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sábado, outubro 30, 2010

NO TEATRO POLITEAMA

:

UM VIOLINO NO TELHADO, I
No palco em Portugal, agora em Lisboa



Disse-o e escrevi-o quando vi o espectáculo no Rivoli, no Porto: acredito que este seja o melhor musical encenado até hoje por Filipe La Feria. O que não é dizer pouco, pois já vi muitos e muito bons musicais com a marca La Féria. Mas “Um Violino no Telhado” tem algo que nalguns outros não existia: uma unidade de estilo e de concepção que torna a obra um todo quase inatacável. Um cenário sóbrio, mas de grande expressividade, um guarda-roupa de uma eficácia e de um bom gosto extraordinários, um bom jogo de luzes, uma marcação de cena e uma coreografia muito acertadas, uma trabalho de actores globalmente muito forte, uma dramaturgia que consegue momentos de amargura e alegria, de desespero e de ternura muito bem doseados, sem serem forçados, uma história comovente e humana como poucas, sem carregar na tragédia (e como foi trágica a sorte do povo judeu na Rússia dos Csars e depois na URSS, que para eles não houve revolução que lhes valesse!), mas sem adocicar o drama para satisfazer a clientela.
Da história já falei (e agora transcrevo o que então aqui publiquei aquando da visita ao Rivoli), mas vale a pena actualizar alguns apontamentos. Reafirmar a extraordinária actuação de José Raposo, num dos seus melhores e mais transpirados trabalhos, onde repete um nervo, um entusiasmo, uma vibração invulgares, a segurança contida de Rita Ribeiro, a entrega de Joel Branco, numa das suas mais logradas actuações, as nuances de Hugo Rendas, igualmente numa das suas melhores prestações, o cossaco muito bem desenhado por Carlos Quintas, as presenças doces mas afirmativas de Cátia Garcia e Sissi Martins, num elenco onde ainda se podem e devem citar Helena Rocha, Jorge Sousa Costa, Alexandre Falcão, Rui Andrade, entre muitos outros e um grupo de arrebatados cossacos.
Com “Um Violino no Telhado”, Filipe La Féria merece o melhor. E nestes tempos de crise, nada melhor do que um bom espectáculo musical que, sem calar a dor, nos ofereça a esperança e o colorido da vida. Do amor. Da alegria de permanecer, mesmo quando as adversidades parecem inultrapassáveis.

UM VIOLINO NO TELHADO, II
No palco em Portugal, no Porto

“Um Violino no Telhado”, em cena no palco do Teatro Rivoli, no Porto, é, creio que sem dúvidas, o melhor musical até hoje encenado por Filipe La Féria. Já escrevi bastante sobre a peça e o filme num texto que surge no programa do Rivoli, interessa-me agora abordar a versão portuguesa. Desde logo um cenário e um guarda-roupa deslumbrantes, de um extremo bom gosto. Depois um jogo de luzes magnifico e um trabalho de actores invulgarmente coerente e globalmente de grande qualidade: José Raposo, no protagonista, é magnifico, de vitalidade, vibração, humanidade e humor, Rita Ribeiro muito segura e contida na “mãe” que vai casando as filhas, Joel Branco, numa das suas mais logradas actuações, José Pinto, fulgurantes em curtas aparições como “Rabi”, Hugo Rendas, igualmente numa das suas melhores prestações, num elenco onde ainda se podem e devem citar Sara Lima, Ruben Madureira, Helena Rocha, Sissi Martins, Carlos Meireles, Alexandre Falcão, entre muitos outros.
Ao todo são 58 actores, cantores, bailarinos e músicos, a maioria dos quais oriundos do Norte. Da Ucrânia surgiu o grupo de bailarinos que interpretam os cossacos. Excelentes.
Num teatro a rebentar pelas costuras (numa quarta-feira), com gente de todos os estratos sociais, com os rostos felizes dos espectadores a acompanharem com um visível prazer o que lhes era dado ver no palco, com muita gente nova no público (quem disse que o musical era coisa de terceira idade não sabe do que fala!), este foi o espectáculo que sabe bem ver e sabe bem saber que existe. Teatro do melhor, com público do melhor, numa noite memorável do Porto.
saber mais AQUI

UM VIOLINO NO TELHADO, IIIDo palco ao cinema, nos EUA (*)
“Um Violino no Telhado” foi durante anos, e não há muitos, o musical com maior número de representações na Broadway. Razões para esta preferência dos espectadores norte-americanos? Uma história humana, comovente e divertida, bem construída, com uma banda sonora inspirada que fica facilmente no ouvido, coreografias nervosas e ritmadas, boas interpretações, uma encenação vigorosa, e ainda dois aspectos que não podem ser esquecidos em palcos americanos: uma história ambientada num época que transformou profundamente o mundo e, sobretudo, uma história de judeus, e sabe-se que New York já foi chamada Jew York.
“Fiddler on the Roof” parte de uma obra originalmente chamada “Tevye”, incluída numa colectânea de contos de Sholem Aleichem (“Tevye and His Daughters” ou “Tevye the Milkman”), escrita em Yiddish e publicada em 1894.
Sholem Aleichem (de nome próprio Sholem Rabinovitz) foi um dos mais famosos escritores europeus judeus. Nasceu em 1859, numa família que vivia em Perevaslav, uma pequena cidade no sul da Rússia. Pouco depois mudaram-se para Voronkov, e toda a vida de Sholem Rabinovitz é a base da sua inspiração literária. A quantidade de irmãos e parentes que reunia à sua volta está na base da intriga de “Um Violino no Telhado.” A sua vida irrequieta e tumultuosa, cheia de altos e baixos, tendo por vezes que fugir a credores que o não largavam, ou a perseguidores rácicos, não “deu um livro”, como muitas vezes se afirma, mas vários. Passou por diversas cidades, até chegar a Odessa, onde escreve a obra de que nos ocupamos, passando depois a Kiev, onde assiste aos massacres e às perseguições, tanto de czaristas como dos bolcheviques a caminho do triunfo, o que o levam a emigrar para a América, fixando-se em Nova Iorque, por pouco tempo, voltado pouco depois à Europa, à Alemanha, onde não feliz e apanhou o início da I Guerra Mundial. Regressa novamente à América como fugitivo. A 16 de Maio de 1916 morre pobre, mas deixa uma obra literária de mérito reconhecido, entre contos e peças de teatrro.
“Fiddler on the Roof”, o musical teatral, e depois o filme, descreve-nos o dia-a-dia numa aldeia russa da Ucrânia, Anatevka, onde predomina uma fechada comunidade judaica. Estamos ainda em plena época czarista, mas os tempos anunoiam mudança. Em redor do ano de 1905, esses sinais eram já visíveis. Tevye (Zero Mostel, no teatro; Topol, no cinema), o leiteiro da aldeia, e a sua família (onde abundam fílhas em idade de casar) são o centro sobre o qual irá rodar toda a intriga. O período é de perturbações sociais, com as contínuas ameaças do czarismo aos judeus e, simultaneamente, essa agitação estabelece o confronto e a contradição. Anatevka é delas retrato, desde a exaltação de uma tradição judaica, de características perfeitamente imutáveis, até à descoberta dos sinais de tempos novos que certas figuras prenunciam com a força das suas convicções. A obra irá, portanto, oscilar entre a tradição e a novidade, entre o amor e o ódio, entre o czarismo agonizante e a vontade popular em vertiginosa ascensão. Uma oscilação de extremos que encontrará o seu motivo maior numa raiz rácica, fértil em provocar confrontos.
De todo este clima Tevye é igualmente um bom exemplo. Nas suas longas conversas com Deus, em momento de corte e ruptura numa progressão dramática ditada pela acção (e que propiciam a introdução de alguns “números” musicais), Tevye funciona numa rudimentar dialéctica que se expressa num simples jogo de alternâncias de razões de certo peso (“por um lado, isto”, ... “por outro lado, aquilo”). Será este espírito aberto à dialéctica, ao confronto dos contrários que, apesar de tudo, obrigará Tevye a abandonar o tradicionalismo em que se baseava toda a sua experiência, voltando-se para novas aventuras e esperanças futuras. A maneira como vai encarando o casamento de cada uma das suas três filhas mais velhas é bem exemplo dessa mudança que se vai operando no seu comportamento e modificando a sua mentalidade.
No início da obra, Tevye explica: “Um violino no telhado, porquê? Porque corresponde à nossa maneira de ser. Esta é a nossa terra! Mantêmo-la com a força da nossa tradição. Temos tradições para tudo, para comer, para trabalhar, para vestir, para ter a cabeça coberta. Como começou tudo isto? Não sei. Mas é a tradição.” Há quem diga que o violino é o simbolo da sobrevivência da cultura e do estilo de vida judaicos na Europa de Leste e não se fazem rogados a estabelecer comparações entre este musical e a obra pictórica de outro judeu famoso, Marc Chagall, que também não se cuibia de colocar violinistas em situações de precária estabilidade.

O musical da Broadway estreou em 1964, fez mais de 3.000 representações pela primeira na história do género. Joseph Stein e Jerome Kobbins (este na adaptação e coreografia) foram os principais responsáveis do êxito no teatro, bem assim como o autor da musica, Jerry Bock. A sua estreia na Broadway foi coroada com a nomeação para dez Tony Awards, de que venceu nove, incluindo Melhor Musical do ano, Melhor Partitura, Melhor Libreto, Melhor Encenação e Melhor Coreografia. Depois foi reposto por quatro vezes e, em 1971, passou ao cinema. Para esta versão cinematográfica seria chamado, Norman Jewison, um cineasta irregular, mas que assinou alguns títulos particularmente interessantes, que se encarregaria da encomenda com certo apuro técnico e algum brilhantismo espectacular.
De um ponto de vista musical o filme tem duas ou três sequências bastante boas, sobretudo na primeira parte, nomeadamente os já famosos “Tradition” “If I Were a Rich Man” (onde a presença de Topol, que terá sido a grande revelação desta obra, é verdadeiramente notável, de força, de segurança, de nervo e ritmo). A coreografia de Jerome Robbins (o mesmo de “West Side Story”) é, ela também, tumultuosa, agressiva e vigorosa, sobretudo nos bailados com grande número de intervenientes (cenas na taberna, o casamento de uma das filhas de Tevye, todo o falso sonho de Tevye, conquanto que este seja de um gosto um tanto ou quanto duvidoso). De qualquer forma é possível verificar-se um estilo Jerome Robbins, bastando para isso comparar alguns bailados de “West Side Story” com outros deste “Fiddler on the Roof”.
O trabalho de Norman Jewisson é, por seu turno, bastante cuidado, criando um clima de certo lirismo. Aqui e ali alguns efeitos menos discretos, ou mais discutíveis (uma ou outra sobreposição rebuscada, sobretudo uma sequência, quase no final da película, com um bailado a dois, em silhueta, que nos parece de grande facilidade formal), poderão ter retirado uma maior coerência, mas no seu todo, o filme mantém um nível bastante aceitável, sendo de realçar o trabalho dos actores, particularmente o de Topol, como jâ assinalámos atrás.
No ano da sua estreia (1971), “Um Violino no Telhado” demonstrou ser uma certa revitalização do “musical”, uma apetência pela renovação no ínterior de um género então já em crise, que daí em diante não deixou de se agravar, apesar do aparecimento de meia dúzia de títulos que, de hora em vez, voltam a agitar o marasmo.
Na cerimónia de atribuição dos Oscars do ano, o filme teve comportamento meritório: venceu nas categorias de Melhor Fotografia, Melhor Som, Melhor Direcção Artística e Melhor Banda Sonora Adaptada, não transformando em estatuetas as nomeações para Melhor Filme, Melhor Actor e Melhor Actor Secundário.

(*) Texto que apareceu no programa do espectáculo de La Féria no Teatro Rivoli no Porto. No Teatro Politeama volta a aprecer um excerto deste texto.

UM VIOLINO NO TELHADO
Título original: Fiddler on the Roof
Realização: Norman Jewison (EUA, 1971); Argumento: Joseph Stein, segundo obras de Sholom Aleichem (romance "Tevye's Daughters e a peça "Tevye der Milkhiker""); Música: Jerry Bock; Fotografia (cor): Oswald Morris; Montagem: Antony Gibbs, Robert Lawrence; Casting: Lynn Stalmaster; Design de produção: Robert F. Boyle; Direcção artística: Michael Stringer, Veljko Despotovic; Decoração: Peter Lamont; Guarda-roupa: Joan Bridge, Elizabeth Haffenden; Maquilhagem: Del Armstrong, Gordon Bond, Wally Schneiderman; Direcção de produção: Richard Carruth, Larry DeWaay, Ted Lloyd; Assistentes de realização: Terence Churcher, Paul Ibbetson, Terence Nelson, Vladimir Spindler, Stevo Petrovic; Departamento de arte: Sam Gordon, William Maldonado, Mentor Huebner, Harold Michelson; Som: David Hildyard, Gordon K. McCallum, Les Wiggins; Produção:Norman Jewison, Patrick J. Palmer; Companhias de produção: Cartier Productions, The Mirisch Corporation. Intérpretes: Topol (Tevye), Norma Crane (Golde), Leonard Frey (Motel Kamzoil), Molly Picon (Yente), Paul Mann (Lazar Wolf ), Rosalind Harris (Tzeitel), Michele Marsh (Hodel), Neva Small (Chava), Paul Michael Glaser (Perchik), Ray Lovelock (Fyedka), Elaine Edwards (Shprintze), Candy Bonstein (Bielke), Shimen Ruskin, Zvee Scooler, Louis Zorich, Alfie Scopp, Howard Goorney, Barry Dennen, Vernon Dobtcheff, Ruth Madoc, Patience Collier, Tutte Lemkow, Stella Courtney, Jacob Kalich, Brian Coburn, George Little, Stanley Fleet, Arnold Diamond, Marika Rivera, Mark Malicz, Aharon Ipalé, Roger Lloyd-Pack, Vladimir Medar, Sammy Bayes, Larry Bianco, Walter Cartier, Peter Johnston, Guy Lutman, Donald Maclennan, René Sartoris, Roy Durbin, Ken Robson, Robert Stevenson, Lou Zamprogna, Susan Claire, Nigel Kingsley, Joel Rudnick, Petra Siniawski, Susan Sloman, Kenneth Waller, etc. Duração: 181 minutos; Distribuição do filme: Rank Filmes; Distribuição do DVD: Metro Goldwing Mayer; Classificação etária: M/ 12 anos; Data de estreia: 3 de Novembro de 1971 (EUA); Locais de filmagem: Gorica, Croácia.

Notas publicadas neste blogue em 12/14/2008

sábado, agosto 14, 2010

FADO, NO CASINO DO ESTORIL

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Fado - História de um Povo
Pela primeira vez no Casino Estoril como encenador de um espectáculo, Filipe La Féria assina “Fado - História de um Povo”, que procura traçar uma história do fado, desde as suas origens até à actualidade. Um espectáculo de casino tem as suas especificidades próprias e não se deve pensar ir encontrar aqui uma história erudita do fado, nem sequer um musical, na linha de “Amália”. O fado é aqui cruzado com o musical, é certo, mas igualmente com o circo, o bailado, a revista, o vídeo, as novas tecnologias, mas sobretudo também com o “music hall”. O resultado é certamente do agrado do público que vai ao Casino do Estoril, mas deixa um travo de alguma decepção em quem gosta de fado e de musicais, pois ao que se assiste é a um espectáculo híbrido. Não se ouve uma história do fado, através do fado (ainda que surjam muitos dos mais célebres fados de sempre, mas poucos para os incondicionais da canção nacional), nem se assiste a um musical estruturado enquanto tal.
Feita esta primeira ressalva, que tem a ver com a própria concepção do espectáculo, que enveredou deliberadamente por esta estrutura um pouco fragmentada em “números” que se sucedem, organizada em termos quase puramente espectaculares que procuram seduzir o espectador precisamente por este lado ligeiro e festivo, o que fica então?
Claro que desde logo o gosto e o saber de La Féria, que arranca momentos muito bons, como a entrada, com o aparecimento da caravela, e a evocação de que o fado nasceu no mar alto, na voz de um marinheiro. Depois de uma recordação da Severa e dos trágicos amores com o Conde de Vimioso, dado a touros e cavalos (o que permite um efeito de grande espectáculo, com um cavalo a descer do tecto do Casino), temos um dos momentos altos, possivelmente o mais conseguido, o enterro da Severa. Depois passamos pelo fado de Coimbra, cantado numa lua de belo efeito, e acompanhado por dois pífios bailarinos que evoluem no espaço, passamos pelas hortas onde o fado vadio se cantava aos domingos, passamos por Calafate e Setúbal, por Maria Cesária, pelos cafés de camareiras e pelas casas de prostituição em finais do século XIX, onde se ouvia o fado, que também era aristocrata, na corte de D. Carlos.
Depois, assiste-se à implantação da República, outro bom momento, com quase todo o elenco no palco, e à entrada na I Guerra Mundial. E vem Salazar e as marchas Populares, o Estado Novo e o aproveitamento dos 3 fs. Surgem gigantes como Alfredo Marceneiro e Hermínia Silva, e o fado vadio pelas tabernas da noite, nas ruelas de Lisboa. Durante a II Guerra Mundial, a capital recebe refugiados e influências, cita-se o Tango, e homenageia-se Fernando Maurício. Mostra-se como fado e folclore cruzaram tendências, e ainda antes de 25 de Abril não se esquece Carlos Ramos. Depois, de Maria Teresa de Noronha, “a aristocrata do Norte”, às aristocracias do fado de Lisboa, chega-se a Fernando Farinha, José Carlos Ary dos Santos, Carlos do Carmo, para se culminar em Amália. Pena não se sublinhar a verdadeira actualidade do fado, povoado por dezenas e dezenas de vozes novas e raras, que redescobrem os tons e as tonalidades desta canção que nos embala a todos e nos faz sentir a estranha sensação de comprovarmos a existência de uma voz portuguesa, uma toada, um canto, uma emoção.
Acrobatas a descerem do céu ou touros a dançar em pontas, demónios e anjos (demasiados anjos, é verdade, um momento, o primeiro, chegava para o efeito e não o banalizava), marchas e folclore, entre tudo isto oscila “Fado - História de um Povo”, entre o muito bom e o não muito conseguido, tal como as vozes que enfermam da mesma ambiguidade, ou são de fado ou de musical, e nem sempre cooperam harmoniosamente.
Com música de fados célebres, em novos arranjos, e partituras originais de Filipe La Féria, Paulo Valentim e Artur Guimarães, o espectáculo abre com a ressonância vocal de Alexandra (que tão bem fora “Amália”, no musical), e é continuado, com oscilações diversas, por Henrique Feist, Liana, Gonçalo Salgueiro, Paula Sá, Inês Santos, Luís Matos, Elsa Casanova, Luís Caeiro, Flávio Gil ou Jorge Silva, num elenco de várias dezenas de intervenientes.
O Casino tem um espectáculo à altura das suas credenciais? Claro que tem. Dado o intercâmbio que existe entre vários casinos internacionais, acho mesmo que é chegada a altura de casino do Estoril começar a exportar os seus shows e este, aprimorado aqui e ali, é um bom estandarte da canção nacional. Mas eu, como amante de fado, gostaria de algo mais castiço e mais genuíno, mais fado-fado. Outras oportunidades virão, espero.

domingo, dezembro 14, 2008

UM VIOLINO NO TELHADO, I

UM VIOLINO NO TELHADO
No palco em Portugal
“Um Violino no Telhado”, em cena no palco do Teatro Rivoli, no Porto, é, creio que sem dúvidas, o melhor musical até hoje encenado por Filipe La Féria. Já escrevi bastante sobre a peça e o filme num texto que surge no programa do Rivoli, interessa-me agora abordar a versão portuguesa. Desde logo um cenário e um guarda-roupa deslumbrantes, de um extremo bom gosto. Depois um jogo de luzes magnifico e um trabalho de actores invulgarmente coerente e globalmente de grande qualidade: José Raposo, no protagonista, é magnifico, de vitalidade, vibração, humanidade e humor, Rita Ribeiro muito segura e contida na “mãe” que vai casando as filhas, Joel Branco, numa das suas mais logradas actuações, José Pinto, fulgurantes em curtas aparições como “Rabi”, Hugo Rendas, igualmente numa das suas melhores prestações, num elenco onde ainda se podem e devem citar Sara Lima, Ruben Madureira, Helena Rocha, Sissi Martins, Carlos Meireles, Alexandre Falcão, entre muitos outros.
Ao todo são 58 actores, cantores, bailarinos e músicos, a maioria dos quais oriundos do Norte. Da Ucrânia surgiu o grupo de bailarinos que interpretam os cossacos. Excelentes.
Num teatro a rebentar pelas costuras (numa quarta-feira), com gente de todos os estratos sociais, com os rostos felizes dos espectadores a acompanharem com um visível prazer o que lhes era dado ver no palco, com muita gente nova no público (quem disse que o musical era coisa de terceira idade não sabe do que fala!), este foi o espectáculo que sabe bem ver e sabe bem saber que existe. Teatro do melhor, com público do melhor, numa noite memorável do Porto.


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sábado, novembro 29, 2008

TEATRO: WEST SIDE STORY

WEST SIDE STORY NO POLITEAMA
Ante-estreou, no Politeama, o “West Side Story”, versão portuguesa, com a assinatura de Filipe La Féria. Não seria de esperar senão um novo triunfo para a companhia, se bem que este não seja, para mim, o melhor La Féria, enfermando de um ou outro aspecto não muito logrado. Mas não é “West Side Story”- o filme, uma obra-prima do cinema, apesar da presença do canastrão Richard Beymer, e mesmo da não muito inspirada Natalie Wood?
Pois bem, vamos ao que me satisfez por completo: toda a montagem cenográfica é magnífica, sobretudo tudo o que se passa em exteriores, com a ponte de Brooklyn ao fundo, as luzes e os arranha-céus de NY no horizonte, e estruturas fechadas de edifícios de paredes de tijolo vermelho ou gradeamento de parques de jogos em primeiro plano. Excelente grafismo plástico, eficaz no plano da mudança de cenas, espectacular logo desde o seu aparecimento, bem iluminado e colorido. Bom o guarda-roupa.
O texto: globalmente uma muito boa adaptação ao português, quer de texto, quer de canções, o que de início me levantava algumas dúvidas, dado o tipo de linguagem utilizado no original, de difícil transição. Mas as palavras correm soltas, e quase nunca notei que estávamos em presença de um texto adaptado (reparei na mítica canção “Cool”, onde o “Calma contigo, meu!” não me soou tão bem). Mas, como disse, no conjunto uma boa versão.
Coreografia: este é um musical que vive essencialmente da coreografia, nervosa, ritmada, constante, hipnótica. No filme de Robert Wise e Jerome Robbins é algo de decisivo. Obviamente que os bailarinos portugueses que actuam no palco do Politeama não são da mesma qualidade dos americanos (voltamos a “Cool”, onde se sente mais a diferença: falta aos nossos aquela suspensão de voo que transformava o bailado num movimento etéreo, que oscilava entre a violência e a leveza), mas o resultado final é bom, surpreendentemente bom para a nossa realidade.
A interpretação nos espectáculos dirigidos por La Féria consegue sempre um nivelamento geral bastante agradável, sabendo-se que o encenador recorre muito a jovens actores e segundas figuras, bastando-lhe duas ou três estrelas para enfeitar o bolo. Acontece o mesmo aqui, mas o resultado nem sempre é tão homogéneo como habitualmente. Obviamente que um musical é um espectáculo muito difícil de atingir um nível geral muito alto: é muito difícil ter-se bons actores, que sejam bons cantores e tenham a aparência requerida. No cinema, como é sabido, esse aspecto é ultrapassado colocando actores dobrados por cantores. No palco essa artimanha é mais difícil de concretizar.
Na versão portuguesa de “West Side Story” há, portanto, de tudo. Excelentes trabalhos (Carlos Quintas no tenente Schrank vai muito bem, Anabela é uma convincente Anita, Pedro Bargado e Tiago Diogo são chefes de gangs de vincada personalidade, Alberto Vilar é um comovente Doc, Cátia Garcia é uma surpreendente Anybodys), e algumas incertezas. Por exemplo, no dia da ante-estreia a que assisti, os protagonistas foram Bárbara Barradas (Maria), excelente voz e boa intérprete, mas deficiente sempre que lhe pedem representação, e Rui Andrade, num Tony sem muita convicção, nem como cantor, nem como actor. De resto, o restante elenco cumpre sem sobressaltos, assegurando a tal qualidade média que caracteriza a boa direcção de actores de La Féria.
Finalizando (e enquanto não tiver oportunidade de ver o “segundo elenco” em actividade, com Lúcia Moniz, em Anita, Cátia Tavares, em Maria, e Ricardo Soler, em Tony), pode afirmar-se que La Féria conseguiu mais um grande espectáculo para o seu teatro na rua das Portas de Santo Antão, com um ou outro tropeção de somenos. Neste particular há ainda a referir uma cena de que não gosto nada, esteticamente de efeito mais que duvidoso – a noite de amor de Maria e Tony, com um bailado que pouco tem a ver com a estética do restante espectáculo. Mas estávamos numa ante-estreia, nervos à flor da pele, início de rodagem com público, e muito poderá ser melhorado nos próximos dias.
Sobre a passagem do musical da Broadway para o cinema já aqui falámos, num texto que aparece no programa do espectáculo do Politeama e que pode ser repescado AQUI.