segunda-feira, dezembro 25, 2006

AMO-TE, FUZILO-TE

Augusto Pinochet nem depois de morto deixa os chilenos em paz. Agora, em carta
póstuma, ontem divulgada na imprensa do Chile, justifica o golpe militar que o levou ao poder em 1973, lamentando os danos que provocou. Na carta, intitulada "Mensagem aos meus compatriotas", o antigo ditador salienta, contudo, que voltaria a fazer o golpe militar, mas "com mais sabedoria". O documento, segundo notícia do ”JN”, foi deixado aos directores da Fundação Augusto Pinochet, que decidiram publicá-lo “devido ao seu valor histórico e por constituir uma mensagem de "unidade". A carta está dirigida aos chilenos "sem excepção" (deve ser aos mortos e vivos) e Pinochet expressa o desejo de que fosse divulgada após a sua morte, que ocorreu no passado dia 10. "Quero despedir-me de vocês com muito carinho. Entendo que isto pareça incompreensível para muitos, mas é assim. No meu coração não deixei lugar para o ódio", afirma no texto.
Já não havia lugar para ódio, o ódio já o havia libertado todo, durante os anos da sua tenebrosa carnificina governativa. Com uma falta de vergonha sem equivalente, escreveu: "Amo a Pátria e a todos vocês. Por amor podem-se fazer muitas coisas boas e muitas más. Acertadas e erradas. Nunca imaginei entrar na história do meu país, assim aconteceu", refere. E pelas piores razões. Depois de considerar que uma guerra é o "pior que pode acontecer a uma sociedade", Pinochet afirma que a "maioria da população tendia para eliminar a imposição de uma ditadura marxista", em alusão ao Governo de Salvador Allende. Acrescenta que teve que actuar com o "máximo rigor" até conjurar qualquer extensão do conflito que se anunciava, pois, caso contrário, a acção militar teria sido um fiasco, que provocaria no "povo consequências negativas por muitos mais anos". Nesse sentido, Pinochet argumenta que foi preciso "empregar diversos procedimentos de controlo militar, como reclusão transitória, exílios e fuzilamentos". Um hipócrita completo, depois de um pérfido assassino. Os ratos nem quando abandonam o barco deixam de ser pestilentos. No Natal também há notícias destas.

3 comentários:

Anónimo disse...

É hipocritamente comovente!!! De facto, mesmo depois de morto, tem de deixar a marca daquilo que foi, um tirano impiedoso escondido atrás da máscara aparentemente altruísta. Tão gentil este senhor...

Ida disse...

Sim, as ações contra a hipotética ditadura marxista incluíam, por exemplo, enclausurar centenas de indíviduos num estádio, em Santiago, e proceder a ações profiláticas como, por exemplo, o que aconteceu ao músico Vitor Jara, que teve as pontas dos dedos cortadas e, a seguir, foi obrigado a tocar violão com os dedos ensanguentados. O músico foi brutalmente assassinado, não sem antes sofrer toda sorte de sevícias e torturas.

Anónimo disse...

Desejo-te,e à família um GRANDIOSO 2007.
Isto é só para te dizer que costumo almoçar numa tasca barata,com uma OPTIMA cozinheira. e, depois de pedir o prato, mando sempre vir "UM PINOCHET ". É, acho eu, uma bela maneira de tratar aquela bebida, meio cerveja- meio gasosa que por ignorância os franceses chamam de panaché.