sábado, outubro 30, 2010

NO TEATRO POLITEAMA

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UM VIOLINO NO TELHADO, I
No palco em Portugal, agora em Lisboa



Disse-o e escrevi-o quando vi o espectáculo no Rivoli, no Porto: acredito que este seja o melhor musical encenado até hoje por Filipe La Feria. O que não é dizer pouco, pois já vi muitos e muito bons musicais com a marca La Féria. Mas “Um Violino no Telhado” tem algo que nalguns outros não existia: uma unidade de estilo e de concepção que torna a obra um todo quase inatacável. Um cenário sóbrio, mas de grande expressividade, um guarda-roupa de uma eficácia e de um bom gosto extraordinários, um bom jogo de luzes, uma marcação de cena e uma coreografia muito acertadas, uma trabalho de actores globalmente muito forte, uma dramaturgia que consegue momentos de amargura e alegria, de desespero e de ternura muito bem doseados, sem serem forçados, uma história comovente e humana como poucas, sem carregar na tragédia (e como foi trágica a sorte do povo judeu na Rússia dos Csars e depois na URSS, que para eles não houve revolução que lhes valesse!), mas sem adocicar o drama para satisfazer a clientela.
Da história já falei (e agora transcrevo o que então aqui publiquei aquando da visita ao Rivoli), mas vale a pena actualizar alguns apontamentos. Reafirmar a extraordinária actuação de José Raposo, num dos seus melhores e mais transpirados trabalhos, onde repete um nervo, um entusiasmo, uma vibração invulgares, a segurança contida de Rita Ribeiro, a entrega de Joel Branco, numa das suas mais logradas actuações, as nuances de Hugo Rendas, igualmente numa das suas melhores prestações, o cossaco muito bem desenhado por Carlos Quintas, as presenças doces mas afirmativas de Cátia Garcia e Sissi Martins, num elenco onde ainda se podem e devem citar Helena Rocha, Jorge Sousa Costa, Alexandre Falcão, Rui Andrade, entre muitos outros e um grupo de arrebatados cossacos.
Com “Um Violino no Telhado”, Filipe La Féria merece o melhor. E nestes tempos de crise, nada melhor do que um bom espectáculo musical que, sem calar a dor, nos ofereça a esperança e o colorido da vida. Do amor. Da alegria de permanecer, mesmo quando as adversidades parecem inultrapassáveis.

UM VIOLINO NO TELHADO, II
No palco em Portugal, no Porto

“Um Violino no Telhado”, em cena no palco do Teatro Rivoli, no Porto, é, creio que sem dúvidas, o melhor musical até hoje encenado por Filipe La Féria. Já escrevi bastante sobre a peça e o filme num texto que surge no programa do Rivoli, interessa-me agora abordar a versão portuguesa. Desde logo um cenário e um guarda-roupa deslumbrantes, de um extremo bom gosto. Depois um jogo de luzes magnifico e um trabalho de actores invulgarmente coerente e globalmente de grande qualidade: José Raposo, no protagonista, é magnifico, de vitalidade, vibração, humanidade e humor, Rita Ribeiro muito segura e contida na “mãe” que vai casando as filhas, Joel Branco, numa das suas mais logradas actuações, José Pinto, fulgurantes em curtas aparições como “Rabi”, Hugo Rendas, igualmente numa das suas melhores prestações, num elenco onde ainda se podem e devem citar Sara Lima, Ruben Madureira, Helena Rocha, Sissi Martins, Carlos Meireles, Alexandre Falcão, entre muitos outros.
Ao todo são 58 actores, cantores, bailarinos e músicos, a maioria dos quais oriundos do Norte. Da Ucrânia surgiu o grupo de bailarinos que interpretam os cossacos. Excelentes.
Num teatro a rebentar pelas costuras (numa quarta-feira), com gente de todos os estratos sociais, com os rostos felizes dos espectadores a acompanharem com um visível prazer o que lhes era dado ver no palco, com muita gente nova no público (quem disse que o musical era coisa de terceira idade não sabe do que fala!), este foi o espectáculo que sabe bem ver e sabe bem saber que existe. Teatro do melhor, com público do melhor, numa noite memorável do Porto.
saber mais AQUI

UM VIOLINO NO TELHADO, IIIDo palco ao cinema, nos EUA (*)
“Um Violino no Telhado” foi durante anos, e não há muitos, o musical com maior número de representações na Broadway. Razões para esta preferência dos espectadores norte-americanos? Uma história humana, comovente e divertida, bem construída, com uma banda sonora inspirada que fica facilmente no ouvido, coreografias nervosas e ritmadas, boas interpretações, uma encenação vigorosa, e ainda dois aspectos que não podem ser esquecidos em palcos americanos: uma história ambientada num época que transformou profundamente o mundo e, sobretudo, uma história de judeus, e sabe-se que New York já foi chamada Jew York.
“Fiddler on the Roof” parte de uma obra originalmente chamada “Tevye”, incluída numa colectânea de contos de Sholem Aleichem (“Tevye and His Daughters” ou “Tevye the Milkman”), escrita em Yiddish e publicada em 1894.
Sholem Aleichem (de nome próprio Sholem Rabinovitz) foi um dos mais famosos escritores europeus judeus. Nasceu em 1859, numa família que vivia em Perevaslav, uma pequena cidade no sul da Rússia. Pouco depois mudaram-se para Voronkov, e toda a vida de Sholem Rabinovitz é a base da sua inspiração literária. A quantidade de irmãos e parentes que reunia à sua volta está na base da intriga de “Um Violino no Telhado.” A sua vida irrequieta e tumultuosa, cheia de altos e baixos, tendo por vezes que fugir a credores que o não largavam, ou a perseguidores rácicos, não “deu um livro”, como muitas vezes se afirma, mas vários. Passou por diversas cidades, até chegar a Odessa, onde escreve a obra de que nos ocupamos, passando depois a Kiev, onde assiste aos massacres e às perseguições, tanto de czaristas como dos bolcheviques a caminho do triunfo, o que o levam a emigrar para a América, fixando-se em Nova Iorque, por pouco tempo, voltado pouco depois à Europa, à Alemanha, onde não feliz e apanhou o início da I Guerra Mundial. Regressa novamente à América como fugitivo. A 16 de Maio de 1916 morre pobre, mas deixa uma obra literária de mérito reconhecido, entre contos e peças de teatrro.
“Fiddler on the Roof”, o musical teatral, e depois o filme, descreve-nos o dia-a-dia numa aldeia russa da Ucrânia, Anatevka, onde predomina uma fechada comunidade judaica. Estamos ainda em plena época czarista, mas os tempos anunoiam mudança. Em redor do ano de 1905, esses sinais eram já visíveis. Tevye (Zero Mostel, no teatro; Topol, no cinema), o leiteiro da aldeia, e a sua família (onde abundam fílhas em idade de casar) são o centro sobre o qual irá rodar toda a intriga. O período é de perturbações sociais, com as contínuas ameaças do czarismo aos judeus e, simultaneamente, essa agitação estabelece o confronto e a contradição. Anatevka é delas retrato, desde a exaltação de uma tradição judaica, de características perfeitamente imutáveis, até à descoberta dos sinais de tempos novos que certas figuras prenunciam com a força das suas convicções. A obra irá, portanto, oscilar entre a tradição e a novidade, entre o amor e o ódio, entre o czarismo agonizante e a vontade popular em vertiginosa ascensão. Uma oscilação de extremos que encontrará o seu motivo maior numa raiz rácica, fértil em provocar confrontos.
De todo este clima Tevye é igualmente um bom exemplo. Nas suas longas conversas com Deus, em momento de corte e ruptura numa progressão dramática ditada pela acção (e que propiciam a introdução de alguns “números” musicais), Tevye funciona numa rudimentar dialéctica que se expressa num simples jogo de alternâncias de razões de certo peso (“por um lado, isto”, ... “por outro lado, aquilo”). Será este espírito aberto à dialéctica, ao confronto dos contrários que, apesar de tudo, obrigará Tevye a abandonar o tradicionalismo em que se baseava toda a sua experiência, voltando-se para novas aventuras e esperanças futuras. A maneira como vai encarando o casamento de cada uma das suas três filhas mais velhas é bem exemplo dessa mudança que se vai operando no seu comportamento e modificando a sua mentalidade.
No início da obra, Tevye explica: “Um violino no telhado, porquê? Porque corresponde à nossa maneira de ser. Esta é a nossa terra! Mantêmo-la com a força da nossa tradição. Temos tradições para tudo, para comer, para trabalhar, para vestir, para ter a cabeça coberta. Como começou tudo isto? Não sei. Mas é a tradição.” Há quem diga que o violino é o simbolo da sobrevivência da cultura e do estilo de vida judaicos na Europa de Leste e não se fazem rogados a estabelecer comparações entre este musical e a obra pictórica de outro judeu famoso, Marc Chagall, que também não se cuibia de colocar violinistas em situações de precária estabilidade.

O musical da Broadway estreou em 1964, fez mais de 3.000 representações pela primeira na história do género. Joseph Stein e Jerome Kobbins (este na adaptação e coreografia) foram os principais responsáveis do êxito no teatro, bem assim como o autor da musica, Jerry Bock. A sua estreia na Broadway foi coroada com a nomeação para dez Tony Awards, de que venceu nove, incluindo Melhor Musical do ano, Melhor Partitura, Melhor Libreto, Melhor Encenação e Melhor Coreografia. Depois foi reposto por quatro vezes e, em 1971, passou ao cinema. Para esta versão cinematográfica seria chamado, Norman Jewison, um cineasta irregular, mas que assinou alguns títulos particularmente interessantes, que se encarregaria da encomenda com certo apuro técnico e algum brilhantismo espectacular.
De um ponto de vista musical o filme tem duas ou três sequências bastante boas, sobretudo na primeira parte, nomeadamente os já famosos “Tradition” “If I Were a Rich Man” (onde a presença de Topol, que terá sido a grande revelação desta obra, é verdadeiramente notável, de força, de segurança, de nervo e ritmo). A coreografia de Jerome Robbins (o mesmo de “West Side Story”) é, ela também, tumultuosa, agressiva e vigorosa, sobretudo nos bailados com grande número de intervenientes (cenas na taberna, o casamento de uma das filhas de Tevye, todo o falso sonho de Tevye, conquanto que este seja de um gosto um tanto ou quanto duvidoso). De qualquer forma é possível verificar-se um estilo Jerome Robbins, bastando para isso comparar alguns bailados de “West Side Story” com outros deste “Fiddler on the Roof”.
O trabalho de Norman Jewisson é, por seu turno, bastante cuidado, criando um clima de certo lirismo. Aqui e ali alguns efeitos menos discretos, ou mais discutíveis (uma ou outra sobreposição rebuscada, sobretudo uma sequência, quase no final da película, com um bailado a dois, em silhueta, que nos parece de grande facilidade formal), poderão ter retirado uma maior coerência, mas no seu todo, o filme mantém um nível bastante aceitável, sendo de realçar o trabalho dos actores, particularmente o de Topol, como jâ assinalámos atrás.
No ano da sua estreia (1971), “Um Violino no Telhado” demonstrou ser uma certa revitalização do “musical”, uma apetência pela renovação no ínterior de um género então já em crise, que daí em diante não deixou de se agravar, apesar do aparecimento de meia dúzia de títulos que, de hora em vez, voltam a agitar o marasmo.
Na cerimónia de atribuição dos Oscars do ano, o filme teve comportamento meritório: venceu nas categorias de Melhor Fotografia, Melhor Som, Melhor Direcção Artística e Melhor Banda Sonora Adaptada, não transformando em estatuetas as nomeações para Melhor Filme, Melhor Actor e Melhor Actor Secundário.

(*) Texto que apareceu no programa do espectáculo de La Féria no Teatro Rivoli no Porto. No Teatro Politeama volta a aprecer um excerto deste texto.

UM VIOLINO NO TELHADO
Título original: Fiddler on the Roof
Realização: Norman Jewison (EUA, 1971); Argumento: Joseph Stein, segundo obras de Sholom Aleichem (romance "Tevye's Daughters e a peça "Tevye der Milkhiker""); Música: Jerry Bock; Fotografia (cor): Oswald Morris; Montagem: Antony Gibbs, Robert Lawrence; Casting: Lynn Stalmaster; Design de produção: Robert F. Boyle; Direcção artística: Michael Stringer, Veljko Despotovic; Decoração: Peter Lamont; Guarda-roupa: Joan Bridge, Elizabeth Haffenden; Maquilhagem: Del Armstrong, Gordon Bond, Wally Schneiderman; Direcção de produção: Richard Carruth, Larry DeWaay, Ted Lloyd; Assistentes de realização: Terence Churcher, Paul Ibbetson, Terence Nelson, Vladimir Spindler, Stevo Petrovic; Departamento de arte: Sam Gordon, William Maldonado, Mentor Huebner, Harold Michelson; Som: David Hildyard, Gordon K. McCallum, Les Wiggins; Produção:Norman Jewison, Patrick J. Palmer; Companhias de produção: Cartier Productions, The Mirisch Corporation. Intérpretes: Topol (Tevye), Norma Crane (Golde), Leonard Frey (Motel Kamzoil), Molly Picon (Yente), Paul Mann (Lazar Wolf ), Rosalind Harris (Tzeitel), Michele Marsh (Hodel), Neva Small (Chava), Paul Michael Glaser (Perchik), Ray Lovelock (Fyedka), Elaine Edwards (Shprintze), Candy Bonstein (Bielke), Shimen Ruskin, Zvee Scooler, Louis Zorich, Alfie Scopp, Howard Goorney, Barry Dennen, Vernon Dobtcheff, Ruth Madoc, Patience Collier, Tutte Lemkow, Stella Courtney, Jacob Kalich, Brian Coburn, George Little, Stanley Fleet, Arnold Diamond, Marika Rivera, Mark Malicz, Aharon Ipalé, Roger Lloyd-Pack, Vladimir Medar, Sammy Bayes, Larry Bianco, Walter Cartier, Peter Johnston, Guy Lutman, Donald Maclennan, René Sartoris, Roy Durbin, Ken Robson, Robert Stevenson, Lou Zamprogna, Susan Claire, Nigel Kingsley, Joel Rudnick, Petra Siniawski, Susan Sloman, Kenneth Waller, etc. Duração: 181 minutos; Distribuição do filme: Rank Filmes; Distribuição do DVD: Metro Goldwing Mayer; Classificação etária: M/ 12 anos; Data de estreia: 3 de Novembro de 1971 (EUA); Locais de filmagem: Gorica, Croácia.

Notas publicadas neste blogue em 12/14/2008

sexta-feira, outubro 29, 2010

CINE ECO 2010

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algumas presenças do Cine Eco 2010.

terça-feira, outubro 26, 2010

CINE ECO 2010 - OS PRÉMIOS

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“RUMO À ETERNIDADE”
e “EFEITO RECICLAGEM”
VENCEM CINE’ECO 2010
“Rumo à Eternidade” de Michael Madsen (Dinamarca, Suécia e Itália) é o grande vencedor do Cine’Eco 2010 que arrecada a campânula de ouro e o Prémio máximo monetário do Município de Seia.
O filme leva o espectador a cinco quilómetros abaixo da terra, onde o povo da Finlândia está a construir um depósito enorme para enterrar a sua parte dos resíduos. Apelidado de “Onkalo” (palavra finlandesa para “esconderijo”), o túnel de três milhas deve ser selado até ao ano de 2100 e deve permanecer intacto, pelo menos, 100.000 anos.

O Júri Internacional presidido pelo realizador português Fernando Lopes, destaca e elogia a elevada qualidade média de todos os filmes submetidos a concurso e atribuiu ainda os seguintes prémios:

PRÉMIO ESPECIAL DO JURÍ
“Um Grau Faz a Diferença”, de Eskil Hardt (Dinamarca)

PRÉMIO EDUCAÇÃO AMBIENTAL
“Chaparri, Os Sete Ursos da Montanha Sagrada”, de Granger-Charles-Dominique e André Charles-Dominique (França)

PRÉMIO ÁGUA
“Vida à Venda”, de Yorgos Avgeropoulos (Grécia)

PRÉMIO VALORIZAÇÃO DE RESÍDUOS
“Efeito Reciclagem” – Sean Walsh (Brasil)

PRÉMIO VIDA NATURAL
“Xingu, A terra Ameaçada”, de Washington Novaes (Brasil)

PRÉMIO ANTROPOLOGIA AMBIENTAL
“As Horas do Douro”, de António Barreto e Joana Pontes (Portugal)

PRÉMIO POLIS
“Reidy, a Construção da Utopia”, de Ana Maria Magalhães (Brasil)

PRÉMIO CAMACHO COSTA
“Recife Frio” – de Kleber Mendonça Filho (Brasil)

MENÇÕES HONROSAS
“Viva a Crise”, de Alexei Gubenco (Roménia)
“Heavy Metal”, de Huanqing (China)
“Lugar Sem Pessoas”, de Andreas Apostolis (Grécia)

Por sua vez “Efeito Reciclagem” de Sean Walsh, do Brasil, foi o grande vencedor do Prémio da Lusofonia, por ter sido considerada a melhor obra produzida e realizada em país lusófono, de entre todas as presentes a concurso. O filme leva-nos ao submundo da reciclagem de São Paulo e à história comovente de Claudines, pai de mais de 27 crianças.
O Júri da Lusofonia presidido por Amândio Silva atribuiu ainda os seguintes prémios:

MENÇÕES HONROSAS
“Vela ao Cruxificado”, de Frederico da Cruz Machado (Brasil)
“Verde às Cinzas”, do colectivo de crianças da escola EB 2,3 do Sardoal (Portugal)
“Horas do Douro”, de António Barreto e Joana Pontes (Portugal)
“Diga 33”, de Ângelo Lima (Brasil)

PRÉMIO ETNOGRAFIA
“Pelos Trilhos do Andarilho”, de Rodrigo Lacerda (Portugal)

O Júri da Juventude atribuiu os seguintes prémios:

PRÉMIO JUVENTUDE
“Rumo à Eternidade” de Michael Madsen (Dinamarca, Suécia e Itália)

MENÇÕES HONROSAS
“Chaparri, Os Sete Ursos da Montanha Sagrada”, de Granger-Charles-Dominique e André Charles-Dominique (França)
“Vida à Venda”, de Yorgos Avgeropoulos (Grécia)
“Pelos Trilhos do Andarilho”, de Rodrigo Lacerda (Portugal)

O Júri das Extensões atribuiu os seguintes prémios:

PRÉMIO DAS EXTENSÕES
“As Horas do Douro”, de António Barreto e Joana Pontes (Portugal)

MENÇÕES HONROSAS
“Semeador Urbano”, de Cardes Amâncio (Brasil)
“Breu”, de Jerónimo Rocha (Portugal)
“Sonho de Humanidade”, de Amarildo Pessoa (Brasil)

Results of the 16th International
Environmental Film and Video
Festival of Serra da Estrela
Seia, PORTUGAL - 2010

Environmental Great Prize (Câmara Municipal de Seia Prize), under the value of €3.750, given to the best among all the works presented to all categories of the competition:

“Into Eternity” by Michael Madsen (Denmark, Sweden e Italy)

Jury’s Special Prize
“One Degree Matters”, by Eskil Hardt (Denmark)

“Environmental Education” Prize, under the value of € 600, given to the best work concerning the general subject of the competition, under an educational point of view.
“Chaparri, Les Sept Ours de la Montagne Sacrée”, by Granger-Charles-Dominique and André Charles-Dominique (France)

“Water” Prize, under the value of € 600, given to the best work concerning the subject of hydro resources.
“Life for Sale”, by Yorgos Avgeropoulos (Greece)

“The Value of Residues” Prize, under the value of € 600, given to the best work concerning the subject of the utility of residues.
“Efeito Reciclagem” by Sean Walsh (Brazil)

“Natural Life” Prize, under the value of € 600, given to the best work promoting the subject of Nature’s preservation and biodiversity.
“Xingu, A terra Ameaçada”, by Washington Novaes (Brazil)

“Polis” Prize, under the value of € 600, given to the best work promoting the subject of urban qualifying and environmental value.
“Reidy, a Construção da Utopia”, by Ana Maria Magalhães (Brazil)

“Environmental Anthropology” Prize, under the value of € 600, given to the best work promoting the subject of human insertion in its daily way of life.
“As Horas do Douro”, by António Barreto and Joana Pontes (Portugal)

“Non-professional Video” Prize, under the value of € 600, given to the best non-professional work presented to the competition.

“Camacho Costa” Prize under the value of € 600, given to the film that best expresses the environmental issues, doing so by the means of humour or poetry.
“Recife Frio”, by Kleber Mendonça Filho (Brazil)

Honorable Mentions
“Vive la Crise!”, by Alexei Gubenco (Romania)
“Heavy Metal”, by Huanqing (China)
“A Place Without People”, by Andreas Apostolis (Greece)

Lusophony Jury

Lusophony Special Prize, under the value of €2.500, given to the best work produced and directed in a Portuguese speaking Country:
“EFEITO RECICLAGEM” by Sean Walsh (Brazil)

HONORABLE AWARDS
“Vela ao Crucificado”, by Frederico da Cruz Machado (Brazil)
“Verde às Cinzas”, by the children of the EB 2,3 School, Sardoal (Portugal)
“Horas do Douro”, by António Barreto and Joana Pontes (Portugal)
“Diga 33”, by Ângelo Lima (Brazil)

ETNOGRAPHY PRIZE
“Pelos Trilhos do Andarilho”, by Rodrigo Lacerda (Portugal)

Youth Jury

YOUTH JURY PRIZE
“Into Eternity” by Michael Madsen (Denmark, Sweden e Italy)

HONORABLE AWARDS
“Chaparri, Les Sept Ours de la Montagne Sacrée”, by Granger-Charles-Dominique and André Charles-Dominique (France)
“Life for Sale”, by Yorgos Avgeropoulos (Greece)
“Pelos Trilhos do Andarilho”, by Rodrigo Lacerda (Portugal)

EXTENSIONS JURY

EXTENSIONS JURY PRIZE
“As Horas do Douro”, by António Barreto and Joana Pontes (Portugal)

HONORABLE AWARDS
“Semeador Urbano”, by Cardes Amâncio (Brazil)
“Breu”, by Jerónimo Rocha (Portugal)
“Sonho de Humanidade”, by Amarildo Pessoa (Brazil)

segunda-feira, outubro 11, 2010

ENTREVISTA EM "AS ARTES NAS LETRAS"



no Jornal "As Artes nas Letras",nº 36, de 6 de Outubro de 2010

sexta-feira, outubro 08, 2010

TEATRO DA TRINDADE: PROGRAMAÇÃO

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MANHÃ SUBMERSA: 30 ANOS DEPOIS

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"MANHÃ SUBMERSA" NO HERMAN 2010

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NO CENÁRIO DE "HERMAN 2010" NO PROGRAMA A IR PARA O AR NO SÁBADO, 9

com Eunice Muñoz, Herman José e João Gil
onde se fala dos "30 anos de "Manhã Submersa"
a exibir a 12 de Outubro, no Teatro da Trindade,
com entrada livre para o público

quinta-feira, outubro 07, 2010

A SAIR NAS LIVRARIAS

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Na contracapa do livro:

O objectivo fundamental desta obra é acompanhar, com uma base teórica, contudo numa abordagem simples e compreensível, uma série de ciclos que decorrem, sob o título genérico de Invicta Filmes, no Porto, na Biblioteca Municipal Almeida Garrett.
Este primeiro volume abrange a primeira série Invicta Filmes, dedicada a três nomes maiores do cinema, três génios incontestáveis, tumultuosos e inovadores, que inventaram, cada um por si, novas vias para o cinema. David Griffith terá mesmo “inventado” o cinema, Orson Welles revolucionou a sua narrativa, Stanley Kubrick, modernizou-o. Todos lutaram por uma liberdade criativa e por um cinema de autor. Todos eles merecem um olhar atento.
Outros ciclos se seguirão, dedicados não só a cineastas, mas também a actores, géneros, estilos cinematográficos ou temas. Comum a todos estará sempre a paixão pelo cinema e a vontade de ir para além das imagens, recolhendo elementos de índole histórica, estética e sociológica que, ao contrário de esgotar o tema, procurarão sempre abrir caminhos para novos aprofundamentos.
Bem vindos a Invicta Filmes! Esperamos que o programa seja do vosso agrado.

CINEMA: UM HOMEM SINGULAR

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UM HOMEM SINGULAR

“A Single Man” assinala a estreia de Tom Ford na realização. Mas o seu nome não era de forma nenhuma desconhecido para o grande público, já que se trata de um dos mais conhecidos designers de moda de todo o mundo.
Nascido a 27 de Agosto de 1962, em Austin, Texas, nos EUA, Thomas Carlyle "Tom" Ford iniciou a carreira como actor de publicidade, mas cedo trocou esta carreira pela de designer de moda, depois de frequentar a “Parsons School of Design”, de Nova York. Foi por essa altura também que conheceu Richard Buckley, editor da revista “Vogue Hommes”, com quem passou a viver, numa assumida relação gay. Foi lentamente criando celebridade no mundo da moda, até, em 1990, ser chamado a Milão, para remodelar e recuperar a imagem da marca Gucci, prestigiada até aos anos 80, mas depois a decair frente à fortíssima concorrência. Trabalhando na sombra, em cinco anos revitaliza a Gucci e, em 1995, ganha o prémio do “Council of Fashion Designers of America”. Juntamente com o italiano Domenico De Sole dominam o mercado e, em 1999, compram a “Maison Yves Saint Laurent” e, posteriormente, a “Balenciaga”.
Entretanto, em Março de 2005, anuncia a criação de uma casa produtora de filmes, “Fade to Black”, na qual, quatro anos depois, se lança na realização de “A Single Man”, com argumento, de sua autoria e de David Scearce, retirado de um romance de Christopher Isherwood. Após a sua estreia no festival de Veneza de 2009, a obra recolhe um coro de aplausos e vários prémios, nomeadamente para o seu protagonista, Colin Firth, e a sua companheira de elenco, Julianne Moore.
Diga-se que com inteira justiça. “Um homem Singular” é uma verdadeira revelação e uma pedra branca na distribuição internacional nestes últimos meses. Raras vezes se descobre um tal talento e um tamanho apuro de forma, um rigor plástico e uma sensibilidade tão singular no estudo de personagens e de emoções.
“A Single Man” no original reveste-se de uma dupliciade de significados que a sua tradução portuguesa não comporta. Em inglês, “single man” tanto pode ser homem só, como homem solteiro. Ambos os significados são importantes no contexto da obra. O Prof. George Falconer (Colin Firth) é não só um homem solteiro, como também um homem só. Estamos no final do ano de 1962 (o filme é preciso na data, 30 de Novembro de 1962, em plena crise de mísseis que desencadeou um confronto diplomático violento entre os EUA e a URSS, por causa de Cuba. Nunca um conflito nuclear pareceu estar tão eminente.) e George perdera num acidente de carro Jim, o seu companheiro de há 16 anos. O filme está povoado por pequenos falsh backs de momentos passados e da felicidade perdida, bem como de sonhos, como aquele com que se inicia a obra, George deitado na neve ao lado do carro sinistrado e do cadáver de Jim. George é professor universitário de literatura inglesa, tem cerca de 50 anos, fica destroçado com o acontecimento. É meticuloso na sua vida privada. Assistimos à forma como arranja a roupa, como a arruma, como escolhe os sapatos e a gravata a condizer, como organiza o seu pequeno-almoço, como as recordações emergem numa toada lenta e serena, mas profundamente emotiva. Dir-se-ia um melodrama de Douglas Sirk, mas com algumas variantes. Sirk, que também era homossexual, nunca transportara para o ecrã uma aventura amorosa como esta, ainda que a sensibilidade o denunciasse. Outros tempos. Nas décadas de 50 e início da de 60 imperava o medo. Como o sublinha George durante uma aula em que analisa um texto de Huxley, que o leva a concluir que as minorias ameaçam as maiorias, provocando o medo. O medo da guerra nuclear, o medo dos comunistas (durante o maccarthismo), o medo do que se não vê, do que é indizível. Obviamente, George refere-se à homossexualidade. Confessa: não se pode dizer tudo, não se pode falar claramente. O segredo provoca o pânico. Nos que se resguardam, nos que não sabem. Cresce a suspeita, instala-se a insegurança. Como nos seus vizinhos do lado, que o olham como um “pezinho de salsa”, ou o metralham com armas de plástico, como no seu colega de universidade que mandara construir um bunker anti-nuclear, mas que o reserva apenas para a família (“nestas alturas não pode haver sentimentalismos!”). Mas George é um sentimental que fascina um aluno seu, Kenny Porter (Nicholas Hoult), que o seduz, da mesma forma que o faz uma antiga ligação sua, Charley (Julianne Moore), a sua melhor amiga e uma das únicas razões que o leva a suportar a existência.
O filme tem uma construção que organiza harmoniosamente presente e passado, com diferenças de tom que identificam um e outro (o passado com cores mais saturadas, o presente mais límpido), com flash backs que se introduzem magistralmente (uma fotografia a preto e branco irá justificar uma memória a preto e branco), com uma sensibilidade de tratamento absolutamente invulgar, um pudor a toda a prova que, todavia, satura de emoção e de sensualidade os planos e a representação. Há uma possível aventura abortada com Carlos, um espanhol de Madrid, que tem uma filosofia de vida muito pessoal (“os amores são como os autocarros, há um que parte, mas há sempre outros a chegarem.”). George sabe que o seu amor parece comprometido para sempre (“viver no passado é o meu futuro”), prepara escrupulosamente um suicídio, até surgir a obsessiva presença de Kenny. Mas aí a vida tem ironias…
Colin Firth é absolutamente fabuloso de rigor, de contenção, de emoção, no desenho de George. Julianne Moore é também, como sempre, admirável, e Nicholas Hoult, que já conhecíamos de “Era Uma Vez Um Rapaz”, é mesmo assim uma excelente surpresa. Quanto a Tom Ford, há a dizer que imprime à sua obra de estreia um clima invulgarmente denso e tenso, oscilando entre um cinema que saboreia o tempo e o estilo da publicidade (planos de pormenor de rostos, por exemplo), conseguindo todavia uma unidade de tom que transforma o filme numa jóia estética inesquecível. Uma quase obra-prima que sabe bem ver e rever. Não é todos os dias que se vêem belíssimas histórias de amor, contadas com tal paixão e tamanho recato.

Um Homem Singular
Título original: A Single Man
Realização: Tom Ford (EUA, 2009); Argumento: Tom Ford, David Scearce, segundo romance de Christopher Isherwood; Produção: Jason Alisharan, Tom Ford, Andrew Miano, Robert Salerno, Chris Weitz; Música: Abel Korzeniowski; Fotografia (cor): Eduard Grau; Montagem: Joan Sobel; Casting: Joseph Middleton; Design de produção: Dan Bishop; Direcção artística: Ian Phillips; Decoração: Amy Wells; Guarda-roupa: Arianne Phillips; Maquilhagem: Kate Biscoe, Cydney Cornell; Direcção de produção: Craig Ayers, Tim Pedegana, Robert Salerno; Assistentes de realização: Brian Avery Galligan, Richard Graves, Matt Rawls, Eric Sherman; Som: Leslie Shatz, Efeitos especiais: Lori Baillie, John E. Gray; Efeitos visuais: Shalena Oxly-Butler, Dan Schmit, Cyrena Vladish-Addison; Companhias de produção: Artina Films, Depth of Field, Fade to Black Productions; Intérpretes: Colin Firth (Prof. George Falconer), Julianne Moore (Charley), Nicholas Hoult (Kenny Porter), Matthew Goode (Jim), Jon Kortajarena (Carlos), Paulette Lamori (Alva), Ryan Simpkins (Jennifer Strunk), Ginnifer Goodwin (Mrs. Strunk), Teddy Sears (Mr. Strunk), Paul Butler (Christopher Strunk), Aaron Sanders (Tom Strunk), Aline Weber, Keri Lynn Pratt, Jenna Gavigan, Alicia Carr, Lee Pace, Adam Shapiro, Marlene Martinez, Ridge Canipe, Elisabeth Harnois, Erin Daniels, Nicole Steinwedell, Tricia Munford, Don Bachardy, Brad Benedict, Ryan Butcher, Janelle Gill, Brent Gorski, Jon Hamm, Patrizia Milano, etc. Duração: 99 minutos; Distribuição em Portugal: Ecofilmes/Vitória Filme; Classificação etária: M/ 16 anos; Data de estreia em Portugal: 18 de Fevereiro de 2010.

segunda-feira, outubro 04, 2010

CINEMA PORTUGUÊS

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ASSALTO AO "SANTA MARIA”
Abordar em cinema o assalto ao “Santa Maria”, no nosso país, não deixa de ser matéria para alguma coragem. A reconstituição histórica nunca foi o nosso forte, fundamentalmente em função dos parcos recursos económicos da nossa produção, e por isso mesmo se poderia temer o pior. Como já aconteceu inúmeras vezes e múltiplos exemplos se poderiam adiantar. Francisco Manso tinha ainda, neste aspecto, um outro contra de peso a ultrapassar: o facto da reconstituição se passar quase toda no mar alto, a bordo de um navio que era uma das coroas de glória da marinha mercante portuguesa, e que já não existe (foi vendido em 1973, com vinte anos de existência, para ser desmantelado em Taiwan). O resultado, diga-se desde já, está longe de ser decepcionante, ainda que, aqui e ali, seja precisamente na reconstituição que se vão encontrar as suas maiores fragilidades.
O navio, construído na Bélgica e lançado às águas do oceano em 1953, integrava-se num plano de renovação da marinha mercante portuguesa, inserindo-se no chamado “Despacho 100”, da responsabilidade do então ministro da Marinha do governo de Salazar, Américo Tomás. Desde 1946 programou-se a construção de mais de meia centena de novos navios, entre eles paquetes transatlânticos como o “Santa Maria”, o “Vera Cruz”, o "Infante Dom Henrique" e o "Príncipe Perfeito", todos pertencentes à CCN, Companhia Colonial de Navegação. A viagem inaugural do “Santa Maria” aconteceu em Novembro de 1953, partindo de Lisboa, rumo ao Brasil, Uruguai e Argentina, com Américo Tomás a bordo. Era o navio que por tradição ligava Portugal às Américas, quer fossem do Sul ou do Norte. Era aliás o único paquete português a efectuar ligação aos Estados Unidos da América do Norte.
Ficaria na História por uma façanha, até aí inédita, que teve por protagonista um grupo de resistentes e opositores das ditaduras ibéricas, chefiado pelo capitão Henrique Galvão que, em 20 de Janeiro de 1961, tomou de assalto o navio, em nome da DRIL - Direcção Revolucionária Ibérica de Libertação, grupo que reunia opositores aos regimes de Salazar e Franco, com orientações políticas vincadamente diferentes, mas aqui irmanados numa mesma acção de frente comum. Henrique Galvão não era comunista, e por essa altura era o braço-direito do general Humberto Delgado que, três anos antes, fora escandalosamente espoliado nas eleições para Presidente da República de Portugal, num plebiscito fraudulento que fez triunfar precisamente o candidato da União Nacional, Américo Tomás. Em 1961, Henrique Galvão encontrava-se exilado na Venezuela e foi aí que planeou assaltar o “Santa Maria”, onde embarcou em Curaçau. O grupo não era grande, 24 homens armados, que tomaram de surpresa a ponte de comando e a cabine de TSF do navio que rumava a Port Everglades, na Florida, com 612 passageiros e 350 tripulantes, sob o comando do capitão Mário Simões da Maia. Era precisamente 1 hora e 45 minutos da madrugada de 22 de Janeiro de1961, poucos elementos da tripulação ofereceram resistência, havendo a lamentar a morte do terceiro piloto, João José Nascimento Costa, morto a tiro na refrega.
Galvão pretendia levar o "Santa Maria" até à colónia espanhola de Fernando Pó, no golfo da Guiné, partindo dali para um ataque a Luanda, de onde iria desencadear uma acção tendente a derrubar os regimes ditatoriais de Portugal e Espanha. Mas teve de alterar o rumo, indo para o Atlântico, desembarcando depois na ilha de Santa Lúcia, numa lancha, dois feridos graves e cinco tripulantes, pondo a situação do navio a descoberto, sendo a partir daí identificada a acção revolucionária, o que impediu a viagem para África. Localizado pelas forças armadas norte-americanas, mas também pela comunicação social internacional, o “Santa Maria” ou o “Santa Liberdade”, como era conhecido pelos revoltosos, que desfraldaram uma tarja com essa designação, foi o centro de atenção do mundo. Missão cumprida, nesse ponto. Mas, aproveitando-se dos ventos da História, que colocaram John Kennedy na presidência da República dos EUA, e Jânio Quadros na do Brasil, o "Santa Maria" aportou ao Recife, a 2 de Fevereiro, onde desembarcaram passageiros e tripulantes, sendo Galvão e companheiros aclamados como heróis. Seria um outro paquete da CCN, “Vera Cruz”, a vir resgatar o “Santa Maria”, que regressaria a Lisboa a 16 de Fevereiro, perante grande manifestação nacionalista “de desagravo”.
Em Março deste mesmo ano de 1961, iniciava-se a guerra colonial no Norte de Angola. No envio de tropas e material de guerra, “rapidamente e em força”, para as colónias, principalmente para Angola, o “Santa Maria” e demais paquetes tiveram papel preponderante, pois foram requisitados para o efeito, quase a tempo inteiro.
O filme de Francisco Manso principia na Venezuela, Caracas, com os preparativos do assalto e introduz personagens ficcionadas que irão servir de elo dramático e sentimental. Um deles é Zé Ramos, um jovem emigrante português, que vive em dificuldades, e rouba uma máquina fotográfica a um português abastado, que se passeia com a família por um jardim de Caracas (sabe-se depois que é oficial do exército português e salazarista dos quatro costados), ao mesmo tempo que cai de amores pela sua filha Ilda. Como acontece sempre nestas histórias inventadas por argumentistas mais ou menos inspirados, Henrique Galvão assalta o “Santa Maria”, levando nas suas tropas o apaixonado Zé, que encontra a bordo, imaginem!, a família de Ilda. Enquanto os factos históricos decorrem com maior ou menor rigor histórico, a ficção dramático-sentimental progride inexoravelmente. Francisco Manso vai equilibrando o conjunto, ofuscado aqui e ali por efeitos visuais de qualidade muito discutível, mas oferecendo uma muito aceitável ambiência intimista do navio (os recursos não davam para planos gerais, optou-se inteligentemente por planos de conjunto; as salas de jantar não eram as majestosas do verdadeiro “Santa Maria”, mas ficam-se por um arremedo de Maxim; o paquete quase nunca se vê a navegar, pois seria difícil fazer sair o “Gil Eanes” do porto de Viana do Castelo, mas a sensibilidade de Francisco Manso inventou planos de bombordo ou estibordo que sugerem mais do que mostram e provocam um simulacro do efeito desejado, etc.). Já as imagens do “Santa Maria” navegando no mar alto são difíceis de digerir, pela insipiência dos resultados.
Haverá imprecisões, a versão é nitidamente parcial, partindo da descrita por Henrique Galvão no seu livro dedicado ao feito (1), alguma incorrecção, uma ou outra falha (a não referência ao facto da guerra colonial ter começado em simultâneo a este assalto, é importante), mas no cômputo geral o filme não desmerece, acompanha-se com interesse e é uma pedra branca na carreira de Francisco Manso, inclusive por outros aspectos. Relevantes.
Falemos então do que vale mesmo a pena. A muito boa fotografia, bem iluminada, de José António Loureiro, o som, de grande qualidade, de Carlos Alberto Lopes, a interpretação brilhante de Carlos Paulo (como capitão Henrique Galvão), muito bem acompanhado por quase todo o elenco, notavelmente dirigido, com segurança, eficácia e rigor. Citem-se, por ser de toda a justiça, Pedro Cunha (Zé Ramos), Vítor Norte, Maria d’Aires, Leonor Seixas (Ilda), André Gomes (General Humberto Delgado), entre outros. Nada mau, como resultado final.

(1) Surgiu agora um livro de memórias, “Eu Roubei o Santa Maria”, da autoria de um dos outros comandantes deste assalto, o galego Jorge Soutomaior, que ainda é mais demencialmente egocêntrico do que Galvão e a versão deste. Lendo as duas posições deste acto revolucionário, fica-se com uma estranha noção do que terá sido o seu desenrolar. Mas esta auto-entronização de Jorge Soutomaior, como o predestinado que tudo sabe, e que só louva galegos e destrói por completo a reputação dos portugueses envolvidos, é algo que terá de ser comprovada linha a linha. Fica como curiosidade, e é muito significativa para se compreender o ninho de vespas em que se terá transformado esta operação. Ed. Labirinto das Letras, Lisboa, 2010 (tradução de José António Barreiros).

ASSALTO AO SANTA MARIA
Título original: Assalto ao Santa Maria
Realização: Francisco Manso (Portugakl, 2010); Argumento: João Nunes e Vicente Alves do Ó; Produtor: José Mazeda; Música: Konstantinos Christides, Nuno Malo; Fotografia (cor): José António Loureiro e ainda Miguel Malheiros, João Pequeno, David Valadão; Design de produção: Fernando Areal; Guarda-roupa: Caterina Cucinotta, Isabel Finkler; direcção de produção: Teresa Rafael; Assistentes de realização: Dino Estrelinha, Ângela Sequeira; Som: Carlos Alberto Lopes, Branko Neskov, Vladan Nedeljkov, Ricardo Sequeira, Aleksandra Stojanovic; Companhia de produção: Take 2000; Interpretes: Pedro Cunha (Zé Ramos), Leonor Seixas (Ilda), Carlos Paulo (Capitão Henrique Galvão), Alfonso Algra (Capitão José de Sotomaior), António Cerdeira (Camilo Mortágua), André Gomes (General Humberto Delgado), Vítor Norte (Alfredo Enes), Maria d’Aires (Amália Enes), Bruno Simões (Júlio, “camarada de armas” de Zé), João Cabral, João Maria Pinto, José Luís de Oliveira, Christopher Murphy, Miguel Rosas, Ricardo Simões, etc. Duração: 98 minutos; Distribuição em Portugal: Zon Lusomundo Audiovisuais; Classificação etária: M/ 12 anos; Data de estreia em Portugal: 23 de Setembro de 2010.

domingo, outubro 03, 2010

CINEMA: A ORIGEM

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A ORIGEM

"A Origem", de Christopher Nolan, é um filme surpreendente a vários títulos. Não o será tanto pelo tema. Na verdade, quem conhece a obra de Nolan sabe que o seu território de eleição são os mundos paralelos, sobretudo os que se situam no interior do próprio homem. Foi assim em "Memento" (2000), onde os labirintos da memória eram o tema central, foi assim em "Insónia" (2002), onde Al Pacino e Robin Williams se embrenhavam num campo de letargia, foi assim em "O Terceiro Passo" (2006), onde a magia e a ilusão interagiam com a realidade, e foi ainda assim nas duas etapas de “Batman” que Nolan dirigiu, recuperando a personagem para terrenos de uma outra exigência, "Batman: O Início" (2005) e "O Cavaleiro das Trevas" (2008).
De onde surge então a estranheza desta obra? Antes de mais, este é um filme de autor, que aparentemente se diria de uma complexidade de tema e de narrativa que nada fazia prever ficar à frente do “box office” mundial neste ano de 2010. E ficou como uma das obras mais rentáveis da temporada. Depois, é sabido que presentemente a maior percentagem do público que vai às salas de cinema mundiais são jovens, adolescentes, e não esperava francamente que se interessassem por duas horas e meia de acção, é certo, mas de acção que tem por cenário a mente humana e os meandros dos sonhos. A verdade é que vi “A Origem” numa sala repleta de jovens, que seguiram silenciosamente o filme e o discutiram de forma muito madura no final. Muito mais madura, diga-se, que muitos adultos que o acharam “chato” e incompreensível. Questão nítida de diferença de gerações e de desadaptação a novas linguagens e temas, onde as realidades paralelas assumem papel preponderante. Que os jovens tratam por tu, e os menos jovens tendem a não compreender, ou a não entenderem tão bem e tão rapidamente. Afinal, um filme de autor, “difícil”, manuseando conceitos abstractos, narrado de forma descontínua, apelando ao onirismo e senhor de um apuro gráfico e plástico invulgar, pode ser um grande sucesso de público. Ainda bem.
Don Cobb (DiCaprio), é um profissional do roubo. Dir-se-ia que nos encontramos no início de mais um daqueles célebres filmes de “assaltos a bancos, comboios ou casinos”, que alguns apelidam de "heist movie", mas neste caso o roubo é de natureza muito diferente: Cobb assalta sonhos, de onde rouba preciosas informações, segredos recolhidos no mais profundo do inconsciente e que os sonhos revelam. Obviamente que estamos no domínio da ficção científica, mas também no da metáfora. Cobb (e a sua equipa de especialistas) revela-se um tão exímio profissional que lhe propõem desafios ainda mais extenuantes. Não apenas roubar sonhos, mas introduzir sonhos nos sonhos. Esta engenhosa forma de manipular mentes conduzi-lo-á a um caso de espionagem industrial. Ele terá que entrar no sonho de Fischer (Cillian Murphy), o filho de um magnata que acaba de falecer, e que um concorrente directo quer anular. O que se ambiciona é que Fisher “sonhe” que o seu pai pretendia desmembrar o seu império. Adormecido Fisher, o grupo lança-se na aventura, tanto mais perigosa quanto, do lado de Fisher, também existem exércitos de protectores, que obrigam a que os sonhos se multipliquem, isto é, dentro de cada sonho pode viajar-se para um outro sonho mais profundo, até se atingirem perigosos níveis de onde dificilmente se escapará, podendo permanecer-se num limbo de efeito incalculável.
Sequestrado Fischer, impõe-se levá-lo a abrir um cofre inscrito no mais recôndito esconso do seu subconsciente, onde foi inscrita a semente de uma ideia que ele terá de acreditar ser sua. Inventa-se um forjado testamento e leva-se Fisher a relembrar a “chave” que o irá abrir. Tudo isto no meio das mais invulgares peripécias, perseguições desenfreadas, lutas corpo a corpo na imponderabilidade do vazio, explosões desmedidas em montanhas nevadas, comboios ultrasónicos que atravessam o ecrã e as mentes dos espectadores. E momentos de aparente relaxe, como os que induzem ao sonho, sob o efeito de “Non, Je Ne Regrette Rien”, celebrizada por Édith Piaf, e por Marion Cotillard no filme biográfico que a entronizou (a mesma Marion Cotillard que interpreta a figura de Mal, a “femme fatal”, casada com Cobb).
Por falar nisso, há mais a sublinhar. Cobb não entra na aventura apenas pelo sucesso desta, mas porque procura, através dela, resgatar uma culpa antiga que se prende com um pretenso, ou real, suicídio da sua mulher, Mal. Tenta ainda o regresso aos Estados Unidos, para se reunir aos seus dois filhos. A culpa é igualmente um dos temas recorrentes na filmografia de Christopher Nolan, que aqui reaparece, e que introduz um clima pesado e dramático numa história já de si nebulosa.
O desafio proposto ao espectador, é estimulante e obriga a uma atenção constante. Difícil se torna saber onde começa a realidade (que realidade?, já é outra questão), onde começa o sonho, nível 1, onde se salta para um nível inferior, quando se regressa (será que se regressa?) e assim por diante. Depois há ainda uma agravante temporal: a realidade tem uma duração, cada nível onírico tem a sua duração própria, como interagir neste universo de tempos paralelos? Um carro a cair de uma ponte sobre um rio pode demorar 20 segundos na realidade, 20 minutos no nível 1 dos sonhos, e 2 horas no patamar seguinte. Cada sonho é gerido por um dos elementos do grupo de assalto que o liberta, logo cada sonho impõe uma lógica diferente, ligada ao estado de espírito e à situação física de quem o sonha: alguém com necessidade imperiosa de urinar pode desenvolver um sonho onde a chuva tenha papel preponderante.
“A Origem” é difícil de resumir num texto, nem o intuito deste é fazê-lo, inclusive para não retirar “suspense” a quem o vê (por falar em “suspense”, anda por aqui um pouco de Hitchcock à mistura com os mundos paralelos de “Matrix”). Mas importa ainda referir quer a qualidade da fotografia de Wally Pfister, quer a montagem (impossível!) de Lee Smith, a partitura musical de Hans Zimmer ou a sonoplastia de Richard King. Direcção artística, guarda-roupa, efeitos especiais são todos eles excepcionais, bem como o trabalho de um elenco invulgarmente dotado. Por aqui andarão muitas nomeações para os Oscars, que se adivinham já.
Um belíssimo e inteligente filme de um autor que se confirma como um dos mais importantes da moderna cinematografia norte-americana.

A Origem
Título original: Inception
Realização: Christopher Nolan (EUA, 2010); Argumento: Christopher Nolan; Produção: Jordan Goldberg, Thomas Hayslip, Christopher Nolan, Kanjiro Sakura, Yoshikuni Taki, Emma Thomas; Música: Hans Zimmer; Fotografia (cor): Wally Pfister; Montagem: Lee Smith; Casting: John Papsidera; Design de produção: Guy Dyas; Direcção artística: Luke Freeborn, Brad Ricker, Dean Wolcott; Decoração: Larry Dias, Douglas A. Mowat; Guarda-roupa: Jeffrey Kurland; Maquilhagem: Luisa Abel, Janice Alexander, Terry Baliel; Direcção de produção: Jan Foster, David E. Hall, Elona Tsou; Assistentes de realização: Richard Graysmark, Brandon Lambdin, Nilo Otero; Departamento de arte: Charlsey Adkins, Dominique Arcadio, Jim Barr, Aric Cheng; Som: Richard King; Efeitos especiais: Chris Corbould, John Fleming; Efeitos visuais: Richard Bain, Mikael Brosset, Monette Dubin, Paul J. Franklin; Companhias de produção: Warner Bros. Pictures, Legendary Pictures, Syncopy; Intérpretes: Leonardo DiCaprio (Cobb), Joseph Gordon-Levitt (Arthur), Ellen Page (Ariadne), Tom Hardy (Eames), Ken Watanabe (Saito), Dileep Rao (Yusuf), Cillian Murphy (Robert Fischer), Tom Berenger (Peter Browning), Marion Cotillard (Mal), Pete Postlethwaite (Maurice Fischer), Michael Caine (Miles), Lukas Haas (Nash), Tai-Li Lee, Claire Geare, Magnus Nolan, Taylor Geare, Johnathan Geare, Tohoru Masamune, Yuji Okumoto, Earl Cameron, Ryan Hayward, Miranda Nolan, Russ Fega, Tim Kelleher, Talulah Riley, etc. Duração: 148 minutos; Distribuição em Portugal: Columbia TriStar Warner Filmes de Portugal; Classificação etária: M/ 12 anos; Data de estreia em Portugal: 22 de Julho de 2010.

sexta-feira, outubro 01, 2010

CINE ECO 2010 - PROGRAMAÇÃO (1)

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CASA MUNICIPAL DA CULTURA
PROGRAMAÇÃO DO CINE-TEATRO

Sábado, 16 de Outubro
11H00 - Só animação: TOY STORY 3
21H30 - ABERTURA OFICIAL CONCERTO COM BERNARDO SASSETI TRIO

Domingo, 17 de Outubro
11H00 - Só animação: SHREK PARA SEMPRE!
15h30 - Outras Terras, Outras Gentes: HOMENS QUE MATAM CABRAS SÓ COM O OLHAR
18h00 - Outras Terras, Outras Gentes: O LAÇO BRANCO
21h30 - Outras Terras, Outras Gentes: O ESCRITOR FANTASMA

Segunda-feira, 18 de Outubro
10H00 - Só animação: TOY STORY 3
15h00 - Outras Terras, Outras Gentes: AVATAR
18h00 - Outras Terras, Outras Gentes: EU SOU O AMOR
21h30 - Outras Terras, Outras Gentes: A ORIGEM

Terça-feira, 19 de Outubro
10H00 - Só animação: SHREK PARA SEMPRE!
15h00 - Outras Terras, Outras Gentes: TUDO PODE DAR CERTO
18h00 - Outras Terras, Outras Gentes: ERVAS DANINHAS
21h30 - Outras Terras, Outras Gentes: GREENZONE

Quarta-feira, 20 de Outubro
10H00 - Só animação: TOY STORY 3
21h45 - NICOLAU BREYNER - 50 ANOS DE CARREIRA LEVADOS À CENA

Quinta-feira, 21 de Outubro
10H00 - Só animação: SHREK PARA SEMPRE!
15H00 – Na Floresta de Sherwood: ROBIN HOOD
18H00 – Outras Terras, Outras Gentes: UM HOMEM SINGULAR
21H00 – Na Floresta de Sherwood: ROBIN HOOD

Sexta-feira, 22 de Outubro
10h00 - Só animação: COMO TREINARES O TEU DRAGÃO
15H00 - Outras Terras, Outras Gentes: ASSALTO AO SANTA MARIA (escolas, com presença de realizador e actores)
18H00 - Outras Terras, Outras Gentes: ASSALTO AO SANTA MARIA (público em geral, com presença de realizador e actores)
21H30 - Outras Terras, Outras Gentes: A ESTRADA

Sábado, 23 de Outubro
11H00 - Só animação: COMO TREINARES O TEU DRAGÃO
21H30 – ENCERRAMENTO ENTREGA DE PRÉMIOS E CONCERTO COUPLE COFFEE & BAND