeiro? Por Leonel Vieira controlar a contribuição portuguesa?
Não há uma política portuguesa para a co-produção? Ou seja: não há regras a respeitar para que os capitais portugueses integrem uma co-produção? Basta contratarem-se 2 actores para se meterem capitais portugueses numa co-produção internacional? Não interessa nada que o filme em questão não tenha mesmo nada a ver com Portugal?
Questão que fica levantada…

BUDAPESTE
Título original: Budapest
Realização: Walter Carvalho (Brasil, Hungria, Portugal, 2009); Argumento: Rita Buzzar, segundo romance de Chico Buarque de Hollanda; Produção: Rita Buzzar, Péter Miskolczi, Gábor Váradi, Leonel Vieira; Fotografia (cor): Lula Carvalho; Montagem: Pablo Ribeiro; Design de produção: Marcos Flaksman; Decoração: Zoltán Horváth; Guarda-roupa: Kika Lopes; Maquilhagem: Hildegard Haide; Direcção de Produção: Imre Bodo, István Király, Joana Synek, Marcelo Torres; Assistentes de realização: Leonardo Gudel, Rafael Salgado; Departamento de arte: Péter Koronghy; Som: Vasco Pedroso; Efeitos visuais: Nills Bonetti, Rogério Marinho; Casting: Tamás Kertész; Companhias de produção: Nexus Cinema e Vídeo, Eurofilm Stúdió, Stopline Films; Intérpretes: Leonardo Medeiros (José Costa), Gabriella Hámori (Kriszta), Giovanna Antonelli (Vanda), András Bálint), Andrea Balogh, Nicolau Breyner (escritor fantasma francês), Ivo Canelas (Álvaro), Péter Kálloy (Molnár), Antonie Kamerling (Kaspar), Karina Kecskés, Débora Nascimento, Paola Oliveira, Tamás Puskás, Ádám Rajhona, Sandor Istvan Nagy, Oliver Simor, Paulo José, Chico Buarque de Hollanda, etc. Duração: 113 minutos; Distribuição em Portugal: Castello Lopes Multimédia; Classificação etária: M/ 12 anos; Estreia em Portugal: 17 de Fevereiro de 2011.
Classificação: *

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