LEITURAS...
Não posso dizer que ande a ler pouco. Muito pelo contrário: não me lembro de ler tanto e tão compulsivamente desde os tempos da universidade. Mas ando a ler “coisas” que para já não devem interessar muito aos leitores deste blogue. Dizer que ando a ler os volumes dos Discursos de Oliveira Salazar, ou os seis volumes da biografia de Salazar escrita por Franco Nogueira, levaria alguns leitores a pensar que estou quase, quase a votar “União Nacional” e que só não tenho esperanças de o fazer por causa da crise do PSD, que com a vitória de Meneses, criou cisões e afastou da liderança esse distinto “sulista, elitista e liberal” minhoto de nome Marques Mendes. Mas é verdade: ando compulsivamente a ler tudo sobre Salazar, o Estado Novo, a Ditadura e os seus opostos, tudo sobre a Oposição, os Congressos Republicanos, as Eleições, Humberto Delgado, etc. etc. Enfim, muito entretido e muito estudioso. Espero que lá para o dia 10 de Maio do próximo ano possam perceber o porquê de toda esta minha azáfama político-histórica.

A tradução do volume não é má, mas é deficiente. O livro é uma sucessão de referências, a maioria das quais pouco dizem ao português médio. Não falo de filósofos, artistas e escritores que uma cultura geral média tem obrigação de conhecer, mas sim de centenas de referências a figuras e instituições absolutamente americanas e judaicas, de que não nos é dada nenhum referência. Depois, WA inventa nomes de filmes, de canções, de obras, etc, que surgem em inglês, sem tradução, e que muitos leitores não sabem traduzir (se soubessem teriam certamente escolhido comprar a versão original da obra). Pena não haver realmente umas notas de roda pé para esses casos mais flagrantes. (Ed. Gradiva).
Woody Allen nasceu em Nova Iorque em 1935. Iniciou a sua carreira a escrever textos de humor e a fazer stand-up comedy, mas cedo passou aos filmes, escrevendo e realizando clássicos contemporâneos como “Annie Hall2 (1977), “Manhattan” (1979), “A Rosa Púrpura do Cairo” (1985), “Ana e as Suas Irmãs” (1986), “Os Dias da Rádio” (1987), “Maridos e Mulheres” (1992) e “Matchpoint” (2005) ou “Scoop” (2006). Escreve frequentemente para a “The New Yorker”.

“Espinosa sem Saída”, editado pela “Companhia das Letras” (por que será que deixaram de publicar Garcia-Rosa em Portugal?) é um bom regresso do delegado Espinosa, protagonista de outros cinco romances de Luiz Alfredo Garcia-Roza, depois de o autor se ter afastado dele em “Berenice Procura” (que deixou algo a desejar, não sei se por falta de Espinosa e das suas visitas aos sebos no meio das investigações. Sei que Espinosa trabalha na Avenida Atlântica (onde mora o escritor), e as descrições desse Rio nocturno e marginal são magníficas. Desta feita um tem tecto é baleado num beco sem saída, perto de Copacabana. Um velho marginal, sem uma perna, e morto de fome não justificaria grande investigação, não fora Espinosa o delegado que se encarregou do caso. E aí vamos nós, por entre quarteirões que se conhecem bem, descobrindo personagens com que nos cruzámos, inspirando o ar do mar e do comércio de Nossa senhora de Copacabana. Não sei se é muito bom ou não, sei que me dá um enorme prazer a escrita e o universo de Garcia-Roza, psicólogo de formação e escritor por vocação, graças a Deus!
Luiz Alfredo Garcia-Roza, brasileiro, nascido em 1936, no Rio de Janeiro, onde vive, é formado em filosofia e psicologia, foi professor titular na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e coordenador de um programa de pós-graduação em teoria psicanalítica. Escreveu oito livros sobre Psicanálise e Filosofia. Há dez anos deixou a Universidade, “despedindo-se da vida académica para escrever ficção”, sonho de uma vida inteira. Criou então a figura do delegado Espinosa, o herói de suas histórias policiais. Todas as investigações deste policial com nome de filósofo acontecem em Copacabana. “O Silêncio da Chuva”, sua estreia na literatura, recebeu o Prémio Nestlé de Literatura e o Prémio Jabuti (1996). Garcia-Roza tem três títulos publicados em Portugal: “O Silêncio da Chuva”, “Achados e Perdidos” e “Uma Janela em Copacabana”, todos a não perder. A estes devem-se ainda acrescentar “Perseguido” e “Vento Sudoeste”, para lá do já citado “Berenice Procura”.
2 comentários:
Querido irmão de Portugal :
Permita-me algumas correções sobre quem conheço há 40 anos.
L. A. Garcia-Roza não mora na Av. Atlantica.
Mora entre Botafogo e Flamengo, num trecho encantador chamado Morro da Viúva, defronte a Baía de Guanabara.
É bacharel em Psicologia mas não é psicólogo, nunca desejou atuar como psicólogo e por isso não cursou o último ano da faculdade de Psicologia.
Sempre foi professor, primeiro de Filosofia depois de Psicanálise.
Seu livro mais genial - na minha opinião- é "Palavra e Verdade na Antiguidade Clássica e na Psicanálise".
Não é um livro acadêmico e pode ser lido por todos com grande prazer.
Abraços de uma carioca
Querida irmã carioca (ah que saudades!): obrigado pela informação. Foram obviamente dados recolhidos sobre o autor que pelos vistos estavam incorrecto. Obrigado pelas correcções. Conto ir ao Rio em 2008, haverá hipótese de um encontro com Garcia_Roza? Seria muito interessante. Se o conhece ha 40 anso,interceda. Abraços
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