Rodrigo Leão e o Cinema Ensemble
No disco são excelentes, ao vivo superam-se. Ouvem-se no silêncio de uma capela, e embalam-nos com a sua envolvência cúmplice. Argamassam o tango de Piazzolla com o fado, a música cigana de Kusturica com a canção francesa, acrescentam Jacques Brel e Yves Montand, passam pelo Nino Rota de Fellini, atravessam Cuba, a Espanha de Almodovar, percorrem a América Latina e fazem-se ouvir em português,mesmo quando a solista canta em espanhol ou francês. Deste universo de "músicas do mundo" fazem uma melodia muito pessoal, muito íntima, coisa de embalar, de hipnotizar (como diz a Eduarda), sons que nos percorrem o corpo, deslizam pela pele, nos penetram pelos poros e nos levam numa valsa balançada lentamente. Dolente. Ao som de acordeon e violino, de piano ou bateria. Um som que evoca o calor da paixão e da boémia, da solidão de ruas nocturnas, de cabarets decrépitos, de estradas molhadas pela chuva, com neóns reflectidos nas poças de água que o rodado dos carros esvoaça. O lamento estende-se do palco à plateia, e as suspensões no ritmo, as rupturas, obrigam a sustentar a respiração, impedida de prosseguir pela delicadeza do momento. São o Cinema Ensemble que Rodrigo Leão inspira, em caminhada própria de quem ama o cinema e as suas canções, os seus sons,as suas músicas, de quem recorda Truffaut e les feuilles mortes,la paix et les amours, e a paixão que nos segreda o prazer de estar ali, naquele instante de magia pura.Foi a abertura do Cine Eco 2008.
(a fotografia que ilustra é uma fotografia "bandida")
4 comentários:
que texto magnífico, Lauro!!
senti-me transportada para dentro de um acordeon e morrer no ritmo.
quando se sente assim é porque a partilha nos transforma em pássaros. é porque os amigos são o som mais belo do mundo.
beijos e continuação de bons e inimitáveis sons.
Na qualidade desta música e destes músicos eu acredito, e desejo ouvir. Agora com o som dos Abba, sinceramente, não!. E não sou nenhuma intelectual.
que vontade de ouvir o "cinema ensemble"...
mas que excelente descrição...
impossível haver melhor!
foi um excepcional concerto de abertura e uma semana que se mostrou inesquecíevl.
obrigado por tudo,
um grande abraço do
Helder Magalhaes.
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