quarta-feira, junho 12, 2013

CINEMA: GANGSTERS DA VELHA GUARDA



GANGSTERS DA VELHA GUARDA
 
Val (Al Pacino) sai da cadeia depois de cumprir 28 anos de pena. À porta, tem um antigo companheiro de armas, Doc (Christopher Walken). Ambos são velhos gangsters, com a idade bem estampada no rosto e o corpo sem a desenvoltura de outrora. Depois de umas horas passadas entre um bordel e um pequeno restaurante, com uma ida a uma farmácia onde se abastecem fraudulentamente de remédios e afrodisíacos, e depois de cumpridas algumas obrigações e devoções, resolvem ir às quatro da manhã buscar o terceiro elemento do antigo gang, Hirsch (Alan Arkin), que ainda está pior que eles, mas continua um ás a conduzir pelas avenidas de Los Angeles.
Parece o reencontro de amigos, velhos amigos neste caso, na linha de um “A Ressaca”, desta feita não a comemorarem a despedida de solteiro e a proximidade do casamento, mas a celebrarem uma truculenta saída nocturna de um lar de terceira idade. Cada um deles está mais afanado que os outros, mas há um problema complexo a nublar o ambiente: Doc foi incumbido, por um sinistro gangster, de matar Val nas próximas vinte e quatro horas. E todos sabem disso, mas resolvem aproveitar o tempo que resta até às dez horas da manhã seguinte. Usufruir do tempo e da amizade que sobrevive. Que acontecerá?, eis o que a película nos irá desvendar. Mas percebe-se que estamos no campo do filme de gangsteres e no velho esquema de glorificar um tipo de conduta que respeita regras e códigos de honra.
 

 
A tradição deste estilo de obras é longa e honorável. Basta relembrar alguns títulos do francês Jean Pierre Melville, tão injustamente esquecido e que foi mestre neste género. Mas há vários outros exemplos a seguir, e não só no campo do filme de gangster, também, por exemplo, no western. “A Quadrilha Sevagem”, de Sam Pechinpah, “Dois Homens e Um Destino”, de George Roy Hill, são alguns bons exemplos desse código de honra que une pela amizade foras-da-lei com ética.
O mesmo se poderá dizer do aproveitamento de velhas glórias do cinema, emparceiradas em duplas nostálgicas. Que me lembre, assim de repente, há “Os Duros”, de Jeff Kanew, com Burt Lancaster e Kirk Douglas, “Como Pescar Uma Italiana Sem Partir a Cana”, de Howard Deutch, ou “Dois Novos Rabugentos”, de Donald Petrie, ambos com Jack Lemmon e Walter Matthau, “Desafio de Gigantes”, de Robert Aldrich, com Lee Marvin e Ernest Borgnine, para só citar alguns. Curiosamente, ou são rabugentos ou procuram demonstrar que mantêm a virilidade bem a postos, digna de uma boa disputa, quer seja aos murros entre homens ou em contendas mais íntimas, por entre lençóis. Que o diga Alan Arkin, neste “Stand Up Guys”, que segreda aos ouvidos das miúdas que o levam para uma “ménage à trois” algo de profundamente excitante, que nós nunca saberemos o que é, tal como na “Belle de Jour”, de Buñuel, mas que torna a noite inesquecível. Uma cena bem divertida, nesta obra irregular, assinada por um Fisher Stevens um pouco molengão, mas eficaz, que conduz pastosamente a primeira parte deste filme, para lhe imprimir alguma vitalidade na segunda.
 

 
Bem fotografado e iluminado, orquestrado de forma inspirada, não será um grande filme, mas permite um contacto sempre bem-vindo com três veteranos (Al Pacino, Christopher Walker e Alan Arkin), que se devem ter divertido um pouco a interpretar esta escapada nocturna, bem acompanhados por um naipe de miúdas giras e talentosas (Julianna Margulies, Lucy Punch, Addison Timlin, Vanessa Ferlito e Katheryn Winnick). Se estivéssemos no Verão, seria uma boa hipótese de passar umas horas de verão. Mas como a tróica até o Verão levou, é um filme de meia estação que não entusiasma, mas também não deslustra.
 

GANGSTERS DA VELHA GUARDA
Título original: Stand Up Guys
Realização: Fisher Stevens (EUA, 2012); Argumento: Noah Haidle; Produção: Matt Berenson, Ted Gidlow, Sidney Kimmel, Gary Lucchesi, Bingham Ray, Eric Reid, Tom Rosenberg, Jim Tauber, Bruce Toll; Música: Lyle Workman; Fotografia (cor): Michael Grady; Montagem: Mark Livolsi; Casting: Deborah Aquila, Tricia Wood; Design de produção: Maher Ahmad; Direcção artística: Thomas T. Taylor; Decoração: Kathy Lucas; Gurda-roupa: Lindsay McKay; Maquilhage: Kim Ayers, Bill Corso, Robert Wilson; Direção de produção: Ted Gidlow, Valerie Bleth Sharp; Assistentes de realização: Matthew Heffernan, Casey Mako, Darrin Prescott, Scott Andrew Robertson, Jonas Spaccarotelli; Departamento de arte: Brett McKenzie; Som: Derek Vanderhorst, Mandell Winter; Efeitos especiais: Bart Dion; Efeitos visuais: Thomas Duval; Companhias de produção: Lionsgate, Sidney Kimmel Entertainment, Lakeshore Entertainment; Intérpretes: Al Pacino (Val), Christopher Walken (Doc), Alan Arkin (Hirsch), Julianna Margulies (Nina Hirsch), Mark Margolis (Claphands), Lucy Punch (Wendy), Addison Timlin (Alex), Vanessa Ferlito (Sylvia), Katheryn Winnick (Oxana), Bill Burr (Larry), Craig Sheffer, Yorgo Constantine, Weronika Rosati, Courtney Galiano, Lauriane Gilliéron, Arjun Gupta, Aliya Astaphan, Brandon Scott, Roland Feliciano, Andrew Staes, Jeffrey Cole, Eric Etebari, Susann Fletcher, Earl Carroll, Eve Brenner, Jay Bulger, Donnie Smith, Sam Upton, Buster Reeves, Rick Gomez, Sami Samvod, etc. Duração: 95 minutos; Distribuição em, Portugal: Zon Audiovisuais; Classificação etária: M/12 anos; Data de estreia em Portugal: 6 de Junho de 2013.

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