LEITURAS...
Não posso dizer que ande a ler pouco. Muito pelo contrário: não me lembro de ler tanto e tão compulsivamente desde os tempos da universidade. Mas ando a ler “coisas” que para já não devem interessar muito aos leitores deste blogue. Dizer que ando a ler os volumes dos Discursos de Oliveira Salazar, ou os seis volumes da biografia de Salazar escrita por Franco Nogueira, levaria alguns leitores a pensar que estou quase, quase a votar “União Nacional” e que só não tenho esperanças de o fazer por causa da crise do PSD, que com a vitória de Meneses, criou cisões e afastou da liderança esse distinto “sulista, elitista e liberal” minhoto de nome Marques Mendes. Mas é verdade: ando compulsivamente a ler tudo sobre Salazar, o Estado Novo, a Ditadura e os seus opostos, tudo sobre a Oposição, os Congressos Republicanos, as Eleições, Humberto Delgado, etc. etc. Enfim, muito entretido e muito estudioso. Espero que lá para o dia 10 de Maio do próximo ano possam perceber o porquê de toda esta minha azáfama político-histórica.
Mas, apesar disso, continuo a intercalar com obras de um outro género. Por exemplo, com “Pura Anarquia”, de Woody Allen que regressa aos contos de humor com a publicação de um novo livro onde realidade e fantasia se ligam em “pura anarquia” como o título desde logo denuncia. O livro é delirante, um absurdo completo na aparência, uma ácida crítica à nossa actual sociedade, bem lá no fundo. Mas, comparado com outros do mesmo Woody Allen (“Para Acabar de Vez com a Cultura”, por exemplo) sabe a pouco. O escritor perdeu um pouco do seu brilho. Mesmo assim temos 18 contos que destilam um humor muito especial (Groucho Marx poderá continuar a ser uma influência, é certo!) que abordam os mais diversos temas e se confrontam com personagem bem reais. Problemas domésticos, pena de morte, colégios, gastronomia, religião, política, espectáculo, leilões, literatura, cinema, física, filosofia são algumas das áreas atravessadas, e Mickey Mouse é uma das personagens que surgem num julgamento delirante. Mas há ainda referências a nomes como Gabriel García Márquez, Alma Mahler, Gustav Klimt, Immanuel Kant, Richard Wagner, Tom Cruise ou Jennifer López. Uma das suas tiradas geniais não faz mais do que socorrer-se da lógica pura (ou quase!): "Os estudos demonstram que a probabilidade dos criminosos reincidirem se reduz quase a metade depois da execução". Deus e a morte são obsessões: “Para si sou um ateu; para Deus sou uma oposição leal” ou “A morte não me preocupa muito realmente, não vivo aterrorizado com isso…. Não quero é estar presente quando isso acontecer.” Ou “Não quero atingir a imortalidade através da minha obra… quero atingi-la não morrendo.”
A tradução do volume não é má, mas é deficiente. O livro é uma sucessão de referências, a maioria das quais pouco dizem ao português médio. Não falo de filósofos, artistas e escritores que uma cultura geral média tem obrigação de conhecer, mas sim de centenas de referências a figuras e instituições absolutamente americanas e judaicas, de que não nos é dada nenhum referência. Depois, WA inventa nomes de filmes, de canções, de obras, etc, que surgem em inglês, sem tradução, e que muitos leitores não sabem traduzir (se soubessem teriam certamente escolhido comprar a versão original da obra). Pena não haver realmente umas notas de roda pé para esses casos mais flagrantes. (Ed. Gradiva).
Woody Allen nasceu em Nova Iorque em 1935. Iniciou a sua carreira a escrever textos de humor e a fazer stand-up comedy, mas cedo passou aos filmes, escrevendo e realizando clássicos contemporâneos como “Annie Hall2 (1977), “Manhattan” (1979), “A Rosa Púrpura do Cairo” (1985), “Ana e as Suas Irmãs” (1986), “Os Dias da Rádio” (1987), “Maridos e Mulheres” (1992) e “Matchpoint” (2005) ou “Scoop” (2006). Escreve frequentemente para a “The New Yorker”.
A tradução do volume não é má, mas é deficiente. O livro é uma sucessão de referências, a maioria das quais pouco dizem ao português médio. Não falo de filósofos, artistas e escritores que uma cultura geral média tem obrigação de conhecer, mas sim de centenas de referências a figuras e instituições absolutamente americanas e judaicas, de que não nos é dada nenhum referência. Depois, WA inventa nomes de filmes, de canções, de obras, etc, que surgem em inglês, sem tradução, e que muitos leitores não sabem traduzir (se soubessem teriam certamente escolhido comprar a versão original da obra). Pena não haver realmente umas notas de roda pé para esses casos mais flagrantes. (Ed. Gradiva).
Woody Allen nasceu em Nova Iorque em 1935. Iniciou a sua carreira a escrever textos de humor e a fazer stand-up comedy, mas cedo passou aos filmes, escrevendo e realizando clássicos contemporâneos como “Annie Hall2 (1977), “Manhattan” (1979), “A Rosa Púrpura do Cairo” (1985), “Ana e as Suas Irmãs” (1986), “Os Dias da Rádio” (1987), “Maridos e Mulheres” (1992) e “Matchpoint” (2005) ou “Scoop” (2006). Escreve frequentemente para a “The New Yorker”.
Mas li com gosto outro romance de um escritor que muito prezo e de que conheço toda a obra policial. O brasileiro Luiz Alfredo Garcia-Roza, de que todos os anos trago o seu último romance do Brasil. Lê-lo em Portugal, tempos depois, não ajuda a matar saudades, mas a ampliá-las. O seu inspector Espinosa está entre os grandes polícias que me prenderam ao longo dos anos (adoro ser preso por um bom polícia, estilo Maigret, ou um detective particular, como os criados por Dashiell Hammett, Raymond Chandler, Chester Himes, Mickey Spillane, Ross Macdonald, John D. MacDonald, e tantos outros).
“Espinosa sem Saída”, editado pela “Companhia das Letras” (por que será que deixaram de publicar Garcia-Rosa em Portugal?) é um bom regresso do delegado Espinosa, protagonista de outros cinco romances de Luiz Alfredo Garcia-Roza, depois de o autor se ter afastado dele em “Berenice Procura” (que deixou algo a desejar, não sei se por falta de Espinosa e das suas visitas aos sebos no meio das investigações. Sei que Espinosa trabalha na Avenida Atlântica (onde mora o escritor), e as descrições desse Rio nocturno e marginal são magníficas. Desta feita um tem tecto é baleado num beco sem saída, perto de Copacabana. Um velho marginal, sem uma perna, e morto de fome não justificaria grande investigação, não fora Espinosa o delegado que se encarregou do caso. E aí vamos nós, por entre quarteirões que se conhecem bem, descobrindo personagens com que nos cruzámos, inspirando o ar do mar e do comércio de Nossa senhora de Copacabana. Não sei se é muito bom ou não, sei que me dá um enorme prazer a escrita e o universo de Garcia-Roza, psicólogo de formação e escritor por vocação, graças a Deus!
Luiz Alfredo Garcia-Roza, brasileiro, nascido em 1936, no Rio de Janeiro, onde vive, é formado em filosofia e psicologia, foi professor titular na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e coordenador de um programa de pós-graduação em teoria psicanalítica. Escreveu oito livros sobre Psicanálise e Filosofia. Há dez anos deixou a Universidade, “despedindo-se da vida académica para escrever ficção”, sonho de uma vida inteira. Criou então a figura do delegado Espinosa, o herói de suas histórias policiais. Todas as investigações deste policial com nome de filósofo acontecem em Copacabana. “O Silêncio da Chuva”, sua estreia na literatura, recebeu o Prémio Nestlé de Literatura e o Prémio Jabuti (1996). Garcia-Roza tem três títulos publicados em Portugal: “O Silêncio da Chuva”, “Achados e Perdidos” e “Uma Janela em Copacabana”, todos a não perder. A estes devem-se ainda acrescentar “Perseguido” e “Vento Sudoeste”, para lá do já citado “Berenice Procura”.
“Espinosa sem Saída”, editado pela “Companhia das Letras” (por que será que deixaram de publicar Garcia-Rosa em Portugal?) é um bom regresso do delegado Espinosa, protagonista de outros cinco romances de Luiz Alfredo Garcia-Roza, depois de o autor se ter afastado dele em “Berenice Procura” (que deixou algo a desejar, não sei se por falta de Espinosa e das suas visitas aos sebos no meio das investigações. Sei que Espinosa trabalha na Avenida Atlântica (onde mora o escritor), e as descrições desse Rio nocturno e marginal são magníficas. Desta feita um tem tecto é baleado num beco sem saída, perto de Copacabana. Um velho marginal, sem uma perna, e morto de fome não justificaria grande investigação, não fora Espinosa o delegado que se encarregou do caso. E aí vamos nós, por entre quarteirões que se conhecem bem, descobrindo personagens com que nos cruzámos, inspirando o ar do mar e do comércio de Nossa senhora de Copacabana. Não sei se é muito bom ou não, sei que me dá um enorme prazer a escrita e o universo de Garcia-Roza, psicólogo de formação e escritor por vocação, graças a Deus!
Luiz Alfredo Garcia-Roza, brasileiro, nascido em 1936, no Rio de Janeiro, onde vive, é formado em filosofia e psicologia, foi professor titular na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e coordenador de um programa de pós-graduação em teoria psicanalítica. Escreveu oito livros sobre Psicanálise e Filosofia. Há dez anos deixou a Universidade, “despedindo-se da vida académica para escrever ficção”, sonho de uma vida inteira. Criou então a figura do delegado Espinosa, o herói de suas histórias policiais. Todas as investigações deste policial com nome de filósofo acontecem em Copacabana. “O Silêncio da Chuva”, sua estreia na literatura, recebeu o Prémio Nestlé de Literatura e o Prémio Jabuti (1996). Garcia-Roza tem três títulos publicados em Portugal: “O Silêncio da Chuva”, “Achados e Perdidos” e “Uma Janela em Copacabana”, todos a não perder. A estes devem-se ainda acrescentar “Perseguido” e “Vento Sudoeste”, para lá do já citado “Berenice Procura”.
2 comentários:
Querido irmão de Portugal :
Permita-me algumas correções sobre quem conheço há 40 anos.
L. A. Garcia-Roza não mora na Av. Atlantica.
Mora entre Botafogo e Flamengo, num trecho encantador chamado Morro da Viúva, defronte a Baía de Guanabara.
É bacharel em Psicologia mas não é psicólogo, nunca desejou atuar como psicólogo e por isso não cursou o último ano da faculdade de Psicologia.
Sempre foi professor, primeiro de Filosofia depois de Psicanálise.
Seu livro mais genial - na minha opinião- é "Palavra e Verdade na Antiguidade Clássica e na Psicanálise".
Não é um livro acadêmico e pode ser lido por todos com grande prazer.
Abraços de uma carioca
Querida irmã carioca (ah que saudades!): obrigado pela informação. Foram obviamente dados recolhidos sobre o autor que pelos vistos estavam incorrecto. Obrigado pelas correcções. Conto ir ao Rio em 2008, haverá hipótese de um encontro com Garcia_Roza? Seria muito interessante. Se o conhece ha 40 anso,interceda. Abraços
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