quinta-feira, maio 03, 2007

TERESA SÁ INAUGURA EXPOSIÇÃO


Teresa Sá inaugura exposição no Porto, no dia 4 de Maio, na galeria Lab.65. Estará patente até dia 2 de Junho. As fotografias da Teresa são excelentes, e tive o maior prazer em escrever um texto para mais esta apresentação pública da sua sensibilidade.
Não percam a exposição.
Lá estarei um dia destes. Não a 4 que não posso.
Ate lá: um beijo Teresa e "muita merda!"

Teresa do outro lado do espelho

Antes de tudo o mais as fotografias que se agrupam na série "My own private wonderland" são
encenações. Sendo encenações, são obviamente ficções. Ficções que nascem do imaginário interior de Teresa Sá e que ela concretiza na imagem exterior, depois de as concretizar em si - essas ficções são encenadas tendo como figura central, como protagonista a própria fotógrafa. São encenações que passam pelo subconsciente da artista, antes de se concretizarem em matéria visível. Não há, pois, nada de "realista" na visão de Teresa Sá, por muito realistas que possam parecer paisagens e interior.
Olhe-se uma menina/mulher caminhando por uma estrada fora, numa paisagem a perder de vista. Nada de mais realista se poderia conceber à partida, nem uma única anotação irrealista, surrealista, e … todavia, esse quase hiper-realismo conduz-nos para lá do realismo, a um realismo fantástico, a um maravilhoso que, ultrapassando o realismo, o renega. Todo o trabalho de Teresa Sá nos projecta nesse mundo imaginado/imaginário onde a artista, por vezes "performer" de si própria, se instala e se instala confortavelmente. Pode ser um mundo fantástico, mas é um universo apetecível, onde a figura humana se inscreve transgredindo as regras, mas fazendo-o de forma lúdica, brincando consigo e com a realidade circundante. Qual Alice, Teresa leva-nos para o outro lado do espelho, para o outro lado do "seu" espelho. Conduz-nos pela mão e leva-nos ao seu universo profundamente feminino e profundamente infantil. Mas cuidado. Tal como em Alice, esse universo infantil não é isento de uma certa perversidade, de um certo prazer em provocar, em esconder o rosto por detrás das mãos ou encostá-lo às paredes. A personagem esconde-se por detrás de um chapéu de sol, de um braço, de um feixe de luz, esconde a sua possível identificação fora do enquadramento, e este jogo de "esconde-esconde" é um jogo igualmente de "esconde-revela", pois é através dessa duplicidade de mostra e destapa que a artista se nos esconde e se nos revela no que tem de mais íntimo, de mais pessoal, de mais recôndito.
Há outro aspecto curioso neste conjunto de fotografias. A paragem do tempo. Sabe-se que fotografia fixa o movimento. É um "instantâneo". Mas muitas tendem à reprodução do movimento, por muito que a objectiva o tenha captado numa fracção de segundo imutável. No caso de Teresa Sá, as suas fotografias fixam o momento, mas o momento parece já estar fixado antes do disparo da máquina o fixar. São quadros imóveis que a câmara regista. A menina/mulher levanta as saias e olha de cabeça baixa para as pernas descobertas, mas este momento é um instante que já estava eternizado no tempo, antes de Teresa Sá o registar na imagem. Pelo menos, assim o vejo. A menina/mulher de rosa-velho não caminha numa paisagem de verdes e ocres (que bem utiliza as cores Teresa Sá!). Não. Tudo está fixo neste instantâneo. Teresa Sá limitou-se a registar essa paragem do tempo.
Mas há outras fotografias onde essa paragem é ainda mais objectiva. Nem uma aragem parece bulir na quieta melancolia das árvores do caminho. Mas não há drama nunca neste universo de casa de bonecas. Pode falar-se de solidão, mas esta é uma solidão pretendida. A protagonista faz sozinha esta viagem porque assim o quis. Sente-se em cada fotografia o prazer, o gozo da solidão. A solidão é a da procura individual, a viagem de iniciação que só pode ser feita a solo. Não há drama nesta solidão de paisagens reconfortantes, ou de velhas casas desabitadas, onde apenas se escutam vozes do passado quando os ouvidos se encostam ao desbotado papel da parede ou às tábuas do soalho. Nem mesmo quando o corpo jaz no chão, acreditamos no drama, apenas entrevemos disfarce, ocultação, vontade de prolongar o jogo.
Em todas as fotografias, somente uma vez se descortina o tempo, a acção, o movimento. É quando a personagem rasga a luz que a encadeia e a leva a atravessar o espelho e a saltar para o outro lado da realidade. Pela ordem que vejo as fotos, esta é a última da sequência, o que tem a sua lógica: Alice, que viajou pelo país das maravilhas, regressa contrafeita ao outro lado do espelho, o lado de cá, o lado de uma realidade sem maravilhoso, o lado donde nos encontramos, nós, espectadores de um sonho que percorremos, mas que temos de largar quando nos mergulhamos nessa realidade cinzenta.
Mas nada de desesperos, porque há sempre uma Teresa Sá a libertar-nos para o lúdico e o
maravilhoso da vida. Da sua, e nossa vida. Neste, e desse lado do espelho.
Lauro António
Lisboa, Abril, 2007

4 comentários:

Joana C. disse...

Caro Lauro António: Um grupo de alunas da Faculdade de Letras de Lisboa, no qual estou inserida, está a organizar um Ciclo de Cinema denominado "Let´s Look at the Trailer" que terá como tema "Os Clássicos de Ontem e de Hoje". Gostariamos de o convidar para participar na conferência de dia 22 Maio pelas 15h30 que terá como tema discutir o "Star System". Peço que nos contacte através dos segintes e-mails:
lets.look.at.the.trailer@gmail.com ou joana.m.cordeiro@gmail.com
(ou se preferir pelo meu número pessoal 919783107) para lhe enviarmos o convite formal e o programa do nosso ciclo e conferências.
Peço desde já desculpa por este comentário que nada tem a ver com o post mas foi a única maneira que encontrámos para o contactar.
Com os melhores cumprimentos, Joana Cordeiro

Joana C. disse...

Caro Lauro António: Um grupo de alunas da Faculdade de Letras de Lisboa, no qual estou inserida, está a organizar um Ciclo de Cinema denominado "Let´s Look at the Trailer" que terá como tema "Os Clássicos de Ontem e de Hoje". Gostariamos de o convidar para participar na conferência de dia 22 Maio pelas 15h30 que terá como tema discutir o "Star System". Peço que nos contacte através dos segintes e-mails:
lets.look.at.the.trailer@gmail.com ou joana.m.cordeiro@gmail.com
(ou se preferir pelo meu número pessoal 919783107) para lhe enviarmos o convite formal e o programa do nosso ciclo e conferências.
Peço desde já desculpa por este comentário que nada tem a ver com o post mas foi a única maneira que encontrámos para o contactar.
Com os melhores cumprimentos, Joana Cordeiro

n©n disse...

Gosto imenso das fotografias dela, gostava de ver a exposição.

LA
quero convida-lo a participar no meu cadáver esquisito no NONBLOG... gostava muito!

teresa sá disse...

Obrigada Lauro. Um beijinho e ate breve!