Eu sei. Foi escrita em 2006. Compro e leio sempre a Visão, revista onde apareceu a referida crónica de Ricardo Araujo Pereira. Na altura terei lido, certamente. mas os novos tempos têm destas coisas: voltou a chegar-me via email, por mão amiga, que acha que a crise tem de ser compensada com alguns "tesourinhos deprimentos". Li, reli, chorei a rir, e fui a correr tomar banho numa banheira vazia. Eis a crónica: "Photoshop" Jardim". As fotografias que ilustram esta transcrição (com a devia vénia ao autor e à Visão) são da revista citada no texto.
"Estou indignado com a revista GQ deste mês, e gostaria que as autoridades competentes fizessem alguma coisa. Mesmo as autoridades incompetentes não deviam ficar quietas. O que se passa é o seguinte: a revista publica fotografias de Cinha e Pimpinha Jardim em lingerie. Sucede que Cinha aparece nessas fotografias com menos rugas do que uma criança de 3 anos. As mensagens subliminares são proibidas por lei, pelo que não se aceita esta publicidade encoberta ao Photoshop.
Para quem não sabe, o Photoshop é um programa informático que permite retocar fotografias. Com algum trabalho, é possível pegar na Margaret Tatcher e pô-la igual à Miss Praia Grande 2003 (que era bem jeitosa). Com bastante mais trabalho é possível fazer o que fizeram com Cinha Jardim. Numa das fotografias, Cinha Jardim foi tão retocada que ficou sem joelhos. Juro. Ao pé daquilo, as pernas da Barbie são uma ameixa seca.
Tirando isso, as fotografias estão óptimas. Portugal é um país conservador e precisava de uma iniciativa destas. A maior parte das mães portuguesas procura evitar que as filhas se dispam para as revistas. Cinha Jardim não só não se opôs como disse: “Espera que a mamã vai contigo. Desaperta-me aqui na blusa”. Julgo que, a partir de agora, tudo será diferente.
Todos nós, pais portugueses, aprendemos com este gesto da Cinha. Eu também tenho filhas e garanto-vos que não enjeitarei a oportunidade de aparecer em cuecas junto delas, numa revista de grande tiragem. Fica a sugestão para as publicações deste País. Estou à espera que o telefone toque. Dentro da revista, as fotos recriam várias cenas vulgares do quotidiano de todos nós, plenas de naturalidade. Creio que em qualquer família saudável, mãe e filha andam pela casa em lingerie, fazendo poses provocantes. Numa das fotos, Pimpinha e Cinha estão em lingerie na casa de banho. Cinha está de pé contemplando uma espécie de camisa de dormir, e Pimpinha está deitada numa banheira vazia, contemplando o tecto. Quem não se lembra de passar momentos semelhantes com a sua própria mãe?
Para mim, houve sempre duas grandes reuniões familiares: o jantar do Natal e o momento em que a minha mãe escolhia camisas de dormir comigo enfiado na banheira, a olhar para o tecto. Ah, o conforto de uma banheira vazia!…
A ternura de uma mãe envergando apenas uma combinação de renda!…Não me interpretem mal: quando digo que as fotografias são fascinantes, não quero insinuar que a entrevista que as acompanha é menos boa. Por exemplo, em certo passo, a GQ confronta as entrevistadas com uma questão que só muito raras vezes é colocada neste tipo de conversas. A pergunta é: “Quais são as suas férias de sonho?” Pimpinha Jardim responde, textualmente: “Adorava fazer a América do Sul toda.” E eu, que como já disse, vi as fotografias com atenção, acho que a América do Sul não se importava nada. Até era capaz de agradecer."
"Estou indignado com a revista GQ deste mês, e gostaria que as autoridades competentes fizessem alguma coisa. Mesmo as autoridades incompetentes não deviam ficar quietas. O que se passa é o seguinte: a revista publica fotografias de Cinha e Pimpinha Jardim em lingerie. Sucede que Cinha aparece nessas fotografias com menos rugas do que uma criança de 3 anos. As mensagens subliminares são proibidas por lei, pelo que não se aceita esta publicidade encoberta ao Photoshop.
Para quem não sabe, o Photoshop é um programa informático que permite retocar fotografias. Com algum trabalho, é possível pegar na Margaret Tatcher e pô-la igual à Miss Praia Grande 2003 (que era bem jeitosa). Com bastante mais trabalho é possível fazer o que fizeram com Cinha Jardim. Numa das fotografias, Cinha Jardim foi tão retocada que ficou sem joelhos. Juro. Ao pé daquilo, as pernas da Barbie são uma ameixa seca.
Tirando isso, as fotografias estão óptimas. Portugal é um país conservador e precisava de uma iniciativa destas. A maior parte das mães portuguesas procura evitar que as filhas se dispam para as revistas. Cinha Jardim não só não se opôs como disse: “Espera que a mamã vai contigo. Desaperta-me aqui na blusa”. Julgo que, a partir de agora, tudo será diferente.
Todos nós, pais portugueses, aprendemos com este gesto da Cinha. Eu também tenho filhas e garanto-vos que não enjeitarei a oportunidade de aparecer em cuecas junto delas, numa revista de grande tiragem. Fica a sugestão para as publicações deste País. Estou à espera que o telefone toque. Dentro da revista, as fotos recriam várias cenas vulgares do quotidiano de todos nós, plenas de naturalidade. Creio que em qualquer família saudável, mãe e filha andam pela casa em lingerie, fazendo poses provocantes. Numa das fotos, Pimpinha e Cinha estão em lingerie na casa de banho. Cinha está de pé contemplando uma espécie de camisa de dormir, e Pimpinha está deitada numa banheira vazia, contemplando o tecto. Quem não se lembra de passar momentos semelhantes com a sua própria mãe?
Para mim, houve sempre duas grandes reuniões familiares: o jantar do Natal e o momento em que a minha mãe escolhia camisas de dormir comigo enfiado na banheira, a olhar para o tecto. Ah, o conforto de uma banheira vazia!…
A ternura de uma mãe envergando apenas uma combinação de renda!…Não me interpretem mal: quando digo que as fotografias são fascinantes, não quero insinuar que a entrevista que as acompanha é menos boa. Por exemplo, em certo passo, a GQ confronta as entrevistadas com uma questão que só muito raras vezes é colocada neste tipo de conversas. A pergunta é: “Quais são as suas férias de sonho?” Pimpinha Jardim responde, textualmente: “Adorava fazer a América do Sul toda.” E eu, que como já disse, vi as fotografias com atenção, acho que a América do Sul não se importava nada. Até era capaz de agradecer."
1 comentário:
Diverti-me bastante, mas o melhor foi o comentário sobre o que fizeste a seguir à leitura... quem me dera agora, uma banheira CHEIA, com boa e perfumada espuma ou aquelas gotinhas q se arrebenta e têm uma espécie de óleo que deixa a água quente (e a vida) softer than paradise.
Beijos (eleitorais e chuvosos)
PS: Gostei tb da nova faixa na abertura do blog. O dono está no seu melhor!
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