segunda-feira, fevereiro 27, 2012

OSCARS 2012 - OS RESULTADOS

 :
 TRIUNFAM "O ARTISTA"
E "A INVENÇÃO DE HUGO"
Resumindo e concluindo, nada de muito inesperado. 5 estatuetas para “O Artista” e outras 5 para “A Invenção de Hugo”, mas com a ressalva de o primeiro ter arrecadado três das mais cobiçadas estatuetas. Depois, e tal como se previa, distribui-se o bem pelas aldeias. Aqui fica o relatório final.  
(Não é para me gabar mas acertei em quase tudo.)

5 Oscars
O ARTISTA
Melhor filme / Thomas Langmann
Melhor realização / Michel Hazanavicius
Melhor actor / Jean Dujardin
Melhor música original / Ludovic Bource
Melhor guarda-roupa / Mark Bridges

5 Oscars
A INVENÇÃO DE HUGO
Melhor fotografia / Robert Richardson
Melhor direcção artística / Dante Ferretti (Design de produção); Francesca Lo Schiavo (Decoração)
Melhor som / Philip Stockton e Eugene Gearty
Melhor sonoplastia / Tom Fleischman e John Midgley
Melhores efeitos visuais / Rob Legato, Joss Williams, Ben Grossman e Alex Henning

2 Oscars
A DAMA DE FERRO
Melhor actriz / Meryl Streep
Melhor maquilhagem / Mark Coulier and J. Roy Helland

1 Oscar
OS DESCENDENTES
Melhor argumento adaptado / Alexander Payne e Nat Faxon & Jim Rash

1 Oscar
MEIA NOITE EM PARIS
Melhor argumento original / Woody Allen

1 Oscar
ASSIM É O AMOR
Melhor actor num papel secundário / Christopher Plummer

1 Oscar
AS SERVIÇAIS
Melhor actriz num papel secundário / Jessica Chastain

1 Oscar
UMA SEPARAÇÃO
Melhor filme em língua não inglesa/  Irão / Asghar Farhadi

1 Oscar
RANGO
Melhor filme de animação / / Gore Verbinski

1 Oscar
MILLENIUM 1 - OS HOMENS QUE ODEIAM AS MULHERES
Melhor montagem / Kirk Baxter e Angus Wall

1 Oscar
OS MARRETAS
Melhor canção original / "Man or Muppet" /  Música e poema de Bret McKenzie

1 Oscar
UNDEFEATED
Melhor longa-metragem documental / / TJ Martin, Dan Lindsay e Richard Middlemas

1 Oscar
SAVING FACE
Melhor curta-metragem documental / Daniel Junge e Sharmeen Obaid-Chinoy   

1 Oscar
THE FANTASTIC FLYING BOOKS OF MR. MORRIS LESSMORE
Melhor curta-metragem de animação / William Joyce e Brandon Oldenburg

1 Oscar
THE SHORE
Melhor curta-metragem de ficção / Terry George e Oorlagh George

domingo, fevereiro 26, 2012

OSCARS 2012 - PREVISÔES

 :
 OS OSCARS DE 2012

E lá vem o jogo do ano, que tem muito que contar, antecipando o que podem ser os triunfadores de mais uma noite de Oscars. Na lista abaixo publicada, assinalo a verde os que eu gostaria de ver premiados e a vermelho os que penso ganharam. Quando coincidem, prevalece o vermelho. A laranja os hipotéticos, quando os houver. Há categorias de que desconheço todos os nomeados e onde não faço qualquer tipo de prognóstico.  A ver vamos quem ganha no final. Mas não me parece que seja ano para um filme ganhar muitos Oscars. A distribuição pelas aldeias afigura-se-me o mais provável.
Melhor filme
    The Artist / Thomas Langmann
    The Descendants /Jim Burke, Alexander Payne e Jim Taylor
    Extremely Loud & Incredibly Close / Scott Rudin
    The Help / Brunson Green, Chris Columbus e Michael Barnathan
    Hugo / Graham King e Martin Scorsese
    Midnight in Paris / Letty Aronson e Stephen Tenenbaum
    Moneyball / Michael De Luca, Rachael Horovitz e Brad Pitt
    The Tree of Life / produtor a determinar
    War Horse / Steven Spielberg e Kathleen Kennedy

Melhor realização
    The Artist / Michel Hazanavicius
    The Descendants / Alexander Payne
    Hugo / Martin Scorsese
    Midnight in Paris / Woody Allen
    The Tree of Life / Terrence Malick

Melhor argumento adaptado
        The Descendants / Alexander Payne e Nat Faxon & Jim Rash
        Hugo / John Logan
        The Ides of March / George Clooney & Grant Heslov e Beau Willimon
        Moneyball / Steven Zaillian  eAaron Sorkin.  História de Stan Chervin
        Tinker Tailor Soldier Spy / Bridget O'Connor & Peter Straughan

Melhor argumento original
        The Artist / Michel Hazanavicius
        Bridesmaids / Annie Mumolo e Kristen Wiig
        Margin Call / J.C. Chandor
        Midnight in Paris / Woody Allen
        A Separation / Asghar Farhadi

Melhor actor
    Demián Bichir / A Better Life
    George Clooney / The Descendants
    Jean Dujardin / The Artist
    Gary Oldman / Tinker Tailor Soldier Spy
    Brad Pitt / Moneyball

Melhor actriz
    Glenn Close / Albert Nobbs
    Viola Davis / The Help
    Rooney Mara / The Girl with the Dragon Tattoo
    Meryl Streep / The Iron Lady
    Michelle Williams / My Week With Marilyn

Melhor actor num papel secundário
    Kenneth Branagh / My Week With Marilyn
    Jonah Hill / Moneyball
    Nick Nolte / Warrior
    Christopher Plummer / Beginners
    Max von Sydow / Extremely Loud and Incredibly Close

Melhor actriz num papel secundário
    Bérénice Bejo / The Artist
    Jessica Chastain / The Help
    Melissa McCarthy / Bridesmaids
    Janet McTeer / Albert Nobbs
    Octavia Spencer / The Help


Melhor filme em língua não inglesa
    Bélgica, "Bullhead" / Michael R. Roskam
    Canadá, "Monsieur Lazhar" / Philippe Falardeau
    Irão, "A Separation" / Asghar Farhadi
    Israel, "Footnote" / Joseph Cedar
    Polónia, "In Darkness" / Agnieszka Holland

Melhor filme de animação
    A Cat in Paris  / Alain Gagnol e Jean-Loup Felicioli
    Chico & Rita / Fernando Trueba e Javier Mariscal
    Kung Fu Panda 2 / Jennifer Yuh Nelson
    Puss in Boots / Chris Miller
    Rango / Gore Verbinski

Melhor fotografia
    The Artist / Guillaume Schiffman
    The Girl With The Dragon Tattoo / Jeff Cronenweth
    Hugo / Robert Richardson
    The Tree of Life / Emmanuel Lubezki
    War Horse / Janusz Kaminski

Melhor montagem
    The Artist / Anne-Sophie Bion e Michel Hazanavicius
    The Descendants / Kevin Tent
    The Girl with the Dragon Tattoo / Kirk Baxter e Angus Wall
    Hugo / Thelma Schoonmaker
    Moneyball / Christopher Tellefsen

Melhor direcção artística
    The Artist /Laurence Bennett (Design de produção); Robert Gould (Decoração)
    Harry Potter and the Deathly Hallows Part 2 / Stuart Craig (Design de produção); Stephenie McMillan (Decoração)
    Hugo / Dante Ferretti (Design de produção); Francesca Lo Schiavo (Decoração)
    Midnight in Paris / Anne Seibel (Design de produção); Hélène Dubreuil (Decoração)
    War Horse /Rick Carter (Design de produção); Lee Sandales (Decoração)

Melhor guarda-roupa
    Anonymous / Lisy Christl
    The Artist / Mark Bridges
    Hugo / Sandy Powell
    Jane Eyre / Michael O'Connor
    W.E. / Arianne Phillips

Melhor música original
    The Adventures of Tintin / John Williams
    The Artist / Ludovic Bource
    Hugo / Howard Shore
    Tinker Tailor Soldier Spy / Alberto Iglesias
    War Horse / John Williams

Melhor canção original
    "Man or Muppet", de “The Muppets” / Música e poema de Bret McKenzie
    “Real in Rio”, de “Rio” /  Música de Sergio Mendes e Carlinhos Brown; poema de Siedah Garrett

Melhor som
    Drive / Lon Bender e Victor Ray Ennis
    The Girl with the Dragon Tattoo / Ren Klyce
    Hugo / Philip Stockton e Eugene Gearty
    Transformers: Dark of the Moon / Ethan Van der Ryn e Erik Aadahl
    War Horse / Richard Hymns e Gary Rydstrom

Melhor sonoplastia
    The Girl with the Dragon Tattoo / David Parker, Michael Semanick, Ren Klyce e Bo Persson
    Hugo / Tom Fleischman e John Midgley
    Moneyball / Deb Adair, Ron Bochar, Dave Giammarco e Ed Novick
    Transformers: Dark of the Moon / Greg P. Russell, Gary Summers, Jeffrey J. Haboush e Peter J. Devlin
    War Horse / Gary Rydstrom, Andy Nelson, Tom Johnson e Stuart Wilson

Melhor maquilhagem
    Albert Nobbs / Martial Corneville, Lynn Johnston and Matthew W. Mungle
    Harry Potter and the Deathly Hallows Part 2 / Nick Dudman, Amanda Knight and Lisa Tomblin
    The Iron Lady / Mark Coulier and J. Roy Helland

Melhores efeitos visuais
    Harry Potter and the Deathly Hallows Part 2 / Tim Burke, David Vickery, Greg Butler e John Richardson
    Hugo / Rob Legato, Joss Williams, Ben Grossman e Alex Henning
    Real Steel / Erik Nash, John Rosengrant, Dan Taylor e Swen Gillberg
    Rise of the Planet of the Apes / Joe Letteri, Dan Lemmon, R. Christopher White e Daniel Barrett
    Transformers: Dark of the Moon / Dan Glass, Brad Friedman, Douglas Trumbull e Michael Fink

Melhor longa-metragem documental
    Hell and Back Again / Danfung Dennis e Mike Lerner
    If a Tree Falls: A Story of the Earth Liberation Front / Marshall Curry e Sam Cullman
    Paradise Lost 3: Purgatory / Joe Berlinger e Bruce Sinofsky
    Pina / Wim Wenders e Gian-Piero Ringel
    Undefeated / TJ Martin, Dan Lindsay e Richard Middlemas

Melhor curta-metragem documental
    The Barber of Birmingham: Foot Soldier of the Civil Rights Movement / Robin Fryday e Gail Dolgin
    God is the Bigger Elvis / Rebecca Cammisa e Julie Anderson
    Incident in New Baghdad / James Spione
    Saving Face / Daniel Junge e Sharmeen Obaid-Chinoy
    The Tsunami and the Cherry Blossom / Lucy Walker e Kira Carstensen

Melhor curta-metragem de animação
    Dimanche/Sunday / Patrick Doyon
    The Fantastic Flying Books of Mr. Morris Lessmore / William Joyce e Brandon Oldenburg
    La Luna / Enrico Casarosa
    A Morning Stroll / Grant Orchard e Sue Goffe
    Wild Life / Amanda Forbis e Wendy Tilby

Melhor curta-metragem de ficção
    Pentecost / Peter McDonald e Eimear O'Kane
    Raju / Max Zähle e Stefan Gieren
    The Shore / Terry George e Oorlagh George
    Time Freak / Andrew Bowler e Gigi Causey
    Tuba Atlantic / Hallvar Witzø

CINEMA: HUGO

 :
 A INVENÇÃO DE HUGO  

“A Invenção de Hugo Cabret” ("The Invention of Hugo Cabret"), de Brian Selznick, é um livro magnífico, reunindo de forma muito cinematográfica (ou não fosse o autor da família de David O. Selznick), texto e ilustrações, sobretudo estas lindíssimas, no seu preto e branco depurado. Conta a história de Hugo Cabret, um miúdo que vive escondido nos bastidores dos mecanismos de relojoaria de uma estação de caminhos-de-ferro de Paris, na década de 30 do século passado. Nessa mesma estação existe uma loja de brinquedos e guloseimas, propriedade de um tal senhor George, a quem Hugo vai furtando uns brinquedos e umas ferramentas, para concertar um robot que herdara do pai, relojoeiro e empregado do museu de cinema, que um dia morre num incêndio. O miúdo acha que o pai lhe deixou uma mensagem secreta no interior daquele robot, cuja principal característica é escrever, e que ele salvara da sucata do museu. As peripécias são muitas, até se chegar à conclusão de que o robot tinha sido construído pelo tal senhor George, que não é outro senão George Méliès, um dos pais do cinematógrafo, e o primeiro que intuíra que o cinema era a fábrica de sonhos que hoje povoa o imaginário das plateias de todo o mundo. O livro é uma homenagem a esse pioneiro e um hino de amor ao cinema.
Foi este livro que esteve na base de “Hugo”, filme de Martin Scorsese, que neste momento disputa os Oscars de 2012, referentes a filmes estreados no ano de 2011. Digo desde já que, entre os nomeados para melhor filme, este é o meu favorito. Mas adianto mais. Acho que “A Árvore da Vida”, de Terrence Malick, seria outro dos meus favoritos, mas reconheço que não tem hipóteses nenhumas, dada a sua experimentação e arrojo formal. Também acredito que o triunfador da noite será “O Artista”, apesar de admitir que, sendo um filme simpático e divertido, não passa de uma flute de champanhe, que se esvai com as borbulhas de satisfação que provoca momentaneamente. Curiosamente, sendo “O Artista” e “Hugo” duas homenagens ao cinema, e ao cinema mudo, a obra de Scorsese tem uma densidade e um alcance que a de Michel Hazanavicius nem de perto nem de longe logra. Mas tudo indica que “O Artista” saia triunfante do Oscar de melhor filme e talvez também o de melhor realizador. 
Voltando a “Hugo”, há que referir que se trata de uma belíssima reconstituição não direi histórica mas emotiva de um tempo e de uma certa cinefilia. Como se sabe, Martin Scorsese é não só um grande cineasta, um dos maiores vivos do cinema mundial, como ainda um cinéfilo obstinado que muito tem feito pela divulgação e preservação da história do cinema americano e mundial. A ele se devem séries magníficas sobre a história do cinema e do cinema italiano, como ainda campanhas em defesa do restauro e da conservação dos clássicos da cinematografia mundial. É um bom exemplo neste campo, inclusive produzindo e distribuindo na América e no mundo obras de cineastas que admira.
“Hugo” é apenas um prolongamento desta sua actividade e deste seu sentir. Ama o cinema, e esse amor sente-se em cada imagem de “Hugo”. Um dos aspectos que julgo mais conseguidos desta obra é a forma como ela se integra no espírito do cinema de fantasia e sonho que procura evocar. Ao assistir à projecção do filme, em 3D (indispensável vê-lo em 3D), participamos desse clima de magia e de arrojo técnico que fez (e faz) as delícias de quem conhece a obra de Méliès. Entre o ilusionismo do prestidigitador e a inocência do pioneiro, “Hugo” devolve-nos esse espaço de encantamento, enquanto em simultâneo nos vai conduzindo ao longo de uma pequena lição de história de cinema.
Mas este percurso de “Hugo” cruza-se com um outro, que é igualmente muito interessante e que completa muito bem o anterior. A história de Hugo Cabret e as suas aventuras e desventuras (aventuras desejadas por Hugo e a sua amiga Isabelle, desventuras com a sua condição de órfão, pobre, perseguido, ameaçado com a prisão e o orfanato, etc.) assemelha-se em muito a uma intriga de Charles Dickens, trocando o cenário londrino do século XIX pelo parisiense dos anos 30, com todo o seu pitoresco. Acrescente-se que o tom parisiense é muito bem captado, o que não deixa de ser curioso se cruzado com o “Artista”. O filme de Michel Hazanavicius é uma produção franco-belga, em grande parte filmada na América, e consegue reproduzir muito bem o clima norte-americano, enquanto, pelo contrário, “Hugo”, uma produção americana, parcialmente rodada em Paris, logra igual consistência nessa reconstituição de uma época e de um clima parisiense. Filmes que se cruzam, ambos exaltando a grandiosidade do cinema “mudo”.
De resto, “Hugo” conta com um apurado sentido estético e técnico. Fotografia, direcção artística, guarda-roupa, som, partitura musical são de altíssima qualidade e servem na perfeição as intenções da obra, bem assim como o excelente aproveitamento das 3D, aqui utilizadas não para atirar à cara do espectador efeitos espectaculares, mas para criar uma tridimensionalidade de planos que resulta muito bem. As personagens soltam-se dos cenários, criam espaços entre si, e introduzem alguma novidade neste processo que, até agora, quase só tem servido para “épater le bourgeois”. Na interpretação, Ben Kinglsey é um Méliès brilhante, e Sacha Baron Cohen um inesquecível inspector de polícia. Asa Butterfield não será um Hugo Cabret marcante, mas Chloë Grace Moretz destaca-se na sua composição de Isabelle. De resto, todos os restantes actores conseguem integrar-se bem no tom do projecto, desde Jude Law a Johnny Deep, numa furtiva composição de um músico.
A INVENÇÃO DE HUGO
Título original: Hugo
Realização: Martin Scorsese
(EUA, 2011); Argumento: John Logan, segundo obra de Brian Selznick ("The Invention of Hugo Cabret"); Produção: David Crockett, Barbara De Fina, Christi Dembrowski, Johnny Depp, Tim Headington, Georgia Kacandes, Graham King, Charles Newirth, Martin Scorsese, Emma Tillinger Koskoff; Música: Howard Shore; Fotografia (cor): Robert Richardson; Montagem: Thelma Schoonmaker; Casting: Ellen Lewis; Design de produção: Dante Ferretti; Direcção artística: Alastair Bullock, Dimitri Capuani, Steve Cárter, Stéphane Cressend, Martin Foley, Christian Huband, Stuart Rose, Luca Tranchino, David Warren, Ashley Winter; Decoração: Francesca Lo Schiavo; Guarda-roupa: Sandy Powell; Maquilhagem: Jan Archibald, Ann Buchanan, Nicola Buck, Morag Ross; Direcção de Produção: David Bell, Georgia Kacandes, Angus More Gordon, Scott Rudolph, Donald H. Walker; Assistentes de realização: Mallorie Ballestra-Duquesnoy, Tania Gordon, Richard Graysmark, Robert Legato, Guilhem Malgoire; Departamento de arte: Loïc Chavanon, Stéphane Cressend, Laura Dishington, Dominic Sikking, Delis Valerie; Som: John Midgley, Philip Stockton, Clémence Stoloff; Animação: Ana Maria Alvarado; Efeitos especiais: Jess Lewington, Alistair Williams, Joss Williams; Efeitos visuais: Matt Akey, Anjel Alcaraz, Katrina Barton, Tyler Bennink, Tom Driscoll, Brenda Finster, Trevor Graciano, Danny Huynh, David Ireland, Keith Kolod, Jason Kolowski, Robert Legato, Brendan Llave, Tyler Marino, Erasmo Romero, Jared Sandrew, Jakris Smittant, Julia Smola, Loicia Ware; Companhias de produção: Paramount Pictures, GK Films, Infinitum Nihil; Intérpretes: Ben Kingsley (Georges Méliès), Sacha Baron Cohen (Inspector da estação), Asa Butterfield (Hugo Cabret), Chloë Grace Moretz (Isabelle), Ray Winstone (Tio Claude), Emily Mortimer (Lisette), Christopher Lee (Monsieur Labisse), Helen McCrory (Mama Jeanne), Michael Stuhlbarg (Rene Tabard), Frances de la Tour (Madame Emilie), Richard Griffiths (Monsieur Frick), Jude Law (pai de Hugo), Kevin Eldon (policia), Gulliver McGrath, Shaun Aylward, Emil Lager, Angus Barnett, Edmund Kingsley, Max Wrottesley, Marco Aponte, Ben Addis (Salvador Dali), Robert Gill (James Joyce), Ed Sanders, Terence Frisch, Max Cane, Frank Bourke, Stephen Box, Mihai Arsene, Eric Haldezos, Johnny Depp, Martin Scorsese (fotógrafo), Brian Selznick (estudante), etc. e excertos de filmes de Charles Chaplin, Douglas Fairbanks, Buster Keaton, Harold Lloyd, etc. Duração: 126 minutos; Distribuição em Portugal: Zon Lusomundo Audiovisuais; Classificação etária: M/ 12 anos; Estreia em Portugal: 16 de Fevereiro de 2012.

domingo, fevereiro 19, 2012

TABU E RAFA TRIUNFAM EM BERLIM

Portugal conquista dois prémios no Festival de Cinema de Berlim
"Tabu", de Miguel Gomes, ganha o prémio Alfred Bauer para a Melhor Inovação Artística e "Rafa", de João Salaviza, alcança o Urso de Ouro para a Melhor Curta-Metragem.

O prémio Alfred Bauer, em memória do fundador do Festival de Cinema de Berlim, atribuído a "Tabu", de Miguel Gomes, marca o reaparecimento, ao fim de 12 anos, de uma longa-metragem portuguesa nesta competição berlinense. 
"Tabu" tem como protagonistas Ana Moreira, Carloto Cotta, Teresa Madruga, Laura Soveral, Isabel Cardoso, Henrique Espírito Santo. Recorde-se que ontem "Tabu" conquistara o Prémio da Critica Internacional no mesmo festival.  
Entretanto, "Rafa", de João Salaviza, foi premiado com o Urso de Ouro para a Melhor Curta-Metragem, e conta nos papéis principais com Joana de Verona e Rodrigo Perdigão.
O júri do festival era constituído por oito jurados, presidido pelo realizador inglês Mike Leigh, e intregava a actriz francesa Charlotte Gainsbourg, o cineasta francês François Ozon e o iraniano Asghar Farbadi, de "A Separação".
 
Depois digam mal da cultura e do cinema português. Se temos orgulho nalgumas “coisas” portuguesas, não é seguramente na política e na economia. Mas continuem a cortar no essencial, e a desperdiçar no supérfluo.

terça-feira, fevereiro 14, 2012

SCP

:
JÁ NÃO HÁ PACIÊNCIA!
O SCP voltou a enviar para casa mais um treinador. Nada de novo, nada de surpreendente.
Na verdade, desde Paulo Bento que nada corre menos mal ao SCP. Digo menos mal, e não bem, porque nem com Paulo Bento se ganhou o campeonato. Mas jogava-se alguma coisa e ficava-se em segundo, o que, vistas as coisas em perspectiva, não era nada mau.
Depois, veio este turbilhão de treinadores e o maremoto de jogadores que entram e saem, muitos deles quase sem se dar por eles. Muitos até seria melhor não se dar por eles, mas dá-se.
Há muita coisa mal no SCP. Desde há muito tempo. Esta nova direcção terá parecido trazer algum alento, mas foi sol de pouca duração. A paciência não é muita. Nem para um Domingos Paciência que me parece um bom treinador com futuro garantido à sua frente. Mas, já que falamos de Paciência, coloca-se, desde logo, uma questão que me persegue desde a sua vinda para o SCP. Há muita coisa estranha neste mundo da bola. Contratar um treinador que está a treinar uma equipa concorrente para o terceiro lugar, antes de um jogo decisivo entre ambas, como aconteceu no passado final da época? Será lícito? Não andará por aqui um pouco de falta de ética?
Logo a seguir outra questão: contratar um treinador que se sabe ter sido enquanto jogador um símbolo de um clube rival? Não ponho em dúvida a honestidade de Paciência, mas alguém contrataria o Toni ou o Humberto Coelho como treinador do Sporting? Não está e causa nem o prestígio nem a idoneidade de cada um deles. Está em causa algo que se situa um pouco acima desses considerandos – os símbolos são para se respeitar, lá onde devem estar. Ou seja: nos seus clubes predilectos. Acha-se mal que um jogador mude de clube, mas de um treinador já se aceita tudo?
Quanto mais não seja para evitar especulações, como as que já por aí grassam, não me parece boa política. Nem para os clubes, nem para os treinadores. Nem para sócios e adeptos. Claro que falo somente ao nível dos três grandes (onde ainda incluo o meu SCP) dada a rivalidade existente e que é bem acesa.
Sá Pinto é uma boa hipótese? Pode ser que sim ou que não, mas pode ser uma má hipótese com duas contrapartidas: não vingar nos seniores e perder-se o seu trabalho, que se julgo bom, nos juniores.
Que esperar do futuro próximo? Julgo que com um ou outro retoque o SCP tem nesta altura um plantel promissor. Na defesa está o seu calcanhar de Aquiles, com centrais que não convencem. Para mim, e de longe, o melhor central do SCP é o Polga, apesar de uma vez por outra dar as suas fífias. Mas quem as não dá? Só que ao Polga nada se perdoa e as assobiadelas dos sócios em Alvalade fazem regra de ouro. Já o simpático Capitão América pode ser um bom “pinheiro” para caso de força maior, mas a jogar a avançado de centro, nunca como central, onde só acerta por alto, quando acerta. Não vejo qualquer razão para Rodriguez estar no SCP. O recém chegado Xandão deu boas indicações. Acertada a defesa, creio que, no resto, basta ter os jogadores operacionais (outro problema do SCP: por quê tantas lesões?) e colocá-los nos sítios certos. Os resultados virão. Com paciência ou sem Paciência.
Mas há que dar algum tempo ao tempo, dizem. A equipa é jovem e tem de se impor. Mas há outro problema: quando os jovens se começam a impor e a equipa a revelar algum conjunto, lá surgem os agentes e intermediários que os vendem a torto e a direito, como é uso e costume.
A verdade é que o SCP poderia ter uma equipa das melhores do mundo, se tivesse mantido as jóias da coroa. Podia até jogar ao meio dia para poder ser vista na China.

segunda-feira, fevereiro 13, 2012

CINEMA: A DAMA DE FERRO

 :
 A DAMA DE FERRO  
Nunca fui um entusiasta de Margaret Thatcher, logo não serei alguém muito próximo deste projecto. Mas, curiosamente, e talvez dando razão ao meu afastamento desta primeira-ministra britânica, “The Iron Lady” parece manter algumas curiosas afinidades entre a política desta “dama de ferro” conservadora e o que está a acontecer presentemente na Europa, governada com mão de ferro por outra dama, esta a alemã Merkel – a defesa de uma política de austeridade em nome do equilíbrio das contas públicas, em ambos os casos caindo sobre os mais pobres e a massa trabalhadora o ónus de pagar a conta. Este é, todavia, um aspecto lateral ao filme em questão, uma obra certamente idealizada para servir de veículo ao trabalho de uma actriz, Meryl Streep, com quem a realizadora Phyllida Lloyd já havia trabalhado na sua película de estreia, a divertida “Mamma Mia!”. Posto isto, deve dizer-se que a interpretação de Meryl Streep é excelente, mas também vos devo dizer, em abono da verdade e para ser honesto comigo mesmo, que já a vi muito melhor, em papéis que deram menos nas vistas. Esta é uma composição de encher o olho, muito bem conseguida é certo, mas nem por isso a melhor da carreira desta fulgurante actriz. Mas uma interpretação vistosa, daquelas a que os votantes dos Oscars não costumam resistir.
Se a interpretação é boa, o resto é uma lástima. A estrutura do argumento, estilo salta-pocinhas, agora presente com a senhora perto da morte, velha, doente, alucinada, logo a seguir jovem empregada de mercearia, promissora deputada, leader dos Conservadores ou Primeira Ministra, não convence pelo artificialismo. Esta técnica do flash-back desaustinado não leva a bom porto. A realização é absolutamente nula, a interpretação da figura histórica inexistente, o jogo de ilusão que se estabelece entre Margaret Thatcher e as suas visões de Dennis, o falecido marido, pouco menos que confrangedor, e o resultado final não anda longe da biografia incompleta, descentrada, melodramática e, por tudo isso, insignificante. Pena ver-se esbanjar tanto talento de Streep numa tal empreitada sem alicerces convincentes. Phyllida Lloyd confirma o princípio de Peter: divertida em “Mamma Mia!”, indigesta em “The Iron Lady”.
A DAMA DE FERRO
Título original: The Iron Lady
Realização: Phyllida Lloyd (Inglaterra, França, 2011); Argumento: Abi Morgan; Produção: François Ivernel, Damian Jones, Adam Kulick, Cameron McCracken, Anita Overland, Tessa Ross, Colleen Woodcock; Música: Thomas Newman;  Fotografia (cor): Elliot Davis; Montagem: Justine Wright; Casting: Nina Gold; Design de produção: Simon Elliott; Direcção artística: Bill Crutcher, Nick Dent; Decoração: Annie Gilhooly; Guarda-roupa: Consolata Boyle; Maquilhagem: Marese Langan; Direcção de Produção: Bobby Prince, Michael Solinger, Sarah Wheale; Assistentes de realização: Chris Foggin, Guy Heeley, Charlie Reed; Departamento de arte: Philip Elton; Som: Nigel Stone; Efeitos especiais: Neal Champion; Efeitos visuais: Angela Barson; Companhias de produção: Film4, UK Film Council, Canal+, CinéCinéma, Goldcrest Pictures, DJ Films, Pathé; Intérpretes: Meryl Streep (Margaret Thatcher), Jim Broadbent (Denis Thatcher), Susan Brown (June), Alice da Cunha (Cleaner), Phoebe Waller-Bridge (Susie), Iain Glen (Alfred Roberts), Alexandra Roach (Margaret Thatcher, em jovem), Victoria Bewick (Muriel Roberts), Emma Dewhurst (Beatrice Roberts), Olivia Colman (Carol Thatcher), Harry Lloyd (Denis Thatcher, em jovem), Sylvestra Le Touzel, Michael Culkin, Stephanie Jacob, Robert Portal, Richard Dixon, Amanda Root, Clifford Rose, Michael Cochrane, Jeremy Clyde, Michael Simkins, etc. Duração: 105 minutos; Distribuição em Portugal: PRIS Audiovisuais; Classificação etária: M/ 12 anos; Estreia em Portugal: 9 de Fevereiro de 2012.

quarta-feira, fevereiro 08, 2012

CINEMA: UMA SEPARAÇÃO

 :
 
 UMA SEPARAÇÃO
Veio do Irão, possivelmente, o melhor filme estreado em Portugal durante o ano de 2011. Chama-se “Uma Separação” e é uma pequena obra-prima que surpreende pela precisão da escrita do argumento, pela eficácia da realização, pela segurança da interpretação, pela ironia amarga que destila, pela serenidade expositiva, pela habilidade escolhida na forma como critica uma sociedade, sem demagogia, mas com cuidada pertinácia. Um exemplo para qualquer pequena cinematografia que se preze e que pode disputar um Oscar de melhor filme em língua não inglesa e ganhá-lo (quase de certeza).
O cineasta iraniano Asghar Farhadi não era ainda conhecido em Portugal, apesar de nos dizerem que realizou em 2009 um outro filme merecedor de todos os encómios, e que cujo título se poderia traduzir, em português, por “À Procura de Elly”. “Uma Separação”, sua obra seguinte, vence o Festival de Berlim, e foi nomeado para duas categorias de Oscars, “melhor filme em língua não inglesa” e “melhor argumento original”.
Como já se disse, o argumento de “Uma Separação” é extremamente inteligente e bem urdido, partindo de um acontecimento aparentemente sem significado especial, a não ser para os intervenientes: Naader (Peyman Moaadi) e Simin (Leila Hatami) são um casal que vive em comum há anos, têm uma filha de onze anos, Termeh (Sarina Farhadi, filha do realizador), mas resolvem divorciar-se. O filme começa mesmo com um plano frontal dos dois invocando as razões para o divórcio, perante um juiz (em off, que se assume como os olhos do espectador). Ela quer o divórcio porque se lhe afigura difícil viver no Irão, quer abandonar o país, e tem uma licença para o fazer que espira dentro de 40 dias. Desconhecem-se as razões específicas para esta opção, mas depreendem-se. Ele, por sua vez, não pode abandonar Teerão, tem o velho pai doente, acamado, com Alzheimer, e acha desumano abandoná-lo.
Na impossibilidade de deixar o país com a filha, para o que necessita do acordo do pai, Simin sai de casa. Só com a filha, mas necessitando ambos de se ausentarem de casa, para o trabalho e o estudo, Naader contrata uma empregada, Razieh (Sareh Bayat), para tomar conta do pai. Mas esta atravessa igualmente um mau período, preocupada com vários problemas, está grávida, o marido desempregado e com dívidas que tem de pagar, e não pode dizer-lhe que trabalha fora. Problemas religiosos agravam a questão. Um dia, Naader regressa a casa, encontra o pai caído no chão, amarrado a um móvel, e de Razieh nem sombra. Quando esta aparece, travam-se de razões, e Naader despede a empregada e empurra-a para fora de casa. Razieh acaba por abortar e culpa o incidente, levando Naader a tribunal, no que é suportada por Hodjat (Shahab Hosseini), o seu impulsivo marido.
Há aspectos desta obra que relembram algum neo-realismo, pela forma como aborda temas sociais do dia a dia, procurando retirar deles conclusões sociais mais abrangentes, ainda que o recurso a actores profissionais e os métodos de filmagem apontem para outras estéticas mais clássicas. Mas sente-se a preocupação de desenhar os contornos de uma sociedade onde a religião adquire um peso comportamental indesmentível e de analisar certas instituições iranianas, sem as afrontar directamente, mas colhendo reflexos da sua ineficácia, desde a saúde à justiça, do trabalho à educação. A verdade oculta-se para se poder sobreviver, e só a jura sobre o Alcorão parece infundir um receio irremediável.

Se o argumento é engenhoso e sempre cativante, acompanhando-se com o interesse de um caso policial, a realização é magnifica de sobriedade e delicadeza, sem nunca sobrecarregar o significado, acreditando na inteligência do espectador para ser ele próprio a retirar as conclusões que se impõem. A qualidade técnica é excelente e o trabalho dos actores magnífico, valorizando de sobremaneira o conjunto.
Asghar Farhadi assume-se como um dos grandes cineastas contemporâneos, chamando a atenção para uma cinematografia que já sabíamos, por outras provas dadas, de grande qualidade, mas aqui refinada por esta manifestação de maturidade. A não perder.  


UMA SEPARAÇÃO
Título original: Jodaeiye Nader az Simin
Realização: Asghar Farhadi (Irão, 2011); Argumento: Asghar Farhadi; Produção: Negar Eskandarfar, Asghar Farhadi; Música: Sattar Oraki; Fotografia (cor): Mahmoud Kalari; Montagem: Hayedeh Safiyari; Design de produção: Keyvan Moghaddam; Maquilhagem: Mehrdad Mirkiani; Assistentes de realização: Hamid Reza Ghorbani; Som: Mahmoud Samakbashi; Companhias de produção: Asghar Farhadi; Intérpretes: Peyman Maadi (Nader), Leila Hatami (Simin), Sareh Bayat (Razieh), Shahab Hosseini (Hodjat), Sarina Farhadi (Termeh), Merila Zare'i (Miss Ghahraii), Ali-Asghar Shahbazi (pai de Nader), Babak Karmi, Kimia Hosseini, Shirin Yazdanbakhsh, Sahabanu Zolghadr, Mohammadhasan Asghari, Shirin Azimiyannezhad, Hamid Dadju, Mohammad Ebrahimian, Samad Farhang, Ali Fattahi, Nafise Ghodrati, Roya Hosseini, Seyyed Jamshid Hosseini, Hamid Janane, Sahar Kave, Seyyd Hamid Mirshams, Manuchehr Mohammadzade, etc. Duração: 123 minutos; Distribuição em Portugal: Alambique Destilaria de Ideias Unipessoal; Classificação etária: M/ 12 anos; Estreia em Portugal: 15 de Dezembro de 2011.