Anda por ai a circular uma petição para a Cinemateca Portuguesa criar um extensão no Porto. Já assinei, claro. Mas acho estranho existir a Cinemateca Portuguesa há tanto tempo, e só agora se lembrarem dela como sendo “portuguesa” e não “lisboeta”, que é o que tem sido desde que o seu actual director a dirige a seu belo prazer. Acontece que o facto da Cinemateca Portuguesa não ter extensões no Porto, não é estranho, pois que não tem em mais parte nenhuma, e que há tantas outras anomalias no seu funcionamento e quase ninguém dizer nada. Uma cinemateca é um local onde se recolhe e se ajuda a fazer a história do cinema. Não de uma corrente histórica ou estética do cinema, mas de todo o cinema. A Cinemateca Portuguesa nunca o fez. Obedece aos ditames estéticos do seu director e só a esses. O senhor não gosta de 80 por cento do cinema português, que aliás já o disse e o escreveu, “não existe”. Quando morre um daqueles de quem não gosta, lá aceita passar um ciclozinho de homenagem, com o ar de que “deste já nos livrámos”, já não volta a chatear. E publica um opusculozinho de vinte páginas a preto e branco para celebrar a efeméride e arrumar com o caso. Mas depois há “os filhos” e “os amigos” para quem nunca são demais as benesses.
O senhor gosta de fazer ciclos para cem espectadores em Lisboa e ninguém se lembrou nunca de questionar esta característica. O senhor não gosta de emprestar os seus filmes a ninguém, nem em extensões, nem em festivais, nem em ciclos, nem em comemorações. Todos sabem isso, mas tudo continua na paz dos anjos. O senhor gosta de catálogos luxuosos, onde imprimir os seus textos e os trabalhos que os seus empregados coligem para ele. Com o orçamento de um catálogo, poderiam fazer-se dois ou três, mas que importa? O senhor acha que o cinema é uma arte, e esquece que o cinema não é só uma arte, é uma indústria, é um precioso espólio histórico, é uma fonte inesgotável de conhecimento e de ensinamentos, mas nunca o foi para a Cinemateca Portuguesa.
O senhor gosta de se julgar um reizinho que pode por e dispor, até de nomear sucessores e deixar descendência. E a malta aceita. Não se vêem manifestações na rua Barata Salgueiro. O senhor afinal pode dizer as asneiras que quiser, atropelar a História, inventar factos e personagens que está imune. Não se contraria um Prémio Pessoa. Quando se tenta repor a verdade dos factos e se escreve para um jornal e se pede publicação, se a pessoa visada for o senhor, nada a fazer. O texto cai no esquecimento e o senhor não será incomodado. Não se publica nem se dá qualquer explicação para o facto.
Há factos que concedo: o senhor escreve bem e tem, normalmente, bom gosto. Mas não são essas as características essenciais para dirigir uma Cinemateca. Numa Cinemateca não se exige bom gosto, exige-se competência histórica, exige-se igualdade de tratamento, exige-se isenção, exige-se um respeito idêntico por todos, para lá que qualquer “questão” de gosto pessoal. Exige-se que uma Cinemateca Portuguesa esteja ao serviço de todos quantos a sustentam. Que somos nós todos, portugueses, e não o grupinho de amigos fixes que se reúne para ver as obras que o mestre sanciona.
Exige-se mais. Exige-se alguém que percebe que o cinema não parou no tempo. Que a única maneira de ver filmes não é numa sala de cinema, onde corre uma película de 35 milímetros. Por muito que lhe custe, o cinema muda, como tudo na vida. É vergonhoso que a Cinemateca Portuguesa não tenha ainda colocado à disposição do público DVDs com clássicos do Cinema Português. Não há um único filme mudo à disposição do espectador, das escolas, das universidades. Deveria ser uma tarefa da Cinemateca. Todas as congéneres no mundo o fazem. Em Portugal, o cinema é para ver em sala, em 35 milímetros, e fundamentalmente na salinha da Barata Salgueiro.
Será que algo vai mudar?
O senhor gosta de fazer ciclos para cem espectadores em Lisboa e ninguém se lembrou nunca de questionar esta característica. O senhor não gosta de emprestar os seus filmes a ninguém, nem em extensões, nem em festivais, nem em ciclos, nem em comemorações. Todos sabem isso, mas tudo continua na paz dos anjos. O senhor gosta de catálogos luxuosos, onde imprimir os seus textos e os trabalhos que os seus empregados coligem para ele. Com o orçamento de um catálogo, poderiam fazer-se dois ou três, mas que importa? O senhor acha que o cinema é uma arte, e esquece que o cinema não é só uma arte, é uma indústria, é um precioso espólio histórico, é uma fonte inesgotável de conhecimento e de ensinamentos, mas nunca o foi para a Cinemateca Portuguesa.
O senhor gosta de se julgar um reizinho que pode por e dispor, até de nomear sucessores e deixar descendência. E a malta aceita. Não se vêem manifestações na rua Barata Salgueiro. O senhor afinal pode dizer as asneiras que quiser, atropelar a História, inventar factos e personagens que está imune. Não se contraria um Prémio Pessoa. Quando se tenta repor a verdade dos factos e se escreve para um jornal e se pede publicação, se a pessoa visada for o senhor, nada a fazer. O texto cai no esquecimento e o senhor não será incomodado. Não se publica nem se dá qualquer explicação para o facto.
Há factos que concedo: o senhor escreve bem e tem, normalmente, bom gosto. Mas não são essas as características essenciais para dirigir uma Cinemateca. Numa Cinemateca não se exige bom gosto, exige-se competência histórica, exige-se igualdade de tratamento, exige-se isenção, exige-se um respeito idêntico por todos, para lá que qualquer “questão” de gosto pessoal. Exige-se que uma Cinemateca Portuguesa esteja ao serviço de todos quantos a sustentam. Que somos nós todos, portugueses, e não o grupinho de amigos fixes que se reúne para ver as obras que o mestre sanciona.
Exige-se mais. Exige-se alguém que percebe que o cinema não parou no tempo. Que a única maneira de ver filmes não é numa sala de cinema, onde corre uma película de 35 milímetros. Por muito que lhe custe, o cinema muda, como tudo na vida. É vergonhoso que a Cinemateca Portuguesa não tenha ainda colocado à disposição do público DVDs com clássicos do Cinema Português. Não há um único filme mudo à disposição do espectador, das escolas, das universidades. Deveria ser uma tarefa da Cinemateca. Todas as congéneres no mundo o fazem. Em Portugal, o cinema é para ver em sala, em 35 milímetros, e fundamentalmente na salinha da Barata Salgueiro.
Será que algo vai mudar?
Petição: Mais de 3.600 pessoas já assinaram. Aqui:
6 comentários:
Uma pergunta?
É verdade que a Cinemateca Portuguesa dispõe da maior colecção de filmes da UFA. Superior mesmo à alemã?
Ora aí está algo a que não sei responder. Mas alguns terá.
Pois não é que tem toda a razão, como moro em Castelo Branco nunca vou ver nenhum destes filmes, alguns bem que podiam fazer uma digressão por Portugal. Em Castelo Branco temos uma orquestra, seria interessante de ver um filme mudo portuguêsou não ao som da orquestra da Esart(Escola Superior de Artes de Castelo Branco) ou até com músicos do conservatório daqui.
Apesar de concordar com algumas das ideias passadas no texto, discordo em absoluto da forma como este está escrito dando um pouco a ideia de estarmos apenas perante uma mera dor de cotovelo (quase me pareceu estar a reler o manifesto anti-dantas).
De qualquer é de facto uma pena não haver uma maior dinamização e aproveitamento do espólio da cinemateca para uma melhor divulgação do "outro cinema" e da própria história do mesmo.
uga
Leia-se a o artigo de opinião que saiu hoje (25 de Junho) no público a cargo de Luis Miguel Cintra, sobre a quezília entre bénard da Costa e Isabel Pires de Lima. Vergonhoso o Sr Luis M.Cintra insulta a cidade do Porto e todo o norte, chama-nos provincianos e sugere que compremos DVD's...veja-se a lata...
[Benesses?!]
A Cinemateca Portuguesa está óptima como está. Os frequentadores habituais sabem muito bem disso.
P.S. Há vários clássicos à venda, em DVD, na livraria.
Enviar um comentário