TERMINARAM OS JOGOS OLÍMPICOS
Terminaram
os Jogos Olímpicos de Londres 2012 com outro espectáculo fabuloso de brio
nacional e de orgulho pelo que de melhor Inglaterra deu ao mundo no campo da
cultura e do entretenimento. Claro que gostei e muito. Gostei sobretudo de ver
as escolhas feitas, a biodiversidade cultural e humana, a ausência de preconceitos,
o chamar a primeiro plano a cultura e o trabalho, os motores que tudo movem e
que nunca criaram crises financeiras fraudulentas. Não vi a exaltação da
emigração nem nada que se pareça com o encerramento de fundações culturais, não
vi o desfile de banqueiros a acenar, a acenar, nem o elogio das empresas de
rating, não vi o orgulho na ganância nem no nepotismo, vi o afirmar da
Liberdade, da inteligência, da Paz, da música que nos faz sentir melhor, do
humor que nos liberta. Não vi a cultura de elites versus a cultura popular. Não
vi os alternativos a desprezarem os que o não são, nem vi o pimba triunfante. Vi
e ouvi alguns dos melhores. Não vi o pregão da austeridade como forma de
combater a dívida. Vi Churchill, não vi nenhum vilão entronizado. Vi um musical
cheio de ritmo, de imaginação, de criatividade, de invenção. Vi os atletas a
entrarem em grupo compacto, sem distinção. Vi as bandeiras erguidas e os hinos
cantados por quem os merece. Vi o passado e o futuro exaltados por igual. Não
vi nada de que me envergonhasse como ser humano. E vi o despontar do Brasil,
com igual orgulho. Daqui a quatro anos não sei se estarei cá para ver os Jogos Olímpicos
de 2016, mas fiquei com a certeza de que serão como o Rio: continuarão lindos.
Em
altura como estas, não tenho pena de sermos um povo pequeno e pobre ao pé de
Inglaterra, mas lamento a falta de visão de certos governantes que não sabem
fazer explodir, aqui e lá fora, a nossa grandeza, que é tanta e tão
diversificada para a pequenez e a pobreza nacional. Em vez de apostarem no que
vale a pena, apostam no aferrolhar de uns cobres, ainda por cima, sempre para
os mesmos, ignorando que os cobres se ganham, tal como a prata e o ouro, apostando
na qualidade e no que há que único num povo: as suas formas de expressão artística,
cultural, intelectual, científica, desportiva… Tenho muita pena de ver um país,
o meu país, a ser estrangulado pela miopia, pela incompetência, e não sei se
pela simples fraude de uns tantos, toldados pela obediência cega à finança
internacional.
Tal
como em tudo que é humano, também os Jogos Olímpicos não estão isentos de
desvios desagradáveis. São também comércio e indústria, claro. Mas os atletas
choram e riem com lágrimas pelos êxitos e insucessos. São por igual os melhores
entre os melhores. Os que atingem o sucesso e os que falham no momento
decisivo. Mas para estarem lá, entre os melhores, tiveram de lutar até ao
sofrimento para o conseguirem. O que é sempre bonito de ver.
1 comentário:
Parabéns!
Que belo texto! Que bela análise!
Também gostei muito.
Um abraço.
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