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sábado, dezembro 29, 2012

FICÇÃO PORTUGUESA NA RTP

DE "FLORBELA" A "4."
 
Constipação, período natalício, frio e preguiça têm-me retido algum tempo frente à televisão. Vi por isso os quatro episódios da série “4.” e os três de “Perdidamente Florbela” e, de um modo geral, dei por bem empregue o meu tempo. Começando pela obra de Vicente Alves d’ O, há que referir que já tinha gostado bastante do filme e que a série talvez me tenha ainda agradado mais. Bom trabalho de direcção de actores, realização fluente e sensível, cuidada e geralmente de muito bom gosto, com uma excelente direcção de arte que criou cenários plausíveis e plasticamente bem aproveitados. Os actores comportaram-se a muito bom nível e afigura-se-me que é série para fazer um bom percurso pelos festivais do género do estrangeiro.

Bastante diferente é o caso de “4.”, uma mini-série de 4 telefilmes autónomos entre si, ligados apenas por cada um deles reflectir um olhar sobre “Portugal Hoje”. Quatro escritores dos mais sonantes da nova geração escreveram uma história que representa a sua visão sobre o Portugal contemporâneo. José Luís Peixoto escreveu “Entre as Mulheres”, Pedro Mexia “Bloqueio”, João Tordo “Crónica de uma Revolução Anunciada” e Valter Hugo Mãe “A Morte dos Tolos”. Infelizmente os três primeiro deixaram muito a desejar, histórias algo descabeladas de encontros e desencontros sem grande nexo nem interesse, por vezes pretensiosas e snobs, por vezes demagógicas e primárias. O último episódio, de  Valter Hugo Mãe, “A Morte dos Tolos”, redimiu a série, com bons diálogos, personagens divertidas, situações de saudável crítica social, e bons actores. Diga-se, no entanto, que a realização de Henrique Oliveira foi, nos quatro casos, muito interessante, rigorosa, eficaz, mas a verdade é que, nuns casos, não deu para defender textos pobres e sem ideias.
De qualquer das maneiras, aqui tivemos a RTP a cumprir bem o seu papel de “serviço público”, incentivando a produção nacional. Nem tudo foi bom? Infelizmente não, mas em parte nenhuma o é. Por exemplo: de José Luís Peixoto, já li textos muito bons. Mas nem sempre se acerta.

quinta-feira, dezembro 29, 2011

2011 - O CINEMA PORTUGUÊS EM PORTUGAL, 2

:

RANKING DOS FILMES PORTUGUESES MAIS VISTOS
(1-1-2011/21-12-2011) 
 
Passemos agora ao quadro seguinte, mantendo a mesma fonte, ICA (http://www.ica-ip.pt/Admin/Files/Documents/contentdoc1956.pdf). Trata-se agora de filmes portugueses, estreados durante o mesmo lapso de tempo. 

TÍTULO
TIPO
REALIZADOR
DISTRIBUIDOR
ESTREIA
ESPECT.
RECEITA BRUTA
1
SANGUE DO MEU SANGUE
FICÇÃO
JOÃO CANIJO
MIDAS FILMES
05-10-2011
20.262
€ 95.502,12
2
COMPLEXO UNIVERSO PARALELO
DOC.
MÁRIO PATROCÍNIO
VALENTIM DE CARVALHO
13-01-2011
17.102
€ 85.063,14
3
A CIDADE DOS MORTOS
DOC.
SÉRGIO TRÉFAUT
FAUX
14-04-2011
6.924
€ 32.610,71
4
48
DOC.
SUSANA SOUSA DIAS
ALAMBIQUE
21-04-2011
3.256
€ 15.539,69
5
O ESTRANHO CASO DE ANGÉLICA
FICÇÃO
MANOEL DE OLIVEIRA
ZON LUSOMUNDO AUDIO.
28-04-2011
2.664
€ 11.677,48
6
A MORTE DE CARLOS GARDEL
FICÇÃO
SOLVEIG NORDLUND
ZON LUSOMUNDO AUDIO.
22-09-2011
2.656
€ 11.563,13
7
BUDAPESTE
FICÇÃO
WALTER CARVALHO
CLMC - MULTIMÉDIA
17-02-2011
2.290
€ 10.386,40
8
CISNE
FICÇÃO
TERESA VILLAVERDE
ALCE FILMES
08-09-2011
2.220
€ 9.822,50
9
COM QUE VOZ
DOC.
NICHOLAS OULMAN
NLC - CINEMA CITY
27-01-2011
2.063
€ 10.243,49
10
VIAGEM A PORTUGAL
FICÇÃO
SÉRGIO TRÉFAUT
FAUX
16-06-2011
2.017
€ 8.892,40
11
AMÉRICA
FICÇÃO
JOÃO NUNO PINTO
ZON LUSOMUNDO AUDIO.
26-05-2011
1.762
€ 7.295,16
12
QUINZE PONTOS NA ALMA
FICÇÃO
VICENTE ALVES DO Ó
ZON LUSOMUNDO AUDIO.
07-04-2011
1.657
€ 4.496,06
13
O BARÃO
FICÇÃO
EDGAR PÊRA
ZON LUSOMUNDO AUDIO.
20-10-2011
1.196
€ 5.844,90
14
A ESPADA E A ROSA
FICÇÃO
JOÃO NICOLAU
O SOM E A FÚRIA
07-04-2011
661
€ 2.442,64
15
E O TEMPO PASSA
FICÇÃO
ALBERTO SEIXAS SANTOS
TREVI FILMES, AUDIO, LDª
10-03-2011
566
€ 2.398,30
16
ÁGUAS MIL
FICÇÃO
IVO M. FERREIRA
ZON LUSOMUNDO AUDIO.
12-05-2011
540
€ 2.149,02
17
QUEM VAI À GUERRA
DOC.
MARTA PESSOA
REAL FICÇÃO
16-06-2011
531
€ 2.566,13
18
ATÉ ONDE?
FICÇÃO
CARLOS MAGALHÃES DE BARROS
CARLOS MAGALHÃES DE BARROS
11-06-2011
426
€ 691,00
19
EFEITOS SECUNDÁRIOS
FICÇÃO
PAULO REBELO
C.R.I.M. PRODUÇÕES AUDIO.
14-12-2011
373
€ 566,00
20
THE NORTH CANYON
DOC.
GARRETT McNAMARA, P. CALDEIRA, P. CONCEPTS
ZON LUSOMUNDO AUDIO.
21-10-2011
361
€ 1.585,00
21
DURANTE O FIM
DOC.
JOÃO TRABULO
PERIFERIA FILMES
23-06-2011
172
€ 520,70
22
PERDIDA MENTE
FICÇÃO
MARGARIDA GIL
AMBAR FILMES
01-11-2011
167
€ 376,00
23
NO MEU LUGAR
FICÇÃO
EDUARDO VALENTE
ZON LUSOMUNDO AUDIO.
13-10-2011
62
€ 250,85

O melhor filme português, “Sangue do Meu Sangue”, de João Canijo, ficou-se pelos 20.262 espectadores, com uma receita bruta de 96.502,12 Euros. Elucidativo.
O filme de Manoel Oliveira, “O Estranho Caso de Angélica”, considerado pelos “Cahiers du Cinema”, como o segundo melhor filme visto em França durante o ano de 2011, teve 2.664 espectadores. “E o Tempo Passa”, de Alberto Seixas Santos, um nome seguro do nosso cinema, ficou-se pelos 566 espectadores. A última longa-metragem desta singular lista, teve 52 espectadores, e fez 250,85 euros de receita. Dá que pensar. Sobre os “Caminhos do Cinema Português”, obviamente, mas sobretudo sobre quem são os espectadores de cinema em Portugal, no ano de 2011.

segunda-feira, outubro 04, 2010

CINEMA PORTUGUÊS

:

ASSALTO AO "SANTA MARIA”
Abordar em cinema o assalto ao “Santa Maria”, no nosso país, não deixa de ser matéria para alguma coragem. A reconstituição histórica nunca foi o nosso forte, fundamentalmente em função dos parcos recursos económicos da nossa produção, e por isso mesmo se poderia temer o pior. Como já aconteceu inúmeras vezes e múltiplos exemplos se poderiam adiantar. Francisco Manso tinha ainda, neste aspecto, um outro contra de peso a ultrapassar: o facto da reconstituição se passar quase toda no mar alto, a bordo de um navio que era uma das coroas de glória da marinha mercante portuguesa, e que já não existe (foi vendido em 1973, com vinte anos de existência, para ser desmantelado em Taiwan). O resultado, diga-se desde já, está longe de ser decepcionante, ainda que, aqui e ali, seja precisamente na reconstituição que se vão encontrar as suas maiores fragilidades.
O navio, construído na Bélgica e lançado às águas do oceano em 1953, integrava-se num plano de renovação da marinha mercante portuguesa, inserindo-se no chamado “Despacho 100”, da responsabilidade do então ministro da Marinha do governo de Salazar, Américo Tomás. Desde 1946 programou-se a construção de mais de meia centena de novos navios, entre eles paquetes transatlânticos como o “Santa Maria”, o “Vera Cruz”, o "Infante Dom Henrique" e o "Príncipe Perfeito", todos pertencentes à CCN, Companhia Colonial de Navegação. A viagem inaugural do “Santa Maria” aconteceu em Novembro de 1953, partindo de Lisboa, rumo ao Brasil, Uruguai e Argentina, com Américo Tomás a bordo. Era o navio que por tradição ligava Portugal às Américas, quer fossem do Sul ou do Norte. Era aliás o único paquete português a efectuar ligação aos Estados Unidos da América do Norte.
Ficaria na História por uma façanha, até aí inédita, que teve por protagonista um grupo de resistentes e opositores das ditaduras ibéricas, chefiado pelo capitão Henrique Galvão que, em 20 de Janeiro de 1961, tomou de assalto o navio, em nome da DRIL - Direcção Revolucionária Ibérica de Libertação, grupo que reunia opositores aos regimes de Salazar e Franco, com orientações políticas vincadamente diferentes, mas aqui irmanados numa mesma acção de frente comum. Henrique Galvão não era comunista, e por essa altura era o braço-direito do general Humberto Delgado que, três anos antes, fora escandalosamente espoliado nas eleições para Presidente da República de Portugal, num plebiscito fraudulento que fez triunfar precisamente o candidato da União Nacional, Américo Tomás. Em 1961, Henrique Galvão encontrava-se exilado na Venezuela e foi aí que planeou assaltar o “Santa Maria”, onde embarcou em Curaçau. O grupo não era grande, 24 homens armados, que tomaram de surpresa a ponte de comando e a cabine de TSF do navio que rumava a Port Everglades, na Florida, com 612 passageiros e 350 tripulantes, sob o comando do capitão Mário Simões da Maia. Era precisamente 1 hora e 45 minutos da madrugada de 22 de Janeiro de1961, poucos elementos da tripulação ofereceram resistência, havendo a lamentar a morte do terceiro piloto, João José Nascimento Costa, morto a tiro na refrega.
Galvão pretendia levar o "Santa Maria" até à colónia espanhola de Fernando Pó, no golfo da Guiné, partindo dali para um ataque a Luanda, de onde iria desencadear uma acção tendente a derrubar os regimes ditatoriais de Portugal e Espanha. Mas teve de alterar o rumo, indo para o Atlântico, desembarcando depois na ilha de Santa Lúcia, numa lancha, dois feridos graves e cinco tripulantes, pondo a situação do navio a descoberto, sendo a partir daí identificada a acção revolucionária, o que impediu a viagem para África. Localizado pelas forças armadas norte-americanas, mas também pela comunicação social internacional, o “Santa Maria” ou o “Santa Liberdade”, como era conhecido pelos revoltosos, que desfraldaram uma tarja com essa designação, foi o centro de atenção do mundo. Missão cumprida, nesse ponto. Mas, aproveitando-se dos ventos da História, que colocaram John Kennedy na presidência da República dos EUA, e Jânio Quadros na do Brasil, o "Santa Maria" aportou ao Recife, a 2 de Fevereiro, onde desembarcaram passageiros e tripulantes, sendo Galvão e companheiros aclamados como heróis. Seria um outro paquete da CCN, “Vera Cruz”, a vir resgatar o “Santa Maria”, que regressaria a Lisboa a 16 de Fevereiro, perante grande manifestação nacionalista “de desagravo”.
Em Março deste mesmo ano de 1961, iniciava-se a guerra colonial no Norte de Angola. No envio de tropas e material de guerra, “rapidamente e em força”, para as colónias, principalmente para Angola, o “Santa Maria” e demais paquetes tiveram papel preponderante, pois foram requisitados para o efeito, quase a tempo inteiro.
O filme de Francisco Manso principia na Venezuela, Caracas, com os preparativos do assalto e introduz personagens ficcionadas que irão servir de elo dramático e sentimental. Um deles é Zé Ramos, um jovem emigrante português, que vive em dificuldades, e rouba uma máquina fotográfica a um português abastado, que se passeia com a família por um jardim de Caracas (sabe-se depois que é oficial do exército português e salazarista dos quatro costados), ao mesmo tempo que cai de amores pela sua filha Ilda. Como acontece sempre nestas histórias inventadas por argumentistas mais ou menos inspirados, Henrique Galvão assalta o “Santa Maria”, levando nas suas tropas o apaixonado Zé, que encontra a bordo, imaginem!, a família de Ilda. Enquanto os factos históricos decorrem com maior ou menor rigor histórico, a ficção dramático-sentimental progride inexoravelmente. Francisco Manso vai equilibrando o conjunto, ofuscado aqui e ali por efeitos visuais de qualidade muito discutível, mas oferecendo uma muito aceitável ambiência intimista do navio (os recursos não davam para planos gerais, optou-se inteligentemente por planos de conjunto; as salas de jantar não eram as majestosas do verdadeiro “Santa Maria”, mas ficam-se por um arremedo de Maxim; o paquete quase nunca se vê a navegar, pois seria difícil fazer sair o “Gil Eanes” do porto de Viana do Castelo, mas a sensibilidade de Francisco Manso inventou planos de bombordo ou estibordo que sugerem mais do que mostram e provocam um simulacro do efeito desejado, etc.). Já as imagens do “Santa Maria” navegando no mar alto são difíceis de digerir, pela insipiência dos resultados.
Haverá imprecisões, a versão é nitidamente parcial, partindo da descrita por Henrique Galvão no seu livro dedicado ao feito (1), alguma incorrecção, uma ou outra falha (a não referência ao facto da guerra colonial ter começado em simultâneo a este assalto, é importante), mas no cômputo geral o filme não desmerece, acompanha-se com interesse e é uma pedra branca na carreira de Francisco Manso, inclusive por outros aspectos. Relevantes.
Falemos então do que vale mesmo a pena. A muito boa fotografia, bem iluminada, de José António Loureiro, o som, de grande qualidade, de Carlos Alberto Lopes, a interpretação brilhante de Carlos Paulo (como capitão Henrique Galvão), muito bem acompanhado por quase todo o elenco, notavelmente dirigido, com segurança, eficácia e rigor. Citem-se, por ser de toda a justiça, Pedro Cunha (Zé Ramos), Vítor Norte, Maria d’Aires, Leonor Seixas (Ilda), André Gomes (General Humberto Delgado), entre outros. Nada mau, como resultado final.

(1) Surgiu agora um livro de memórias, “Eu Roubei o Santa Maria”, da autoria de um dos outros comandantes deste assalto, o galego Jorge Soutomaior, que ainda é mais demencialmente egocêntrico do que Galvão e a versão deste. Lendo as duas posições deste acto revolucionário, fica-se com uma estranha noção do que terá sido o seu desenrolar. Mas esta auto-entronização de Jorge Soutomaior, como o predestinado que tudo sabe, e que só louva galegos e destrói por completo a reputação dos portugueses envolvidos, é algo que terá de ser comprovada linha a linha. Fica como curiosidade, e é muito significativa para se compreender o ninho de vespas em que se terá transformado esta operação. Ed. Labirinto das Letras, Lisboa, 2010 (tradução de José António Barreiros).

ASSALTO AO SANTA MARIA
Título original: Assalto ao Santa Maria
Realização: Francisco Manso (Portugakl, 2010); Argumento: João Nunes e Vicente Alves do Ó; Produtor: José Mazeda; Música: Konstantinos Christides, Nuno Malo; Fotografia (cor): José António Loureiro e ainda Miguel Malheiros, João Pequeno, David Valadão; Design de produção: Fernando Areal; Guarda-roupa: Caterina Cucinotta, Isabel Finkler; direcção de produção: Teresa Rafael; Assistentes de realização: Dino Estrelinha, Ângela Sequeira; Som: Carlos Alberto Lopes, Branko Neskov, Vladan Nedeljkov, Ricardo Sequeira, Aleksandra Stojanovic; Companhia de produção: Take 2000; Interpretes: Pedro Cunha (Zé Ramos), Leonor Seixas (Ilda), Carlos Paulo (Capitão Henrique Galvão), Alfonso Algra (Capitão José de Sotomaior), António Cerdeira (Camilo Mortágua), André Gomes (General Humberto Delgado), Vítor Norte (Alfredo Enes), Maria d’Aires (Amália Enes), Bruno Simões (Júlio, “camarada de armas” de Zé), João Cabral, João Maria Pinto, José Luís de Oliveira, Christopher Murphy, Miguel Rosas, Ricardo Simões, etc. Duração: 98 minutos; Distribuição em Portugal: Zon Lusomundo Audiovisuais; Classificação etária: M/ 12 anos; Data de estreia em Portugal: 23 de Setembro de 2010.

sexta-feira, março 06, 2009

PARA QUEM GOSTA DE CINEMA PORTUGUÊS (E DE TEXTOS LONGOS!)

Caminhos e Atalhos
do Cinema e do Audiovisual
em Portugal

Minhas Senhoras e meus Senhores,
É da mais elementar justiça começar por agradecer o convite para estar hoje aqui na condição em que me encontro, de palestrante. Estar presente nesta Sessão de Entrega de Diplomas de Mestrados, Pós-graduações e Formações Avançadas, em áreas que são da cultura ou com ela se cruzam de forma muito directa, não poderia ser mais estimulante. Agradeço, portanto, à Universidade Católica, na figura do seu magnífico Reitor, Prof. Doutor Manuel Braga da Cruz, e à Direcção da Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica Portuguesa, na pessoa da sua Directora, Profª Doutora Isabel Capeloa Gil, que me endereçou pessoalmente o convite para intervir neste evento.
Sendo eu alguém muito ligado ao cinema, quer como realizador, crítico, historiador e professor, não será de espantar que a minha curta comunicação venha versar precisamente um tema relacionado com estas matérias e, no meu caso, posso dizê-lo, com estas paixões que me acompanham desde sempre. Por isso resolvi falar dos "Caminhos e Atalhos do Cinema e do Audiovisual em Portugal", dado que muitos de vós, que hoje aqui estais para receber diplomas, se irão atravessar, de forma profissional, ou como simples espectadores avisados, com esta realidade e com alguns dos seus problemas e dilemas.
Problemas e dilemas foram questões com que o cinema português nunca deixou de se debater desde o início da sua fundação.
O cinema apareceu cedo em Portugal. Alguns meses depois dos Irmãos Lumiére terem feito a apresentação da sua nova invenção no Grand Café de Paris, corria o mês de Deembro de 1895, surgiram em Portugal as primeiras exibições públicas do "cinematógrafo". E Aurélio da Paz dos Reis, em 1896, apresentava no Porto, os primeiros filmes portugueses.
Mas a cinematografia portuguesa desde cedo começou a ter dificuldades para se impor. Durante todo o período do "mudo" existiram várias tentativas interessantes, mas a mais consistente e coerente, como esforço industrial, teve lugar no Porto, nos anos 20, por iniciativa da Invicta Filmes.
Curiosamente, esta importação do "film d'art", com cenários e argumentos nacionais, estes últimos retirados de obras literárias muito populares, provocou uma invasão de realizadores e técnicos estrangeiros, nomeadamente franceses e italianos, que, muito embora possuíssem um certo saber oficinal, nada trouxeram de novo em termos de criatividade.
O cinema português foi, aliás, mantendo-se afastado de todas as transformações políticas e sociais que se foram operando no País, traçando um caminho de aparente indiferença pelo dia a dia nacional que a queda da Monarquia, a implantação da Iª República, as lutas parlamentares e as arruaças, o aparecimento da Ditadura e do Estado Novo quase nada perturbaram.
Nos anos 30 e 40, já em pleno Estado Novo, sob a ditadura de Salazar, Portugal conheceu o seu primeiro grande momento cinematográfico, com uma geração de cinéfilos que ascenderam à realização, vindos de várias áreas da cultura, das artes e do jornalismo. Foi o período áureo da comédia popular, onde se destacou também uma notável geração de actores, como António Silva, Vasco Santana, Beatriz Costa, Mirita Casimito, Maria Matos, Costinha, e tantos e tantos outros, dirigidos com graça e espontaneidade - uma espontaneidade que lhes advinha sobretudo da prática do teatro de revista - por cineastas como Chianca de Garcia, Cottinelli Telmo, António Lopes Ribeiro, Leitão de Barros, Jorge Brum do Canto, Arthur Duarte, do próprio Manoel de Oliveira, que se estrearia com um notável documentário, Douro, Faina Fluvial, e uma longa metragem que ficou até hoje como um dos melhores momentos da cinematografia nacional, Aniki Bóbó.
A seu lado, comédias como A Canção de Lisboa, O Pai Tirano, O Pátio das Cantigas, O Leão da Estrela, A Aldeia da Roupa Branca ou O Costa do Castelo, constituiram os grandes sucessos desta época. Mas esse não era o cinema que o Estado Novo, e a sua "politica de espírito", da autoria de António Ferro, preconizava.
O que se pretendia eram pomposas adaptações de obras literárias, falsamente populares e estilizadamente folclóricas, epopeias históricas, como Camões, de Leitão de Barros, ou panfletos políticos, como A Revolução de Maio, de António Lopes Ribeiro. O que teve como consequência o lento abandono do público das salas, perdida que foi a receita das comédias, apertado que era o crivo da censura, desaparecidos que foram os grandes actores de comédia.
O humor passou a ser rasteiro e sem graça, impedida a crítica, anulada a criatividade. E os filmes "oficiais" caíam facilmente no ridículo, mesmo junto do grande público e das massas populares. Uma ou outra tentativa de criar um outro cinema, de influência neo-realista, como era o caso dos filmes de Manuel Guimarães, na década de 50, era desde logo morta à nascença, com cortes e recortes da moviola censória.
Em 1955 não se estreou qualquer filme em Portugal, e só na década de 60, uma nova geração de cineastas, nascidos da crítica e do movimento universitário e do cineclubismo, voltaria a abalar o marasmo.
É a época do regresso de Manoel de Oliveira, com O Acto da Primavera, e do surgimento de realizadores como Ernesto de Sousa (Dom Roberto), Paulo Rocha (Verdes Anos) Fernando Lopes (Belarmino), António Macedo (Domingo à Tarde), a que se sucedeu o grupo apoiado pela Fundação Gulbenkian, com nomes como os de Fonseca e Costa (O Recado), Alfredo Tropa (Pedro Só), de novo Oliveira (O Passado e o Presente), de novo Lopes (Uma Abelha à Chuva), e alguns "outsiders" como António da Cunha Telles (O Cerco), Fernando Matos Silva (O Mal Amado), Seixas Santos (Brandos Costumes) ou Eduardo Geada (Sofia, ou a Educação Sexual).
Entretanto, o regime vai agonizando, depois da tentativa de liberalização frustrada de Marcello Caetano, e quando se dá o 25 de Abril de 1974, vários filmes surgem com preocupações abertamente políticas e panfletárias. Rodam-se dezenas e dezenas de películas, curtas, médias e longas-metragens de valor muito desigual, que procuram "dinamizar" o ambiente social, mas este pendor imediatista retira algum valor a estes testemunhos. As obras de Rui Simões, Deus, Pátria, Autoridade e Bom Povo Português são os melhores exemplos deste período.
Será no início dos anos 80 que surgirá uma nova geração de realizadores empenhados em repensar a cultura, a mentalidade, os valores portugueses, em obras, muitas delas de raiz literária, como Cerromaior, de Luis Filipe Rocha, Conversa Acabada, de João Botelho, Veredas, de João César Monteiro, Manhã Submersa, de Lauro António, a que se devem juntar títulos de cineastas da geração de 60, como A Mulher do Próximo, de Fonseca e Costa, O Lugar do Morto, de António Pedro Vasconcelos, e o regresso em força de Manoel de Oliveira, que, nos últimos anos, tem rodado quase um novo título por ano e que merece aqui uma palavra de destaque, pela coerência do seu percurso, pela intransigência da sua proposta, defendida até à última instância, sem uma hesitação ou um compromisso. Neste ambiente de capitulação, Manoel de Oliveira é um farol de dignidade artística e cinematográfica, qualquer que seja a valorização que se possa fazer ao seu trabalho.
Em fins dos anos 80, início da década de 90, outra geração de jovens realizadores ganha de assalto o cinema português. São dezenas de jovens onde se destacam já as certezas de Ana Luisa Guimarães, Teresa Villaverde, Joaquim Pinto, Joaquim Leitão, Manuel Mozos, Jorge Paixão da Costa, Pedro Costa, Edgar Pera, Jorge Marecos Duarte e tantos outros.
Não será possível falar-se, no entanto, de um cinema português, enquanto escola ou grupo unitário e coerente em intenções e processos. Um dos aspectos mais interessantes e sedutores do cinema português desses anos era talvez, ou precisamente, essa multiplicidade de caminhos, de pontos de vista, de projectos pessoais. Quase sempre autorais.
São desses anos alguns erros de orientação e de política governamental que hoje se pagam caros. Portugal é um país algo estranho em matéria de cultura, vivendo quase sempre numa estratégia de 8 ou 80 que muito nos tem prejudicado.
Entregue a politica cultural a iluminados mentores de grupos e castas elitistas que olham com desprezo qualquer sucesso público e com inveja qualquer aparecimento de um novo autor que não crie essencialmente para a sua restrita área de amigos e correligionários, estas directivas tiveram como consequência o quase total desaparecimento de uma cinema de autor de grande público.
Desde as direcções de escolas e universidades, até às sucessivas direcções de IPC, ICA, ICAM e etc., o que se preconizava era um cinema de autor marcadamente pessoal, intransigentemente “contra o espectador” (ou “contra os gostos da burguesia dominante”). O resultado foi que esse cinema cada vez mais entrou num gheto donde dificilmente sairá, e que, à sua revelia tenha aparecido, não um cinema de autor interessado em comunicar com o grande público, mas o pior cinema comercial sem quaisquer preocupações culturais e artísticas. E é esse cinema que aparentemente conquista o público presentemente nas salas de cinema portuguesas.
O que acontecia nos jornais, com os chamados tablóides que quase só se interessam com a gratuita exploração do sexo, da morbidez, da violência, física e psicológica, dos factos mais escabrosos da vida humana, passara já há anos aos canais de televisão, sobretudo desde o aparecimento das privadas que muito pouco trouxeram de diversidade, e muito acarretaram dos piores vícios do comércio desregularizado. O que sobrou foram Big Brother e quejandos, numa atordoante progressão de invasão de privacidade, de vouyerismo, de patologia comunicacional. Hoje anuncia-se em Inglaterra que uma mulher vítima de cancro vende direitos de transmissão da sua morte em directo. O que há uns anos apenas era motivo de anedota – dizia-se “qualquer dia teremos a morte em directo!” – é uma realidade.
Esta tabloidização da televisão passou rapidamente ao cinema. O cinema que hoje em dia se produz em Portugal tem duas origens precisas e duas intenções concretas como finalidade: produz-se cinema de autor para festivais e restritos circuitos de arte e ensaio, e cinema dito “comercial”, onde começa a valer tudo desde que venda.
Hoje em Portugal não há quase qualquer preocupação de se produzir cinema de autor para o grande público, por duas razões: por um lado, cinema de autor que o grande público entenda e ame, deixa de ser “cinema de autor” para uma grande parte da inteligência nacional (que julgo ter muito pouco de inteligente neste caso); por outro lado, o cinema comercial puxa da pistola quando ouve falar de cultura ou de autoria. O que pretende é rentabilidade a qualquer preço.
“O Crime do Padre Amado”, em versão soft porno, “Conversa da Treta”, “Amália”, “Second Life” são alguns desses títulos que procuram sobretudo ser rentáveis, nem que para tanto tenham de vender a alma ao Diabo. Podem ser mais ou menos bem feitos (quase todos são bastante mal realizados, sem uma única ideia do que seja o cinema!), mas o resultado é escabroso.
Até homens com responsabilidade na cultura e no cinema portugueses alinham já nessa onda de mercantilismo desenfreado, mercê das regras de um mercado que começa a impor a rentabilidade da bilheteira acima de tudo: que dizer de “Corrupção”, de João Botelho, ou de “Call Girl”, de António Pedro de Vasconcelos?
De Salazar não interessou analisar a sua política ditatorial, mas sim autopsiar a vida amorosa e sexual.
Vem aí já de seguida o “escândalo” Sá Carneiro - Snu Abecassis e, não tarda, teremos o Caso Maddie. Estão em produção.
Todos estes temas poderiam ser interessantes de tratar se o fossem de forma elevada e com intuitos inicialmente de comunicação (jornalística, artística, cultural, etc.) e só depois comercial.
Mas inverteram-se completamente as finalidades. O cinema poderá ser cultura, arte e entretenimento. Poderá ser comercial. É-o sempre que se exibe numa sala para cujo ingresso se pagam bilhetes. Poderá até ser puramente comercial. Mas em qualquer das suas intenções deverá ser digno, não mentir aos seus espectadores. Não criar falsos engodos para os iludir. Não inventar “receitas” com a finalidade única de vender o produto. Não improvisar menus de pitéus que calculem ser do agrado do freguês, não pactuar com a indigência, nem sobretudo fomentá-la. Um espectáculo pode ser apenas divertido, tentar somente entreter sem outra intenção, mas deve fazê-lo com inteligência, sensibilidade, criatividade, algum sentido.
Uma cinematografia pode existir só com filmes de autor, é verdade. Não existirá nunca só com filmes deste comércio rasteiro que se instala em muitos programas de canais de televisão e e em muitos dos títulos anunciados nas salas de cinema. Uma cinematografia, para ser vigorosa, pode, e deve, permitir coexistir dentro de si, os autores mais vanguardistas, os autores mais comunicativos que gostam de dialogar com os públicos e as obras de puro entretenimento. Cada autor deve ser sincero consigo próprio, com o “seu” cinema, e exprimir-se coerentemente. Nada pior e mais nefasto do que obras que renegam princípios ou que nunca os tiveram. O cinema português, uma parte muito considerável do actual cinema dito português, não é culturalmente válido, não é artisticamente sequer interessante, não é representativo de quaisquer valores nacionais ou humanistas. Não é um retrato sociológico, histórico, geográfico, etnográfico de um pais ou de um povo. Não é diversão nem entretenimento. Aproxima-se muito de uma penosa incursão pelo grau zero da escrita e uma tormentosa via de estupidificação do público.
“Dar ao público o que este quer” parece ser a justificação encontrada. Mas o público não pode escolher, se não houver opções. A verdade é que, tanto no cinema como no audiovisual em geral (refiro-me particularmente aos canais de televisão), as opções que se colocam ao publico português, neste momento, são extremas: ou obras de um ascetismo total, que obviamente agradam apenas a minorias preparadas, ou inenarráveis mediocridades sem estética nem ética. No entanto, esse mesmo público em nome do qual se produzem infantilidades sem escrúpulos, o publico, o tal que “quer aquilo que lhe dão”, faz sucessos do que deve fazer sucesso, quando os filmes vêm lá de fora. Veja-se o que tem acontecido ainda neste início de ano, com algumas das obras que estiveram a concorrer aos Oscars: houve muito público, mesmo com a não falada e sentida crise, que não perdeu filmes interessantes e obras admiráveis. O que vai acontecer, mais tarde ou mais cedo, é esta vaga de subprodutos desacreditar-se a si própria.
Mas entretanto o cinema português continuará atulhado num mar de equívocos. Claro que o governo não pode ser dirigista em matéria de cultura. Mas tem uma responsabilidade: promover a educação.
Como se ensina a ler e escrever no papel, deverá incentivar, promover a aprendizagem, estimular o espírito critico, a sensibilização, a criatividade. Na escola, não só nas Universidades. É no ensino básico e no secundário que se criam públicos mais exigentes, melhor apetrechados, mais críticos, conhecedores da história passada e das potencialidades futuras do Cinema e do audiovisual.
Ambos poderiam ser, e têm sido em muitos e muitos casos, armas fortíssimas, alavancas extraordinárias, não para imporem caminhos, mas para permitir diálogos e assim promover a diversidade cultural e a tolerância inter pares.
A arte (e o entretenimento também) nunca aspira ao lucro como valor imediato. Nada impede que um bom filme dê lucro, até será saudável (quer dizer que muitos viram e gostaram). Mas ter o lucro como única meta não deixará de ser motivo de forte alarme. No comércio da carne e do peixe, na construção civil, nos enlatados e nos frescos, nos filmes e nos programas de televisão.
Numa sociedade democrática e livre, exige-se ao cidadão uma consciência cívica que lhe permita escolher, optar, estando avisado para o fazer. Devemos então exigir, no acto de comprar um bilhete e de seleccionar um filme, uma cinematografia portuguesa, original, nossa, marcadamente nacional, no que nós temos de mais vincada e genuinamente autêntico. Não uma cinematografia uniformizada. Pelo contrário: diversa. Uma cinematografia que possa dialogar com outras terras e outras gentes, outros filmes e outros autores. Que seja arte e indústria, ainda que incipiente, mas que seja sobretudo representativa de uma realidade, de um povo, de um tempo, de um local. A globalização não deve impor figurinos, deve permitir mais facialmente o intercâmbio das diferenças. É nas diferenças que reside o futuro de um mundo harmonioso. Que as estimule e as confronte.
Comunicação lida na Universidade Católica, Lisboa, a 5 de Março de 2009.


Lauro António e o cinema from Rogério Santos on Vimeo.

Retirado do blogue Industrias Culturais de Rogério Santos (com a devida vénia e um abraço)

quinta-feira, janeiro 22, 2009

CINEMA: SECOND LIFE

SECOND LIFE
Antestreia no CCB – 21 de Janeiro

A meio do filme, Pedro Lima grita, num acto de suprema lucidez: - “Foda-se! Foda-se! Foda-se!”
Tem razão. Foram as mais penosas três horas a que assisti do mais recente cinema português! (O quê, o filme só tem 82 minutos? Estranho, julgava que tinha 3 horas”).
Alguém disse à abrir que era “O filme do Ano!” e que “iria transformar o cinema português!” Acredito, mas não pelas razões invocadas. Pelas inversas.
Um gajo faz anos e reúne meia dúzia de amigos numa casa com piscina. Ao princípio da noite, já quando duas meninas se lambuzam na cama uma à outra para animar a malta, ouve-se um baque, correm todos para a piscina e o gajo aniversariante bóia de barriga para baixo. Olham todos, numa rígida marcação, incluindo a mulher da vítima. Um deles faz o gesto de despir o casaco, mas outro atira-se, volta o corpo, e deixa-o ficar a boiar, agora de barriga para cima. É noite. Na manhã seguinte, estão todos mais ou menos nas rígidas marcações e aparece um guarda nacional republicano que pergunta: Está na piscina desde ontem à noite? Porque não o retiraram?” Respondem: “Estava morto!” Réplica do GNR: “Bem, se não estivesse, agora já está!” (esta é a melhor piada do filme).
"Second Life" conta igualmente com a participação de Piotr Adamczyk, Lúcia Moniz, José Wallenstein, Ruy de Carvalho, Nicolau Breyner, Tiago Rodrigues, Ricardo Pereira, Sofia Grilo, Cláudia Vieira, Pedro Lima, Paulo Pires, Pepê Rapazote, Paulo Rocha, Liliana Santos, Sandra Cóias, ainda dos apresentadores de televisão Fátima Lopes, José Carlos Malato, Luís Filipe Borges e Rita Andrade, e de Luís Figo. Ok. Muitos modelos, apresentadores de TV e um futebolista. Costuma dizer-se que os modelos não vão bem nos filmes portugueses. Aqui não vão mal, porque o filme é feito todo para eles: trata-se de uma passagem de modelos, que vai evoluindo ao sabor das atracções turísticas (o Algarve que financia a fita) e dos “product placements” (que entram com algum como publicidade mais ou menos encapotada), e das cenas mais ou menos eróticas (mais menos do que mais mais). Eles passeiam-se e param. O filme também, ao sabor de uma história que um dia alguém me há-de contar (se estiver sóbrio!).
Há dias, o produtor Alexandre Valente (o mesmo de “Corrupção” e de “O Crime do Padre Amaro”) disse à Lusa que "o filme é uma selecção de vida, é sobre como seria se tivéssemos hipótese de viver uma segunda vez." É possível. Não sei bem. Vi o polaco ter várias vidas, várias mulheres, e duas mortes, e ainda ser entrevistado por um psicanalista. Andar de balão, cair na piscina, cambalear de bêbado, ser entrevistado por uma jornalista acompanhado pelo movimento de câmara mais enjoativo da história do cinema, e repetir tudo. Há ainda uma menina que não resiste a uma mulher ou um homem, desde que tenham duas pernas. Por isso, oferece-se de 5 em 5 minutos a quem lhe passa por perto, o que num filme com três horas é obra de resistência! (O quê, o filme só tem 82 minutos? Estranho, julgava que tinha 3 horas”).
Curioso. Este é dos piores filmes que vi de há uns anos a esta parte, e consegue ter uma fotografia excelente (de Acácio de Almeida), uma música excelente (de Bernardo Sassetti), e aparições boas de quase todos os actores que, tal como os modelos e os apresentadores, à falta de personagens “passam” muito bem na passerelle. Já o argumento não existe, a organização dramática não existe, qualquer ligação entre personagens não existe (pois se não há personagens, como se podem ligar?).
Parece que o filme era para ser realizado por Nicolau Breyner e Miguel Gaudêncio, aparece assinado pelo último e pelo produtor e argumentista Alexandre Cebrian Valente. O que aconteceu, não sei. Mas o mesmo produtor já assinara o filme realizado por João Botelho, “Corrupção”.
José Carlos Malato aparece na pele de um polícia (julgo). Esperamos sempre que ele indique aos suspeitos que avancem e carreguem no botão. Helás. Não acontece. Permanecem nas suas rígidas posições, até que descobrem que o polaco sofria do coração (tem os comprimidos guardados numa velha lata de filme, vá-se lá saber porquê!) e nesse momento o GNR, num assomo de clarividência divina, larga o suspeito e afirma que tudo foi desvendado. Mau sintoma para a justiça portuguesa.
O fabuloso Luís Figo, que nos encanta nos campos de futebol, aparece aqui na pele de uma realizador de cinema a fazer um teste à ninfomaníaca de serviço, que se roça por ele de alto a baixo. Figo, volta para o Inter! Ou vem fazer uma perninha no SCP.
"Second Life" viaja pelo Algarve, a Herdade da Malhadinhas, em Beja, Caldas da Rainha, Óbidos, Lisboa e Itália (Roma, a famosa Fonte de Trevi, onde Fellini rodou “A Doce Vida”), segundo informação do produtor. Parece uma excursão de finalistas, é verdade. Mas podia ser um “turístico” mais rápido. Três horas é muito tempo. (O quê, o filme só tem 82 minutos? Estranho, julgava que tinha 3 horas”). Bem e antes da acabar, a ninfomaníaca passa pelo GNR e quer levá-lo a “almoçar” (mas “com a farda”). Que coisa: “Ó rapariga, põe-te calma!”.

Ah, falta ainda uma observação: o filme é falado indistintamente em inglês e português. Por quê? Mas por que razão haveria uma lógica para este aspecto, se não há para tudo o mais? Ok. Tá certo!