No blog "Ponte das 3 Entradas"
um texto interessante sobre cinema e literatura:
Primeiro foram as palavras, depois vieram as imagens. E, por vezes, o encontro tem sido feliz. A relação da literatura com o cinema e a televisão é longa e fecunda, apesar das diferenças dos meios de expressão. Os exemplos são muitos, e poderei recordar alguns que me interpelaram ou comoveram especialmente: As Vinhas da Ira da dupla Steinbeck / Ford; O Coração das Trevas e Apocalypse Now de Conrad / Copolla; "O Morto" de James Joyce e do filme de John Houston; a Manhã Submersa de Vergílio Ferreira e a de Lauro António, para dar um exemplo português, etc. Como se vê, os exemplos que dou têm em comum o facto de ligarem literatura e, particularmente, ficção narrativa e cinema. Mas uma outra vertente que me interessa é a da relação do cinema com a realidade não ficcional, isto é, a forma de um filme lidar com a complexidade do real a partir de uma perspectiva, digamos, objectivamente realista. Falo daqueles filmes que, explícita ou implicitamente, se baseiam em factos verídicos, estabelecendo com o espectador uma espécie de pacto informal sobre a validade de um ponto de vista sobre algo que aconteceu, de facto, no mundo real. Em breve estaremos a falar de vários filmes sobre o 11 de Setembro (por exemplo, o de Oliver Stone). Mas esta é uma questão (quase?) tão antiga como o cinema. Quando os filmes conseguem criar esse efeito de real - isto é, quando, sabendo que estamos a assistir a um filme, todas aquelas imagens nos parecem tão genuínas como a realidade -, a emoção e a perturbação que sentimos (eu, pelo menos, sinto) diluem as fronteiras do verdadeiro e do ficcional e podemos viver o filme como uma experiência de descoberta de certas parcelas do mundo. Foi o que aconteceu comigo em relação ao Munique, de Spielberg. O efeito de real foi tão intenso que não descansei enquanto não li Munique - A Vingança, o livro do jornalista canadiano George Jonas que inspirou o filme. E tive de ver também Terror em Setembro, o documentário realizado por Kevin McDonald em 1999, sobre os acontecimento trágicos ocorridos nos Jogos Olímpicos de 72. Fascinado e horrorizado pela força da História. Pela ideia de que aquilo aconteceu de facto (mesmo que não exactamente assim...), a e com pessoas concretas e reais. E não, somente, a e com personagens. Algo de semelhante aconteceu agora, ao ver (em DVD) Os Homens do Presidente, o filme de 1976 de Alan J. Pakula sobre o caso Watergate. Baseado no livro de Carl Bernstein e Bob Woodward que descreve a sua minuciosa e persistente investigação dos meandros do poder político americano nos anos Nixon. Infelizmente, não existe tradução do livro disponível em português; eu seria, de certeza, um leitor apaixonado. Pela matéria jornalística, propriamente dita, claro; mas também porque, tendo em conta o filme, é impossível recordar esses idos de 70 sem os pensar em relação com a minha história pessoal. Sem pensar, por exemplo, que, em 76, eu tinha 8 anos. E que aquilo aconteceu já no meu tempo! E esta sensação de proximidade histórica pode revelar-se através dos pequenos pormenores (como aconteceu também com o Munique de Spielberg, perfeito na recriação da época): a roupa das personagens, o aspecto das casas, o mobiliário, os carros, a televisão a preto e branco, etc. Por tudo isto, é impossível ver (ou rever estes filmes) sem uma espécie de nostalgia de um tempo perdido que foi o da infância...
posted by Lp at 10:03
1 comentário:
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