sexta-feira, março 30, 2007

UMA TARDE EM AVEIRO

Hoje fui a Aveiro.
Tratar de questões relacionadas com a memória de meu pai, Lauro Corado.
Na Câmara Municipal, reunião com a Cultura para concretizar, ou não, a ideia de uma Casa Museu Lauro Corado. Há uns anos, a família vendeu alguns quadros de meu pai à CMA e ofertou outros tantos com a intenção de concretizar uma Casa Museu ou uma galeria no Museu da Cidade. Ficou escrito no contrato de venda e doação. Mais ficou registado que a CMA se encarregaria de organizar uma exposição para mostrar as obras adquiridas, da edição de um livro-catálogo e da produção de um vídeo. Tudo sobre Lauro Corado. A exposição e o livro já foram concretizados. Depois veio o Euro, o estádio, e ficámos por aí.
Agora que morreu minha mãe, não gostava de ver tudo disperso. Uma Casa Museu era uma excelente oportunidade de reunir o essencial de uma obra. De criar um espaço aberto a exposições temporárias, aos jovens, a sessões de cinema, a uma biblioteca e Dvdteca, a tanta actividade possível. A ideia está entregue. Já sei que a CMA não tem para já verbas. Terá vontade de concretizar esta homenagem a um filho ilustre da terra?
Veremos.
À saída da CMA, na fachada do belo Teatro Aveirense, um cartaz enorme, assinala os 125 anos do Teatro e apresenta o retrato de alguns aveirenses ilustres, de Homem Cristo a Vasco Branco, passando por Lauro Corado. Fiquei orgulhoso de ver a fotografia de meu pai. Mais orgulhoso ainda quando me contaram que, numa eleição promovida por um jornal da Terra, sobre quem eram os “Maiores Aveirenses de Sempre”, apareceu já votado Lauro Corado.
Pelo TA, muita proposta teatral e musical. Nesta noite, apresentava-se a CNB com Programa Primavera.
Na galeria da CMA vi uma curiosa exposição de fotografia: “Corpos”, com trabalhos de Ana Henriques, Andreas Soares, Catarina Patrício e Marisa Nunes, todas nascidas entre 1973 e 1980. O corpo, nu ou vestido, mas o corpo como objecto de reflexão estética, como elemento em transformação, como invólucro de emoções. Gostei.
No edifício da Antiga Capitania, “Mostra #2”, conviver com a Arte Contemporânea em Aveiro, através de obras do acervo de arte contemporânea cedidas pelo Instituto das Artes/Ministério da Cultura à cidade de Aveiro. Cerca de três dezenas de obras expostas, com meia dúzia delas interessantes (Júlio Resende, Menez, Paulo Ossião, Cândido Costa Pinto, António Sena… e várias fotografias de autores desconhecidos). No resto, coisas assim-assim e muitos mamarrachos.
Fala-se de um projecto de uma Avenida de Arte Contemporânea, mas pouco se fica a saber do que tudo isto é, quer dizer, ou para onde vai. Uma folha (pouco) explicativa, colada em mesas, e nenhum material informativo.
Subi ao Fórum e fui à excelente Bertrand, onde me abasteci de livros para um mês. Passei pelos cinemas e, de novo na rua, descobri que a livraria “Navio de Espelhos” estava fechada. Era um espaço alternativo muito curioso. Tudo leva a crer (a porta fechada, e as indicações dadas) que faliu. Pena.
Alternativo é o “Mercado Negro” que atravessei em noite de apresentação de “Peças Soltas”, de Cláudia Stattmiller, teatro/perfomance. Muitas meias presas em estendais davam o mote. Notei que a livraria também desapareceu. A loja de CDs também não a vi.
Mas descobri uma lojinha de artesanato, "Gatafunhos", onde comprei um presépio para a minha colecção. O dono parece um verdadeiro entusiasta de arte popular, e a loja é um reflexo disso. Gostei.
Passeio junto à ria e fui jantar sopa de peixe e robalo grelhado no “Mercado do Peixe”, com vista de lusco-fusco sobre um cais que meu pai pintou por diversas vezes. Enquanto esperava pelo jantar, folheei o jornal da terra onde Girão Pereira considera abandonar o CDS/PP.
Findo o repasto (belo termo!), vagueei nostálgico pelas ruas. Gosto de Aveiro. Ligam-me a esta terra tantas recordações! Por detrás do Fórum, num local indicado numa tabuleta como “Cemitério”, está uma campa que não esqueço. Mortos queridos que, apesar das aparências, nunca se enterram.

6 comentários:

Francisco Mendes disse...

Com espaço, a cidade estendeu-se como quis, do interior até às salgadas cercaduras das salinas. Mas esta é uma cidade doce e luminescente, com o Farol a assinalar um belo porto de abrigo, entre gente que respira ares carregados da maresia.

Patrícia disse...

Também eu tenho tantas recordações dessa cidade...Tantos sonhos que ficaram para tras...Apesar de tudo, as suas recordações são melhores. Podem ser mais nostalgicas e até sofridas (de saudade) mas melhores, muito melhores!

Isabel Victor disse...

Adorei ...
Senti-me lá, junto à Ria.

Belíssimo quadro !
Belíssimo ...

de uma Aveirense que se preza, um Bj * para LA

E essa Casa Museu que se perspectiva, seria onde ?

Patrícia Carvalhais disse...

Também fui a Aveiro!
Também fui à Bertrand!
Pareceu-me vê-lo por lá!
Mas depois ficou a incerteza!

Fico contente por saber que há um blog sobre o meu avô e que estão a ser tomadas as diligencias para que haja uma casa museu.

É estranho não saber nada disso e tomar conhecimento assim.

Lamento a morte da sua mãe! Ainda me lembro dela!

Manter-me-ei atenta! Estarei disponível se for necessário.

Patrícia Corado

Lauro António disse...

Patrícia: Não acredito, e não me falaste? O meu mail é este: laproducine@netcabo.pt. Escreve. Quero notícias vossas. Um beijo.

inominável disse...

e eu a vir de Aveiro... regresso a Berlim com a mala cheia... dessas recordações e de livros e de filmes legendados em Português, e do por do sol e das casinhas da costa nova...

PS- já conheces o Doca? é um restaurantezinho sem pretenções, com uma boa esplanada para o Verão...