domingo, junho 26, 2011

TEATRO: A FLOR DO CACTO


 A FLOR DO CACTO
Jean-Pierre Grédy e Pierre Barillet escreveram uma trentena de peças de teatro entre 1949 e o início da década de 90. Comédias de boulevard, sem grandes pretensões, um arzinho de crítica de costumes e algum humor, baseado em trocas e baldrocas, situações equívocas, encontros e desencontros. A herança de Georges Feydeau, Georges Courteline ou Eugène Labiche, mas sem a graça destes. Em 1964, estrearam “Fleur de Cactus”, no Théâtre des Bouffes-Parisiens, com algum sucesso e logo despertaram o interesse da Broadway americana que adaptou a peça para os seus palcos numa versão de Abe Burrows, que também a encenou. “Cactus Flower” estreou-se em Dezembro de 1965, no Royale Theatre, permaneceu dois anos en cena, passando depois para o Longacre, perfazendo um total de 1234 representações, que terminaram em Novembro de 1968. Do elenco original faziam parte Lauren Bacall, Barry Nelson, Brenda Vaccaro, Burt Brinckerhoff, Lloyd Bridges, Kevin McCarthy, e Betsy Palmer. Êxito de público, portanto.

Pouco depois, em 1969, o argumentista preferido de Billy Wilder, I.A.L. Diamond adaptou a peça a filme, que Gene Saks dirigiu de fora escorreita, com um bom conjunto de intérpretes, Walter Matthau, Ingrid Bergman, e Goldie Hawn, que iria ganhar um Óscar com esta sua estreia no cinema. Os actores vão bem, os diálogos são divertidos, escritos com alguma subtileza e graça, a adaptação do palco ao ecrã é muito aceitável. Não estamos na presença de uma comédia daquelas que figuram no palmarés das nossas boas recordações, mas não envergonhava.
Julian é dentista, solteiro e mulherengo, e para assim se manter dizia às suas conquistas que era casado e pai de três filhos. Até ao dia em que encontra Toni, uma miúda com idade para ser sua filha, por quem se apaixona a sério. Depois é o costume, mas ao contrário. Julian tem de arranjar uma mulher para mostrar a Toni e assim convencê-la de que é realmente casado e pai de filhos e de que a sua mulher está disposta e até interessada no divórcio. Quem ele vai recrutar é a sua fiel assistente de clínica, a enfermeira Stephanie que, por sua vez, está apaixonada pelo seu dentista. Estão a ver o resto? Qui pro quos para dar e vender, até à solução final. Comédia para dispor bem, mas não mais do que isso. 
Mas em 2010, surgiu uma nova adaptação para cinema, “Just Go With It” assim se chama agora, com realização de Dennis Dugan e interpretação de Adam Sandler, Jennifer Aniston e Brooklyn Decker. O resultado é triste, das piores coisinhas vistas ultimamente. O esforço dos argumentistas que adaptaram a comédia original foi no sentido de polvilharem o todo com muitas imagens vistosas de belas mulheres e entrecortá-las com diálogos grosseiros e graças escatológicas, num primarismo de cortar a respiração e tirar a pica a qualquer espectador que não seja atrasado mental. O dentista passou a cirurgião plástico (claro, para se poderem ver e se falar de mamas e outros apêndices femininos e masculinos), e o resto, que tem escala no Hawai, ajusta-se às premissas.    
Lembro-me de ter visto, no Monumental, em 1967, o original de Barillet & Grédy numa versão de Jerónimo de Bragança, encenada por Manuel Santos Carvalho, com Laura Alves na protagonista, ao lado de Paulo Renato, Carlos José Teixeira, Alina Vaz, Rui Mendes, Ângela Ribeiro, Alexandre Vieira e Alda Pinto. Os cenários eram de Pinto de Campos e do espectáculo guardo boa memória, sem que todavia a peça me tenha convencido por aí além. 
É essa mesma “Flor do Cacto” (a original) que agora Filipe La Féria recupera para o seu Politeama. Pode dizer-se que a peça continua a não deslumbrar, é uma comédia de verão, produzida em “low cost”, como o próprio encenador confessa, com uma divertida adaptação a Portugal, diálogos, personagens e situações, sem desfigurar a estrutura original. Os diálogos mantêm a graça, as figuras, caricaturais, nalguns casos, são interessantes pelos “bonecos” estereotipados que desenham, e o todo é vistoso, como manda a estética de La Féria. Mas estamos longe do melhor que o conhecido encenador já nos deu. Do elenco, que não deslumbra, dado que não tem personagens para impor, mas silhuetas, fazem parte Rita Ribeiro, Carlos Quintas, Nuno Guerreiro, e ainda os que melhor se adaptaram a esta estética de quase “cartoon”, Vítor Espadinha, Helena Rocha, Hugo Rendas, Patrícia Resende e Bruna Andrade. 


segunda-feira, junho 13, 2011

AS MARCHAS POPULARES DE LISBOA 2011

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 ALTO DO PINA É QUE É!
 A marcha do Alto do Pina venceu as Marchas Populares de Lisboa com 152 pontos, seguida de Alfama (150) e da Madragoa (143), informou hoje a organização. Mas muitas outras marchas marcharam a preceito, numa demonstração cabal da força mobilizadora desta iniciativa que transformou a Avenida da Liberdade num enorme "marchodromo" onde se apinhavam milhares de pessoas a deslumbrarem-se com o garrido das cores e dos sons, e a torcerem pela marcha do seu bairro:

A MINHA MARCHA É LINDA!
  
Nas classificações por categoria, a marcha do Alto do Pina venceu ainda o melhor desfile na Avenida da Liberdade e, juntamente com as marchas de Alfama e da Mouraria (14.º), o melhor figurino, informa, em comunicado, a empresa municipal responsável pela animação cultural da cidade.
A marcha do Beato, que ficou em 8.º lugar na classificação geral, venceu na categoria de melhor coreografia, enquanto Alfama e Castelo (5.º lugar) tiveram a melhor cenografia. A melhor letra foi para a marcha do Bairro Alto (7.º lugar) enquanto a marcha da Bica (6.º lugar) venceu na categoria de melhor composição original e, juntamente com a marcha da Madragoa, na de melhor musicalidade.
Na classificação geral, a marcha de Marvila ficou em 4.º lugar, S.Vicente no 9.º, Graça no 10.º, Carnide no 11.º, Campolide no 12.º, Alcântara e Santa Engrácia no 13.º, Olivais no 15.º, Penha de França e Belém no 16.º, Bela Flor no 17.º e Baixa no 18.º.
As 20 marchas a concurso, da Baixa, Beato, Belém, Campolide, Marvila, Castelo, Mouraria, Penha de França, Graça, Carnide, Santa Engrácia, Bairro Alto, Bica, Olivais, São Vicente, Madragoa, Bela Flor, Alto do Pina, Alfama e Alcântara, competiram entre si para eleger o melhor desfile da cidade.
Pela avenida passaram também, fora de concurso, as marchas dos Mercados e Infantil, organizada pela Voz do Operário. Uma marcha marroquina foi a convidada da noite, introduzindo algum exotismo.  
 Houve quem rodasse um documentário sobre a Marcha de Campolide. Boa sorte!
E quem tivesse a coragem de carregar com arco, sem balão.
(as fotos são da autoria de MEC, de um fotógrafo de uma marca de café e do próprio. agradecido.)

terça-feira, junho 07, 2011

OS CINEMAS DA EUROPA EM JUNHO



Masterclass
“OS CINEMAS DA EUROPA”
Com apresentação de Lauro António
Auditório Municipal César Batalha
Galerias Alto da Barra Oeiras
Sessões do mês de Junho, às 18 horas

Programação:

6 /Junho
Sérvia
Emir Kusturica:
“Gato Preto, Gato Branco”

8 /Junho
República Checa
Milos Forman:
“O Baile dos Bombeiros”

27 /Junho
Chipre
Michael Cacoyannis:
“Zorba, o Grego”

28/ Junho
Espanha:
Luis Buñuel
“Viridiana”

segunda-feira, junho 06, 2011

RESULTADOS ELEITORAIS


E pronto, os resultados estão aí.
Ganhou claramente o País. Os que votaram ordeiramente, democraticamente e depois deram uma evidente demonstração de vivência democrática. Ganhar e perder faz parte do jogo democrático. Se a democracia tem muitos defeitos, acredito que é ainda o melhor de todos os sistemas políticos conhecidos.
A abstenção foi grande, mas talvez não tão grande (40%) quanto os resultados deram a ideia. Há que rever os cadernos eleitorais e clarificar os números. De todas as formas não votar é ainda uma forma de expressão.
Vencedor da noite Pedro Passos Coelho e o PSD. Vitória incontestável. “As vitórias eleitorais não asseguram a razão de quem vence mas a sua legitimidade para governar”. Disse Sócrates e muito bem. Passos Coelho está legitimado.
Pessoalmente devo dizer que entre os vários candidatos possíveis do PSD, Pedro Passos Coelho era, e é, o que me inspirava maior simpatia. Jovem, moderno, pragmático, espero que seja um verdadeiro social-democrata na acção e na forma como vai aplicar o veredicto da troika. Não se saiu nada mal do seu primeiro discurso de pós vitória.
O segundo vencedor da noite foi o derrotado José Sócrates pelo notável discurso de renúncia. Conseguiu inverter uma derrota pesada numa saída por cima que o dignifica pessoalmente e ao PS. Vai para a oposição, como militante de base. Veremos o futuro do PS.
O terceiro vencedor é Paulo Portas e o seu CDS. Não subiu tanto quanto ele desejava, mas subiu e ganhou lugar num futuro governo de centro-direito. Espero que o cravo e o discurso para com os mais humildes se mantenha na poder. O seu discurso de hoje foi bom. Outra coisa não seria de esperar de um politico experiente e inteligente.
Vitoriosos saíram ainda o PCP e BE. Conseguiram derrotar Sócrates e o PS e colocar no governo uma nova coligação de centro-direita com larga maioria de deputados. Conjuntamente com Mário Nogueira, o inspirado secretário-geral da Fenprof, conseguiram levar a sua água ao moinho. Agora, todos coligados, devem finalmente estar felizes e assegurar a mediocratização do professorado pela base. Os bons professores e os alunos que querem aprender bem são capazes de não pensar assim, mas viva a grande coligação da direita e da extrema esquerda contra os “fascistas” do PS. Uma técnica já muito utilizada no tempo de Mário Soares, que era “fascista” para os mesmos.
Sinceramente, espero que as raivinhas mesquinhas se calem e que venha ao se cima o melhor do PSD, e não o seu pior. Espero bom trabalho, séria dedicação, uma limpeza na justiça, uma boa planificação dos serviços públicos, acabar com a troca dos boys pelos boys (isso é que era bom!), valorização de quem produz e se dedica ao seu país. Se assim for, que seja bem-vindo quem vier por bem.

quarta-feira, junho 01, 2011

ELEIÇÔES NO DIA 5

:
EM QUEM VOTAR?


Julgo que é chegada a hora de optar.Dia 5 é dia de eleições!
Sou dos que vota, não me abstenho. Logo tenho dezenas de opções.
Em branco, não votarei de certeza. Nem vou inutilizar o voto com uma asneira enviada a quem não a lê. Logo tenho de votar num dos tantos partidos que enchem o boletim de voto. Mas qual?
Nos pequenos partidos para “renovar” a assembleia? Acho simpático o MEP, com a sua Esperança (para) Portugal. Gosto do Groucho Marx da Madeira. Aprecio o Garcia Pereira.
Mas não, nenhum deles vai levar o meu voto. Para mim seria um voto nulo.
Quero votar em quem depois exerça o poder, no governo ou na oposição.
Julgo-me um homem de esquerda. Mas não me identifico com a esquerda do PCP, nem com a do BE. Para mim, a liberdade de opinião é um bem essencial, logo, não voto num partido cujo ideário é a ditadura do proletariado (ainda por cima depois de se ter visto no que deu, em tantos casos, essa ditadura desse “proletariado”). Quanto ao BE, onde reconheço inteligência e conto amigos (no PCP também, cumpre ressalvar), não gosto da maneira puritana e algo beata como se exprimem.
Depois, tanto o PCP como o BE exigem o impossível. Prescrevem o que lhes vai na real gana, porque sabem que nunca serão governo e ninguém lhes irá pedir responsabilidades. Claro que é importante que tenham uma expressão parlamentar significativa. Funcionam como uma espécie de válvula de escape para o radicalismo, um amortecedor, o airbag da democracia. Mas há quem vote neles, não serei eu.
Restam três partidos. Todos ditos do “espectro governamental”. Ou seja, todos à procura de serem eleitos para formar governo. CDS, PSD e PS. O que os distingue? Hoje em dia, e muito sinceramente, quase nada. Há tempos, ainda se podia dizer que o CDS era da direita radical. Com Paulo Portas de cravo vermelho a abraçar causas sociais e a passear bonés pelas feiras, não sei se não terá passado o PSD pela esquerda. A verdade é que Portas é inteligente e um dos raros “políticos” actuais. Pedro Passos Coelho, de início pareceu-me uma esperança: jovem, bom aspecto, simpático, dialogante, afastando a crispação criada por anteriores direcções do PSD, parecia-me uma promessa. Mas ou ele, ou alguém por ele, dá tiros nos pés que não têm conta. Uns atrás dos outros. Agora vem dizer que a Troyka vota no do PSD. Pois, está bem. A mim não me apanhas tu. Já percebi há muito que quem manda na Europa (e no mundo) é a Troyka, são os FMI todos congregados, as multinacionais dos ratings, os capitalistas dos EUA e da China, da Índia e da Rússia, da Alemanha e da África do Sul. Mas ao menos haja vergonha. Não se assuma assim, publicamente, essa cumplicidade.
Quem for para o governo, vai governar com o programa da Troyka, isso não restam dúvidas. Mas pode haver nuances. O que distingue CDS, PSD e PS serão mesmo nuances.
Olhe-se, lado a lado, para o Pedro Passos Coelho e o José Sócrates. Ambos muito metrossexuais, bem postinhos, bem vestidinhos. Um é o mais africano dos candidatos. O outro o mais viajado. Um mente, o outro não fala verdade. A avaliar pelo que por aí se diz. Um acusa, o outro culpa. Ambos aprenderam a técnica da cassete: repetir a mesma coisa até parecer que é verdade. Um vai aplicar o que o FMI manda. O outro diz que o FMI o acha o eleito para a tarefa. Um tem um ministro das finanças que caiu em desgraça, o outro anuncia um ministro das finanças que já caiu em graça (um pouco brejeira, diga-se).
Por que será que as eleições não são directamente para os bancos e as agências de rating? Economizava-se tanto. Sobretudo em hipocrisia. Mas afinal quem manda realmente nisto tudo são uns senhores que ninguém elegeu para os conselhos de administração de bancos, de FMIs, de ratings e conglomerados adjacentes.
Eu calculo em quem vou votar, mas será apenas por um questão de nuance.