Ante-estreou, no Politeama, o “West Side Story”, versão portuguesa, com a assinatura de Filipe La Féria. Não seria de esperar senão um novo triunfo para a companhia, se bem que este não seja, para mim, o melhor La Féria, enfermando de um ou outro aspecto não muito logrado. Mas não é “West Side Story”- o filme, uma obra-prima do cinema, apesar da presença do canastrão Richard Beymer, e mesmo da não muito inspirada Natalie Wood?
Pois bem, vamos ao que me satisfez por completo: toda a montagem cenográfica é magnífica, sobretudo tudo o que se passa em exteriores, com a ponte de Brooklyn ao fundo, as luzes e os arranha-céus de NY no horizonte, e estruturas fechadas de edifícios de paredes de tijolo vermelho ou gradeamento de parques de jogos em primeiro plano. Excelente grafismo plástico, eficaz no plano da mudança de cenas, espectacular logo desde o seu aparecimento, bem iluminado e colorido. Bom o guarda-roupa.
O texto: globalmente uma muito boa adaptação ao português, quer de texto, quer de canções, o que de início me levantava algumas dúvidas, dado o tipo de linguagem utilizado no original, de difícil transição. Mas as palavras correm soltas, e quase nunca notei que estávamos em presença de um texto adaptado (reparei na mítica canção “Cool”, onde o “Calma contigo, meu!” não me soou tão bem). Mas, como disse, no conjunto uma boa versão.
Coreografia: este é um musical que vive essencialmente da coreografia, nervosa, ritmada, constante, hipnótica. No filme de Robert Wise e Jerome Robbins é algo de decisivo. Obviamente que os bailarinos portugueses que actuam no palco do Politeama não são da mesma qualidade dos americanos (voltamos a “Cool”, onde se sente mais a diferença: falta aos nossos aquela suspensão de voo que transformava o bailado num movimento etéreo, que oscilava entre a violência e a leveza), mas o resultado final é bom, surpreendentemente bom para a nossa realidade.
A interpretação nos espectáculos dirigidos por La Féria consegue sempre um nivelamento geral bastante agradável, sabendo-se que o encenador recorre muito a jovens actores e segundas figuras, bastando-lhe duas ou três estrelas para enfeitar o bolo. Acontece o mesmo aqui, mas o resultado nem sempre é tão homogéneo como habitualmente. Obviamente que um musical é um espectáculo muito difícil de atingir um nível geral muito alto: é muito difícil ter-se bons actores, que sejam bons cantores e tenham a aparência requerida. No cinema, como é sabido, esse aspecto é ultrapassado colocando actores dobrados por cantores. No palco essa artimanha é mais difícil de concretizar.
Na versão portuguesa de “West Side Story” há, portanto, de tudo. Excelentes trabalhos (Carlos Quintas no tenente Schrank vai muito bem, Anabela é uma convincente Anita, Pedro Bargado e Tiago Diogo são chefes de gangs de vincada personalidade, Alberto Vilar é um comovente Doc, Cátia Garcia é uma surpreendente Anybodys), e algumas incertezas. Por exemplo, no dia da ante-estreia a que assisti, os protagonistas foram Bárbara Barradas (Maria), excelente voz e boa intérprete, mas deficiente sempre que lhe pedem representação, e Rui Andrade, num Tony sem muita convicção, nem como cantor, nem como actor. De resto, o restante elenco cumpre sem sobressaltos, assegurando a tal qualidade média que caracteriza a boa direcção de actores de La Féria.
Finalizando (e enquanto não tiver oportunidade de ver o “segundo elenco” em actividade, com Lúcia Moniz, em Anita, Cátia Tavares, em Maria, e Ricardo Soler, em Tony), pode afirmar-se que La Féria conseguiu mais um grande espectáculo para o seu teatro na rua das Portas de Santo Antão, com um ou outro tropeção de somenos. Neste particular há ainda a referir uma cena de que não gosto nada, esteticamente de efeito mais que duvidoso – a noite de amor de Maria e Tony, com um bailado que pouco tem a ver com a estética do restante espectáculo. Mas estávamos numa ante-estreia, nervos à flor da pele, início de rodagem com público, e muito poderá ser melhorado nos próximos dias.
Sobre a passagem do musical da Broadway para o cinema já aqui falámos, num texto que aparece no programa do espectáculo do Politeama e que pode ser repescado AQUI.
Pois bem, vamos ao que me satisfez por completo: toda a montagem cenográfica é magnífica, sobretudo tudo o que se passa em exteriores, com a ponte de Brooklyn ao fundo, as luzes e os arranha-céus de NY no horizonte, e estruturas fechadas de edifícios de paredes de tijolo vermelho ou gradeamento de parques de jogos em primeiro plano. Excelente grafismo plástico, eficaz no plano da mudança de cenas, espectacular logo desde o seu aparecimento, bem iluminado e colorido. Bom o guarda-roupa.
O texto: globalmente uma muito boa adaptação ao português, quer de texto, quer de canções, o que de início me levantava algumas dúvidas, dado o tipo de linguagem utilizado no original, de difícil transição. Mas as palavras correm soltas, e quase nunca notei que estávamos em presença de um texto adaptado (reparei na mítica canção “Cool”, onde o “Calma contigo, meu!” não me soou tão bem). Mas, como disse, no conjunto uma boa versão.
Coreografia: este é um musical que vive essencialmente da coreografia, nervosa, ritmada, constante, hipnótica. No filme de Robert Wise e Jerome Robbins é algo de decisivo. Obviamente que os bailarinos portugueses que actuam no palco do Politeama não são da mesma qualidade dos americanos (voltamos a “Cool”, onde se sente mais a diferença: falta aos nossos aquela suspensão de voo que transformava o bailado num movimento etéreo, que oscilava entre a violência e a leveza), mas o resultado final é bom, surpreendentemente bom para a nossa realidade.
A interpretação nos espectáculos dirigidos por La Féria consegue sempre um nivelamento geral bastante agradável, sabendo-se que o encenador recorre muito a jovens actores e segundas figuras, bastando-lhe duas ou três estrelas para enfeitar o bolo. Acontece o mesmo aqui, mas o resultado nem sempre é tão homogéneo como habitualmente. Obviamente que um musical é um espectáculo muito difícil de atingir um nível geral muito alto: é muito difícil ter-se bons actores, que sejam bons cantores e tenham a aparência requerida. No cinema, como é sabido, esse aspecto é ultrapassado colocando actores dobrados por cantores. No palco essa artimanha é mais difícil de concretizar.
Na versão portuguesa de “West Side Story” há, portanto, de tudo. Excelentes trabalhos (Carlos Quintas no tenente Schrank vai muito bem, Anabela é uma convincente Anita, Pedro Bargado e Tiago Diogo são chefes de gangs de vincada personalidade, Alberto Vilar é um comovente Doc, Cátia Garcia é uma surpreendente Anybodys), e algumas incertezas. Por exemplo, no dia da ante-estreia a que assisti, os protagonistas foram Bárbara Barradas (Maria), excelente voz e boa intérprete, mas deficiente sempre que lhe pedem representação, e Rui Andrade, num Tony sem muita convicção, nem como cantor, nem como actor. De resto, o restante elenco cumpre sem sobressaltos, assegurando a tal qualidade média que caracteriza a boa direcção de actores de La Féria.
Finalizando (e enquanto não tiver oportunidade de ver o “segundo elenco” em actividade, com Lúcia Moniz, em Anita, Cátia Tavares, em Maria, e Ricardo Soler, em Tony), pode afirmar-se que La Féria conseguiu mais um grande espectáculo para o seu teatro na rua das Portas de Santo Antão, com um ou outro tropeção de somenos. Neste particular há ainda a referir uma cena de que não gosto nada, esteticamente de efeito mais que duvidoso – a noite de amor de Maria e Tony, com um bailado que pouco tem a ver com a estética do restante espectáculo. Mas estávamos numa ante-estreia, nervos à flor da pele, início de rodagem com público, e muito poderá ser melhorado nos próximos dias.
Sobre a passagem do musical da Broadway para o cinema já aqui falámos, num texto que aparece no programa do espectáculo do Politeama e que pode ser repescado AQUI.
12 comentários:
Obrigada pela sua "crítica"...
É que tenciono levar lá um velho amigo de 89 anos e... gostava de saber o que iria encontrar.
Assim, com a sua descrição já faço uma ideia......
O Filipe La Feria coneseguiu um grande espectáculo. Afinadas as "falhas" e o nervosismo da ante estreia.
Ele, Filipe, continua sendo o Único fazedor de grandes espectáculos musicais neste país.
PARA TODAS AS IDADES.
Um Óptimo Pedro Bargado.
Cumprimentos
Frioleiras: pode levar o amigo à vontade. É um bom espectáculo.
heatchcliff: Inteiramente de acordo consigo, afinadas as "falhas".
Pedro Bargado, muito bom, sim senhor.
Cumprimentos
De acordo consigo e com a sua esclarecida análise
La Féria um pequeno génio
de grandes espectáculos
como moro em Castelo Branco é me dificil vir a ver a essa peça, mas já ví á uns anos o Amália quando por aqui veio infelizmente já não com a cantora Alexandra no papel de Amália, mas mesmo assim muito bom.
Quero lhe fazer uma questão aconselha-me a ver os 2 clássicos que a RTP2 vai passar no próximo dia 6 de Dezembro, sendo eles bem diferentes entre si e de nome CASAMENTO REAL com Fred Astaire e o filme de terror que nunca vi A CASA DE CERA com o excelente Vincent Price, curiosamente ambos dos anos 50?
já agora os clássicos cotinuam na semana seguinte mas neste caso já vi ambos sendo eles muito bons UM DIA EM NOVA IORQUE com Gene Kelly e COMA com Genevieve Bujold e Michael Douglas este segundo já não o vejo á muito tempo mesmo.
Eu gostei muito do espectáculo!
Certamente que o La Féria já fez melhor, mas este está muito fiel ao original e não desilude!
Os actores, na sua maioria, são muito bons; mas, a Cátia e o Jonas fizeram um óptimo trabalho nos papeis que lhes couberam!!
Excelentes cenários, óptimas coreografias, boa música... enfim! Foi muito bom!
Muito agradecido por tudo,
um abraço grande, sempre, do
Helder
Boa tarde... Lauro Antonio, so temos que ouvir e aceitar a sua opiniao, e ganhar forca para continuar a agradar a tanta gente como felizmente conseguimos na nossa anteestreia, excepto o senhor... Esperemos que com o nosso trabalho, um dia agradá-lo com convincentes personagens...Mas de qualquer forma agradecemos... Os melhores cumprimentos
Rui Andrade - Tony - e Barbara Barradas - Maria
Meus caros Bárbara e Rui:
fazem bem em continuar a trabalhar para fazerem sempre mais e melhor, mesmo que pensem que fui eu o único a tecer críticas ao vosso trabalho.
Primeiro princípio para alguém se tornar grande em qualquer área, sobretudo artística: aprender a ouvir as críticas e a dar-lhes o peso que elas merecem.
Abraços e força para o futuro.
Lauro Antonio, essa regra ja conheco bem e se a sua opiniao fosse totalmente alheia nao mereceria resposta da minha parte... Sou humilde e aceito todas as opinioes...
Felizmente sim, o senhor foi o unico a tecer criticas negativas ate hoje, que me chegassem aos ouvidos... felizmente a alegria e satisfacao por parte do publico da antestreia e do encenador (que é quem acreditou no meu trabalho e a quem nao quero desiludir) foi o que nos ficou guardada por todas as pessoas que se chegaram a nos e nos felicitaram e ate agradeceram pelo nosso trabalho...
Por isso, a sua critica nos fica tao cravada na memoria ja que nos mostra um lado negro que tanto lutamos e julgámos ter conseguido afastar do publico e que atraves da sua critica, vemos que nao...
Espero um dia fazer um Tony que mereca a sua consideracao quer como actor quer como cantor...
Boa noite e de qualquer forma mais uma vez obrigado...
Pois caro Sr. Lauro António, eu vi a antestreia e a estreia e concordo em grande parte com asua apreciação. Gostei de longe muito mais do 2º elenco mas temos que reconhecer que os nervos das primeiras sessões acabam por prejudicar as performances...grande cantor o Soler....
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