domingo, agosto 19, 2012

O "MUSICAL", BABY!


 BROADWAY BABY
No Teatro Mário Viegas, encontra-se em cena, por muito pouco dias, até 1 de Setembro, e só às sextas e sábados, um bonito espectáculo de homenagem ao musical. Ok, já sei que o musical parece não gozar da estima de muitos, mas eu adoro. Inversamente, há uma legião de partidários que nunca abdicam de um bom musical, mesmo que já o tenham visto muitas vezes. Alguns dos grandes momentos da minha vida, passei-os a ver e ouvir musicais, em palcos de Londres, Nova Iorque, Madrid, Paris, Toronto, Rio de Janeiro, e Lisboa. E em salas de cinema ou no recato da minha poltrona frente ao ecrã de TV. Já fiz um programa de rádio, na Antena 2, sobre o “Musical no Cinema”, e sou um devoto. Há lá coisa mais reconfortante do que “Singing in the Rain” ou “Sunset Bouvelard”, ou “Os Miseráveis” ou… ou… e são às dezenas os títulos que se impõem. De Fred Astaire a Gene Kelly, imortais, de Judy Garland a Cid Charisse. Enfim, gosto muito e por isso é sempre um prazer ouvir e relembrar temas eternos de talentos como George M. Cohan, Gerswing, Porter, Berlin, Rodgers e Hammerstein, Sondheim, Webber, entre tantos outros.
Em “Broadway Baby”, Nuno Feist e Henrique Feist, irmãos de sangue e irmãos no seu gosto musical, encarregam-se de, durante um pouco mais de hora e meia, nos brindar com uma curiosa e muito sentida viagem pela historia do musical na Broadway, oferecendo-nos alguns dos momentos maiores deste género. É tarefa de arrojo total colocar-se em confronto com génios insubstituíveis, mas Henrique Feist consegue não destoar, procurando não mimar os inimitáveis, mas homenageando-os com a sua bela voz, neste espectáculo particularmente bem trabalhada em vários registos.
A encenação é simples, mas eficaz, apenas sugerindo cada número por um pequeno adereço ou um elemento de guarda-roupa simbólico. Talvez até pudesse ser um pouco mais despojada, mas globalmente funciona bem. Algumas referências iconográficas passam pelo ecrã, ajudando a situar a resumida mas útil sugestão histórica. E no piano temos o inspirado Nuno Feist que trabalha a duas mãos partituras de sucesso garantido.
Sai-se do Teatro Mário Viegas a trautear temas orelhudos que fizeram a felicidade de várias gerações. Um bom espectáculo para todas as épocas do ano, mormente para momentos de crise, ou não tivesse o musical, no cinema, sido um bálsamo para a crise desencadeada pelo Crash de 1929. Agora que crashamos novamente, venha de lá o musical, como nos ensinou Woody Allen no seu belíssimo “Rosa Púrpura do Cairo”.

segunda-feira, agosto 13, 2012

JOGOS OLÍMPICOS. O FECHO



TERMINARAM OS JOGOS OLÍMPICOS

Terminaram os Jogos Olímpicos de Londres 2012 com outro espectáculo fabuloso de brio nacional e de orgulho pelo que de melhor Inglaterra deu ao mundo no campo da cultura e do entretenimento. Claro que gostei e muito. Gostei sobretudo de ver as escolhas feitas, a biodiversidade cultural e humana, a ausência de preconceitos, o chamar a primeiro plano a cultura e o trabalho, os motores que tudo movem e que nunca criaram crises financeiras fraudulentas. Não vi a exaltação da emigração nem nada que se pareça com o encerramento de fundações culturais, não vi o desfile de banqueiros a acenar, a acenar, nem o elogio das empresas de rating, não vi o orgulho na ganância nem no nepotismo, vi o afirmar da Liberdade, da inteligência, da Paz, da música que nos faz sentir melhor, do humor que nos liberta. Não vi a cultura de elites versus a cultura popular. Não vi os alternativos a desprezarem os que o não são, nem vi o pimba triunfante. Vi e ouvi alguns dos melhores. Não vi o pregão da austeridade como forma de combater a dívida. Vi Churchill, não vi nenhum vilão entronizado. Vi um musical cheio de ritmo, de imaginação, de criatividade, de invenção. Vi os atletas a entrarem em grupo compacto, sem distinção. Vi as bandeiras erguidas e os hinos cantados por quem os merece. Vi o passado e o futuro exaltados por igual. Não vi nada de que me envergonhasse como ser humano. E vi o despontar do Brasil, com igual orgulho. Daqui a quatro anos não sei se estarei cá para ver os Jogos Olímpicos de 2016, mas fiquei com a certeza de que serão como o Rio: continuarão lindos.
Em altura como estas, não tenho pena de sermos um povo pequeno e pobre ao pé de Inglaterra, mas lamento a falta de visão de certos governantes que não sabem fazer explodir, aqui e lá fora, a nossa grandeza, que é tanta e tão diversificada para a pequenez e a pobreza nacional. Em vez de apostarem no que vale a pena, apostam no aferrolhar de uns cobres, ainda por cima, sempre para os mesmos, ignorando que os cobres se ganham, tal como a prata e o ouro, apostando na qualidade e no que há que único num povo: as suas formas de expressão artística, cultural, intelectual, científica, desportiva… Tenho muita pena de ver um país, o meu país, a ser estrangulado pela miopia, pela incompetência, e não sei se pela simples fraude de uns tantos, toldados pela obediência cega à finança internacional.
Tal como em tudo que é humano, também os Jogos Olímpicos não estão isentos de desvios desagradáveis. São também comércio e indústria, claro. Mas os atletas choram e riem com lágrimas pelos êxitos e insucessos. São por igual os melhores entre os melhores. Os que atingem o sucesso e os que falham no momento decisivo. Mas para estarem lá, entre os melhores, tiveram de lutar até ao sofrimento para o conseguirem. O que é sempre bonito de ver.

sexta-feira, agosto 03, 2012

LIVROS LIDOS (5)

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VINGANÇA A SANGUE FRIO
A ESTRELA DO DIABO
O PÁSSARO DO PEITO VERMELHO
CAÇADORES DE CABEÇAS
de Jo Nesbo

Notável autor de policiais, Jo Nesbø, norueguês, é músico e escritor de primeira linha. Depois de ter estudado economia e finanças, depois de ter sido corretor de bolsa e jornalista, entregou-se à literatura e surpreende-nos a cada novo titulo, sobretudo os que têm como protagonista o inspector Harry Hole, homem de investigação não muito convencional, dada ao álcool, com problemas pessoais diversos, mas exímio a descortinar o mal lá onde ele se encontra. Um retrato penetrante da sociedade norueguesa, muito dada à corrupção e ao crime. Não são só excelentes policiais de ler de um fôlego, mas sobretudo grande literatura.
Os nórdicos continuam a dar cartas. 

LIVROS LIDOS (4)

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O NOSSO AGENTE EM HAVANA
de Graham Green
O prazer de reencontrara ironia e o gozo da escrita de um dos grandes escritores ingleses do século XX. Num Havana à beira da revolução, um vendedor de electrodomésticos é recrutado para os Serviços Secretos Ingleses. Por dinheiro aceita participar, mas nada mais é autentico. Nem os  colaboradores que diz contratar, nem os relatórios que envia, apenas é real o dinheiro que recebe e serve para pagar os caprichos da filha. Uma inesquecível paródia, nada inocente, à espionagem internacional, que deu um belíssimo filme de Carol Reed, com um elenco de bradar aos céus: Alec Guiness, Burl Ives, Noel Coward, Ralph Richardson, Maureen O' Hara, Ernie Kovacz, etc. A ler e a ver.

quinta-feira, agosto 02, 2012

LIVROS LIDOS (3)

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A VALSA ESQUECIDA
de Anne Enright
O adultério é um tema requentado, de tanto ser tratado. Trabalha-lo de forma original já é um feito. Mas acompanhar tudo isso com uma invulgar descrição da vida familiar, de uma forma onde quase não acontece nada de extraordinário, mas que se acompanha como se fosse um policial isso valoriza ainda mais esta obra, escrita com muito humor e sensibilidade. Uma surpresa. Boa.


LIVROS LIDOS (2)

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SAPATOS ITALIANOS
de Henning Mankell 
 Henning Mankel é um extraordinário escritor sueco que conhecíamos sobretudo da sua saga do inspector Wallander. Agora surge um romance de uma delicadeza e finura de análise invulgar. Um velho médico, retirado numa ilha gelado nos confins da Suécia, é visitado por personagens do passado. Uma mulher que se arrasta colada a um andarilho, uma filha que não saia sequer que existia, o gelo e o frio, a solidão. Excelente.

LIVROS LIDOS (1)

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A CIDADE IMPURA
de Andrew Miller
Se gostou de "O Perfume", gosta de "A Cidade Impura", uma ficção histórica 
sobre a destruição de um cemitério no interior de Paris.  Uma escrita escorreita, colorida, cheia de cheiro (e que cheiro!), que se acompanha com interesse 
e uns toques poéticos que resultam bem. 
Andrew Miller, prémio Costa Book 2011, um autor a acompanhar.


quarta-feira, agosto 01, 2012

DUAS VISITAS AO FADO


 O MUSEU DO FADO
O Museu do Fado existe. É um edifício não muito grande, mas muito bem tratado pela sua sábia directora, Sara Pereira, que tornou realidade um sonho, a acompanhar a candidatura do Fado a Património Imaterial da Humanidade. Encontra-se no Largo do Chafariz de Dentro, nº1, em Lisboa, numa zona castiça e fadista. Em frente ao Museu existe o largo do citado chafariz donde partem ruelas estreitas encastradas por casas de fado mais ou menos conhecidas.
Mas o Museu do Fado tem muito para contar, muito para se ver e ouvir, muito para recordar e aprender. “O Fado é um poema que se ouve e se vê”, lê-se lá pelas paredes da casa. É isso que se deve fazer, vendo o que dele se disse, desde a Ramalhal figura até quem considera o “fado a canção dos vencidos”, para se chegar ao fado actual, a romper pelas costura de talentos diversificados, para já não falar dos eternos, de Amália a Marceneiro, de Carlos do Carmo a Mariza.
Instrumentos, autores, músicos, fadistas, é toda uma galeria que vem do povo e sobe à aristocracia, e volta a subir ao povo, e estende-se à burguesia, e ultrapassa barreiras e fronteiras e se assume como a canção de um povo, partindo de uma cidade banhada pelo Tejo, que aqui lançou o seu canto de sereias e de marinheiros do destino. Há fados para todos os gostos e gostos para todos os fados. Sobre a sua origem pouco se sabe, ou se preferirem muito se conjectura, mas a verdade é que existe, está ali bem presente e é um prazer percorrer o curto labirinto deste estado de espírito tão português.
 O FADO NO CINEMA
Entretanto, surgiu há pouco uma Exposição Temporária, no Pátio da Galé, Terreiro do Paço, com entrada pela rua do Arsenal, aberta todos os dias, até 26 de Agosto de 2012, entre as 10h e as 19h, dedicada a “O Fado no Cinema”, uma produção conjunta do Museu do Fado e da Cinemateca Portuguesa.
Não será a exposição exaustiva que um dia será possível ver, mas é um bom início de caminhada, com um espaço bem ordenado onde se reúnem cartazes, programas, fotos, excertos de filmes, rostos de actores e fadistas, alguns dos fados mais conhecidos, e um longo excerto de um documentário, “Fado” de Aurélio Vasques e Sofia Portugal, uma co-produção do Museu do Fado com a Zulfilmes, que reúne testemunhos falados sobre o fado, na voz de alguns dos seus protagonistas, como Carlos do Carmo, Mariza, Camané, Beatriz da Conceição, Carminho, José Manuel Neto, Joel Pina, José Pracana, Rui Vieira Nery ou Maria do Rosário Pedreira.
Vale a pena não perder. É uma boa visita nestes dias mais ou menos soalheiros de verão.